Eu trabalhei num banco durante dois anos aproximadamente, antes de estar envolvido no ministério em tempo integral. Era de praxe ouvirmos alguns gerentes nos mandando mentir, dizendo que eles não se encontravam na agência no momento em que transferíamos as ligações de alguns clientes, mas eu nunca aceitei fazer isto. Eu dizia que a opção era uma das duas: ou eles atenderiam o telefone ou eu falaria a verdade! Numa das primeiras vezes em que eu fiz isto, o gerente principal da agência disse que me despediria. Educadamente pedi-lhe perdão por dar-lhe a impressão que eu queria prejudicá-lo e expliquei as minhas razões para agir assim. Disse-lhe também que se ele me mandasse embora por isto, eu faria questão que ele explicasse por escrito o motivo da minha demissão.
Não fui mandado embora, e, com o tempo, todos os gerentes naquela agência bancária me confidenciaram que, devido a todo o meu comportamento, eles sabiam que eu também nunca mentiria para eles. Foi difícil no começo, mas eles aceitaram minha resolução em manter a integridade. E, se não aceitassem, eu sairia do emprego para honrar ao Senhor!
Deus deseja ser honrado e distinguido, não apenas através da entrega dos nossos dízimos e ofertas, mas também em tudo o que fazemos com os nossos bens e recursos materiais. Mencionamos no primeiro capítulo que há certas expressões de honra que não produzem nenhuma diferença no caixa e na contabilidade da igreja local. De modo semelhante, entender e praticar valores como a integridade e uma boa mordomia também são uma forma de expressarmos honra ao Senhor.
O nosso testemunho e a nossa conduta pesam bastante no conceito que as pessoas têm de nós, especialmente os não-crentes. Portanto, para honrarmos ao Senhor, precisamos saber como viver a integridade, a boa mordomia, e também como lidar com as dívidas.
Muitos de nós não conseguimos descobrir o quanto gastamos, e apenas vamos gastando! Entramos no cheque especial, no limite do cartão de crédito, tomamos emprestado, e vivemos pagando juros e ficamos endividados. É comum nos aventurarmos em empreitadas com as quais não poderemos arcar. São tantas as histórias de pessoas que perderam os seus carros ou os seus apartamentos porque não conseguiram continuar pagando as prestações assumidas!
Mas, quando falamos de honrar ao Senhor com os nossos bens, percebemos que as verdadeiras perdas não são as dos nossos bens e dinheiro, e sim as do mau testemunho gerado pela falta de pagamento. Portanto, o fato de termos um orçamento pessoal e familiar nos ajuda muito a evitarmos uma má administração financeira, que certamente terá um consequente mau testemunho.
PRESERVANDO O TESTEMUNHO
Tudo o que fazemos deve promover glória a Deus, até mesmo o que comemos (1 Co 10.31). Somos chamados para glorificarmos a Deus por meio da nossa conduta e das nossas obras:
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5.16)
Mas, infelizmente, muitos de nós fazemos o oposto em nossa vida financeira. As pessoas querem olhar para nós e ver uma conduta diferente.
PRINCÍPIOS DE INTEGRIDADE
Vivemos numa sociedade em que “prosperar” é sinônimo de “brigar bem nos negócios”. A ideia de competitividade foi substituída pela idéia de uma guerra onde vale tudo. Em nome da sobrevivência, e com uma profunda manifestação de egoísmo, os homens alegam que eles aprendem a viver a prática de seus negócios alicerçados na mentira, na desonestidade, passando a perna uns nos outros, e, sem nenhum escrúpulo, tornam o jogo cada vez mais severo.
