O ponto de vista criacionista não devia ser ensinado nas escolas, pois, a despeito do que possa ser dito em contrário, o “Criacionismo Científico” desemboca diretamente na religião.
Sempre que há um debate público sobre o ensino das origens do universo e dos seres vivos, a alegação acima é uma das que mais ecoam. Todavia, por alguma razão, os evolucionistas nunca são rotulados de fanáticos religiosos. Em conseqüência disso, o ponto de vista evolucionista domina o debate sobre a questão das origens. Uma vez que a separação entre Igreja e Estado é um dos fundamentos constitucionais dos EUA [e da maior parte dos países ocidentais], os defensores do ponto de vista criacionista enfrentam uma luta desigual, até mesmo para serem ouvidos no âmbito público. O campo de jogo não parece equilibrado. Afinal, pressupõe-se que a ciência evolucionista é neutra e objetiva, enquanto a ciência criacionista não passa de um dogma religioso disfarçado.
Será que essa história mudaria se a evolução fosse tratada como uma religião? Até que ponto a evolução é apenas o ensino errôneo de que toda manifestação de vida na Terra se originou numa progressão natural a partir de seres vivos menos complexos para seres vivos mais complexos? Na verdade, os evolucionistas fazem isso soar como se uma força superior estivesse em operação para levar adiante o processo evolutivo. Alguns deles chegam a tratar essa força invisível como se fosse um deus.
A filósofa Mary Midgley demonstra esse fato com muita propriedade em seu livro Evolution as a Religion [A Evolução
Como Uma Religião]. Sua pesquisa revelou que na maioria dos textos científicos sobre evolução há afirmações que não são científicas, mas sim religiosas. Midgley comenta sobre esses textos:
“Eles fazem insinuações espantosas sobre uma vastidão de assuntos tais como a imortalidade, o destino humano e o sentido da vida”.
Querendo ou não, os autores desses textos fizeram uma combinação de análise científica e aplicação espiritual. Aí está o sinal evidente de uma religião! Embora Midgley não demonstre nenhuma simpatia pelo cristianismo, ela inteligentemente identificou a hipocrisia daqueles que negam a natureza religiosa do evolucionismo.
A Fonte da Teologia da Evolução
Não é preciso ir muito além dos escritos de Charles Darwin, o pai da moderna teoria evolucionista, para encontrar a fonte da teologia da evolução. Em dado momento, Darwin cogitava ingressar no clero da Igreja Anglicana, mas essa trajetória mudou radicalmente depois que ele passou cinco anos (1831-1836) navegando e explorando a diversidade de seres vivos nas ilhas Galápagos, localizadas próximo à costa do Equador. Em sua autobiografia, Darwin escreveu que nessa época estava num conflito para aceitar a presença do mal num mundo criado por Deus, conforme explica:
Parece-me que há muita miséria no mundo. Eu não consigo me convencer de que um Deus benevolente e onipotente tenha intencionalmente criado a Ichneumonidae [i.e., espécie de vespa] com o expresso propósito de parasitar larvas vivas de outros animais para delas se alimentar, nem criado um gato com a finalidade de caçar um camundongo.
Em 1859, Darwin publicou seu livro intitulado The Origin of the Species by Means of Natural Selection [A Origem das Espécies Por Meio da Seleção Natural], no qual expõe detalhadamente sua concepção de que a vida, em todas as suas manifestações, não provém da mão de um criador, mas origina-se no processo de sobrevivência do mais apto. Dessa forma, Darwin revelou quem era o seu deus. Numa carta escrita a um amigo, ele chegou a denominar e escrever com todas as letras: “Minha divindade ‘a seleção natural’”.
Darwin expressou suas concepções religiosas numa carta que escreveu quando já estava velho e doente:
A ciência não tem nada a ver com Cristo, exceto na maneira pela qual a pesquisa científica torna o homem mais cauteloso em reconhecer a evidência. Quanto a mim, não creio que tenha existido alguma revelação. No que diz respeito à existência de uma vida futura, cada ser humano deve julgar, por si mesmo, entre probabilidades remotas e conflitantes.
Não é de admirar que ele tenha escrito o seguinte:
Nessa época, ou seja, entre 1836 e 1839, eu gradativamente chegara à compreensão de que o Antigo Testamento não era mais confiável do que os livros sagrados dos hindus […] Aos poucos, passei a desacreditar no cristianismo como uma revelação divina […] Assim a descrença lentamente penetrou em mim até que me tomasse por completo. O processo foi tão devagar que nem cheguei a sentir angústia.
Há pouquíssima evidência, para não dizer nenhuma, de que Darwin tenha mudado de idéia. O caminho que ele percorreu está descrito em Romanos 1.21-23:
“Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis”. Romanos 1.21-23
Deus criou todas as pessoas com um conhecimento nato sobre Ele. Porém, devido ao fato de que o ser humano se dispôs contra Deus, as pessoas O rejeitam e passam a fabricar suas próprias divindades para adorar. Os seres humanos são instintivamente adoradores, contudo muitos adoram ídolos. O declínio de Darwin, ao deixar de professar o cristianismo para se tornar o pioneiro da evolução, tem atraído muitos seguidores. Não há nada mais conveniente do que substituir a consciência do Deus único e verdadeiro pelo postulado divino da seleção natural.
O Caráter da Teologia da Evolução
O deus da evolução é a estupenda força da natureza que, segundo se supõe, conduz gradativamente todos os seres vivos ao aperfeiçoamento. Essa divindade é impessoal, complacente e isenta dos constrangimentos inerentes a um relacionamento pessoal. Ninguém faz orações ao deus da seleção natural. Embora os livros didáticos não definam a doutrina da teologia da evolução, seus contornos e pontos culminantes podem ser identificados de três maneiras.
