Por A. B. Simpson
Perder a Vida
“Que aproveita ao homem, se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36)
É reconhecido pelos estudiosos que a palavra “alma” aqui significa vida. Mas a vida de que o Senhor estava falando era muito mais do que a mera existência animal.
O próprio Senhor nos ensinou que “a vida é mais do que a carne” e que “a vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui.” Vida significa todas as possibilidades do destino humano tanto para esta vida e a que está por vir. É possível perder a vida neste grande e importante sentido. É possível perder todas as coisas altas e gloriosas para as quais a existência nos foi dada, e ser lançados fora como um acidente medonho, às margens do desespero, enquanto as ondas selvagens murmuram sobre a ruína lamentável, “Seria melhor para tal homem, se ele nunca tivesse nascido.”
Melhor que todos os navios de todos os mares fossem destruídos; melhor que algumas esplêndidas cidades afundassem em um terremoto; melhor que o próprio mundo fosse dissolvido em um cataclismo terrestre, do que uma alma imortal ser perdida. A Palavra de Deus é repleta de algumas frases chocantes e figuras que fazem alusão a tais catástrofes.
Quando Jesus falou dos homens, Ele disse que eles estavam perdidos. Quando Ele revelou o Pai de amor em enviar seu Filho, foi para que eles não pereçam. Este texto termina com uma terrível expressão, “alguém lançado fora”, e o coração mais amoroso que jamais pulsou, disse de um tal homem que “melhor seria que ele nunca tivesse nascido.”
A palavra grega para pecado significa literalmente errar o alvo . É a imagem de uma vida perdida, uma alma que perdeu o caminho, que fez um naufrágio da existência, perverteu seus poderes, abusou de suas oportunidades e irremediável e eternamente pereceu.
Mas as palavras de nosso Mestre sugerem que ninguém pode destruir finalmente a alma humana, senão o próprio homem. O pecado, mesmo o pecado imperdoável é um ato de obstinação e imprudência em desprezar toda a contenção do amor divino e a graça, e as almas arruinadas devem reconhecer para sempre que elas se perderam e foram culpadas de suicídio espiritual e eterno.
O grande perigo de homens e mulheres é que eles não percebem o caráter sagrado e solene da vida. Eles a tratam como uma agradável e contínua férias, em vez de uma grande provação e uma oportunidade suprema. Oh, que Deus possa impressionar em cada leitor destas linhas a solenidade de ter apenas uma vida para viver e uma vida repleta de todas as possibilidades de alegria sem fim ou miséria.
“Não temos muitas vidas, mas apenas uma.
Uma, somente uma,
Quão precioso seria que esta única vida sempre esteja,
Naquele caminho estreito.”
Mas nosso texto sugere uma segunda pergunta que lança a luz da esperança sobre a obscurecida visão do perigo humano e do pecado. “O que dará o homem em troca da sua vida?” Se ele a perdeu, há algum resgate pelo qual possa ser recuperada?
O Mestre deu a Sua vida para responder a essa tremenda questão. Nossa vida foi perdida, mas fomos redimidos, não com coisas corruptíveis, mas com o precioso sangue de Cristo. E agora Ele nos dá de volta a nossa vida perdida e, com ela a Sua graça para manter esse dever sagrado de nunca mais tornar a perdê-la.
John Newton, da Inglaterra, quando um marinheiro ímpio foi levado a Cristo por uma terrível sonho. Certa noite, quando ele balançava em sua cama no Mar Adriático, após um dia de bebedeira e deboche, ele sonhou que ele estava de pé sobre o convés de seu navio, segurando em sua mão um lindo anel de inestimável valor. De repente, uma forma de demônio apareceu diante dele e o desafiou a cair no mar. Imprudentemente ele aceitou o desafio e jogou fora a sua jóia de valor inestimável.
E o diabo dançou de alegria e disse-lhe que ele tinha perdido a sua alma, enquanto ao longo de todo o Adriático as montanhas ficaram escabrosas com chamas relampejantes que pressagiavam o julgamento que ele tinha acabado de desafiar. Ele estava cheio de consternação e desespero.
De repente, o Senhor Jesus estava ao seu lado e lhe perguntou se ele queria o seu precioso tesouro restaurado. Ele pediu ansiosamente a Sua ajuda e misericórdia. O Salvador mergulhou no mar selvagem e tempestuoso, e finalmente emergiu e atingiu o convés, segurando em Sua mão a jóia preciosa, mas trazendo em Seu rosto os traços de agonia e sofrimento. John Newton lançou-se a Seus pés e estendeu a mão para o precioso anel. Mas o Mestre o manteve em Sua própria mão e lhe disse: “Você jogou fora a sua alma uma vez, e com um custo infinito eu te remi. Eu não vou confiá-la mais uma vez à sua guarda, mas irei proteger o seu tesouro para você, e ele estará esperando por você à porta do céu.”
O marinheiro inglês acordou do seu sonho para dar a sua vida a Deus e viver para a salvação de seus semelhantes. Assim, temos sido perdidos e salvos. Vamos confiar nele para guardar aquilo que temos entregue à Sua confiança, pois é poderoso e fiel para guardar o nosso depósito até aquele Dia.
Texto traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.