Diante disto, questionamos como deve ser a conduta do cristão na área financeira, uma vez que é tão fácil nos deixarmos levar pelo atual sistema mundano! Deus, no entanto, deseja que não nos conformemos com este mundo, mas que nos transformemos pela renovação da nossa mente (Rm 12.2). Precisamos deixar que os valores da Palavra de Deus encham o nosso coração, a ponto de mudarmos completamente de atitude e pensamento. A Bíblia tem princípios de integridade que precisamos absorver e praticar:
“Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade; o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao Senhor; o que jura com dano próprio e não se retrata; o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.” (Salmos 15.1-5)
“Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo… Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã. Não farás injustiça no juízo, nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo.” (Levítico 19.11,13,15)
Não deve haver lugar para a prática de roubos, furtos, desonestidade, mentira, e qualquer outro desvio da verdade em nossas vidas. A base de todo tratamento que dispensamos ao próximo deve ser a justiça e a integridade. Quem faz vista grossa para isto, querendo lucrar depressa, não conhece o que a Palavra de Deus diz sobre o futuro dos que são desonestos nos negócios:
“Como a perdiz que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim será insensato.” (Jeremias 17.11)
Queremos agora examinar um pouco mais o que as Sagradas Escrituras têm a dizer acerca destas áreas em que tanto necessitamos de mudança e compreensão.
BALANÇA JUSTA
Crescemos convivendo com a ideia de que o mundo é dos espertos, e que a melhor forma de se ganhar dinheiro é enganando aos outros. Mas, ao edificarmos o nosso negócio nestas bases, estamos trazendo sobre nós um princípio de maldição, e não de bênção!
A Palavra do Senhor revela que devemos ser justos em nossos negócios. Uma conhecida e antiga prática de “esperteza” nos negócios era o uso de pesos falsos nas balanças para se vender menos por mais aos compradores. Eles usavam um outro peso, diferente do padrão, para lesar os compradores. Observe o que as Escrituras ensinam sobre isto:
“Dois pesos são coisa abominável ao Senhor, e balança enganosa não é boa.” (Provérbios 20.23)
Alguém que deseje honrar ao Senhor com os seus bens não pode praticar, em seus negócios, o que o próprio Deus chama de abominação. Todo tipo de defraudação e engano é algo abominável ao Senhor. Isto não somente deixa de dar-Lhe honra, mas também O desonra!
FALANDO A VERDADE
Um outro princípio errado, e que portanto não permite a bênção decorrente da integridade na vida de alguém, é a mentira. A bênção divina está ligada à presença do próprio Deus, e a Sua presença em nossas vidas está condicionada à prática de determinados princípios, como por exemplo, o falarmos a verdade:
“Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade.” (Salmos 15.1,2)
Muitas pessoas já associaram a ideia de que, para se vender, é necessário mentir ou exagerar um pouco nos detalhes do produto. Inúmeros negócios estão fundamentados neste falso alicerce. Mas, na vida daquele que quer honrar ao Senhor, não há espaço para este tipo de prática, pois ela ofende a Deus.
“Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente são o seu prazer.” (Provérbios 12.22)
A mentira é chamada de algo “abominável” ao Senhor, e nada do que alguém diga para argumentar diminui a intensidade deste merecido adjetivo dado pela Palavra de Deus.
Conheço crentes que não mentem para efetuarem as suas vendas em seus negócios. E mesmo assim prosperam; não pelo engano, mas com a bênção de Deus! Além disso, um dos motivos pelos quais eles possuem uma carteira de clientes fiéis se deve ao fato de que eles são dignos de confiança.
A bênção começa nestas coisas pequenas aos nossos olhos, mas que são relevantes aos olhos de Deus. Falar a verdade é um princípio de integridade que traz bênçãos sobre as nossas vidas. Precisamos crer nisto de coração e passar a vivermos segundo esta convicção.
