O padrão moral : um inimigo dos últimos dias (I Coríntios 5)
Logo no primeiro versículo, Paulo expõe uma questão interessante, ele diz: “Geralmente se ouve…”.
Tudo leva a crer que a situação de imoralidade na igreja de Corinto ganhou às ruas e se tornou pública. “Se ouve” é uma expressão um tanto quanto vaga. Ela não se preocupa em identificar o autor da declaração, como se quisesse deixar subentendido que a informação já é do conhecimento da sociedade.
E aqui cabem algumas observações que algumas vezes ou passam despercebidas ou simplesmente são mal interpretadas no que diz respeito à nossa vida cristã.
Em primeiro lugar, embora vivamos para e por Deus, temos uma imagem pública que deve refletir esse caráter de vida. Ou seja, nossa vida deve ser coerente com aquilo que pregamos e cremos.
Em I Tessalonicenses 5:22 está escrito: “Abstende-vos de toda a aparência do mal” (ACF). A Bíblia de Jerusalém, bem como a Versão AEC, usa a expressão “Toda espécie de mal”. Ou seja, se na primeira versão, podemos entender que esta se refere a não só o que seja mal, mas até o que se pareça com ele deve ser evitado, na segundo versão tudo isso está perfeitamente englobado.
A palavra grega ‘EIDOUS’ traduzida por ‘aparência’ ou ‘espécie’ e, às vezes ‘forma’, tem haver com o que se vê, com a imagem real que se projeta ao mundo. Algo que muitas vezes tem sido levado a extremos e, como tal, produzido efeitos doutrinários distorcidos como todo excesso é capaz de produzir.
Ou seja, devemos, sim, atentar para a imagem real que deixamos o que nos cerca ter de nós. Aquela antiga ladainha de que Deus quer só o coração há muito se perdeu no universo das inutilidades. E o que isso tem a ver com a primeira frase de Paulo em I Coríntios 5:1? Simples, a conduta, o comportamento, o proceder dos crentes da igreja de Corinto, já davam margem para comentários, de tal forma que, ao contrário de I Coríntios 1:11, quando o apóstolo identifica sem vacilar os autores da denúncia, aqui ele se resume em dizer “Se ouve”. A questão atravessou os muros e ganhou o mundo exterior.
Ao contrário do que se pensa, Deus se importa, sim, com a nossa aparência e com o que aparentamos em todos os setores da nossa vida. Se isso não fosse verdade, não teríamos passagens bíblicas falando sobre cabelos (I Coríntios 11:14-15), roupas e jóias (I Timóteo 2:9 e I Pedro 3:3-5), amizades e companhias (I Coríntios 15:33). Ou seja, assuntos que dizem respeito à aparência.
E qual a imagem que passava a igreja de Corinto? A de imoralidade total. A versão ACF usa o termo ‘fornicação’, enquanto que a BJ chama o pecado de ‘luxúria’. A palavra no original era ‘PORNEIA’, que, literalmente, aponta para relacionamentos íntimos ilícitos, logo, qualquer um dos significados mantém a ideia correta. A carnalidade da igreja de Corinto chegou ao ponto de deixar de queixo caído até os descrentes. Não é o que temos visto até nos dia de hoje?
A igreja cristã moderna é tão relativista na questão do pecado, que já o admite de tal forma que chega a chocar até os ímpios. No caso da igreja de Corinto foi a lascívia, mas poderia ser, sem problemas, a corrupção financeira, já alertada na Escrituras (II Pedro 2:3 e I Timóteo 6:5-6), o ecumenismo, criticado severamente pelo profeta Elias (I Reis 18:21) e pelo próprio Cristo (João 4:22), o envolvimento da igreja com política, as inovações teológicas desprovidas da mínima fundamentação, como a ordenança de mulheres ao sacerdócio, a liberação aberta do uso de bebidas alcoólicas e, não há de admirar, em um futuro próximo, do jeito que a coisa caminha, até do uso de maconha, a extorsão pecuniária do rebanho, o liberalismo feminismo e muito mais.
