(Gál 3.1-5).
O apóstolo interrompeu o seu discurso sobre a justificação que havia iniciado na parte final do capítulo anterior, para repreender os gálatas chamando-os de insensatos, por terem permitido ser fascinados para abraçarem um falso evangelho que obscurecia e negava a doutrina da justificação pela graça mediante a fé.
É dever de todo pastor cristão repreender as pessoas sobre as quais foi constituído pelo Espírito como guia de suas almas à verdade.
Então, Paulo primeiramente os reprovou para em seguida se esforçar para lhes convencer, pela evidência da verdade.
Este é o método correto, quando nós reprovamos alguém por uma falta ou erro, porque necessitamos convencê-lo quanto ao que é o erro que cometeu.
O apóstolo destaca que o erro dos gálatas não consistiu simplesmente em terem se colocado debaixo do jugo da Lei cerimonial, mas terem desobedecido à verdade.
Isto revela que não é suficiente saber a verdade e dizer que nós cremos nela, mas nós temos também que obedecê-la. Nós temos que nos submeter à verdade e praticá-la.
Nós podemos inferir do verso 1 que aqueles que estão espiritualmente encantados, que mesmo que a verdade em Jesus esteja claramente diante deles, ela não será obedecida.
Deste modo, é importante evitar todo tipo de fascínio espiritual que opere no sentido de nos separar da verdade que está em Cristo.
Nós temos aqui um exemplo característico das coisas ruins que sucedem a crentes individualmente e mesmo a congregações inteiras.
A graça não transforma um crente instantaneamente, em nova criatura perfeita, porque restos de corrupção permanecem na velha natureza.
O Espírito Santo não pode vencer imediatamente a deficiência humana.
A santificação leva tempo.
Paulo disse que Jesus havia sido exposto crucificado, diante dos gálatas, isto é, a doutrina da cruz tinha sido pregada a eles.
A morte vicária de Cristo tinha sido ensinada a eles como o fundamento da nossa salvação porque o pecador necessitava que alguém morresse no seu lugar, em face da sua completa insuficiência e incapacidade para operar a sua própria salvação em razão principalmente da dívida de pecados que não pode ser liquidada eternamente pelos homens, ainda que sofrendo um castigo eterno.
E o que fizeram os gálatas?
Eles abandonaram esta doutrina e abraçaram em seu lugar a doutrina da salvação pelas suas próprias obras.
Isto não era uma tremenda insensatez?
Isto não poderia ser explicado senão somente como sendo o resultado de um fascínio diabólico?
Por isso, Paulo os chamou de insensatos e encantados, porque haviam permitido que fossem persuadidos pelo encantamento de Satanás através dos seus ministros.
Satanás é astuto. Ele não somente encanta os homens de uma maneira crua, como também sutil.
Ele maltrata as mentes dos homens com falácias horrorosas.
Ele não é somente capaz de enganar os incrédulos, mas até mesmo aqueles que professam a verdadeira fé cristã.
Não há ninguém entre nós que não tenha sido seduzido alguma vez por Satanás em falsas convicções.
Isto responde pela razão das muitas novas batalhas que temos que empreender hoje em dia.
Mas os ataques da velha Serpente não são sem lucro a nós, porque eles confirmam nossa doutrina e fortalecem nossa fé em Cristo.
Assim, não devemos pensar que apenas os gálatas foram os únicos a serem fascinados pelo diabo.
Conseqüentemente nos é ordenado que estejamos revestidos de toda a armadura de Deus para resistir aos principados e potestades, e a vigiar em todo o tempo, de maneira que não sejamos também seduzidos por Satanás.
Com a pergunta: “Quem vos fascinou”, Paulo desculpa os gálatas, ao mesmo tempo em que culpa os falsos apóstolos que lhes haviam conduzido à apostasia.
É como se ele estivesse dizendo: “eu sei que a apostasia de vocês não foi voluntária. O diabo enviou falsos apóstolos a vocês, e eles lhes ensinaram que vocês deveriam crer que somente poderão ser justificados pela Lei. Então, com esta nossa epístola nós pretendemos desfazer o dano que os falsos apóstolos produziram em vocês.”.
Como o diabo tem esta habilidade misteriosa de nos fazer crer numa mentira a ponto de jurarmos mil vezes que ela seja a verdade, nós não deveríamos então ser orgulhosos, mas estar em temor e humildade diante de Deus, e clamar por nosso Senhor Jesus Cristo para não nos deixar cair em tentação.
Para provar a loucura dos gálatas em terem renunciado à doutrina que lhes havia sido pregada e ensinada, Paulo se vale do argumento de que eles tinham recebido o Espírito Santo simplesmente pela fé na doutrina que lhes havia sido pregada de que a salvação é obtida exclusivamente pela graça.
Isto não era uma prova suficiente para eles de que o Evangelho que Paulo lhes havia pregado era a verdade?
As suas palavras não os levaram a receber o Espírito prometido?
A presença do Espírito Santo neles não era a assinatura de aprovação da verdade da Palavra que lhes havia sido pregada?
Não foi também debaixo da doutrina da graça que Deus havia feito tantas maravilhas entre eles?
Aa pregação desta verdade não lhes trouxe sofrimentos por conta das perseguições, tribulações, aflições que experimentaram e que visavam ao aperfeiçoamento espiritual deles?
Deus fizera todas estas coisas neles e entre eles sem nenhum ensino sobre salvação pelas obras da Lei, senão somente pelo Evangelho que eles haviam abraçado, a saber, da salvação pela graça, mediante a fé, e como é que eles estavam renunciando à Palavra da verdade que estava produzindo tais operações reais e celestiais entre eles?
Isto não era senão porque foram fascinados e porque não agiram com sabedoria divina, senão com insensatez carnal?
Não foi por crerem em justificação por obras da Lei que Deus havia operado entre eles, e como poderiam então ter apostatado da verdade?
Se era o Espírito Santo que estava produzindo novo nascimento e santificação neles, como poderiam tentar aperfeiçoar a sua vida espiritual pela simples observância da Lei cerimonial, e segundo a própria capacidade deles em cumprir a Lei.
Eles estavam intentando fazer pela carne aquilo que somente pode ser produzido pelo Espírito, porque sem estar debaixo da instrução, da direção e do poder do Espírito, não é possível guardar de fato os mandamentos de Deus, e não haverá nenhuma transformação espiritual que nos conduza a uma semelhança cada vez maior com Cristo.
Por isso o apóstolo disse que eles haviam começado no Espírito mas estavam tentando se aperfeiçoar pela carne.
Os crentes da circuncisão ficaram maravilhados de que Deus tivesse dado o Espírito Santo também aos gentios, quando Pedro lhes contou a experiência que havia ocorrido na casa de Cornélio, quando o Espírito foi derramado, quando ele lhes havia pregado o evangelho (At 10.45).
Somente isto, seria uma evidência suficiente de que Deus estava dando o Espírito Santo aos gentios sem a Lei, e pela simples pregação do Evangelho, assim como Ele havia também dado o Espírito Santo aos judeus, sem a Lei, e somente por fé. Se a justiça da Lei fosse necessária para a salvação, o Espírito Santo nunca teria vindo aos gentios.
Pr Silvio Dutra