Em primeiro lugar, a teologia da evolução forma a base para o dogma do humanismo secular, segundo consta no Manifesto Humanista I e Manifesto Humanista II. O documento do Manifesto Humanista I, escrito em 1933, inicia com uma conclamação para a necessidade de se criar uma nova religião que se adapte à era vindoura. Seus dois primeiros pilares de fé consideram “o universo como auto-existente e não criado” e propõem que o ser humano “é uma parte da natureza, o qual surgiu como resultado de um processo contínuo [i.e., evolução]”.
Quarenta anos mais tarde, em 1973, acrescentou-se ao documento a necessidade de se depositar fé no progresso humano, apesar do surgimento do nazismo e de outros regimes totalitários que emergiram após a primeira edição do Manifesto Humanista em 1933:
Os humanistas ainda crêem que o teísmo tradicional, particularmente a fé no Deus que ouve orações e que, supostamente, ama e cuida das pessoas, escuta e entende suas orações, e que é capaz de fazer algo em favor delas, é uma fé reprovada e obsoleta. O salvacionismo […] ainda se mostra nocivo, distraindo as pessoas com falsas esperanças de um céu após a morte. Mentes racionais confiam em outros meios para sobreviver […] Nenhuma divindade nos salvará; temos que nos salvar a nós mesmos.
A religião dos humanistas é a fé na evolução e, para eles, somente os mais aptos sobreviverão.
Em segundo lugar, Darwin acreditava que a moralidade se originou a partir do mesmo processo que originou todos os seres vivos, a saber, através daquilo que ele admitiu ser o seu deus, a seleção natural. Na luta pela sobrevivência, vencem os mais aptos pelo simples fato de que esses demonstram elevados valores morais, não necessariamente valores corretos. Portanto, a moralidade depende de determinada situação e não possui nenhum fundamento externo que regule aquilo que é certo ou errado.
A maioria dos cientistas sociais considera a seleção natural como a doutrina fundamental que orienta suas pesquisas no campo da moralidade. Ao partir do pressuposto de que o ser humano é simplesmente um “animal superior”, o estudo do comportamento animal interpreta elementos de equivalência para o comportamento humano. “As ciências biológicas continuam a revelar novas descobertas sobre a natureza dos seres humanos em sua relação com o restante do mundo animal”.
Tal mentalidade gera uma ética situacionista e uma moralidade que se baseia no momento. Não é de admirar que nos Estados Unidos se leia nos adesivos de pára-choque dos carros os dizeres: “Não fique surpreso se nossos filhos agirem como animais, já que eles aprenderam que são descendentes destes”.
Em terceiro lugar, alguns teólogos desejam fazer a união da evolução com o Deus da Bíblia. Leia estas palavras de acomodação:
Uma visão de futuro biblicamente inspirada oferece uma estrutura mais adaptável tanto para a ciência evolutiva quanto para a busca religiosa por significado […] Em vez de atribuir a Deus um plano “inflexível” para o universo, a teologia evolucionista prefere considerar a “visão” de Deus para o mesmo […] O Deus da evolução não determina as coisas de antemão, nem egoisticamente esconde apenas para Si a alegria de criar. Pelo contrário, Deus compartilha com todas as criaturas da própria abertura destas quanto a um futuro indeterminado.
Mais uma vez, o ser humano cria um deus à sua imagem e semelhança. Faça uma comparação com aquela época caótica do período dos Juízes em Israel, quando “…cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25).
O Resultado da Teologia da Evolução
Os riscos são altíssimos nessa batalha; as conseqüências são vida eterna ou morte eterna. O capítulo 17 do livro de Atos descreve o modo pelo qual o apóstolo Paulo lutou uma batalha semelhante em Atenas, que era o centro da filosofia e cultura grega no primeiro século. Paulo andou pela cidade de Atenas e percebeu uma abundância de templos dedicados a muitos deuses. Ele abordou os filósofos no Areópago mencionando a religiosidade do povo ateniense. Paulo usou com perspicácia a realidade do altar dedicado “Ao Deus Desconhecido” para prosseguir seu discurso e explicar a verdade bíblica sobre esse Deus – o Deus verdadeiro.
Entretanto, para que pudesse proclamar o evangelho de Jesus Cristo, Paulo antes tinha que demolir a concepção grega das origens. Naquele dia, Paulo estava diante de filósofos das escolas estóica e epicurista, “duas eminentes correntes filosóficas greco-romanas que eram essencialmente evolucionistas”.
O apóstolo Paulo começou a desmantelar o ponto de vista evolucionista e politeísta de seus ouvintes ao mencionar, por três vezes, a atividade criadora de Deus:
“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (Atos 17.24-26).
Somente depois de construir uma perspectiva da criação baseada no relato do livro de Gênesis, Paulo pôde pregar a mensagem sobre Jesus Cristo e o julgamento eterno.
O plano de Satanás é tremendamente sagaz; ele encontrou um meio de convencer a humanidade de que as pessoas são produto de uma força evolutiva impessoal e que, portanto, elas não são responsáveis perante qualquer ser divino. O conflito não é simplesmente acerca das origens, mas acerca dos destinos.
Os crentes em Cristo nunca devem permitir que os defensores da evolução mantenham a batalha no âmbito da ciência. Trata-se, em última análise, de uma guerra religiosa que envolve fé, valores morais e adoração. Os cristãos adoram o Deus que criou todas as coisas,
“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co 4.6).
Devemos nos unir aos seres celestiais em louvor a Deus, dizendo:
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Apocalipse 4.11).
Autor: William L. Krewson