Um dia o Homem começou a olhar para si, viu uma obra prima, um ser que era capaz não apenas de saber sobre as coisas, mas, também, era capaz de saber que sabe e saber que não sabe. A partir de então nosso personagem, que era inventor por profissão e natureza, cresceu. Tornou-se mais que um inventor, ele descobriu como compreender fenômenos, curar doenças, entender mistérios e ver além das fronteiras dos olhos. Criou máquinas, atravessou barreiras, duvidou do indubitável e se tornou livre das amarras acusativas da moral. Ele se tornará um super Homem. Ele se gabava, olhava no espelho e via a imagem de si mesmo glorificada por suas obras e seus saberes.
O Homem ainda percebeu que suas mãos eram capazes de criar o que os olhos e ouvidos chamavam de belo. Todas as artes estavam em suas habilidades intelectuais e intuitivas; as cores lhes serviam como escravas submissas; seus deuses, ele mesmo criava. Até o sagrado pertencia a ele, o mago e o santo, o senhor, o Homem.
Numa tarde ele descobriu sua maior qualidade: persuadir e dominar, principalmente sobre os que não perceberam que poderiam ter as mesmas capacidades do Homem. Estes foram facilmente domados, ou como o senhor de todos dizia, “foram domesticados”. Além das cores, agora, seus semelhantes o serviam. Eram inferiores, não eram homens como o Homem, eram sub-homens.
Tendo criado os seus deuses e dominado seus amigos ele agora lhes impunha como cultuar, seguir e obedecer a seus senhores esculpidos por ele mesmo. Seus deuses sempre diziam aos amigos serviçais: “sirvam ao Homem, ele é o melhor amigo de vocês. Tudo que fizerem a ele terão feito a nós”. Tendo dito isso, os deuses do Homem, através do Homem, dominaram os sub homens para o super Homem.
O nosso personagem descobriu nos deuses os maiores aliados de seu poder e genialidade.
O Homem cresceu ainda mais e se multiplicou. Como exemplo de sucesso ele gerou admiradores que quiseram seus saberes e seus poderes. Bastou reproduzir os mesmos métodos e, agora, havia um batalhão de Homens e uma enorme inumerável multidão de sub homens, todos submissos a seus verdadeiros senhores, seus amigos, os super Homens.
Um dos subalternos servidores ouvira falar de uma palavra que tinha poderes mágicos acima do poder dos deuses. A palavra não podia ser dita em qualquer lugar, pelo menos não na presença de seus amigos senhores. Mesmo assim a tal palavra se espalhava com aquele marketing do “só conto pra você porque és meu amigo”. Em meses todos os servos conheciam a tal da palavra “igualdade”. E a coisa virou moda. Começou a ser cantada, escrita, dançada, esculpida pelos sub homens, que, ao verem o que fizeram, apenas com a “igualdade”, perceberam que também eram capazes de criar arte e, assim, começou o fim da amizade entre eles e seus amigos senhores de tudo. Porém, o fim mesmo, foi com a descoberta de uma outra palavra sagrada que viera do oriente, essa cantada pelo vento. Vários homens ouviram de uma vez só, o sussurro: “liberdade”. O mesmo processo e o mesmo fim. Liberdade virou arte e a arte os fez mais um pouco livres e iguais. Já não viam os deuses como senhores. Descobriram que os Homens criaram os deuses para se assenhorarem deles, que eram ironicamente tratados de amigos e que não passavam de coisas para seus superiores. Eles tinham nojo da superioridade e diziam nas ruas, nos becos, nos bares e nas casas: “a igualdade nos trouxe a liberdade”. A vida agora fazia sentido.
Isso não ficou barato, custou-lhes a vida, custou-lhes a obrigação de esquecerem as tais palavras transformadores. Os Homens ficaram mais rigorosos e impuseram mais diferença e servidão. Já não se chamavam de amigos. Eram senhores e servos no chamar, mas na alma eram traidores e traídos, esmagadores e esmagados, respectivamente. Ódio, foi o que se criou entre eles, estavam mutuamente revoltados, feridos e decepcionados.
Os dias ficaram cinza, a vida perdeu a cor. Os Homens matavam os homens e os homens tentavam matar os Homens. Ambos corriam riscos.
Continua….
Pr. Fábio Teixeira
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