Hipócritas. A palavra ‘hipocrisia’ é um termo de origem grega que aponta para a arte de desempenhar um papel teatral. O teatro, como se sabe, se originou da forma que conhecemos hoje na Grécia, como manifestações de homenagem ao deus grego do vinho, conhecido como Baco ou Dionísio. E o que faziam (ou fazem) os atores quando estão atuando? Eles fingem. Hipocrisia é o ato de fingir, de representar, de desempenhar um papel, ou seja, de passar a imagem de ser algo que não é. Assim eram os fariseus. Assim é o mundo. Assim é grande parte do cristianismo. Jesus aponta em suas palavras duas características básicas que denunciam a nossa hipocrisia.
1. A Adoração da Boca Para Fora.
Existem muitas de formas de se posicionar diante de Deus. Há os que negam sua existência. São os ateus. Há os que reconhecem sua existência, mas isso não faz nenhuma diferença em suas vidas. É o mundo. Há os que reconhecem sua existência, o servem e o obedecem. São os adoradores. E há os que vivem como o mundo, mas querem ser vistos como adoradores. São os fariseus hipócritas. Basta observar Mateus 6:5. São os fingidores.
“Quando orardes, não sejas como os hipócritas, pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens…”
“Seu coração está longe de mim”. A questão é: o quão Jesus é realmente importante para você? Que tempo ele ocupa da sua vida? O quanto você dispensa de atenção para ele e suas coisas? Que fatia do seu coração Jesus ocupa?
Se nós convivemos com Cristo e aceitamos que ele seja somente a terceira, quarta, quinta coisa em nossa escala de importâncias e prioridades, precisamos aceitar o fato de que o nosso coração ainda está longe dele e que a nossa adoração tem sido uma grande perda de tempo, simplesmente pelo fato de que a ele só cabe o primeiro lugar e, qualquer outro lugar que se der a ele, não servirá. Meu coração primeiro é de Jesus. Depois da minha família, da igreja, do trabalho, do estudo, etc. Até porque eu sei que se o colocar em primeiro lugar, ele cuidará de mim (Mateus 6:33).
Portanto, antes de nos ajoelharmos, de levantarmos as nossas mãos, de clamarmos em voz alta, de louvarmos a Deus na esperança de que ele nos ouça, façamos antes a seguinte reflexão: ele já é prioridade em minha vida, ou continuo não passando de um ator executando um papel, representando diante de Deus ou dos homens? O Salmo 78:35-36 expõe essa realidade:
“Lembravam-se de que Deus era sua rocha, de que o Deus Altíssimo era seu Redentor. Todavia, lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam”
É o culto do fingimento. Uma completa perda de tempo. Se Deus não ocupa o primeiro lugar em sua vida, não haverá como ele falar mais alto. Se é o dinheiro que ocupa o primeiro lugar em sua vida, então é o dinheiro que falará mais alto. Se é a lascívia, será a lascívia. Se é vaidade, será a vaidade. E aí entra a segunda denúncia contra o nosso comportamento fingido.
2. A Falsa Doutrina
Ora, nada mais justo do que falsos crentes se contentarem com falsas doutrinas. E aqui é que repousa o maior perigo que pode acontecer no meio da igreja.
Observe que existe uma série de idéias equivocadas que foram lançadas no meio da igreja, e que contradizem profundamente a Palavra de Deus:
a) Deus recebe toda oração que é feita a ele. Isaías 59:2 e Provérbios 28:9 dizem o contrário.
b) Que todo lugar que estiver falando de Deus serve pra mim. I Coríntios 4:6 e Mateus 5:18 não concordam. E é o próprio Cristo, na sequência (v. 7) quem explica o diferencial: a inserção de doutrinas de homens no meio da sua doutrina.
Um dos maiores absurdos da igreja cristã, senão o maior é concordar, aceitar e compactuar com usos, costumes, ensinos e tradições humanas dentro da igreja como se fossem coisas de Deus. Era tudo o que satanás queria. O mesmo erro dos fariseus que não receberam a Cristo, sendo cometido por aqueles que foram resgatados da maldição da Lei pelo sangue do Cordeiro. Uma série de ensinamentos que não encontram sequer uma vírgula de apoio bíblico se alastrou no meio da igreja e se tornou doutrina junto com a Palavra de Deus. E com isso afastaram os homens de Deus e Deus dos homens.
É a isso que se referia Jesus quando falava do ‘fermento’ dos fariseus, em Mateus 16:11-12. Os próprios discípulos entenderam que ele se referia à doutrina deles, seus ensinamentos. Palavra de Deus misturada com costumes de homens. E isso não produz adoradores, mas sim, fingidores. E o pior, por conta disso, e da negligência que as pessoas têm em relação à Palavra de Deus, muitos acabam se acomodando a esse fingimento. E acabarão sendo tão vítimas como os que as ensinaram…
“Mas ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Fechai o reino dos céus aos homens. Vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mateus 23:13)
“Em vão me adoram”
Como é dura essa frase. Quando poderia entrar em nossa cabeça que adorar a Deus poderia ser um ato inútil, ou seja, sem utilidade nenhuma? É isso que quer dizer o texto. ‘Vão’ é aquilo que não tem efeito, é perda de tempo, não produz nenhum resultado. É como alguém que se esforça para chegar a um lugar, e ao chegar, percebe que os portões foram fechados há cinco minutos e diz: “Tanto esforço em vão…”. Infelizmente, o cristianismo está impregnado de adoração vã, aquela que é feita orientada por um culto fermentado. E aí é que o Senhor explica em Ezequiel 33:31.
“Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põe em prática, pois lisonjeiam com a sua boca, mas seu coração vai após o lucro”.
Para que nossa adoração seja recebida por Deus, ela deve estar em completa conformidade com sua Palavra. E isso inclui rejeitar todo e qualquer tipo de costume ou tradição que não encontre amparo em sua Palavra. Acabar com essa idéia equivocada e perigosa de que qualquer culto onde se esteja falando de Deus é bom e está produzindo adoração. Porque assim agiam os fariseus. Ou será que alguém esqueceu que eles eram os maiores pastores de Israel? Os que dirigiam os trabalhos no templo e nas sinagogas? Eles falavam ou não de Deus? Obviamente que sim, mas, ao mesmo tempo, olha o que Jesus diz no versículo 9.
“jeitosamente…” (ARA/AEC) ou “bem sabeis rejeitar”(ACF) ou ainda “sabeis muito bem” (BJ) rejeitar o mandamento (a Palavra) de Deus.
Não se deixe enganar. Só existe adoração se a Palavra de Deus for o centro. Sem que nada lhe seja acrescentado ou tirado. Não precisamos de outra fonte. Não precisamos fingir. E a única forma de saber se estamos fingindo ou não é observando se estamos satisfeitos somente com a Lei do Senhor, e se estamos rejeitando qualquer coisa que não venha dela, ainda que esteja parecendo agradável, ainda que você concorde, ainda que você ache que Deus está concordando, fuja disso. Ou sua adoração será completamente inútil.