No mundo secular há uma distinção clara, quanto à noção de força e poder, pois os agentes regulares armados têm a força para executar as ordens daqueles que detêm o poder político e jurídico.
Trocando isto em miúdos, a polícia e as forças armadas (força) cumprem as ordens dos poderes executivo e judiciário (poder).
Observadas as devidas proporções e distinções podemos transferir isto para compreendermos o que seja a força e o poder espirituais.
Em princípio, devemos considerar que Jesus ensinou que o caráter do exercício da autoridade no reino de Deus não deve seguir o modelo dos reinos deste mundo, a saber, que a autoridade não repousa sobre aquele que é o mais servido e tem a maior força a seu dispor, mas sobre aqueles que mais servem e se sentem fracos e pobres para fazer a vontade de Deus, pois é quando se é fraco, que Deus nos faz forte, espiritualmente falando.
Há um dito ilusório no mundo, de que todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Na verdade, todo o poder emana de Deus; é Ele quem institui as autoridades para que exerçam o poder secular ou temporal em Seu nome.
Se os que governam são leais ou não a este princípio verdadeiro, isto é outra estória, mas disto todos darão contas no dia do juízo.
Aos magistrados (juízes) de Israel, Deus os chamou de elohim (deuses) – Salmo 82 – porque lhes havia outorgado poder de decidirem sobre a vida ou a morte daqueles que se encontravam debaixo da sua autoridade. No entanto, Ele os repreende severamente, e lhes diz que eram indignos de usarem este título, em face das iniquidades e injustiças que praticavam.
Deus permitiu que pela obstinação do povo de Israel, eles tivessem reis que não fossem segundo o Seu coração, e isto começou com Saul, que foi ungido por Deus não por Sua escolha consentida, mas para dar ao povo um rei que era segundo o coração deles, para que soubessem quão grande mal há nisto.
Mas, em todo o caso, o Senhor declara que Ele detém todo o poder sobre as nações, e controla o exercício do poder, para que a este cheguem, para fins diversos somente por Ele conhecidos, apenas aqueles a quem Ele o tem permitido.
“… o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.” (Daniel 4.25b)
“Toda a alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.” (Romanos 13.1)
Porém, nosso escopo não é o de discorrer sobre autoridade e poder seculares, mas sobre os que são espirituais, e devem ser vistos na Igreja de Cristo.
Antes de tudo, deve ser dito, que não há poder espiritual genuíno que não proceda e seja inspirado pelo Espírito Santo. Quando deixamos de seguir o governo do Espírito, a nossa autoridade e poder são apenas humanos, ainda que tenhamos sido ungidos para ocupar determinada posição de liderança.
Importa que na Igreja, todo o trabalho seja executado por Deus e em Seu nome. Nenhuma deliberação carnal será reconhecida por Ele como sendo de fato autoritativa. De forma que, a verdadeira autoridade espiritual não será vista por imposição, mas por reconhecimento dos liderados, de que o líder está de fato sendo dirigido por Deus para exercer autoridade em Seu nome.
Outro ponto importante a ser considerado é que ainda que aspiremos à liderança, esta deve ser confirmada por um chamado de Deus. Sem que haja tal chamada, nenhuma autoridade espiritual real nos será concedida por Ele para liderarmos, e seremos perante todos como uma árvore sem frutos.
Outro aspecto importante quanto ao poder de Deus é que este existe, mormente para edificação, para promover a salvação e edificação da Igreja, e não para destruição, como podemos ver o apóstolo afirmando isto em II Coríntios 13.10.
É poder para salvar e não para condenar, sobretudo nesta dispensação da graça.
É poder, conforme dizer de Jesus, para: “pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum.” (Lucas 10.19).
O poder não é propriamente dos crentes, mas de Deus, conforme vemos no dito do apóstolo Pedro que disse a verdade quanto à fonte de cura do coxo à porta do templo (Atos 3.12).
Como é Deus quem escolhe; quem chama, por princípio, deveríamos entender que não cabem disputas para o exercício de liderança na Igreja. Foi nisto que os apóstolos haviam errado no início, e nosso Senhor usou a ilustração de uma criança para demovê-los de suas aspirações de grandeza mundana em Seu Reino. Ele lhes ensinou que quem há de ser grande ou pequeno no Reino já está determinado pelo Pai.
Glória a Deus por isso, pois é o melhor antídoto contra a natural busca de posições elevadas por parte dos homens, à custa de se pisotear e desprezar a outros.
Há uma medida de fé repartida a cada crente, e todos devem ser zelosos e labutar na esfera que lhes foi demarcada pelo Senhor, de modo a não invadirem a seara de outros.
Outro aspecto importante a ser observado quanto a este assunto, é que o poder na Igreja não está limitado à liderança, mas é distribuído pelo Espírito Santo a todo o corpo de crentes para que deem testemunho de Cristo.
O poder dado para pisar serpentes e escorpiões não é exclusivo para pastores, mas para todos os crentes. E de igual modo, para vencerem o pecado e serem santificados.
A propósito, não foi dado aos pastores domínio sobre a fé dos crentes, conforme vemos o próprio apóstolo Pedro discorrendo a respeito disso em I Pedro 5.1-4.
Somente a Jesus foi dado domínio sobre todas as ovelhas do Seu rebanho, mas Ele o faz como o bom pastor que dá Sua vida por elas e as apascenta com amor e mansidão.
Por isso cabe a todos que têm recebido autoridade como pais, como pastores, professores, ou líderes em qualquer outra esfera, seguir o Seu exemplo.
Pr Silvio Dutra