“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” (João 1.1-5).
A palavra “verbo” do texto foi traduzida do original grego “logos”, que significa “palavra”.
Mas como “verbo” é palavra indicadora de ação, a maior parte das traduções da língua portuguesa traz “verbo” em vez de “palavra”.
Ambos podem ser usados e estão corretos, mas “palavra” define melhor o pensamento de João ao usar o referido termo para se referir à Pessoa de Jesus, porque certamente ele tinha em mente demonstrar que Jesus foi quem tomou parte na criação ao lado de Deus e do Espírito Santo, sendo a Palavra que tudo criou, porque é dito que o mundo foi criado pela Palavra de Deus, uma vez que Ele disse em cada ato da criação: “haja” ou “faça-se”.
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca.” (Sl 33.6).
“Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê.” (Hb 11.3).
“Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;” (II Pe 3.5).
Ao fazer uso da palavra Verbo, João a associou aos atos da criação dos céus e da terra, conforme se vê no verso 3.
E ao identificar Jesus como sendo o Logos, a Palavra, ou Verbo eterno, podemos também considerar que a mente eterna de Deus foi revelada a nós por meio dEle.
Os pensamentos puros, perfeitos e conhecedores de tudo o que há em Deus, são inerentes a Cristo e Ele os revelou a nós.
É somente por meio dEle que os selos do livro da vida são removidos para que os mistérios da verdade sejam revelados a nós.
Se Ele não tivesse se manifestado ao mundo nós permaneceríamos nas trevas quanto a esta vida do Espírito Santo, que se manifesta nos que têm fé nEle.
Vida de poder espiritual e de comunhão em amor celestial.
Vida de frutos e dons espirituais que são comunicados entre aqueles que têm sido vivificados pela luz de Cristo, a qual, quando permanecemos nela, faz com que a vida de Cristo se manifeste em nós.
Neste sentido, pode-se dizer então que Cristo é a fonte mesma da qual procede toda a Palavra que sai da boca de Deus, sendo que Ele mesmo é Aquele por quem se expressa esta Palavra.
Daí ter dito que a Palavra que Ele proferia não provinha dEle próprio, mas do Pai, isto é, tudo o que o Pai expressa pela Palavra, Ele o faz por meio do Filho, de maneira que João havia apreendido este ensino e verdade de Jesus aos apóstolos em Seu ministério terreno, e pôde compreender que o mundo foi feito pela Palavra liberada pelo próprio Cristo, daí dizer que Ele é a Palavra (Verbo) pela qual todas as coisas foram feitas, e que sem Ele nada do que foi feito se fez (v. 3); isto é, o Pai nada fez sem a participação de Cristo.
Somente Jesus tem as palavras de vida eterna. Pedro teve este reconhecimento que é dEle que emana a palavra que dá vida aos pecadores (Jo 6.68), e a experiência comprova isto em todos os testemunhos de conversão.
“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18).
“tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece.” (I Pe 1.23).
Os textos destacados acima de Tiago e Pedro revelam o ato da nova criação espiritual pela Palavra.
Esta Palavra é a verdade, e Jesus disse também ser esta verdade, que liberta e dá vida.
Há então, poder e ação envolvidos nesta Palavra, aqui referida pelo apóstolo, e a que é citada em todas as passagens bíblicas que se referem a ações de criação, de salvação, de santificação, e de tudo o mais que dependa da liberação do poder pela Palavra de Cristo.
Por isso Jesus havia dito que as suas palavras são espírito e vida (Jo 6.63). E também que o homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4), porque é pela palavra de ação poderosa, que novas criaturas com a vida que procede do céu são geradas.
È também, pela prática da Sua palavra, isto é, tê-la em devida consideração e vivendo segundo o seu poder, que se tem a vida solidamente firmada num fundamento inabalável (Mt 7.24).
Era com a Sua palavra de ordem que Jesus expulsava demônios e curava enfermos, e que ainda o faz através daqueles que nEle creem (Mt 8.16).
É por isso que as palavras de Jesus jamais passarão porque são eternas assim como Ele é eterno (Mt 24.35).
Desta forma, crer de fato em Jesus é permanecer nEle, e permanecer nEle é permanecer portanto na Sua palavra; e como esta palavra é a vida eterna, aquele que a guarda jamais morrerá eternamente (Jo 8.31; 51; 14.24).
Como Jesus é santo, é a sua Palavra que nos santifica (Jo 15.3; 17.17).
Foi por isso que a Igreja Primitiva tinha poder para pregar o evangelho, porque eles viviam e pregavam somente a Palavra (At 4.29, 31; 5.20; 6.2, 6.7; 8.4, 8.25; 10.44; 11.14; 12.24; 13.5, 13.44, 13.48, 13.49; 14.3, 14.25; 15.35, 15.36; 16.32; 17.11; 18.5, 18.11; 19.10, 19.20; 20.32).
A fé é gerada por se ouvir a Palavra (Rom 10.17).
Nós vemos nas palavras de Paulo em I Cor 1.17; 2.1, 4, 13; I Tes 1.5 que a pregação desta Palavra viva é muito mais do que simplesmente exposição verbal de conceitos teológicos, ou de meras citações bíblicas, mas a liberação da porção da verdade, conforme está revelada nas Escrituras, em exposição, com palavras ensinadas pelo Espírito, no poder do Espírito, conforme esta é revelada pelo mesmo Espírito ao coração e mente do pregador (Ef 6.19):
“Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.” (I Cor 1.17).
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.” (I Cor 2.1).
“A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;” (I Cor 2.4).
“as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.” (I Cor 2.13).
“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós.” (I Tes 1.5).
Esta Palavra já existia antes que houvesse mundo, antes da existência do tempo cronológico, ao que João chama de “no princípio” mostrando que era, que é e sempre será.
Cristo sempre esteve em co-existência com o Pai. Ele estava, está e sempre estará com Deus. De maneira que crer em Cristo é crer em Deus Pai, porque o Pai e o Filho co-existem em perfeita unidade e são inseparáveis.
Somente Jesus estava qualificado para efetuar a nossa redenção porque Ele conhece perfeitamente a nossa constituição total, de espírito alma e corpo porque Ele nos criou, assim como todas as coisas.
Ele deve receber, portanto a nossa adoração também como Criador, e não apenas como Salvador e Senhor.
João afirma no verso 4 que a vida estava em Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.
A luz condenará as obras infrutíferas das trevas naqueles que permanecem no pecado, porque fará a exposição do que se ocultava nas trevas:
“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.” (Ef 5.13).
É pela luz da revelação divina que o pecado pode ser condenado ou extirpado.
E João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente quando a vida poderosa de Jesus se manifesta em alguém, é que tal pessoa poderá vir para a luz de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.
Assim, fora de Cristo, não há esta possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem dEle, e ambas são inseparáveis.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo Jesus, e é nEle portanto que devemos buscá-la, e João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por meio da Palavra e pelo andar na luz.
É a luz de Cristo que ilumina o nosso entendimento e espírito para compreendermos as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para nós até que Cristo abra o nosso entendimento e se revele ao nosso espírito para que possamos compreendê-las; como fizera com os dois discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dEle nas Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si mesmo durante o Seu ministério terreno, confirmando aquilo que as Escrituras do Velho Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios. (Mt 4.16; Jo 3.19; Jo 8.12)