Pastor Valdir Marfim
APOCALIPSE 3: 14 Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente!
16 Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.
17 Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;
18 aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.
19 Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te.
20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.
21 Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono.
22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Em uma de minhas viagens a uma cidade do interior de Goiás, participei de uma reunião preparatória para a aula da Escola Dominical de uma Igreja local.
O estudo temático era o Apocalipse e naquele dia específico iríamos estudar sobre a igreja de Laodicéia (Ap 3:14-22).
A Revista utilizada para o estudo, ao tratar sobre o verso 16, dava ênfase a uma questão histórica ou baseada na arqueologia, e explicava que a cidade era uma Estância Hidromineral e possuía fontes de águas mornas nas suas proximidades; então, o Senhor Jesus, conhecedor que era dessa questão, estava fazendo uma comparação entre a situação dos crentes de Laodicéia com as águas mornas da cidade.
Outros comentaristas do livro do Apocalipse usam um argumento semelhante, porém, mas vão mais além; fazem uma dissertação mais profunda e abrangente da questão da água de Laodicéia comparando-a com as águas quentes de Hierápolis cidade que ficava a aproximadamente 10 km e as águas frias de Colossos que ficava a quase 20 km de Laodicéia.
Vamos ver algumas informações sobre essas duas cidades:
Hierápolis:
Uma cidade a sudoeste da Frigia, numa extremidade do vale do rio Lico, não muito longe da sua confluência com o rio Meandro. Situava-se na vertente da montanha, a cerca de 9.5 km a norte de Laodicéia e a cerca de 16 km a oeste de Colossos. Foi fundada provavelmente por Eumenes II (197-160 AC), rei de Pérgamo, tornando-se parte da província romana da Ásia depois de 133 AC. O nome Hierápolis significa “cidade santa”,devido aos banhos de águas quentes que continham vários minerais e consideravam que a mesma possuía efeitos curativos. Laodicéia e Hierápolis são citados na carta de Paulo aos Colossenses 4:13.
Colossos
Colossos era uma cidade importante, situada nas proximidades do rio Meandro, no vale do Lico e, por isso, acompanhava a principal rota comercial que ligava as cidades da Frígia, no leste, com Éfeso, no oeste.
Colossos havia sido uma cidade cosmopolita importante, que incluía diferentes elementos religiosos e culturais. A população judaica devia-se em parte a Antíoco III, que fixou cerca de dois mil judeus da Mesopotâmia e da Babilônia nessa área, em torno do ano 200 a.C.
Observa G.L. Munn que “ao redor de 62 a.C. os judeus do vale do Lico eram tão numerosos que o governador romano proibiu a exportação de dinheiro destinado a pagar o imposto do templo.” Conforme Cícero, haveria uns dez mil judeus residentes naquela área da Frígia.
Curiosamente ao ler a carta de Paulo aos Colossenses não encontramos nenhuma menção sobre as águas frias de Colossos.
Águas quentes e águas frias
Sei que a intenção de apresentar a Palavra de Deus para os leitores, ou ouvintes no caso de pregadores, é levá-los a entender a mensagem de Cristo para a igreja.
No entanto, percebemos que, às vezes, pela falta de um entendimento mais profundo do livro do Apocalipse, leva o comentarista ou pregador a apoiar-se na posição de alguém, que possui credenciais acadêmicas conhecidas, ou que encontrou um argumento “aparentemente sólido e convincente” para explicar tal passagem.
Nenhum homem, escritor, teólogo ou comentarista, conseguiu até os nossos dias, explicar com certeza absoluta, muitos dos mistérios contidos na Palavra de Deus e em especial o Apocalipse, e certamente não conseguiremos entender sem que o Senhor possa ir revelando e iluminando as mentes dos seus filhos para o perfeito entendimento no tempo devido daquilo que Ele quer realizar.
Nos cursos de Teologia, muitas informações sobre História, Costumes, Arqueologia e Geografia são usadas para explicar fatos e eventos, que sem esses conhecimentos fica muito mais difícil entender ou explicar os textos bíblicos; porém, nesse caso especificamente, não concordamos com a comparação utilizada pelos comentaristas, pois as Cartas às sete Igrejas da Ásia contidas no livro do Apocalipse tratam acima de tudo de questões espirituais , da salvação e da condenação daqueles que estão na Igreja.
