“ Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu. Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim; Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.” (João 14.28-31)
Jesus iria para o Pai. Ele retomaria a glória que tinha com Ele desde antes da fundação do mundo.
Os discípulos deveriam exultar com isto em vez de se entristecerem, sobretudo porque Jesus lhes prometeu que voltaria a estar com eles novamente, como vimos antes, em espírito. É certo que Ele esteve com eles pelo espaço de quarenta dias depois da Sua ressurreição, mas lhes aparecia ocasionalmente, e certamente a referência de que voltaria a estar com os discípulos aponta para a Sua manifestação espiritual àqueles que obedecem aos Seus mandamentos.
Jesus estava lhes passando todas estas informações antecipadamente para que pudessem reforçar a sua fé nEle. Afinal tudo o que havia predito quanto à forma como sairia deste mundo de fato aconteceu, tal como havia falado aos seus discípulos. O propósito disto, como afirmou, não foi somente para consolá-los na tristeza, mas para confirmá-los na fé. Ao afirmar no final do verso 28 que o motivo da alegria dos discípulos com a Sua ida para o Pai consistia no fato de ser o Pai maior do que Ele, significa que apesar da Sua própria divindade em semelhança em essência em tudo com o Pai, na Trindade, tanto o Filho quanto o Espírito Santo são submissos voluntariamente à vontade do Pai.
Jesus declarou várias vezes que todo o Seu prazer era fazer a vontade do Pai. Há na própria Trindade um belo exemplo da submissão que é exigida dos cristãos. O princípio do verdadeiro amor é submissão. Onde há o desejo de prevalecer sobre o outro já não pode mais existir o amor. A natureza do amor mesma chama por esta submissão implícita, este desejo de ouvir, atender e servir ao outro.
E nisto Jesus nos deixou um exemplo perfeito do caráter desta obediência em amor. Estamos muito acostumados a ver submissão pelo modelo autoritário que há no mundo, mas a submissão em amor nada tem a ver com isto, e a este respeito Jesus havia alertado os discípulos que aquele que quisesse ser o maior entre eles, deveria ser o servo de todos.
A grandeza do reino dos céus está em se fazer pequeno diante de seus próprios olhos, perante aqueles que devemos nos colocar numa posição de serviço. O argumento de Jesus aos discípulos, de que deveriam exultar com o fato de estar indo para o Pai, que era maior do que Ele, baseava-se na afirmação de que havia uma relação verdadeiramente filial de amor familiar entre Ele e o Pai. A sua ida para o Pai nesta condição tinha a ver com os próprios interesses dos discípulos, pela condição de serem também participantes da família de Deus. Note as palavras de Jesus no verso 31:
“Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou”. Tamanha era a submissão de Jesus ao Pai, que foi revelado ao profeta Isaías que Ele se deleitaria no temor do Pai: “E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos.” (Is 11.3).
É de tal ordem o prazer que o Pai sente em relação ao Filho por causa desta perfeita submissão em amor, que nós o vimos declarando isto toda vez que se referia a Ele, como por exemplo quando foi batizado por João Batista: “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3.17) E, noutra ocasião quando se dirigiu aos apóstolos quando estavam com Jesus no monte da transfiguração: “E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi.” (Mc 9.7).
No verso 30, Jesus fez uma parada abrupta no seu discurso dizendo que já não falaria muito com os discípulos porque o príncipe deste mundo estava se aproximando, não para que ele tivesse a precedência em ser ouvido, ao contrário, porque ele não tinha nenhuma parte a ver com ele. Aquela era a hora que foi concedida ao diabo para atuar não somente inspirando Judas a trair a Jesus, como fazendo todo o levante de injustiças que culminariam com a Sua morte na cruz.
O Espírito Santo, conforme Jesus havia prometido, conduziria os discípulos a toda a verdade e lhes lembraria tudo o que Ele lhes havia falado, razão porque não seria necessário tentar esgotar tudo o que eles precisavam ainda aprender sobre o Seu reino espiritual, e que melhor aprenderiam quando o Espírito fosse derramado no Pentecostes, passando a agir como um professor dentro deles.
A urgência daquela hora demandava a tomada de providências para que tudo acontecesse conforme havia sido planejado pelo Pai.
Jesus estava agindo estritamente debaixo deste planejamento e das ordens que recebia diretamente do Alto. Bem fariam especialmente todos os Seus ministros de não darem um só passo que não tenha sido determinado por Ele, seguindo o próprio exemplo que Ele nos deixou em Seu ministério terreno.
Jesus provou o Seu amor pelo Pai fazendo somente aquilo que Ele lhe ordenava, e nós, pecadores, não raras vezes agimos presunçosamente, pensando que nos é dada a liberdade em nosso ministério de traçarmos os planos gerais de ação de tudo o que pretendemos fazer por nossa própria deliberação e conta. Quão distantes ficamos do exemplo que Cristo nos deu quanto ao modo correto de se servir a Deus. Todo ministério, toda obra que seja verdadeiramente de Deus, já está traçada por Ele, e a nós cabe tão somente fazer tudo de acordo com o que Ele tem determinado para nós.
Paulo aprendeu esta lição de andar segundo o passo de Deus nas experiências que ele teve em seu apostolado, como por exemplo quando intentou evangelizar a Bitínia, mas foi impedido de fazê-lo pelo Espírito Santo (At 16.7,8), e quando tentou evangelizar Jerusalém no início da sua conversão e foi repreendido por Jesus, porque não era ali a área que Deus havia demarcado para ele para realizar o seu ministério (At 22.18).