“2Tm 3:16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,
2Tm 3:17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
Como nos demais capítulos do livro de 2 Samuel, também há no seu 19º, muitos ensinamentos para nos educar na justiça.
Aqui nós somos ensinados especialmente sobre o dever da gratidão, mesmo de um rei a seus súditos, quando estes se empenham por ele lutando para fazer prevalecer a causa da justiça.
Até mesmo os que lideram devem manifestar a sua gratidão àqueles que o servem bem.
Pastores devem manifestar a sua gratidão às ovelhas que servem bem ao Senhor debaixo do ministério deles, assim como as ovelhas devem manifestar a sua deferência e gratidão àqueles que as presidem bem no Senhor.
Contudo, num mundo em que a iniquidade tem se multiplicado, de modo que o pecado tem se manifestado em múltiplas e variadas formas, estas coisas que são devidas à justiça e à virtude, e que são imutáveis, vão sendo esquecidas, mesmo no meio daqueles que jamais deveriam se desviar delas, a saber, o povo do Senhor.
Joabe sabia que grandes danos foram sofridos por muitos reis, por causa do desprezo de grandes méritos.
Era exatamente isto que Davi estava fazendo, não se permitindo consolar da morte de Absalão, e não expressando qualquer gratidão àqueles que haviam exposto as suas próprias vidas por ele e pelo seu reino.
As palavras de repreensão de Joabe dirigidas a Davi eram corretas, mas ele não o fez com o respeito e deferência que eram devidos ao rei.
Mas, em todo o caso, elas produziram o efeito desejado, e Davi pôde vencer as razões do seu coração para se sujeitar e fazer aquilo que era justo, e foi ter com o povo que já se desanimava, considerando ser uma ingratidão ele ter esquecido de tudo o que eles haviam feito para ficar lamentando a morte do rebelde Absalão.
Tendo manifestado publicamente o seu desejo de continuar governando as tribos de Israel, deliberou providenciar o retorno do rei de Maanaim, onde ele ainda se encontrava, para Jerusalém, em Judá.
E ao mesmo tempo, Davi tomou providências mandando dizer a Zadoque e a Abiatar, que se encontravam em Jerusalém, que incentivassem os de Judá a trazê-lo de volta (II Sam 19.11).
Ele argumentou que era irmão deles, pois era daquela tribo, e mandou dizer a Amasa, que foi constituído por Absalão como seu general, dizendo também a ele que era do mesmo osso e carne dele, e que o constituiria como general de todo o seu exército no lugar de Joabe (v. 12, 13), e estas palavras produziram o efeito esperado, porque eles se dispuseram a buscar Davi em Maanaim, tomando a dianteira de todas as demais tribos de Israel, e quando estas protestaram que haviam sido deixadas de lado pelos de Judá, não dando a eles a mesma honra de buscarem o rei juntamente com eles, a tribo de Judá usou o argumento do parentesco com Davi para justificar o fato de terem se encontrado com o rei em Gilgal para trazê-lo a Jerusalém (v. 15, 41-43).
Mas, enquanto neste mundo, não virá somente ao nosso encontro a gratidão sincera, como também o interesseiro com seu falso arrependimento e a falsidade e o engano, bem representados nas pessoas de Simei, que havia amaldiçoado Davi, quando este fugia de Absalão (v. 16), e Ziba, que lhe enganou em relação a Mefibosete (v. 17).
Estes vieram ter com ele juntamente com os homens de Judá, pois souberam da decisão deles de se encontrarem com Davi em Gilgal, depois da sua saída de Maanaim.
Simei, para poupar o próprio pescoço, de uma possível represália dos oficiais de Davi, se apressou em pedir perdão pelo seu pecado, e argumentou que foi o primeiro de todas as demais tribos de Israel que viera ter com o rei (v. 20), que foram designadas por ele como casa de José.
Abisai percebeu a falsidade daquele homem e se dispôs a matá-lo, mas foi impedido pelo rei, não porque não tivesse percebido a falsidade de Simei, mas por colocar em prática a virtude da longanimidade, que é ordenada por Deus a todos os verdadeiros cristãos, e assim Davi prometeu poupar a sua vida (v. 22, 23), certamente, enquanto ele não voltasse a fazer algo que fosse digno de morte.
Nós vemos no livro de I Reis que Simei foi morto a mando de Salomão, por ter desobedecido ordens expressas que lhe havia dado.
A longanimidade lhe havia poupado, mas ele não se mostrou digno dela e foi apanhado no momento oportuno, pela justiça.
O mesmo sucederá a todos aqueles que têm abusado da longanimidade de Deus não se arrependendo dos seus pecados, e não se convertendo a Ele para praticarem a justiça, e tentando se valer de um falso arrependimento, que sequer engana a eles próprios, quanto mais ao Deus que tudo conhece, e por isso é certo que o juízo do Senhor os alcançará quando menos esperarem.
Os versos 24 a 30 relatam o encontro de Mefibosete com Davi, que também saiu para ter com ele, antes da sua chegada em Jerusalém.
Tão nobre era o caráter de Mefibosete, que tendo sido impedido de fugir com Davi em razão da tramóia que Ziba lhe preparara, no entanto, em demonstração de tristeza e abatimento que sentiu pelo exílio forçado do rei, não tratou dos seus pés defeituoso, nem aparou a barba e nem lavou as suas vestes, desde o dia que Davi fugiu de Jerusalém (v. 24).