Nesse caso das águas de Laodicéia, Hierápolis e Colossos há uma distorção inclusive nos critérios de comparação entre as águas, torcendo o argumento para que se tenha um resultado satisfatório por parte do autor do comentário.
Contam que as águas quentes de Hierápolis eram medicinais para o corpo, porém, elas seriam boas apenas para o banho, pois se a água quente for bebida, ela queimará o trato gastro-intestinal da pessoa que a beber e ela certamente morrerá . Beber água quente não é saudável.
No caso das águas frias de Colossos, ela é boa apenas para beber, pois banhos frios podem trazer vários tipos de doenças e a pessoa pode acabar morrendo de pneumonia ou outra doença respiratória, especialmente no inverno.
As águas de Laodicéia, que vinham através de um Aqueduto de Hierápolis, chegavam mornas em Laodicéia; e alguns dizem que elas continham carbonato de cálcio, por isso provocavam ânsia de vômitos ao beber.
Bom, as águas de Hierápolis eram boas para o banho, mas certamente, ruins para beber pois eram as mesmas que chegavam a Laodicéia, e as de Colossos, boa para beber, mas ruim para o banho, enquanto frias, e as de Laodicéia poderiam ser ruins para beber mas não tão ruins para o banho, pois águas mornas são relaxantes também.
Portanto usa-se um critério para as águas de Hierápolis: banho; e outro critério diferente para as águas de colossos: bebida, e mesmo assim acabam por condenar as águas mornas de Laodicéia comparando-as com o texto bíblico.
Então perguntamos: porventura se o povo de Laodicéia não tinha água boa para beber era diferente do povo de Hierápolis que possuía águas quentes com os mesmos minerais?
Baseado nessas considerações, acredito então, que o argumento das águas tépidas, frias e mornas dessas cidades, não deveriam ser usadas para explicar o texto a respeito de ser morno, frio ou quente, contido na Carta à Igreja de Laodicéia, pois acabam por dizer que ser frio é bom, como as águas de Colossos.
Meditando sobre isso, creio que o Espírito Santo de Deus me levou a entender o texto da maneira como exponho abaixo:
A maioria dos comentaristas Bíblicos considera e concorda que as sete Igrejas contidas no capítulo 3 do livro do Apocalipse correspondem á Igreja de Cristo em determinadas épocas da história, e que a Igreja de Laodicéia seria a Igreja dos tempos atuais, ou a Igreja dos últimos tempos.
Conheço as tuas obras
Sabemos que o Senhor conhece todas as coisas (1ª. Jo. 3:20) e conhece o nosso coração como ninguém. Ele não olha a aparência, mas sonda os corações e conhece os pensamentos, portanto conhece todas as nossas obras.
Nós, que pouco sabemos, as vezes conseguimos identificar no meio da igreja as pessoas que são apenas religiosas, que não se converteram e que não tiveram nenhuma mudança de vida desde que foram para a igreja, mesmo estando lá a muito tempo.
Se nós, limitados, conseguimos perceber isso , que dirá o Senhor Jesus, que não precisa observar muito o homem para entrar em juízo com ele. (Jó 34:23)
São os que o Senhor chama de “frios” na Carta aos Laodicenses.
Nunca se converteram e nunca se arrependeram de seus pecados, nem se prostraram humildes, dependentes da graça e da misericórdia de Deus; desejando ardentemente ser perdoados e recebidos como filhos de Deus.
Não entendem que “sem arrependimento não há salvação”. Que é necessário ter a convicção de que são pecadores e se sentirem como diz o profeta Isaias 64:6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como o vento, nos arrebatam.. (Is 64:6)
Se soubessem disso, entenderiam que dependem totalmente da graça e da misericórdia de Deus e do sacrifício de Cristo para serem salvos da morte eterna.
São como os Fariseus, vivem uma vida de aparência, por isso já receberam a sua recompensa aqui na terra (Mt 6).
Na verdade o “frio” também tem um propósito para o Senhor: A manifestação da sua justiça, onde saberemos quem serve e quem não serve a Deus no “Dia do Senhor”..
Lemos em Provérbios 16:4 O Senhor fez todas as coisas para determinados fins e até perverso para o dia da calamidade.
