“Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada.
Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida.
Retirou-se Jesus com os seus discípulos para os lados do mar.“ (Marcos 3.5-7)
O exercício da benevolência é, em si mesmo, projetado para excitar a admiração universal, mas está longe de produzir tal efeito sobre aqueles que estão cegos pelo preconceito ou paixão. Aqueles cuja conduta é reprovada por isto irão aproveitar o momento para expor ainda mais o seu despeito. Nosso Senhor experimentou isto frequentemente da parte dos fariseus. Um exemplo notável disto está registrado no texto. Vamos,
I. Considerar as circunstâncias do milagre
Os fariseus , observando a intenção de nosso Senhor de curar um homem que tinha uma mão ressequida, questionaram seu direito de fazê-lo no dia de sábado.
Desejando acusá-lo de inconsistência, ou de estar desprezando a lei, eles lhe perguntaram se era lícito curar no dia de sábado? Nosso Senhor mostrou-lhes que sim, Mat 12.11,12. Então lhes perguntou se enquanto eles o condenaram por fazer uma ação benevolente no sábado, se estavam mais justificados em ceder a propósitos assassinos contra ele no sábado? Eles, incapazes de responder a não ser para a sua própria confusão, “se calaram.” Embora convencidos de sua irracionalidade e impiedade, eles não as confessaram.
Nosso Senhor viu sua obstinação com indignação e tristeza
Manso e humilde como era nosso Senhor, ele era suscetível de ira; ainda que a sua ira não era como a paixão que muitas vezes nos agita.
Era perfeitamente justa e santa. O pecado era o objeto contra o qual fora dirigida, e, enquanto ele estava irado com o pecado, ele se entristeceu pelo pecador. Chegará de fato o dia em que a sua ira não será misturada com qualquer misericórdia, mas agora ela está, como a nossa também deveria estar, temperada com compaixão para com as pessoas que nos ofendem.
Não intimidado pela malícia dos fariseus, ele passou a curar a mão atrofiada.
Ele ordenou que o homem ficasse em pé no meio de todos. Certamente tal demonstração de compaixão deveria ter envolvido todos a se interessarem por Cristo, para o benefício de si mesmos. Ele então ordenou que ele estendesse a mão. O homem, apesar de conhecer sua incapacidade de fazê-lo de si mesmo, tentou obedecer, e, na tentativa, recebeu uma cura instantânea e perfeita.
Tendo portanto, mais do que nunca exasperado seus inimigos, Jesus se retirou da ira deles.
Alguém poderia pensar que todos deveriam ter adorado o autor de tal benefício, mas, em vez disso, os fariseus estavam “cheios de loucura, Lucas 6.11. “Ai! Que maldade há no coração humano! Eles se juntaram imediatamente com os herodianos numa conspiração contra sua vida; mas a hora de nosso Senhor ainda não era chegada, e ele se retirou, portanto, de seu poder, e assim derrotou, pelo menos naquela ocasião, os seus esforços contra ele.
Tendo, assim, abordado os principais incidentes no milagre, vamos
II . Deduzir disto algumas observações práticas
Minha primeira observação se refere ao nosso bendito Senhor, que realizou o milagre.
Teria nosso Senhor, desafiando a ira dos Fariseus cumprido o seu dever com coragem, mas, quando viu seus projetos assassinos, se retirou?
Então, isto pode ser observado, que, embora nunca devamos recusar qualquer dever, por medo do homem, ainda temos a liberdade de evitar as tempestades que não podemos acalmar.
Nada é mais claro do que o dever de afastar de nossos corações todo o medo do homem. “Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer.” (Lucas 12.4,5).
De fato é tão óbvio esse dever, que ele é recomendado até mesmo ao mais prejudicado e amargurado.
A própria vida não é para ser de qualquer valor aos nossos olhos, e numa adesão fiel a este princípio; devemos estar prontos para dar a vida por amor a Cristo, ou nunca seríamos aprovados por ele no dia do juízo.
