“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.
E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.
E vós sabeis o caminho para onde eu vou.” (João 14.1-4)
Podemos muito bem ficar felizes com o povo de Deus, cujas vidas estão registradas no Antigo e no Novo Testamento, que tinha as mesmas paixões que nós. Conheço muitos pecadores que ficam esperançosos pelo que observam nos pecados e lutas daqueles que foram salvos pela graça. E eu conheço muitos dos herdeiros do Céu que encontraram consolo quando constataram que pessoas imperfeitas como eles próprios têm prevalecido com Deus em oração e foram livrados em seu tempo de aflição. Estou muito contente que os Apóstolos não tivessem sido homens perfeitos, porque teriam então compreendido tudo o que Jesus lhes dissera, e nós teríamos perdido explicações instrutivas do nosso Senhor. Eles também poderiam ter vivido acima de todos os problema da mente e, então, o Mestre não lhes teria dito estas palavras de ouro: “Não se turbe o vosso coração.”
Isto é, ainda, mais evidente no nosso texto, que não está de acordo com a mente do Senhor que qualquer um de Seus servos esteja turbado de coração. Ele não tem prazer na dúvida e inquietude de seu povo. Quando ele viu que por causa do que ele tinha dito a eles, a tristeza encheu os corações dos seus apóstolos, Ele insistiu com eles com grande amor e para que fossem consolados. Como quando uma mãe consola seu filho, Ele disse: “Não se perturbe o vosso coração.” Jesus diz a mesma coisa para você, meu amigo, se você é um dos Seus abatidos. Ele não quer que você seja vencido pela tristeza. ” Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém,,” é mandamento mesmo na antiga dispensação, e estou certo de que, sob essa revelação mais clara, o Senhor deseja que o seu povo seja livrado do coração desgostoso.
Não tem o Espírito Santo, especialmente realizado o trabalho de conforto, a fim de que ele possa ser efetivamente feito? Tribulações deprimem os corações dos filhos de Deus, porque o ministro mais terno falha em fornecer consolo – e então é melhor que o consolador falível se lembre do Consolador infalível – para encomendar o espírito entristecido às mãos divinas. Vendo que uma Pessoa da Santíssima Trindade se comprometeu a ser o Consolador, vemos o quanto é importante que os nossos corações sejam enchidos com consolo. Feliz a Religião na qual o nosso dever é sermos felizes! Bendito Evangelho pelo qual somos proibidos de ficar turbados no coração! Não é uma coisa admirável que o Senhor Jesus pensa nos seus amigos em tais circunstâncias?
Grandes tristezas pessoais podem muito bem ser uma desculpa para se esquecer as dores dos outros. Mas Jesus estava indo para sua última agonia amarga e até a morte, e ainda assim Ele se encheu de compaixão por seus seguidores. Se fosse eu ou você, teríamos pedido simpatia para nós mesmos. Nosso grito teria sido: “Tenham piedade de mim, ó meus amigos, porque a mão de Deus me tocou!” Mas, ao invés disso, nosso Senhor lançou suas próprias dores esmagadoras no fundo e inclinou a cabeça para o trabalho de firmar Seus escolhidos sob suas mágoas muito inferiores às dEle. Ele sabia que estava prestes a ser “profundamente angustiado até à morte”. Ele sabia que logo estaria em agonia por suportar “o castigo da nossa paz.” Mas antes que ele mergulhasse no fundo, ele deveria secar as lágrimas daqueles que ele tanto amava e, por isso, Ele disse mais comoventemente: “Não se turbe o vosso coração.”
Embora eu admire essa ternura condescendente de amor, ao mesmo tempo, não posso deixar de adorar a maravilhosa confiança de nosso bendito Senhor, que, embora soubesse que estava prestes a ser colocado numa morte vergonhosa, mas não sentia medo, antes, mandou seus discípulos confiarem nele implicitamente. A escuridão da terrível meia-noite estava começando a envolvê-lo, mas quão valentes foram Suas palavras: “crede também em mim.” Ele sabia, naquela hora ameaçadora, que Ele tinha vindo do Pai e que Ele estava no Pai e o Pai nEle e por isso Ele diz: “Vocês acreditam em Deus, creiam também em mim.” A calma firmeza de seu Mestre deve ter contribuído muito para confirmar os seus servos na fé. Enquanto vemos aqui a sua confiança como homem, também sentimos que este não é um discurso que um mero homem teria proferido, mesmo que ele tivesse sido um bom homem – porque nenhuma mera criatura pode ser comparada a Deus.