A igreja não pode se conformar com isso. Ou seja, não pode tomar a forma daquilo que desagrada a Deus com o intuito de agradar a quem quer que seja, sob o risco de ver Deus agir (Apocalipse 2:18-24).
Para agravar ainda mais a situação, os que vivem em constante afronta a Deus são do tipo que não se deixam exortar. São os ‘inchados’ (AEC), ‘ensoberbecidos’ (ACF), ‘cheios de orgulho’ (BJ).
Parece uma contradição, mas existem pessoas no meio do rebanho que no fundo se orgulham de andar em pecado. De tal maneira que sentem-se ofendidos ou simplesmente negam verazmente quando são encontrados em alguma falta, isso quando não optam pela justificativa banal, do tipo “quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
São esposas que se vangloriam em dominar o seu marido. Ministros do Evangelho que se orgulham de tirar a maior quantia possível de dinheiro de suas ovelhas e com isso construir o maior patrimônio.
E, para piorar tudo de vez, não eram só os que pecavam que estavam assim, mas praticamente toda a igreja. O que dificultou a aplicação da disciplina. Ou seja, a igreja havia se acostumado com o pecado, ao que Paulo explica de maneira clara que algo deveria ser feito, que procedimentos deveriam ser adotados para que a situação fosse resolvida, mesmo que para isso alguém tivesse que ser convidado a se retirar (I Coríntios 5:3-7).
Nos versículos seguintes (9-11), o apóstolo deixa claro que o problema era a conivência. Ser conivente é concordar e participar da ação de alguém. E isso obviamente também é pecado (I Timóteo 5:22). Havia um clima de conivência perigosa dentro da igreja de Corinto. Os pecados eram aceitos por todos ou pelo menos pela ampla maioria dos membros, como algo normal, quase corriqueiro, de tal modo que a imagem da igreja, ou seja, de seus membros, já não era boa. E a culpa era da própria igreja.
Muitas vezes nossas relações de amizade nos impedem de ver as coisas como as coisas são. E isso, em igreja, pode ser perigoso. Devemos entender que antes de sermos amigos de quem quer que seja, devemos ser amigos de Deus. De antes de defendermos os interesses de quem quer que seja, devemos defender os interesses de Deus. O Senhor é nossa prioridade. Nossos amigos não.
Em outros casos, usamos os pecados alheios para servirem de escudo ao nosso. Ou seja, fingimos não ver a transgressão do próximo desde que ele não veja a nossa. E um dos sinais que mostram que estamos andando por um caminho perigoso, é quando nos ofendemos quando somos pegos em alguma falta. Admoestar é necessário, mas nem sempre bem-vindo. Às vezes as pessoas que chamamos a atenção acabam se tornando nossos inimigos. Fazem perguntas do tipo “Quem você pensa que é para me chamar a atenção?”. O certo seria “Quem sou eu para não querer ser chamado a atenção?”.
Paulo mostra em I Coríntios 5:11 que afastar-se de quem não quer, deliberadamente, andar em conformidade com a Palavra de Deus é preciso. Deve ser feito. Se a salvação pertence a Deus e veio para os eleitos, o livre arbítrio para pecar ou não (lembra o filho pródigo?) permanece. Logo, se no lugar do arrependimento o que encontramos é soberba e orgulho, não há outra coisa a fazer que não seja manter uma distância segura. Muitos ministros do Evangelho tem – com todo respeito – medo de pregar isso. Não há outra palavra melhor para descrever que não seja essa: medo. Veja II João 10, por exemplo. O apóstolo mais amoroso aconselhando a nem dar atenção para alguém. E por quê? Porque alguém insistia em afrontar a Deus, afrontando sua Palavra.
O versículo final (13) é taxativo: “Tirai do meio de vós a esse iníquo”. A BJ diz “Afastai o mal do meio de vós”. Até Jesus estabeleceu limites para certas situações (Mateus 18:15-17). Ou seja, algo precisa, deve ser feito. Ou toda a congregação será comprometida. E aí, para que a aparência do mal não tome conta do aprisco, a reta justiça (João 10:24) deve ser aplicada, ainda que contra a opinião de quem quer que seja.
Neto Curvina
Comunidade Shalom Filadélfia