“Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos?
É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra;
mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra.” (Marcos 4.30-32)
“Muitas coisas excelentes se dizem de ti , ó cidade de Deus.” Não há nada no céu ou na terra que não possa muito bem servir à sombra das tuas excelências. Nosso Senhor já havia ilustrado a natureza de seu Reino por uma grande variedade das mais instrutivas parábolas, e agora estende, por assim dizer, a sua invenção, a fim de encontrar outras semelhanças para torná-lo ainda mais compreensível. Ele aqui compara a sua Igreja e Reino a um grão de mostarda. Devemos,
1. Ilustrar esta comparação.
“O Reino de Deus” significa, neste como numa infinidade de outros lugares, o reino visível de Cristo estabelecido no mundo, e seu reino invisível erguido no coração dos homens. Devemos ilustrar a comparação, por conseguinte,
1. Em referência à Igreja de Cristo no mundo.
O grão de mostarda é a menor de todas as sementes que crescem para qualquer tamanho considerável; e tal era a Igreja de Cristo no início da sua formação no mundo. Consistia de nosso Senhor e os seus doze discípulos, e mesmo depois da ascensão de nosso Senhor, o seu número era de apenas cento e vinte pessoas. Embora tivesse logo estendido as suas ramificações. Como o grão de mostarda, não obstante a sua pequenez, cresce (nos países orientais) até se tornar uma árvore de alguma magnitude, assim também a Igreja, não obstante sua aparência pouco promissora, estendeu seus limites com uma rapidez surpreendente. No espaço de uns poucos anos, encheu, não somente a Judeia, mas todo o Império Romano. Nem tem ainda crescido às suas dimensões totais. Ela se espalhará nos últimos dias por toda a terra. Todos os reinos do mundo passarão a ser os reinos do Senhor e do seu Cristo. E, assim como judeus e gentios já tomaram refúgio sob sua sombra, também as pessoas de todas as nações e línguas no tempo designado por Deus.
2. Em referência à graça de Deus no coração.
A graça, quando pela primeira vez implantada na alma, frequentemente é muito pequena, mostrando-se apenas em algumas visões cintilantes, ligeiras convicções, bons desejos, propósitos e desempenhos fracos. Mas com o decorrer do tempo ela cresce em todas as partes, espalha as suas raízes na alma, e se torna mais forte em todos os seus ramos. A fé que era fraca, é confirmada, a esperança que estava definhando, se faz alegre e abundante, e o amor que era frio e egoísta, exibe-se com pureza e fervor. E todos, que entram na esfera de sua influência, recebem descanso e refrigério de sua sombra salutar, Os 14.7.
Na verdade o seu crescimento integral não pode ser visto neste mundo. Que visão gloriosa, seremos levados a ter no céu, onde cada árvore de justiça floresce com beleza imarcescível e exibe as cores mais brilhantes do poder e da eficácia da Graça Redentora.
Tendo feito a comparação, vamos agora avançar para,
II. Melhorá-la.
As partes de nossa melhoria devem necessariamente se relacionar aos diferentes pontos de vista em que a parábola foi explicada.
Vamos tirar disto, portanto, algumas observações.
1. Para o nosso encorajamento em relação à Igreja em geral.
Isto, pelo espírito de profecia, é belamente descrito como a passagem diante dos olhos do profeta Isaías, e que é impactante para a própria igreja, Is 49.18-21.
É para se lamentar que a infidelidade e profanação tenham corrido o mundo, e que esta árvore que o Senhor tem plantado, tenha sido tão “desperdiçada e devorada pelas feras do campo.” Mas ainda assim o estoque permanece, e nunca será desarraigado. Suas raízes ainda brotarão para baixo e frutificará acima. Em várias épocas a Igreja foi confinada dentro de limites muito estreitos, e ainda tem sempre sido preservada. Nos dias de Noé e de Abraão, os ramos foram cortados, e nada restou, mas do mero tronco, ela estendeu ramos novos. Por isso, deve fazê-lo novamente, até que finalmente cubra toda a Terra. Onde não há nada agora, senão idolatria e toda espécie de maldade, haverá um dia “santidade ao Senhor inscrito sobre as próprias campainhas dos cavalos.” Reguemos então esta árvore com as nossas orações e lágrimas. Vamos ajudar no seu crescimento por todos os meios ao nosso alcance, e olhar com confiança para aquele período, quando todas as nações do mundo virão e se sentarão à sua sombra benigna.
2. Para nosso consolo sob dúvidas e apreensões pessoais.
Por causa da pequenez das nossas realizações às vezes estamos prontos para duvidar se a pequena semente da graça em nossos corações nunca crescerá para qualquer uso ou benefício. Mas não há um santo no céu cuja graça não tenha sido uma vez relativamente fraca.
Todos eram “como bebês recém-nascidos”, nem deixaram de ser isto até que tivessem aprendido muitas lições humilhantes, para que atingissem a idade de jovens e pais, I Jo 2.12,13. Assim, no mundo natural, o maior carvalho foi uma vez uma bolota (como se chama a sua semente), e a maior árvore de mostarda foi uma pequena e desprezível semente. Por que, então, alguém desanimaria por causa das aparências presentes? Por que não deveríamos esperar que no decorrer do tempo nossas graças sejam fortalecidas, e nossos ramos sejam enchidos em grande extensão com frutos?
Nosso Deus nos assegura que ele “não despreza o dia das pequenas coisas”, Zac 4.10, por que então deveríamos? Vamos confiar, e não temer. Vamos olhar para o céu para receber as influências do sol e da chuva; e não duvidemos que Deus completará o trabalho que ele começou, e cumprirá em nós todo o beneplácito de sua bondade.
Texto de Charles Simeon, em domínio púbico, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.