CUMPRINDO NOSSA PALAVRA
Além da questão da mentira em si, há também o princípio de cumprirmos a nossa palavra, ou de não quebrarmos as nossas promessas. Quando o Diabo consegue fazer com que assimilemos estas práticas mundanas, além de nos roubar a bênção financeira, ele também consegue criar em nós uma imagem errada, que nos prejudica em nosso relacionamento com Deus. Como podemos crer nas promessas de Deus e tratá-las como imutáveis e irrevogáveis, se criamos para nós mesmos uma espécie de relatividade em nossos conceitos de verdade e cumprimento de promessas? Entre os princípios de integridade abordados, está o de jurarmos e não mudarmos, ainda que com dano próprio:
“Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? …o que jura com dano próprio e não se retrata.” (Salmos 15.1,4b)
Eu já fiz muitas promessas das quais me arrependi depois, mas aprendi a cumprir a minha palavra. Nos negócios devemos fazer o mesmo. Um cristão que quer honrar ao Senhor não pode combinar uma coisa e depois fazer outra. Ele não pode simplesmente voltar atrás em sua palavra, como se ele não tivesse prometido nada.
Estas atitudes podem até parecer que ajudam a gerar lucros, mas, no fim, sempre percebemos que lucrar com a falta da bênção divina não compensa.
Há muitos crentes que são roubados pelo Diabo em seus negócios porque abrem a porta da maldição pela sua falta de palavra, que é uma mentira! Para honrar ao Senhor (e sermos honrados por Ele) precisamos aprender a falar somente o que cumpriremos. E, se por acaso prometermos algo do qual venhamos a nos arrepender depois, então devemos honrar esta palavra mesmo que ela nos traga prejuízos. Foi disto que o salmista falou: “…o que jura com dano próprio e não se retrata” (Sl 15.4b).
NÃO ROUBANDO
Roubar nos negócios é uma prática antiga. E a advertência divina contra isto também é milenar. A desonestidade de se vender menos por mais (roubar tanto na quantidade como na qualidade) é abominável ao Senhor. E há tantos cristãos agindo assim!
Já falamos sobre o princípio da balança justa, mas quero afirmar que lesar alguém pelo engano também é roubar, pois envolve uma perda imposta a alguém. Deus diz que Ele odeia o roubo. Portanto, devemos fugir disto, se queremos dar-Lhe a honra:
“Porque eu, o Senhor, amo o juízo e odeio a iniquidade do roubo; dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e com eles farei aliança eterna.” (Isaías 61.8)
Não podemos roubar. A justiça tem que ser a base dos nossos negócios. Os lucros injustos podem parecer bons, por serem mais fáceis, mas, no futuro, o que nos livrará da maldição e do juízo divino é a integridade:
“Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte.” (Provérbios 10.2)
“O justo tem o bastante para satisfazer o seu apetite, mas o estômago dos perversos passa fome.” (Provérbios 13.25)
A integridade pode parecer mais cara hoje, mas o futuro demonstrará que ela é o caminho mais lucrativo. Há crentes que roubam o seu patrão, usando os materiais da empresa em benefício próprio, fazendo ligações telefônicas, recebendo as horas em que não há produtividade, etc. Isto não é honrar ao Senhor em nossas finanças. E muitas vezes eles se justificam, tentando negar que isto seja um roubo, mas toda apropriação indevida do que não nos pertence é roubo, e ponto final! O apóstolo Paulo precisou dar a seguinte instrução aos crentes de Éfeso: “aquele que furtava, não furte mais…” (Ef 4.28).
Será que aqueles irmãos já não sabiam disto? A verdade, no entanto, é que muitas vezes roubamos sem admitirmos que se trata de roubo, mas, mesmo assim, isto é pecado, e, na qualidade de uma quebra de integridade, terá o seu preço de ausência de bênção. O meu primeiro emprego foi como office-boy numa repartição estadual. Certa vez comentei com um outro irmão mais maduro na fé que, embora o salário não fosse lá estas coisas, as regalias compensavam. Ao ser indagado sobre estas regalias, mencionei que tirávamos fotocópias de graça ali. E, sem nenhuma preocupação em me agradar, esse irmão me chamou de ladrão e me deu o maior sermão!
É lógico que ninguém gosta de levar bronca, mas não posso negar que o Senhor me convenceu de que o errado era eu! E parei de tirar as fotocópias desde então!