Que Jesus é um homem bom, está fora de questão. Que ele deve ser Deus é, portanto, comprovado por essas palavras. Será que Jesus nos manda confiar em um braço de carne? Não está escrito: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço?” No entanto, o Santo Jesus diz: “Você acredita em Deus, creia também em mim.” Esta associação de si mesmo com Deus, como o objeto da confiança humana no tempo da angústia, denota uma consciência de seu próprio poder divino – e isto é um mistério em cujas dificuldades a fé tem prazer – de ver em nosso Senhor Jesus Cristo, a fé de um Homem em Si mesmo – e da fidelidade de Deus para os outros.
Venham então, queridos amigos, entreguem-se ao texto e que o Espírito de Deus esteja com vocês! Vamos, portanto, orar para que possamos conhecer a glória das palavras de nosso Senhor, e ouvi-las falar em nossa alma pelo Espírito Santo. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou.”.
Estas palavras são, em si mesmas, muito melhor do que qualquer sermão. O que pode ser o nosso discurso, senão uma diluição do espírito essencial de consolação que está contido nas palavras do Senhor Jesus?
I. Vejamos em primeiro lugar o gosto das águas amargas. “Porque eu vos disse estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração.” Eu não restringiria o conforto para qualquer uma das formas de aflição, pois é um bálsamo para todas as feridas. Mas, ainda assim, seria bom saber o que era o problema em particular dos discípulos? Pode ser que alguns de nós estejam passando por isso, agora, ou poderemos ser mergulhados nisto no futuro. Foi por isso – que Jesus morreu – o seu Senhor, a quem eles amavam sinceramente, estava prestes a ter diante deles uma vergonhosa e dolorosa morte. Qual coração sensível poderia suportar pensar nisso? No entanto, Ele lhes havia dito que seria assim e eles começaram a se lembrar das palavras que ele havia dito que o Filho do homem seria entregue nas mãos dos homens ímpios e seria açoitado e condenado à morte.
Eles passariam agora por toda a amargura de vê-lo acusado, condenado e crucificado. Em pouco tempo ele seria preso, amarrado, e seria conduzido à casa do Sumo Sacerdote, em seguida a Pilatos, a Herodes, e então, de volta a Pilatos, seria despido, açoitado, escarnecido, insultado. Eles o viram sendo conduzido pelas ruas de Jerusalém, carregando a cruz. Eles o viram pendurado na cruz entre dois ladrões e ouviram-no clamar: “Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?” A bebida amarga era esta! Na proporção em que eles amavam seu Senhor, eles deveriam ser profundamente entristecidos por causa dele, e eles precisavam que ele lhes dissesse: “Não se turbe o vosso coração.”
Em adição a isto, os apóstolos tinham uma expectativa de que o seu Senhor iria para longe deles. Eles não entenderam quando ele disse: “Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e me vereis, porque eu vou para o Pai”. Agora ficou claro para eles que estavam para serem deixados como ovelhas sem pastor, por seu Mestre e Cabeça, que se retiraria deles. Isto foi, para eles, uma fonte de medo e desânimo, pois disseram a si mesmos: “O que faremos sem Ele? Somos um pequeno rebanho; como seremos defendidos quando Ele se for, e o lobo estiver rondando? Quando os escribas e fariseus se reunirem contra nós, como deveremos lhes responder? Quanto à causa de nosso Senhor e do Seu reino, como poderão estar seguros em mãos trêmulas como as nossas? Ai do Evangelho da salvação quando Jesus não está conosco!”
Esta foi uma tristeza amarga – e algo deste tipo de sentimento, muitas vezes atravessa nossos corações – como nós trememos diante da arca do Senhor.
II. Agora nesta segunda divisão do sermão, bebamos as águas doces e refrigeremos nossas almas. Em primeiro lugar, neste texto maravilhoso nosso Mestre nos indica os verdadeiros meios de conforto em todo o tipo de inquietação. Como é que Ele o colocou? “Não deixe seu coração ser turbado”, acredite! Por favor, olhe em sua Bíblia e você verá que essa ordem é repetida. Ele diz, na abertura do versículo 11: “Creia-me.” E então, de novo, “creia em mim.” Eu pensei, enquanto eu tentava entrar no significado desta expressão sagrada, que eu ouvi Jesus ao meu lado dizendo três vezes para mim “, acredite! Acredite em mim! Acredite em mim!”
