O exercício diário do perdão é o meio de estarmos em paz em nossas consciências e corações, pela graça que recebemos de Deus, porque quando perdoamos os nossos ofensores somos também perdoados por Ele, de modo que não somos sujeitados aos Seus juízos decorrentes da nossa falta de perdão.
Muito destes juízos consiste em ficarmos à mercê dos poderes espirituais opressores que operam de modo opressivo, porque o coração que não perdoa se fecha e não pode ser invadido pela graça de Deus, e fica portanto à mercê da ação dos demônios que andam ao nosso derredor procurando oportunidade para nos afligir.
Deus nos tem perdoado em Cristo uma multidão de pecados pelos quais jamais poderíamos pagar para satisfazer à justiça da santidade divina, e assim como Ele nos perdoou em Cristo, também devemos perdoar.
Então somos disciplinados pelo Senhor com os Seus juízos corretivos quando nos deixamos vencer por mágoas, ressentimentos e amarguras contra o nosso próximo, seja por qual motivo for, e Jesus deixou isto bastante claro para nós em Seu ensino constante dos evangelhos.
Ao ouvir o ensino de nosso Senhor relativo ao exercício da disciplina na Igreja, Pedro se antecipou aos demais discípulos e Lhe perguntou Jesus quantas vezes estaria obrigado a perdoar um irmão faltoso.
Ele se valeu da tradição dos escribas e fariseus quando perguntou se até sete vezes, porque eles ensinavam que este era o número máximo que uma pessoa poderia ser perdoada por alguém.
Nós temos no texto de Mateus 18.21-35 a explicação do espírito com o qual a disciplina deve ser aplicada na Igreja, a saber, com “toda a longanimidade e doutrina”, ou seja com paciência para com as faltas de outros, e seguindo o reto ensino de nosso Senhor relativo ao assunto.
Se nós formos perder a nossa tranquilidade de mente por causa do pecado de outros, nós nunca poderemos ter paz com Deus, porque o diabo sempre usará isto contra nós. É preciso pois ser sempre longânimos.
É preciso pois aprender do mesmo exemplo de longanimidade de Cristo e dos apóstolos, especialmente os líderes do povo de Deus, para que não venhamos a destruir a obra que Ele nos tem designado para dirigir, por causa de um destempero que não nos permita sermos longânimos para com todos, conforme é necessário, para que em meio a todas as dificuldades que venhamos a encontrar no caminho no nosso relacionamento com as pessoas, especialmente nas dificuldades criadas por Satanás.
A longanimidade é uma atitude pessoal de não se irar com facilidade e rapidamente em relação aos outros.
Portanto, ao tratarmos de assuntos como a ira de Deus, que é um dos Seus atributos, sobre assuntos relativos ao Seu juízo, e ao inferno, não devemos esquecer que Deus é longânimo, e que por isso, muitas vezes retarda o Seu juízo, dá oportunidades imensas aos Seus inimigos para se arrependerem, suporta com muita longanimidade as iniquidades dos vasos de ira, e não se permite ter qualquer perturbação de mente por causa das transgressões deles.
E é particularmente neste aspecto que Jesus nos chama a imitar o Seu próprio exemplo de mansidão e humildade, que são a base da sua completa longanimidade. Longanimidade é a capacidade de suportar ofensas e danos sem precipitar-se numa ira condenatória sobre quem nos ofendeu ou prejudicou.
É pois muito mais do que a capacidade de ser paciente em circunstâncias gerais adversas, pois está implícito o retardamento da ira e do juízo com vistas a não se ressentir contra as faltas sofridas da parte de outros, e da não aplicação de um castigo imediato sobre eles, se isto se encontra na esfera do nosso poder e autoridade.
E não há um limite para este espírito de longanimidade, revelando-se no poder prático de se perdoar ofensas de coração, assim como Jesus ensinou aos seus discípulos, quando à vista destes ensinos Pedro lhe perguntou se deveria perdoar o irmão que pecasse contra ele apenas até sete vezes, e o Senhor lhe afirmou e ensinou com uma metáfora e uma parábola, que a longanimidade em suportar ofensas e a atitude e o ato de perdoá-las deve seguir o padrão do próprio Deus, que é completamente longânimo e perdoador, não tendo fixado em seu caráter qualquer limite para ser longânimo e perdoador em relação àqueles que verdadeiramente se arrependem, pois será longânimo para com eles e os perdoará toda vez que se arrependerem de seus pecados e ofensas.