Examine a sua vida, e mesmo que você não seja um homem de negócios, pergunte a você mesmo se você não tem roubado nada. Só para dar uma dica, reter o dízimo é roubar! Sonegar impostos também! Os patrões que lesam os funcionários em seus salários também estão roubando e terão perdas, ao invés de bênçãos, por causa disso:
“Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” (Tiago 5.1-4)
Insisto em afirmar que só dizimar e ofertar na igreja não quer dizer que estamos honrando ao Senhor! A forma como nos comportamos em relação ao uso do dinheiro e dos nossos bens revela se estamos honrando ao Senhor ou não!
NÃO DANDO NEM ACEITANDO SUBORNOS
O suborno é uma quebra da lei, ou das regras estabelecidas, mediante o pagamento (ou recebimento) de propinas. Alguém que deveria executar o que é justo e estabelecido se vende por dinheiro, e quem deveria ser punido pelo seu erro compra a sua impunidade ou facilitação.
A prática do suborno envolve a mentira e a quebra de integridade, tanto de quem paga o suborno como de quem o recebe. Ao falar sobre quem habitaria ou não perante o Senhor, o salmista não deixou de fora da lista este deslize; antes o descreveu como algo que nos exclui da presença do Pai:
“O que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.” (Salmos 15.5)
A Palavra de Deus, na pregação de João Batista, ainda nos traz um pouco mais de luz sobre este assunto:
“Perguntaram-lhe também uns soldados: E nós, que havemos de fazer? Respondeu-lhes: A ninguém façais violência, nem deis denúncia falsa, e contentai-vos com o vosso soldo.” (Lucas 3.14 – Tradução Brasileira)
Ao dizer aos soldados que se contentassem com o salário recebido, João Batista estava lhes dizendo claramente que eles deveriam viver do seu salário e não se vender à ganância por meio de subornos. Os nossos policiais, fiscais, e outras autoridades erram quando oferecem o caminho das propinas. E quem se propuser a pagá-las (por já estar errando em alguma outra coisa) estará tão errado quanto os primeiros. Eu conheço policiais militares e fiscais cristãos que não se vendem por dinheiro algum, e, ao agirem assim, estão honrando ao Senhor. Aparentemente eles jogam fora dinheiro e o enriquecimento rápido, mas eles sabem que este é um princípio de Deus: o dinheiro que vem fácil vai fácil, pois não tem a bênção divina!
“Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do trabalho terá aumento.” (Provérbios 13.11)
O que parece ser tranquilo no começo trará o seu preço posteriormente:
“Suave é ao homem o pão ganho por fraude, mas, depois, a sua boca se encherá de pedrinhas de areia.” ( Provérbios 20.17)
Infelizmente, há muitos crentes que aceitam o pagamento de subornos. Se você for pego, com o seu carro, acima do limite de velocidade, não erre uma outra vez, aceitando pagar um trocado em favor da sua liberação! Eu já fui tentado neste sentido. O policial me disse que dez reais eram suficientes para ele fazer vista grossa ao meu erro. Eu disse que eu não pagaria a propina, que ele podia me multar, uma vez que eu reconhecia o meu erro. Ele me falou que a multa custaria muito mais, que não valia a pena querer ser moralista, e que ele estava querendo me ajudar a não gastar. No entanto, fiquei firme em minha posição. E como foi custoso convencer aquele guarda a multar-me logo! E como foi custoso também pagar a multa depois!
As pessoas pensam no valor da multa e imaginam que é um desperdício pagá-la. E de fato é! Porém, este desperdício se dá na hora em que infringimos a lei, e não quando o guarda nos pega. Depois de sermos flagrados pela polícia, a propina se torna muito mais cara, espiritualmente falando, pela perda da bênção!
Além de ser um caminho de bênção, a manutenção da integridade também é uma forma de honrarmos ao Senhor; não é uma opção, e sim uma condição exigida por Deus!