“Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja feito como eu quero, e sim como tu queres” MT 26:39
No meio evangélico, principalmente se tratando do movimento pentecostal, há uma forte busca a Deus assim como o seu favor e misericórdia; isso é muito bom, pois o próprio Deus nos convida a clamarmos a Ele em oração (Jr 33.3), no entanto é necessário que todos nós tenhamos a compreensão de que Deus nos fez dotados de sabedoria e tudo que é necessário para que tenhamos também a participação no que diz respeito as coisas que nos interessam, sejam elas espirituais ou naturais. Essa verdade está descrita no salmo 32.8,9; onde Deus nos mostra que temos as nossas responsabilidades e deveres.
Fechar os olhos para essa verdade é enganar a nós mesmos. Nossas igrejas estão cheias de pessoas vazia. Há Pessoas que gostam de orar e chorar na igreja, mas não convive em paz com a sua família, outras que pulam e falam em línguas estranhas, mas não compreendem a linguagem dos filhos que estão se perdendo nas drogas. O pior é que acabam por se esconderem dos seus deveres e responsabilidades colocando a culpa em outros, fazendo de conta que está tudo bem, quando na verdade a morte está às portas.
Podemos aprender lições maravilhosas nessa passagem da Bíblia ao qual estamos fundamentados. Jesus está passando por um dos momentos mais difíceis do seu ministério, e compreende que não há mais volta “… não seja feito a minha vontade, mas sim a sua”. Há momentos em nossa vida que nos vemos dessa forma, sem saída, sem retorno, apenas a realidade à nossa frente, e em momentos como esse Deus nos ensina verdades eternas e libertadoras para aqueles que desejam andar na verdade.
A primeira lição que Jesus nos ensina é que nós precisamos cumprir a nossa missão, precisamos concretizar aquilo que Deus nos confiou e nos capacitou a fazer. Jesus se lança de joelhos no chão e ora ao Pai dizendo: Pai, eu sei que essa é a minha missão, foi para isso que Tu me enviaste, e aqui estou, vai ser difícil, vai ser doloroso, mas o que importa é cumprir a minha missão e glorificar o Teu nome. Jesus tinha consciência de que estava terminando aquilo que o Pai havia dito a ele para fazer, e esse era o seu alvo e sempre foi, cumprir a missão que recebera do Pai. Ele conseguiu, morreu naquela cruz para salvar a humanidade. Qual é a sua missão? Todos nós temos algo a fazer na obra de Deus, e não há missão pequena para Deus. Precisamos cumprir a nossa missão, mas para cumprimos a nossa missão precisamos saber qual é essa missão. Jesus sabia qual era a sua missão, Ele disse: Eu vim para dar a vida por vocês, para ser levantado no madeiro da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto (Jo 3: 14). Paulo também sabia qual era sua missão e estava convicto de que nada o deteria nessa caminhada (At 20.24).
Saber qual é a sua missão é indispensável para que você a complete. Quando você sabe qual é a sua missão, você descobre qual é o caminho que você deve percorrer. Isso lhe direciona, lhe protege e fortalece, pois por mais difícil que seja o caminho, há uma certeza no seu coração de que você está na direção certa. Quando você sabe qual é a sua missão, você descobre qual é a arma que deve usar, quais as ferramentas que serão necessárias. Deus tem te dado dons para que você, use-os no cumprimento da sua missão, e esses dons só serão úteis se você estiver no lugar certo. Quando você sabe qual é a sua missão, descobre quem são os seus inimigos, pois todos aqueles que ouvirem de você a sua missão, não aguentarão ficar do seu lado, manifestarão a inveja, e tentarão de todas as maneiras te impedir de concretizar a sua missão. Descubra qual é a sua missão, e mais importante do que isso, conclua a sua missão para louvor e glória do Senhor. Jesus glorificou o Pai “eu te glorifiquei na terra…”, e depois deu a receita para nós, “cumprindo a missão que me deste para fazer” (Jo 17.4).