O frio já tem o seu destino selado. O Senhor Jesus sabe quem são e que nada mudará os seus corações e o seu fim. Então não há o que fazer quanto a eles. Há um propósito determinado e o fim deles será a destruição.
Temos de outro lado o crente “Quente”, que muitos pensam que são aqueles que receberam algum dom do Senhor e gostam de mostrar a todos que receberam.
São barulhentos e acham que quanto mais barulho fazem, mais “quentes” são!
Há um grande equívoco por parte de alguns pastores que não ensinam o rebanho sobre o que significa um “Avivamento verdadeiro”.
O “quente” é o crente que tem consciência de que é pecador e sabe que se depender de seus méritos será condenado.
Humildemente reconhece que sem a misericórdia e o perdão de Deus caminha a passos largos para a morte eterna. Então se prostra diante do Senhor, arrependido, desejando ardentemente ser perdoado e aceito por Deus como filho, para herdar a vida eterna conquistada por Cristo na Cruz.
Ele sabe que : Ainda que o Senhor é excelso, contudo atenta para o humilde. (Sl 138:6). E que um coração humilde Deus não desprezará. (sl 51).
O “quente” é o crente que “ama a Deus acima de todas as coisas”, que aceita sofrer por amor de Cristo, que ama o próximo como a si mesmo, que ama a Palavra de Deus e deseja vivê-la intensamente em sua vida.
O “quente” é aquele cristão que passa por mudanças a cada dia, pois a presença de Deus vai transformando-o em alguém segundo o coração de Deus.
Não é o “crente barulhento”, que pensa em ser visto por causa dos seus gritos.
“Só gritos vazios Deus não ouvirá , nem atentará para eles o todo poderoso”, nos ensina a Palavra em Jó 35:13.
Mas o “quente” é o cristão precioso aos olhos de Deus e Ele tem os seus nomes escritos na palma de sua mão, para lhes dar descanso e honra e glória, juntamente com o Senhor Jesus na eternidade.
Então o Senhor não está preocupado em exortar a esses, pois são seus.
Mas o “morno” é aquele que cocheia entre dois pensamentos (1ª. Reis 18:21), é aquele que deseja o mundo, mas sabe que o mundo é inimizade contra Deus.
Então, ora decide andar com Deus, ora se sujeita aos desejos de sua carne e vai atrás do mundo. Não é firme em seus pensamentos e não é fiel à Palavra de Deus.
Está na igreja, mas não quer abandonar o mundo, nem os prazeres do mundo.
Então o Senhor Jesus está exortando a esses, que certamente, se não se converterem dos seus pecados e abandonarem o mundo, Ele os lançará fora de sua presença, vomitando-os de sua boca.
Então o frio já está condenado, não existe salvação para ele, não há como exortá-lo, pois ele é frio e duro em sua posição e assim ficará.
O quente tem sua salvação assegurada diante de Deus, pois arrependeu-se e segue a sua vida juntamente com Cristo.
Cabe então uma esperança para o morno.
Talvez ao ser exortado por Cristo sobre a sua destruição venha a abandonar os seus pecados e a sua vida vacilante, ele poderá arrepender-se e tomar uma firme decisão de “ouvir a voz de Deus” e ser fiel a Ele.
A mensagem do Senhor Jesus à igreja de Laodicéia é muito clara. Trata da vida espiritual da Igreja dos últimos dias.
É uma igreja com uma “mistura” muito grande de valores que contrariam a sã doutrina.
O desejo por riquezas terrenas permeia os púlpitos e contamina o rebanho, e muitos estão vivendo uma fé morna, sem arrependimento e estão perigosamente flertando com a destruição e a morte eterna .
Parece que a mornidão e a indiferença marcarão a igreja do final dos tempos, especialmente a indiferença quanto às doutrinas sobre a salvação pela fé e arrependimento.
Cabe aos pregadores que estão comprometidos com a Palavra de Deus exortá-los e animá-los a beber da fonte de água cristalina que traz a verdadeira salvação: O Senhor Jesus Cristo.
Essa é a água que deve ser anunciada, pois quem beber dessa fonte, do seu interior correrão rios de água viva. (João 7:38)
Pastor Valdir Marfim
Goiânia – GO
[email protected]