Mas isso não deve proibir a nossa prudente retirada de cenas de perigo, desde que possamos fazê-lo, sem qualquer comprometimento da nossa fidelidade a Deus. Dos setenta que nosso Senhor enviou para pregar o Evangelho, nos foi dito que, “se fossem perseguidos em uma cidade, eles deveriam fugir para outra”.
E Paulo, quando os judeus de Damasco guardavam as portas noite e dia, a fim de matá-lo, foi descido pelo muro da cidade numa cesta, a fim de que pudesse escapar de ser assassinado. Em muitas ocasiões, o próprio Senhor se retirou do meio daqueles que buscavam tirar a sua vida. E quando Paulo teria ido ao teatro em Éfeso, os discípulos impediram o seu propósito, porque sabiam que ele iria imediatamente ser posto à morte por seus inimigos sedentos de sangue. A verdade é que a vida é um talento a ser melhorado por Deus, e não deve ser descuidadamente jogada fora. Devemos estar dispostos a sacrificá-la, se chamados a fazê-lo, pela providência de Deus. Nem uma fornalha de fogo, nem cova de leões deve portanto nos intimidar, a ponto de causar qualquer violação de nossa integridade. Mas se, de forma consistente com a fidelidade a Deus, nós pudermos preservar a vida, devemos preservá-la para Deus, do que jogá-la fora por uma exposição desnecessária a perigos que não podemos suportar.
Minha próxima observação se refere àquele no qual o milagre foi realizado.
Será que o homem com a mão atrofiada , em conformidade com o mandamento do Senhor, estendeu a sua mão, e nesse ato experimentou a sua cura? Então, nós, embora desesperados de nossa condição, devemos nos esforçar para obedecer os mandamentos de Deus, e nesse ato esperar a sua bênção em nossas almas.
Sem dúvida, somos em nós mesmos tão impotentes quanto o homem com a mão atrofiada. Mas temos, entretanto, a liberdade de sentar sem fazer qualquer esforço para nos salvar? Se aquele homem que tinha uma enfermidade natural tivesse se recusado a fazer o esforço que o Senhor ordenou, ele teria com toda a probabilidade perdido a cura que ele obteve por ter obedecido.
Quão mais, então seremos deixados para lamentar a nossa insensatez, se nós, cuja impotência é apenas de natureza moral, desprezarmos os meios que Deus tem ordenado! É nosso dever nos arrependermos; é nosso dever crer em Cristo; é nossa obrigação nos entregarmos sem reservas a Deus. E se, quando chamados a estes esforços, nos desculpamos dizendo que não somos capazes, vamos provocar o Deus Todo-Poderoso para reter de nós as bênçãos que tão grandemente precisamos, e que ele está sempre pronto a derramar sobre nós. Ele nos disse que “seu Espírito deve ajudar em nossas fraquezas.”, Romanos 8.26. Mas como ele vai nos ajudar? Não por nos mover sem qualquer cooperação de nossa parte, mas por segurar a extremidade oposta de um fardo, e carregando-o juntamente conosco.
Apelo então a todos vocês a se arrependerem do pecado, a fugirem para Cristo para achar refúgio para a culpa e do poder da mesma, e para se consagrarem sem reservas a ele. Eu prontamente reconheço, que vocês não são de si mesmos suficientes para estas coisas, mas “a graça de Cristo é, e será, suficiente para vocês”.
A minha última observação é que, se, como este homem, você experimentar a poderosa obra do poder de Cristo, você deve, ao longo de todo o restante de sua vida, mostrar a si mesmo como um monumento do seu poder e graça.
(Quão bom e atencioso é nosso Senhor para com as nossas necessidades, pois se antecipa e vem a nós para nos socorrer, como fez no caso do homem da mão ressequida, para nos dar graça, força e toda sorte de curas para o nosso corpo, alma e espírito, esperando tão somente que confiemos nele e nos entreguemos ao seu cuidado, a par de toda a oposição que possa estar havendo ao nosso redor da parte de homens ou demônios, tentando nos impedir de receber a bênção que ele está preparado e pronto para nos conceder pelo seu amor e poder – nota do tradutor.)
Texto de Charles Simeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.