“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem.” (Romanos 12.9)
“Que o amor seja, etc”. Passando agora a falar de funções específicas, o apóstolo Paulo começa, apropriadamente, com o amor, que é o vínculo da perfeição. E em relação a isso, ele ordena o que é especialmente necessário, para que todos os disfarces sejam postos de lado, de modo que o amor surja a partir de uma pura sinceridade de espírito. É realmente difícil expressar quão ingênuos são quase todos os homens ao fingirem um amor que eles realmente não têm, pois não somente enganam os outros, como também persuadem a si mesmos, enquanto se convencem de que aqueles que não são amados fraternalmente por eles, a quem eles não apenas negligenciam, mas que realmente desprezam.
Por isso Paulo declara aqui, que o amor é somente aquele que é livre de toda dissimulação. E qualquer um pode facilmente ser um testemunho de si mesmo, se ele tem alguma coisa no recôndito de seu coração que se opõe ao amor. As palavras “mal” e “bem”, que seguem imediatamente no contexto, não têm aqui um sentido geral; senão que o mal é para ser interpretado como aquela maldade maliciosa através da qual os homens são injuriados; e o bem como aquela bondade, pela qual a ajuda é prestada a eles; e há aqui uma antítese habitual que encontramos nas Escrituras, quando os vícios são primeiramente proibidos e, em seguida, as virtudes são recomendadas.
Quanto ao imperativo, ἀποστυγούντες, não tenho seguido nem Erasmo nem os antigos tradutores, que têm interpretado “odiar” (odio habentes), porque no meu entendimento Paulo teve a intenção de expressar algo mais; e dar ao termo o significado “se afastando”, (do mal) porque corresponde melhor à frase imediatamente oposta; pela qual ele não somente nos manda exercer bondade, como também se apegar a ela.
Texto de João Calvino, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.