Ele não protestou com o rei quanto a ter transferido as propriedade que lhe dera para a posse de Ziba, e alegou reconhecer o direito que ele tinha de fazer o que bem aprouvesse com o que de fato lhe pertencia, e se mostrou grato pelo seu favor para com ele, quando todos, na casa de Saul, foram alcançados pelos juízos do Senhor.
E ele concluiu o seu discurso com Davi dizendo que mesmo tendo sido enganado por Ziba ele não se encontrava em posição de reclamar sobre qualquer direito ao rei, porque afinal ele comia à sua mesa, em sua presença.
Não podendo voltar atrás na palavra dada a Ziba, Davi propôs a Mefibosete que ficasse satisfeito com metade das propriedades que lhe pertenciam e que ele havia dado a Ziba (v. 29).
Mas para livrar o rei de qualquer constrangimento ele lhe declarou que Ziba poderia ficar com tudo porque a sua alegria não repousava em propriedades, mas na pessoa do próprio rei, que havia por fim voltado em paz à sua casa (v. 30).
Isto é um exemplo para muitos cristãos cujo prazer não se encontra exclusivamente na própria pessoa de Jesus, mas naquilo que podem obter dEle.
Mefibosete compreendia que tudo o que lhe fora dado pelo rei, não era propriamente seu, e que o rei poderia dispor dos seus bens como bem lhe aprouvesse.
Quantos têm este pensamento correto em relação ao próprio Deus, quanto a que tudo se encontra na posse deles neste mundo, não pertence propriamente a eles, mas ao Senhor?
Além disso todos eles estavam na mais completa miséria em seus pecados, e Deus os tornou participantes da Sua riqueza por meio de Cristo Jesus, e assim todo o bem que têm recebido é por pura graça e misericórdia, e não têm portanto o direito de lhe negar qualquer direito sobre tudo o que possuem e sobre suas próprias vidas.
Mais do que isso devem aprender a amá-lO desinteressadamente, assim como Ele lhes ama. Porque o verdadeiro amor não é interesseiro.
Pessoas que protestam serem amigas de outras, não raro estão buscando não a quem dizem amar, mas aos seus próprios interesses egoístas, de receberem deles proteção, companhia, provisão, honra, conforto, ou o que seja do interesse delas.
E a falsa amizade se comprova no momento em que percebem que o que era do seu interesse não possa mais ser atendido por aqueles aos quais alegavam amar; porque se retirarão, sem manifestar até mesmo qualquer gratidão, por qualquer bem que tenham recebido daqueles aos quais exploraram de forma interesseira.
A Deus pertencem não somente os bens materiais dos quais somos apenas seus mordomos, como também as nossas próprias vidas, dons e talentos.
Ele dá e os tira, pois faz o que quer com o que é Seu, segundo a Sua própria vontade e soberania, para que aprendamos que não é o que recebemos ou que não recebemos dEle, que importa, mas conhecer e amar a Sua própria pessoa divina, tal como Jó havia demonstrado, quando colocado à prova por Deus, revelando a Satanás que o amor de Jó por Ele era genuíno e não interesseiro.
Por isso, devemos dar-Lhe glória e graças tanto no que recebemos dEle quanto naquilo de que nos tem privado, seguindo o exemplo de Jó que O adorou quando permitiu que fossem mortos os seus dez filhos.
Ele é digno de receber glória e honra na alegria e na tristeza, quando somos honrados ou desonrados, quando temos muito ou nada porque Ele sempre faz o que é melhor para nós, mas sobretudo porque Ele próprio é a nossa única e permanente riqueza e a profunda razão da nossa paz e alegria.
Todos nós estávamos mortos em nossos delitos e pecados diante de Deus e Ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Do quê então temos nós o direito de reclamar nas aflições que sofremos neste mundo?
Finalmente, no comentário deste 19º capítulo de II Samuel, cabe ainda destacar a prudência, sabedoria e generosidade de Barzilai, um ancião muito rico de 80 anos de idade, que residia em Gileade, e que sustentara Davi, quando este esteve em Maanaim (v. 31,32).
Ele acompanhou Davi em sua volta a Jerusalém até que tivesse atravessado o Jordão.
Davi insistiu com ele para que fosse se juntar à sua corte em Jerusalém, mas ele recusou esta honra não por desfeita ao rei, mas por sabedoria e prudência, porque sabia que estava próxima a hora da sua morte, e desejava ser sepultado em sua própria cidade, junto de seu pai e mãe, mas pediu ao rei que a honra que lhe cabia fosse transferida para o seu filho Quimã, que era ainda jovem, e poderia se destacar servindo ao rei, e Davi prometeu fazer a Quimã tudo o que Barzilai desejasse e lhe pedisse (v. 37, 38).
O bom nome dos pais é a melhor herança dos filhos, e estes acharão favor da parte daqueles que foram abençoados pelo serviço e testemunho de seus pais.
Vale a pena fazer o bem, especialmente àqueles que andam nos caminhos do Senhor, porque quando menos esperarmos o Senhor haverá de fazer com que colhamos abundantemente todo o bem que tivermos semeado, ainda que em meio a lágrimas e enfrentando dificuldades, e esta colheita será feita não apenas aqui neste mundo mas sobretudo no céu.
Barzilai havia construído um sólido fundamento fazendo um uso generoso e sábio de toda a riqueza que o Senhor lhe concedeu e permitiu que ele adquirisse. E isto nos faz lembrar tanto das palavras do Senhor Jesus quanto do apóstolo Paulo:
“Eu vos digo ainda: Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” (Lc 16.9).
Pr Silvio Dutra