“Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mateus 7. 21-23)
Neste texto Jesus adverte os seus discípulos a fim de que sejam cuidadosos e cautelosos com aqueles que ele chama de falsos profetas.
O povo de Deus no Antigo Testamento conviveu com a presença disfarçada de homens que se diziam inspirados e portadores de uma mensagem divina.
A igreja no Novo Testamento conviveu com a presença de falsos mestres, falsos profetas, falsos apóstolos e obreiros fraudulentos que se infiltravam sorrateiramente.
Temos vivido uma época de confusão religiosa e doutrinária, em que crentes ávidos por novidades, correm de um lado para o outro em busca de novos ensinos, de novas práticas, de novos movimentos, de novas sensações, de novos fenômenos, de novos líderes que se dizem portadores de uma unção especial para realização de coisas especiais.
Vivemos uma época em que pessoas simples, de uma fé sincera, desejosa de agradar a Deus, são facilmente manipuladas e ludibriadas porque confundem simplicidade com ingenuidade.
Jesus nos traz essa advertência porque ele sabe do potencial devastador desses “lobos disfarçados” infiltrados num rebanho de ovelhas ingênuas, simples. Nos vs.21-23 Jesus fala que esses tais podem até receber o aplauso, o reconhecimento e a valorização dos homens, mas não subsistirão quando passarem pelo crivo de Deus. Suas realizações e seus métodos podem até impressionar os homens, mas não impressionam a Deus. Diante disso, gostaria de falar de algumas coisas que impressionam os homens, mas não impressionam a Deus, que recebem o louvor e aprovação dos homens, mas não passam pelo crivo de Deus!
Em primeiro lugar, vemos nesse texto que…
1. Deus não se impressiona com pragmatismo religioso (v.22, 23)
O que é pragmatismo? Pragmatismo é uma filosofia de vida que diz que as idéias que produzem efeitos práticos têm valor!
Para o pragmatismo o valor de uma idéia, de um método ou de um meio empregado está estritamente ligado ao alcance de resultados. Para o pragmático o que importa é se funciona, se dá certo, se produz os efeitos e resultados desejados. Se é certo ou não, se é verdadeiro ou não, se é legal ou não, se é ético ou não, não interessa! O que interessa é se funciona, se produz resultados.
O pragmatismo religioso usa o nome de Deus, usa uma linguagem religiosa e piedosa para obter resultados. Se os meios empregados são corretos ou não, se a doutrina ensinada é bíblica ou não, se conta com a aprovação de Deus ou não, não interessa! O que interessa é se funciona; é se atrai pessoas; é se enche os templos; é se traz resultados financeiros; é se arrebanha adeptos.
No v.22 Jesus deixa claro que naquele dia, no dia do acerto de contas, o pragmatismo religioso será utilizado como argumento diante d’Ele. Senhor,…
– Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós profetizamos;
– Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós expulsamos demônios;
– Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós fizemos muitos milagres.
No entanto, o pragmatismo religioso não impressiona a Deus. Jesus disse que os pragmáticos religiosos ouvirão dos seus lábios as seguintes palavras: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.”
Porém, apesar dessas Palavras do Senhor Jesus, o que nos preocupa é que pragmatismo religioso dos nossos dias tem impressionado muitas ovelhas ingênuas!
Em nossos dias, o evangelho paganizado tem dado certo! A venda de bugigangas religiosas, de amuletos, de pedrinhas, de rosas consagradas, de lenços, de água benzida tem dado certo; o evangelho da prosperidade, do banho do “abre caminho”, do “sal grosso”, do “kit da rainha Ester” tem dado certo! O evangelho do “agora é só vitória”, do “cai, cai”, do frio na espinha, dos arrepios tem dado certo!
E o pior! Temos ficado impressionados com isso! Temos ficado abobalhados com esse evangelho adulterado, com essa falsificação barata do evangelho de Jesus, com esse subproduto da fé.
O que nos consola é que, apesar da nossa “ingenuidade”, Deus não se impressiona com isso! Para Ele, não basta usar o seu nome! Não basta dá certo! Não basta funcionar! É preciso ser realizado do jeito certo, com a motivação certa, empregando os meios corretos, mediante a pregação do evangelho genuíno.