Poderia qualquer um dos 11 que estavam com ele desacreditarem em seu Senhor presente? Ele diz: “Acredite em mim! Acredite em mim! Acredite em mim!” como se houvesse grande necessidade de exortá-los a terem fé nEle. Não há outro remédio, então, para um coração perturbado? Nenhum outro é necessário! Este é todo suficiente através de Deus. Se crendo em Jesus, você ainda está perturbado, continue crendo nele, ainda mais profundamente e de coração. Se mesmo assim a inquietação não desaparecer de sua mente, creia nele num terceiro grau e continue a fazê-lo com o aumento da simplicidade e força. Considere este como o primeiro e único medicamento para a doença do medo e problemas! Jesus prescreve: “Acredite, acredite, acredite em mim!” Acredite não só em certas doutrinas, mas no próprio Jesus, nEle como capaz de realizar todas as promessas que Ele fez! Creia nEle assim como você crê em Deus!
“Ninguém jamais viu a Deus em qualquer momento”, mas você ainda acredita no Deus invisível trabalhando todas as coisas, sustentando todas as coisas! Da mesma forma creia no Cristo invisível, que Ele ainda é tão poderoso como se você pudesse vê-lo andando sobre as ondas, ou multiplicando os pães, ou curando os enfermos, ou ressuscitando os mortos! Creia Nele e a tristeza e os suspiros fugirão!
No céu Deus pode dizer ter a sua habitação e Jesus estava indo para lá para ser recebido em seu retorno com toda a honra que aguardava o seu trabalho consumado. Ele foi, de fato, para casa, como um filho que está voltando para a casa de seu pai, da qual ele tinha saído a serviço do seu pai. Ele estava indo para reassumir a glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse! Oh, se tivessem compreendido perfeitamente isto, eles teriam entendido as palavras do Salvador: “Se você me amasse, você iria se alegrar, porque eu disse, que eu vou para o Pai”.
“Ele foi visto dos anjos”. Eles viram a abertura das portas eternas para o Rei da glória e o triunfo pelas ruas celestes dAquele que levou cativo o cativeiro dos homens. Eles viram a entronização de Jesus que fora feito um pouco menor que os anjos por causa da paixão da sua morte, mas que foi então coroado de glória e honra!
“Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre”. Não deixe seu coração ficar turbado pelo burburinho de controvérsia e blasfêmias de uma geração perversa! Embora haja confusão quando o mar ruge, e o ímpio derrame a espuma de sua raiva contra o Senhor e contra o seu ungido, o Senhor está assentado sobre a inundação! O Senhor é Rei para sempre. Mais uma vez, digamos, “Aleluia!” O príncipe chegou ao Seu próprio lar novamente! Ele entrou no palácio de Seu Pai! Os céus o têm recebido! Por que devemos ficar turbados?
Em terceiro lugar, nosso Senhor deu a Seus servos conforto de outra maneira, Ele lhes deu a entender implicitamente que um grande número iria segui-lo até a casa de seu pai. Ele não apenas lhes assegurou que Ele estava indo para a casa de Seu Pai, mas Ele disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Essas mansões não são construídas para permanecerem desocupadas! Deus não faz nada em vão e, por isso, é natural concluir que uma multidão inumerável de espíritos, subirá no devido tempo para ocupar as muitas moradas na casa do Pai! Agora, eu vejo nisto grande conforto para eles, porque temiam que, sem dúvida, se o Senhor estivesse ausente, o seu reino poderia falhar. Como haveria convertidos se Ele fosse crucificado? Como se poderia esperar de pobres criaturas como eles o estabelecimento de um reino de justiça na terra? Como eles poderiam virar o mundo de cabeça para baixo e levar multidões aos seus pés – aqueles que Ele comprou com o seu sangue?
O Senhor Jesus, com efeito disse: “Eu vou, mas vou abrir o caminho para uma grande multidão que virá para as moradas preparadas. Tal como o grão de trigo que é lançado na terra para morrer, e que produzirá muito fruto.”
