Parte introdutória de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzida e adaptada pelo Pr. Silvio Dutra.
“O Deus de esperança vos encha de toda alegria e paz no vosso crer.” (Romanos 15.13)
A alegria e a paz são, embora eminentemente desejáveis, não são evidências infalíveis de segurança. Há muitas pessoas que têm grande alegria e muita paz que não são salvas. Sua alegria brota de um erro, e sua paz é a paz falsa que não descansa sobre a rocha da Verdade Divina, mas sobre a areia de sua própria imaginação.
Eu não devo inferir porque o calor do sol está em tal e tal grau, que, portanto, devo necessariamente saltar de alegria. E, por outro lado, temos tido dias muito frios, e assim, a alegria e a paz são como dias bem ensolarados que vêm para aqueles que não têm fé e que estão no inverno de sua incredulidade, e dias estes que podem nem sempre visitar vocês que creem. Ou se tais dias ensolarados vêm, eles não podem perdurar, pois pode haver tempo frio em alguma tristeza e aflição de espírito, mesmo para uma verdadeira alma que crê em Cristo.
Entenda que você não deve olhar para a posse da alegria e da paz como sendo uma consequência absolutamente necessária da sua salvação. Um homem pode estar no bote salva-vidas, mas este bote pode ser tão sacudido que ele ainda pode sentir-se extremamente angustiado e pensar que ainda se encontra em perigo. Não é o seu senso de segurança que o torna seguro – ele está seguro porque ele está no bote salva-vidas – se ele está sensato disto ou não. Entenda, então, que a alegria e a paz não são infalíveis ou evidências indispensáveis de segurança, e que elas não são certamente evidências imutáveis.
Os cristãos mais brilhantes perdem a sua alegria – e alguns daqueles que se destacam bem nas coisas de Deus, e que, no entanto, entretêm muitas suspeitas acerca de si mesmos.
Alegria e paz são os elementos de um cristão, mas ele está, por vezes fora do seu elemento. Alegria e paz são o seu estado normal, mas há momentos quando, com lutas por dentro e guerras por fora, sua alegria se vai e a sua paz é quebrada. As folhas da árvore provar que a árvore está viva, mas a ausência de folhas não vai provar que a árvore está morta.
A verdadeira alegria e paz podem ser evidências muito satisfatórios, mas a ausência de alegria e de paz, durante determinadas épocas do ano, muitas vezes pode ser contabilizada em alguma outra hipótese do que a de não haver fé. E, mais uma vez, peço-vos, queridos amigos, para não buscarem a alegria e a paz como a primeira e principal coisa. Seja vossa oração: “Senhor, dá-me conforto, mas dá-me segurança em primeiro lugar. Impeça que eu ache conforto com exceção de Sua mão direita.”
Acredite que seria melhor para você seguir toda a sua vida na escuridão e terminar na vida eterna e na luz, do que desfrutar muito do que você pensava ser a alegria celeste aqui, e, em seguida, ir para as trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes. Não andem ansiosos para serem felizes, mas sejam mais ansiosos para serem santos. Sejam desejosos da paz, mas sejam mais desejosos, ainda, de ter uma boa esperança através de Cristo – Aquele através do qual a paz pode fluir.
(Nota do tradutor: Entendemos, portanto, que a alegria e a paz que eram esperadas pelo apóstolo que fossem concedidas por Deus àqueles que creem em Cristo, são aquelas que são decorrentes da esperança que temos por meio da fé no Senhor, a qual é firme e segura (Hb 6.18,19); por conseguinte, são constantes e eternas, independentemente de nossas circunstâncias presentes – daí o apóstolo se referir a Deus no texto de Romanos 5.13, como sendo o Deus de esperança. Não se trata de uma alegria e paz que são geradas por nós mesmos, por nossos sentimentos e emoções, mas a certeza interior da bem-aventurança que recebemos da parte de Deus pela Sua graça e misericórdia, e mediante e simplesmente pela nossa fé em Cristo – alegria e paz que percebemos que possuímos quando andamos por fé e não por vista – daí o apóstolo afirmar que isto nos é concedido no nosso crer – alegria e paz que são fruto do Espírito Santo, e cuja evidência atestamos portanto, quando andamos no Espírito.)