Portanto, nestes últimos dias, não sejamos ingênuos! Não fiquemos impressionados com esse pragmatismo religioso! Pois, nem tudo que funciona tem a aprovação de Deus! Nem tudo que dá certo, passa pelo crivo de Deus, mesmo que seja feito em nome de Deus.
Mas, em segundo lugar, vemos nesse texto que…
2. Deus não se impressiona com carisma sem caráter (v.21,23b)
Nestes versículos Jesus deixa claro que naquele dia, não somente o pragmatismo religioso, mas também o carisma e a linguagem piedosa serão utilizados como argumento diante d’Ele.
Dirão: Senhor, usamos o teu nome e profetizamos, expulsamos demônios, e fizemos muitos milagres. Senhor, mais do que isso, confessamos publicamente que tu és Senhor (v.21a)!
Mais uma vez, o v.21 mostra que Deus não se impressiona com linguagem piedosa, com vocabulário religioso, sem submissão à sua vontade.
Para esses que usarão o argumento do carisma e da linguagem piedosa, Jesus dirá categoricamente: nunca vos conheci!
Mas, por quê? Porque carisma sem caráter não impressiona a Deus! Porque linguagem piedosa sem caráter não passa pelo crivo de Deus.
Muitos naquele dia ouvirão:
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não tinham caráter; não tinham ética; não tinham moral!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não faziam a minha vontade!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não tiravam proveito da fé simples do meu povo!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas fizeram da piedade uma fonte de lucro!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas paganizaram o meu evangelho!
Apartai-vos de mim, porque vocês me chamavam de “Senhor”, mas nunca se submeteram ao meu senhorio!
Apartai-vos de mim, porque vocês usavam linguagem piedosa, mas praticavam a iniqüidade!
Neste texto, Jesus deixa claro que Deus não se deixa impressionar com carisma sem caráter. No entanto, apesar do que Ele disse, o que nos preocupa é que muitas ovelhas “ingênuas” têm se deixado impressionar com o carisma e a linguagem piedosa de supostos líderes religiosos.
Porém, para Deus não basta ser carismático, é preciso ter caráter! Não basta fazer demonstrações espetaculares, extraordinárias, sobrenaturais, é preciso ser íntegro diante d’Ele. Não basta usar vocabulário religioso ou linguagem piedosa, é preciso viver uma vida piedosa diante d’Ele.
Talvez você esteja aí pensando, refletindo e querendo perguntar: Pastor, o que fazer para diferenciar o que é do que não é? Como discernir, como perceber que estamos lidando com “lobos” disfarçados? Afinal de contas, confessam Jesus como Senhor; usam um vocabulário religioso; falam a palavra de Deus; exercem um ministério público espetacular, sobrenatural, produtivo e de sucesso! Como discernir, como perceber que são “lobos” disfarçados? Esses questionamentos se avolumam em nossa mente e nos deixam um tanto confusos, principalmente quando lemos Mateus 7.1a, 2: “Não julgueis, para que não sejais julgados.” “Por que vês tu o argueiro que está no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?”
O Senhor Jesus deixou um critério infalível!
“Pelos seus frutos os conhecereis.” (7.16a)
“Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.” (7.20)
Ou seja, a orientação de Jesus foi: Observem a sua conduta, o seu caráter, o seu preceder na sociedade! Observem os seus ensinos! São ensinos sadios que produzem um rebanho sadio? Ou são deturpações do evangelho que produz um rebanho doente?
Prestem no que os motiva a pregarem o evangelho! Proclamam o evangelho por que amam as vidas? Ou por que vêem na proclamação do evangelho um bom negócio? Proclamam o evangelho por que amam a glória do Senhor ou porque querem posição, status e o aplauso dos homens? Proclamam o evangelho porque querem tornar conhecido o nome de Jesus ou porque querem ser conhecidos como líderes de um grande ministério?
Prestem a atenção! Não sejam “ingênuos”! Não anulem a capacidade que eu dei a vocês de refletir, de avaliar, de discernir, de emitir juízos acerca do que vêem e percebem.
Em Mt 10.16 Jesus nos deixou a seguinte advertência: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.”
Portanto, não confundamos simplicidade com ingenuidade. Jesus nos conclama a sermos simples, não ingênuos.
Escrevendo aos coríntios Paulo disse: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.” (1Co 14.20)
Pr. Paulo César Nunes do Nascimento