Esta é uma parte do nosso conforto nesta hora. Pouco importa como os homens lutam contra o Evangelho, pois o Senhor conhece os que são seus, e ele vai resgatar, com poder, os redimidos pelo Seu sangue! Ele tem uma multidão em conformidade com a eleição da graça, que Ele conduzirá à glória – embora eles pareçam, hoje, ser um pequeno remanescente, mas Ele irá preencher as muitas moradas! Isto permanece firme como uma rocha: “Todo o que o Pai me deu virá a mim;. e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”.
Jesus foi para o céu para atuar como nosso intercessor diante do Trono de Deus e, portanto, é poderoso para salvar perfeitamente a todos os que vêm a Deus por ele. Ele foi para lá para assumir as rédeas da Providência, com todas as coisas sujeitas a Seus pés, e ter todo o poder dado a ele no céu e na terra para que possa abençoar Seu povo em abundância. Por estar no céu, o Senhor ocupa um terreno privilegiado para a realização dos Seus propósitos de amor. Como José desceu ao Egito para armazenar nos celeiros, para preparar para Israel uma casa em Gósen, e sentar-se no trono para a sua proteção, por isso tem o nosso Senhor ido para a Glória para o nosso bem, e ele está fazendo por nós, acima em Seu Trono, o que não poderia ter sido feito por nós aqui.
O próximo consolo foi a promessa da certeza do seu retorno “Se eu for para preparar um lugar para vocês, eu voltarei.” Ouça, então! Jesus está voltando! Da mesma forma como subiu, Ele voltará, isto é, realmente, literalmente, e em forma corpórea! Ele não fez nenhum jogo de palavras quando disse tão claramente, sem parábolas: “Eu voltarei”, ou mais docemente, ainda, “eu irei embora e voltarei a vós.” Esta é a nossa mais alta nota de alegria: “Eis que Ele vem!” Este é o nosso conforto que nunca falha! Observe que o Salvador, neste lugar, não diz nada sobre a morte, nada sobre a paz e descanso dos crentes até que Ele venha, pois Ele olha para o fim.
Ele não vai enviar um anjo, nem mesmo uma série de querubins para nos buscar em nosso estado eterno, mas o Senhor, Ele mesmo, descerá do céu. Será o dia do nosso casamento e nosso glorioso Noivo virá em pessoa! Quando a noiva estiver preparada para o seu marido, não há de vir buscá-la para sua casa?
“Não deixe seu coração ficar turbado. “Os inimigos do Senhor podem odiá-lo, mas eles não podem impedi-lo. Eles não podem impedir o seu retorno glorioso, nem por um piscar de olhos! Que grande resposta será a Sua vinda para cada adversário! Como eles vão chorar e lamentar por causa dele! Tão certo como Ele vive, Ele virá.
Este, amados, é o caminho para nós, assim como foi para o nosso Senhor. Ele não podia alcançar a Sua coroa, exceto pela Cruz, nem a Sua glória de Mediador exceto pela morte! E que desta maneira, uma vez feita em sua própria pessoa o caminho está aberto para todos os que creem nEle. Assim, você sabe para onde o Senhor foi e você conhece o caminho – portanto, tenha ânimo!, pois Ele não está longe – ele não é inacessível! Você deve em breve estar com ele. “Não deixe seu coração ser turbado.” Oh, valente Mestre, Você deve ser seguido por uma tribo de covardes? Não, não vamos turbar o coração através das provações do dia. Oh, santo Mestre, você encarou a sua morte com a canção, pois, “depois do jantar, eles cantaram um hino!” Não devemos passar através de nossas tristezas com confiança alegre? Oh, confiável Senhor, faze-nos crer em ti como em Deus, em ti mesmo, nós cremos em ti, por tua Graça, também seremos confiáveis!
Oh, meu Mestre, sua serenidade imperturbável de fé inspira nossas almas e nos tornamos fortes! Quando lhe ouvimos falando corajosamente de sua morte, que teve que ser cumprida em Jerusalém, e depois da glória que se seguiu a ela, nós, também, teremos esperança a par de toda a oposição dos homens ímpios e, aguardando a Tua volta, nos consolaremos com esta bendita esperança! Não te detenhas, ó Senhor! Venha depressa! Amém.
Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1741 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.