Com a metáfora Jesus disse que Deus não perdoa até sete vezes, mas até setenta vezes sete, e devemos ser imitadores de Deus especialmente em relação a isto (Mt 18.21,22).
E com a chamada parábola do credor incompassivo Jesus ensinou que Ele perdoa dívidas, ainda que sejam de dez mil talentos, e que não seremos abençoados por Deus, e na verdade seremos sujeitados ao juízo de sermos corrigidos e disciplinados até que nos disponhamos a ser longânimos e perdoadores, ainda que a dívida que tenhamos que perdoar de alguém seja pequena como a do homem da parábola, que mandou prender quem lhe devia apenas cem denários (Mt 18.23-35). Veja que não se fala de perdão barato na Bíblia, apesar de ser sempre pela graça, porque sempre está implícita a necessidade de arrependimento do ofensor. Na falta deste arrependimento não há qualquer sentido no perdão.
Pode parecer um paradoxo, mas o nome de Deus é glorificado, exaltado e honrado pela exibição da Sua completa longanimidade e misericórdia a pobres pecadores, num mundo sujeito ao pecado. Lembremos que a dívida que o homem da parábola se recusou a perdoar era de apenas cem denários, quando ele próprio teve uma dívida de sessenta milhões de denários perdoada por Deus. E este homem que foi perdoado de tal maneira representa todos aqueles que foram salvos pelo perdão de Jesus.
A maior glória do Senhor está exatamente no fato de perdoar pecados e ser longânimo para com os pecadores, porque isto Lhe traz muita gratidão, louvor, adoração e amor.
Daí ter dito a Moisés o seguinte quando este lhe pediu que lhe mostrasse a Sua glória:
“Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová, Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se (longânimo em outras versões) e grande em beneficência e verdade;” (Êx 34.6).
Cremos que do fruto do Espírito que mais necessitaremos nestes últimos dias é exatamente a longanimidade, porque sem isto não será possível prosseguir adiante porque o Inimigo nos deterá instilando mágoa, ira e toda sorte de sentimentos rancorosos em face do pecado, que se multiplicará cada vez mais ao nosso redor, porque Jesus afirmou que neste tempo a iniquidade se multiplicaria esfriando o amor de muitos.
Finalmente, lembramos que nem mesmo o nosso zelo pela obra do Senhor pode justificar a falta de longanimidade. É especialmente aqui que ela deve ser manifestada porque senão o nosso zelo será a causa mesma da destruição da obra que Deus determinou fazer por nosso intermédio.
Toda pregação deve ser densa e nunca fazer concessões em favor do pecado e contra a verdade. Mas não podemos esquecer que a longanimidade faz parte da verdade que estamos incumbidos de pregar e viver.
Ser longânimo não significa portanto, ser tolerante com os pecados de nossa congregação. Em se fazer vista grossa para o pecado, nem muito menos de justificar o pecador, mas lembrar que não nos é dado fechar a porta da oportunidade para o arrependimento, seja pelo tempo que for necessário, e seja para quem for, enquanto não tivermos recebido da parte do Senhor nenhuma determinação para fechá-la.
Quando Paulo entregou o jovem incestuoso de Corinto nas mãos de Satanás para a destruição da carne, ele tomou tal deliberação congregado em espírito com a Igreja de Corinto e no poder de Jesus Cristo (I Cor 5.3,4) e não simplesmente porque ele havia ficado escandalizado ou então por ter perdido a paciência.
Lembremos que, especialmente muitos jovens na Igreja, levarão muito tempo até que tenham uma experiência real de conversão ao Senhor.
Se não formos longânimos com eles, nós os privaremos e a nós mesmos de vermos Cristo sendo formado neles.
Pela Sua longanimidade o Senhor tem dado tempo a eles para que se convertam e a nós cabe seguir o mesmo exemplo de longanimidade do Senhor deles e nosso, de forma a cooperarmos com o Seu trabalho.
Perdoemos e seremos perdoados.