por Domingos Massa*
A violência hoje em dia está presente em todos os setores da sociedade civil, estando cada dia que passa mais difícil a solução para o problema da violência, pois envolve diversos fatores e as políticas públicas implementadas pelos poderes públicos não são adequados o suficiente para mitigar este grave problema que assola a sociedade na atualidade.
A violência no âmago da questão está impregnada em cada uma das pessoas e na relação que mantemos com o nosso semelhante. Ao ser utilizada de forma arbitrária e sem controle o poder proporciona a violência, gerando injustiça, insegurança e consequentemente o distanciamento de Deus.
No livro sagrado existem relatos sobre esta questão mais especificamente no livro de Gênesis. Notadamente nos leva a refletir sobre estas questões, sobre a vida e nosso proceder. Após esta breve apresentação do problema da violência, a indagação que emerge é se a violência pode ser vencida, superada, contida.
Gênesis 4, discute entre tantos temas, o problema da violência no âmbito familiar, tendo como referencial o conflito fraterno de Cain e Abel. Logo, Gn.4, apresenta o descaminho da família, envolvendo sua estrutura, sua produção de sobrevivência, e o culto.
Cain ao matar seu irmão, não se sente mais participante da vida e transforma o mal em violência, tornando-o a expressão por excelência de tal conflito, estabelecido na desobediência de seus pais, sendo ele herdeiro dessa tradição.
Após a apresentação do conflito de Cain e Abel, Gn. 4, caminha para uma pequena genealogia mesclada. Inicialmente, é estabelecido o nascimento das cidades, como forma de organização, e identificado como filho de Cain, Enoque.
Posteriormente, a cidade se tornará um problema, com os filhos de Adão e a torre de Babel. Assim sendo, a família de Cain é identificada como o grupo que estrutura as cidades, mostrando seus conflitos, bem como, a necessidade de interrupção na cadeia da violência que ameaça a continuidade da família.
Destarte, apesar dos conflitos instalados no âmbito da família, o texto aponta para o entendimento de que a possibilidade de vencer as limitações e o poder avassalador da violência encontram-se de igual modo, no seio dela.
Assim vemos que violência se estabelece em primeira instância numa dimensão existencial (pois a maldade atingiu “a imaginação dos pensamentos do coração” do ser humano) A partir do conflito fraterno entre Cain e Abel, percebemos que a violência se alastra atingido o âmbito familiar, a relação entre homem e mulher que passa a ser regida pela dominação de um sobre o outro (neste caso, do homem sobre a mulher) e assim atinge as demais gerações aumentando as vitimas e distanciando a humanidade do projeto de Javé.
Do ponto de vista do Gênesis um elemento indispensável e fundamental para se vencer a violência está contido na justiça que ultrapassa a compreensão individualizante, pois é essencialmente justiça comunitária. Um outro elemento é a retidão ou “perfeição”, integridade. O caminho reto está intimamente ligado ao caminho de Javé e às diretrizes estabelecidas por Javé para a conduta humana. O terceiro e último elemento, é o passear com Javé. É do passear com Deus que procedem os demais elementos, justiça e retidão, pois estes últimos estão essencialmente vinculados e são consequências da vivência na companhia de Javé.
Não é por acaso que a proposta de Deus para o ser humano, no Antigo Testamento, está ligada necessariamente a essa ideia de passeio.
Portanto, no livro do Gênesis, Javé convida o ser humano para serem parceiros na caminhada rumo a construção de um mundo sem violência, pois quem passeia com Javé anuncia a justiça e a retidão, valores que desmontam em qualquer dimensão o reino da violência, para fazer da vida um infindável passeio com javé e do mundo um eterno jardim.
(*) Domingos Amauri Massa, Mestrando em Ciências da Religião e Bacharel em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo, Doutor em Ministério pelo Seminário Teológico Servos de Cristo, Escritor e Pastor da Igreja Urbana. www.domingosmassa.com