Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Eis que Deus é muito grande; contudo a ninguém despreza; é grande na força da sua compreensão.” (Jó 36.5)
(Depois de Jó ter dito: “Deus, tu me lançaste na lama, e me tornei semelhante ao pó e à cinza. Clamo a ti e não me respondes, estou em pé, mas apenas olhas para mim. Tu foste cruel comigo; com a força da tua mão tu me combates.” (Jó 30.19-21); o patriarca descreveu no capítulo 31, seguinte a este, todos os seus atos de compaixão e justiça própria – pelo que se levantou contra ele, Eliú (Jó 32.1,2) proferindo entre as palavras do discurso que fizera, as que encontramos em nosso texto – nota do tradutor)
Eliú não nos dá uma razão comum para a sua afirmação, mas ele fundamenta sua declaração de que Deus a ninguém despreza pelo fato de ser poderoso. Essa forma de argumento não teria ocorrido naturalmente a você ou a mim. Poderíamos até ter sido inclinados a pensar o oposto e dizer – Ele é tão poderoso que não se pode esperar que considere essas coisas fracas como as suas criaturas, e Ele despreza a todas elas! Eliú, com muito bom senso do que a maioria de nós possui, faz uma conclusão oposta e declara: porque Deus é poderoso, Ele a ninguém despreza!
Os fatos são argumentos convincentes e se você cuidadosamente observar, você vai ver que, geralmente, as pessoas que desprezam os outros são fracos. Esses homenzinhos que estão revestidos com autoridade breve são muitas vezes rudes e tirânicos, mas o que é verdadeiramente grande é simpático, sensível e atencioso. O forte não tem nenhuma razão para desconfiar e desprezar e, portanto, eles estão livres de inveja.
Deus é tão grande em todas as coisas que Ele a ninguém despreza! Ele não tem rivais e não tem necessidade de se sustentar, diminuindo o bom nome dos outros. Ele é supremamente real. Ele é tão verdadeiro e profundo que nEle nunca pode haver algo como o pensamento de desprezar a qualquer pessoa, a fim de proteger a si mesmo. Deus é grande demais para ser desdenhoso, muito poderoso para ser arrogante.
O poder de Deus reside em seu coração, na sua compreensão e no seu amor. Ele é poderoso nas coisas espirituais, na sublimidade do pensamento, na grandeza de motivo, na nobreza de espírito e na elevação de seus propósitos. Quando você perceber a exaltação da Mente Divina e a sublimidade do caráter divino, você perceberá a razão por que o Senhor não despreza ninguém.
É a magnanimidade de Deus, que o impede de desprezar a alguém. O sol é tão glorioso que não se recusa a brilhar sobre um monturo! Se Deus fosse pequeno, ele poderia desprezar os pequenos. Se ele fosse fraco Ele teria desdenhado dos fracos. Mas é Deus sobre todos, bendito para sempre, o único Deus – temos que lidar com aquele que, embora seja o Altíssimo, tem respeito aos humildes! Nosso Deus é Aquele que não despreza o clamor dos aflitos!
Seja qual for a faculdade mental que possa haver no querubim ou serafim, no anjo ou no homem, é senão uma emanação da Sua energia criativa
O texto, também, nos diz que Ele é “poderoso em força e sabedoria”, de modo que temos de considerar que Deus é poderoso em mente. “Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.” Ele não só possui força física, pela qual Ele cria, preserva ou destrói, mas o maior poder de compreensão, pois “Ele é maravilhoso em conselho.” “Grande é o nosso Senhor e Seu entendimento é infinito.” É difícil encontrar palavras para expressar o que quero dizer, porque Deus é Espírito, e, tanto quanto se possa falar reverentemente dEle, por possuir uma mente e um intelecto, ele é tão onipotente nessa esfera, quanto no mundo físico. Esta é a segurança de suas criaturas que Ele é Deus grande de mentalidade!
Deus tem grandes pensamentos, grandes projetos, grande sabedoria, grande bondade! Ele é poderoso em todos os aspectos e, especialmente, na contenção que Ele coloca sobre a sua ira.
Se você quiser ver isso, olhe para a paciência e longanimidade que Ele manifesta para com os desobedientes. Como é incomparável a Sua paciência! Quão durável é a Sua misericórdia! Os ímpios o provocam e Ele sente a provocação, mas ainda assim Ele não revida. Semana após semana eles o insultam, eles tocam a menina dos seus olhos, perseguindo o Seu povo, mas Ele ainda lhes dá oportunidades para o arrependimento. Ele envia mensagens de misericórdia. Ele lhes implora a se desviarem do erro de seus caminhos, mas eles endurecem seus corações, eles blasfemam dEle, tomam o Seu santo nome em vão! Ainda assim, pelo espaço de muitos anos, Ele suporta as suas incessantes rebeliões e embora Ele se entristeça com a dureza de seus corações, Ele retém a sua indignação.
Igualmente maravilhoso, eu acho, é o poder que Deus tem sobre sua própria mente ao perdoar a muitos desses transgressores. É maravilhoso que Ele seja capaz de perdoar a qualquer um, e perdoar tão perfeitamente! Acontece muitas vezes para nós que nos sentimos compelidos a dizer, quando muito ofendidos: “Eu posso te perdoar, mas eu temo que eu nunca vou esquecer o mal.” Deus vai muito além disso, pois Ele lança todos os nossos pecados atrás das Suas costas e declara que Ele não vai mais se lembrar deles contra nós, para sempre. O quê? Nunca? Tais ofensas profundas! Tais crimes abomináveis! Tais transgressões provocadoras! Nunca mais devem ser lembrados? O quê? Não haverá pelo menos uma carranca, ou um grau de frieza por causa deles? Não. “Eu tenho apagado, como uma nuvem espessa, suas transgressões e, como uma nuvem, os teus pecados.”
“Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniquidade e passa pelas transgressões do resto da tua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia.”
Deixe-me acrescentar que, quando Deus não perdoa, é porque a impenitência persistente exige a condenação final – Deus é grande de alma mesmo na punição dos ímpios. Ele não tem prazer na morte do pecador. Julgamento é a Sua estranha obra. Punição nunca é infligida por uma questão de soberania arbitrária, mas sempre porque é exigida pela justiça.
Mas Deus nunca irá desprezar a qualquer que o busque com sinceridade de coração. Jesus, Seu Filho, era manso e humilde de coração, e convidou as crianças a virem a Ele e, por isso, nós que somos os menores entre os homens não seremos desprezados!
O que Paulo diz em sua epístola aos Coríntios? “As coisas que são desprezadas Deus escolheu, sim, e as coisas que não são, para reduzir a nada as que são.” Ele não despreza ninguém, temos a certeza disso, pois quando Ele ordenou pais na Sua Igreja e definiu doze líderes no Apostolado, Ele escolheu para esse cargo, nem filósofos, nem senadores, nem reis, mas pescadores humildes!
Outros podem desprezá-lo, mas o Pai celestial não.