Em segundo lugar precisamos ter consciência do preço a ser pago. O evangelista Lucas fala-nos de gotas de sangue que corriam no rosto de Jesus (Lc 22:44). Uma agonia profunda, destruidora, pois estava prestes a receber o cálice da dor da separação. É comum vermos pessoas pregando e ensinando que o cálice ao qual Jesus se referia era a própria cruz, como se Jesus estivesse com medo de morrer. Esse pensamento é facilmente refutada, basta olharmos para o livro dos Atos dos Apóstolos, onde lemos a alegria dos discípulos ao padecer pela causa do evangelho. Os livros de história da Igreja vão nos contar, como por exemplo, História Eclesiástica, de Eusébio de Cesaréia, que relata o martírio de vários homens de Deus, entre eles o apóstolo Tiago, Policárpio, discípulo do apóstolo João e outros mais. Todos eles foram entregues a morte, cortados ao meio, queimado vivo como Policárpio, mas em nenhum momento pensaram em desistir, ou negar o evangelho com medo da morte, antes, glorificaram a Deus com as suas vidas entregues nas mãos dos carrascos. Sendo assim, como poderia o autor da fé, Jesus, que outrora disse “ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente” (Jo 10:18).
O cálice que Jesus temia era ter que ficar longe do Pai, pois naquele momento, na cruz, onde todos os pecados do mundo estavam sobre Ele, as trevas encobririam o seu rosto do Pai. Ainda assim, Ele suportou a dor, e triunfou sobre a morte assentando-se a Destra de Deus (Fp 2:5-11; Hb 12:2). O preço teve que ser pago na vida de Jesus e também terá que ser pago na nossa vida. Não um preço de salvação, pois essa é dom de Deus, mas o preço da unção, da intimidade, da obediência. O que Deus tem te pedido especificamente? Sansão tinha um preço a pagar, a saber, o segredo da sua força. Daniel orava três vezes ao dia, Paulo carregava na sua carne um espinho que lhe atormentava. O que Deus tem te pedido? Será que Ele requer mais dedicação da sua parte? Será que você ainda não aprendeu a confiar Nele e depender somente Dele? Eu tenho um preço a ser pago, e é milhões de vezes menor do que o preço que Jesus pagou por mim. Como diz um amigo meu, “não posso fazer barato por que Deus pagou muito caro”.
Por fim, Jesus encerra sua oração dizendo “não seja feito a minha vontade, mas a Tua”. Aprendo aqui que nós, assim como Jesus, precisamos confiar em Deus até o fim. Se Jesus tivesse feito tudo quanto fez nos dias do seu ministério, mas tivesse deixado de acreditar que Deus estava com Ele e que jamais o deixaria, sua missão não teria tido um significado pleno. Muitas vezes somos vencidos pelo cansaço, começamos muito bem, eufóricos, cheio de gás e disposição, mas com um tempo começamos a nos perguntar se verdadeiramente vale à pena. Maravilhoso é cruzar a linha de chegada e como Paulo dizer “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”(2Tm 4:9). Muitos que apareceram por aí correram bem, combateram melhor ainda, mas o principal foi perdido no meio da viagem, não foram capazes de guardar a fé. A verdade é que não importa muito como você começa, se fraco, se temente, vagaroso; o importante é como você termina. Você pode até começar inconstante como Pedro, mas permita ser tratado por Deus e transformado numa rocha poderosa. Se você ainda se senti como ‘Jacó’, não pare de sonhar com os planos de Deus para sua vida e lute até o raiar do sol pela benção da restauração.
Termino esse texto orando para que Deus lhe dê visão e firmeza na sua missão, que a graça do Senhor superabunde em sua vida para que possa suportar o preço a ser pago, e que depois de ter feito tudo, o Senhor te encontre de pé, como bom soldado de Cristo. “Seja fiel até o fim, e eu te darei a coroa da vida.
Tarcísio Alves