Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?” (Gálatas 3.2)
Uma grande ilusão repousa sobre o coração do homem assim como a sua salvação. Seus caminhos são perversos. Ele não ama a lei de Deus, não, sua mente se opõe a ela e ele ainda se apresenta como seu defensor. Quando ele entende a espiritualidade e a severidade da Lei, ele acha que seja um fardo doloroso e ainda, quando o evangelho é pregado e estabelecido como o dom da graça soberana e ele lhe é oferecido, para simplesmente aceitá-lo por um ato de fé em Cristo Jesus, o homem professa grande preocupação com a Lei, a fim de que ela não seja anulada pela gratuidade da Graça! Ele toma as duas tábuas da Lei e as lança na cruz! Não é que o homem ame a lei de Deus, mas que ele não ama o Deus da Lei! Por isso, ele vai recorrer a qualquer pretensão de se opor a essa forma de salvação que Deus designou para ser somente por graça e mediante a fé.
Sem dúvida, se fosse possível, que o Senhor estabelecesse um outro caminho para a salvação, o homem teria se oposto a isso, também, pois ele está determinado a andar contrariamente a Deus. Seja como for, há uma animosidade constante nas mentes dos homens não regenerados contra o caminho da salvação pela fé em Cristo – e para se oporem a ele, eles montaram o pretexto da salvação pelas obras da lei. Irmãos e Irmãs, em todos os nossos corações há esta inimizade natural para com Deus e para com a soberania da Sua graça. Por isso é que os crentes têm muitas vezes se queixado das dificuldades da fé. A fé em si é, ou deveria ser, a coisa mais fácil do mundo, para uma criatura crer em seu Criador, porque para uma criança acreditar em seu pai, deveria ser a coisa mais simples e mais natural do mundo! Mas por causa da corrupção que permanece, mesmo, no regenerado, há sempre uma luta contra esta forma simples de fé.
Há momentos em que o melhor homem, quando reflete sobre os seus muitos pecados, a Consciência diz: “Como você pode acreditar que você está justificado e aceito por Deus enquanto tanto mal é encontrado em você?” A menos que nos apeguemos à promessa de Deus e à livre misericórdia em Cristo Jesus, isto irá então, se tornar duro para nós. A alma do homem mais sincero e reto pode ser levada ao desespero por uma visão de suas próprias imperfeições, a menos que ele se apegue a essa justiça pela qual os pecadores são justificados pela fé em Cristo Jesus. Amados, se esta guerra é descoberta, até mesmo, nas mentes daqueles que são nascidos de novo, não devemos admirar que ela grasse no não regenerado!
Alguém poderia ter pensado que no momento em que pregamos a salvação pela fé cada pecador teria saltado e se convertido. Isto é tão simples, tão fácil, que certamente todo homem gostaria que, desta forma, fosse perdoado e justificado! Em vez disso, todo o raciocínio, toda a atenção, sim, toda a astúcia da natureza humana não regenerada são agitados para lutar contra o método de libertação pela fé em Cristo Jesus. “É bom demais para ser verdade”, diz um deles. Outros clamam: “Se isto for pregado, levará os homens a pensarem pouco sobre a excelência moral.” Um terceiro encontra, nas Doutrinas da Graça, incentivos à inércia e assim por diante.
Parece que Deus não sabe a melhor maneira de salvar os homens e os homens são tão sábios que alteram Seus métodos! Isso não é uma refinada blasfêmia? É uma farsa hedionda ver um pecador rebelde de repente se tornar zeloso sobre boas obras e muito preocupado com a moralidade pública! A razão disso reside no fato de que o homem não é só pobre, mas orgulhoso. Ele não é somente culpado, mas vaidoso, de modo que ele não vai se humilhar para ser salvo em termos da graça Divina. Ele não vai consentir crer em Deus, ele prefere acreditar nas mentiras orgulhosas de seu próprio coração, que o iludem numa esperança lisonjeira para que ele possa merecer a vida eterna!
Contra esse espírito perverso nosso texto entra em luta. Vamos ver como ele conduz o combate. O argumento do texto é muito simples e poderoso. Paulo coloca, assim, “O Espírito Santo foi recebido por vocês Gálatas. Como vocês receberam o Espírito Santo, por obras da lei ou pela pregação da fé?” Eles foram obrigados a admitir, cada um para si mesmo, que eles receberam o Espírito Santo pela fé e por nenhum outro meio!
Agora, o Espírito Santo é o mais escolhido de todos os dons de Deus, que são recebidos na alma, é pelo Espírito que a obra do Senhor Jesus é conhecida e recebida! O Espírito Santo é, ele mesmo, o selo do favor divino e o sinal de que estamos em paz com Deus. Eu poderia até dizer que a recepção do Espírito Santo é a salvação, pois é quando Ele entra em nós, que somos salvos da morte no pecado, do amor ao pecado, do poder do pecado e do terror do pecado!
Quando Ele reina no coração, Ele se torna a fonte de vida, luz, amor e liberdade para nossas almas e Ele mesmo santifica nossos corpos. Não sabeis que os vossos corpos são templos de Deus, quando o Espírito Santo vem habitar neles? Para quem, então, o Espírito Santo é dado, a quem a salvação é dada no sentido mais elevado? Como é que o Espírito Santo é recebido? A pergunta é logo respondida. Ele não é recebido pelas obras da Lei, mas pela pregação da fé.
