Jeremias mais uma vez havia se queixado ao Senhor das tribulações que estava sofrendo por causa das mensagens que Ele lhe estava dando para serem proferidas contra Judá.
Acabara de ser preso num tronco e de ser escarnecido pelos judeus.
O Senhor disse que o livraria dos seus adversários quando lhe chamou para ser Seu profeta, e no entanto, estava se tornando não somente objeto do escárnio deles, como até mesmo Deus estava permitindo que ele fosse preso.
De fato Deus guarda os que estão a seu serviço, empenhados nas coisas concernentes ao Seu Reino, mas isto não significa que serão livrados de provações e angústias nas lutas que terão que travar contra o mal.
Jeremias não estava ainda inteirado tanto quanto o apóstolo Paulo, por exemplo, sobre o conselho eterno de Deus de que a Sua obra deve avançar no mundo no meio de resistências e perseguições, que são levantadas por Satanás, para tentar deter a perda de pessoas sob o seu domínio, em razão da pregação da verdade do evangelho.
Todavia, tal como Paulo, Jeremias, a par de todos os sofrimentos e tribulações que estivesse padecendo, não conseguia deixar de proclamar a Palavra do Senhor, que apesar de fazer dele um objeto de escárnio e vergonha para os seus perseguidores, era como um fogo que queimava de forma ardente no seu coração, e como estivesse apegado aos seus ossos, e estava cansado em contê-lo, de maneira que só acharia descanso para a sua alma quando liberasse a Palavra que lhe fosse dada por Deus.
Então ele começou a amadurecer quanto ao desígnio de Deus, e a aceitá-lo, porque apesar de ouvir que muitos estavam conspirando contra a sua vida, podia afirmar agora que o Senhor estava com ele como um guerreiro valente, e por isso os seus perseguidores é que tropeçariam e não poderiam prevalecer contra ele, porque ficariam confundidos, de forma que não poderiam ter êxito, de modo que entregou a sua causa nas mãos do Senhor, para que fosse o Seu vingador contra aqueles que intentavam o mal contra a sua vida, quando estava buscando somente o bem para eles.
Então pôde entoar no Espírito o seguinte cântico de louvor e livramento, porque como o Senhor lhe havia dito, caso fosse paciente na tribulação, e separasse o precioso do vil, se convertendo a Ele, seria a Sua própria boca:
“Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor; pois livrou a alma do necessitado da mão dos malfeitores.” (v. 13)
Todavia ainda se achava muito desconfortado pelas tribulações e angústias que estava sofrendo, e não conseguiu abafar a queixa que havia no seu peito.
Só que agora não mais murmurava porque não estava se queixando de Deus, mas a Deus, considerando que maldito tinha sido o dia em que ele havia nascido, e que não fosse portanto, bendito o dia em que sua mãe lho dera à luz.
E considerou também maldito quem havia dado as novas do seu nascimento a seu pai, se alegrando grandemente com isto, porque não sabia, todo o sofrimento que lhe estava reservado para experimentar em sua vida como profeta do Senhor.
Tal era a angústia do profeta quando proferiu estas palavras que alegou preferir ter morrido como um aborto no ventre de sua mãe.
O fato de ter sido dado à luz só serviu para que experimentasse trabalho e tristeza e para que se consumissem na vergonha os seus dias.
Desta vez o Senhor não repreendeu Jeremias e permaneceu em silêncio diante do desabafo de sua alma, porque era a sinceridade daquilo que estava realmente sentindo, e não atribuiu ao Senhor nenhuma falta ou injustiça, por tudo o que estava sofrendo.
Ele estava sendo experimentado nos sofrimentos que aperfeiçoam a fé.
E à medida que esta aumentasse ele aprenderia tal como Paulo a se regozijar na tribulação.
Com isto aprendemos que experiências são intransferíveis, e cada um levará o seu próprio fardo diante do Senhor, e aprenderá dEle, a seu próprio tempo, o que for necessário ao seu crescimento espiritual.
Pr Silvio Dutra