Vocês, queridos amigos, se estão, de fato, em Jesus Cristo, receberam o Espírito Santo! Mas como? Vamos passar por cima da lista de suas operações em suas mentes. Você recebeu iluminação por Seu intermédio, por que você foi levado a entender o caminho da salvação e a contemplar a glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Será que você alcançaria esta iluminação pelas obras da lei? Foi assim em qualquer caso? Tem sido meu privilégio conhecer muitos de vocês e lembrar de suas confissões de fé – você me disse que quando estava buscando a salvação por suas próprias obras que estava cego e não viu a Luz de Deus. Quanto mais você se esforçou e quanto mais você se esforçou, mais intensa a meia-noite cresceu com você até que você chegou ao ponto de ficar desesperado!
A Luz vem por um olhar para o Crucificado! Ela veio somente pela pregação da fé! Depois disso, você recebeu a paz, aquela paz, que eu confio, você desfruta agora. “A paz de Deus, que excede todo o entendimento.” Mas você recebeu a paz, enquanto você estava confiando em cerimônias, no batismo, ou da Ceia do Senhor, ou em suas próprias obras? Eu sei que não, pois a verdadeira paz de consciência não chega por essa porta! Será que você obteve a paz, enquanto você tentava se arrepender muito, chorar muito, sentir muito, ou trabalhar muito? Não, irmãos e irmãs, e nem um átomo de paz jamais chegou ao seu espírito até que você contemplou o Senhor Jesus, de quem ouviu que Ele era capaz de salvar até mesmo o principal dos pecadores e em quem, por isso, pela graça de Deus, você agora crê! Quando veio a fé, a paz cresceu a partir dela como um fruto do Espírito Santo.
Desde então, você tem recebido o Espírito Santo para ajudá-lo em sua santificação. Se você procurar a santificação por seus próprios esforços, feitos na incredulidade, jamais a conseguirá. A incredulidade trabalha no sentido do pecado e nunca para a santificação! Nossas boas obras são frutos de santificação, não a causa dela, e se colocamos o fruto onde a raiz deve estar, erraremos grandemente. Se você tem ido lutar contra a tentação na sua própria força, você já retornou um vencedor? Está escrito sobre os crentes, “Eles venceram pelo sangue do Cordeiro”, e isto é verdade para você, também. A Santificação não vem até nós por nossa auto-suficiência, mas como uma obra do Espírito Santo, recebida pela fé em Cristo. Creia nEle pois tem “sido feito para nós, sabedoria, justiça, santificação e redenção”.
Você teve, além disso, querido amigo, outro dom do Espírito Santo, ou seja, o de comunhão com Deus. Mas você já teve comunhão com o Deus santo com base na sua própria bondade? Nunca!
Queridos amigos, não há comunhão com Deus exceto pela fé, sem a qual não podemos nunca agradar a Deus. Os favoritos do Céu são, em todos os casos, os homens que acreditam em Deus! A fé tem a chave de ouro dos palácios de marfim. A fé abre as câmaras secretas de comunhão com aqueles que a amam. As obras da lei não trazem proximidade a Deus, em sinal do que, ninguém poderia chegar perto do Sinai, e nem um animal poderia tocar o monte, pois seria apedrejado.
E vocês, queridos amigos, receberam o Espírito Santo, muitas vezes, como seu ajudante na oração “O Espírito ajuda a nossa fraqueza.” E eu tenho certeza que ele nunca fez isto pelas obras da lei. Quando a enfermidade parou suas orações e você não podia clamar como faria, então você não tinha espaço para se vangloriar de boas obras e ainda então o Espírito tem “intercedido por você com gemidos inexprimíveis.” Sua enfermidade fez você perceber que foi por graça e pela graça, sozinha, que foi ajudado na sua hora de necessidade.
Mantenha a sua fé em Cristo! Não pense que a grandeza de seu pecado excede o Seu mérito expiatório!
Trabalhos realizados para Deus pelos esforços de nossa própria força são coisas ruins, mas o trabalho da Graça de Deus em nosso espírito é precioso.
A salvação é do Senhor, sozinho, do início ao fim!
Então, se você se encontrar com um grande santo, diga para si mesmo: “Meu honrado irmão vai chegar ao céu através de Jesus Cristo. E eu, um pobre bebê na graça, devo chegar ao céu da mesma maneira.”
A “pregação da fé”, este é o caminho pelo qual o Espírito de Deus vem aos homens; pois, “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.”
Essa última frase me faz lembrar que a audiência deve ser a audição do Evangelho. Eu gostaria que as pessoas fossem mais cuidadosas sobre esse ponto. Você não vai receber o Espírito Santo por apenas ouvir um homem falar. Ele pode ser eloquente, ele pode ser inteligente e ele pode ser piedoso, mas marque isto: o Evangelho, a fé salvadora não pode vir por ouvir o homem! Muitas pessoas vão para aquele lugar de culto que está mais próximo de suas casas e não importa o que se prega, desde que haja um culto atraente.
A fé que salva só vem por se ouvir o testemunho do Espírito sobre o Salvador!