A revelação de Deus se fez em muitas vezes e de muitas maneiras como se afirma em Hb 1.1,2.
Revelação é a ação de Deus pela qual Ele deu a conhecer ao escritor coisas desconhecidas.
Os escritores da Bíblia foram inpirados pelo Espírito Santo sendo capacitados a receber e transmitir a mensagem, a ponto de serem as palavras de Deus.
A revelação de fatos e a inspiração do Espírito Santo, que acompanham a ministração e a pregação da verdade, ainda em nossos dias, desde os dias apostólicos, não podem produzir uma nova verdade, ou mesmo alterar partes da verdade que de uma vez por todas foi fechada com a escrita do livro doApocalipse. Não existe mais do que um evangelho, e este já foi revelado aos apóstolos, e está plenamente registrado nas páginas da Bíblia, especialmente nas do Novo Testamento (Gl 1.6-9).
Era de se esperar a revelação porque a entrada do pecado no mundo sujeitou a criação à vaidade, tornando necessária a intervenção do Criador para redimi-la do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Rom 8.20,21).
A revelação é necessária porque a razão humana é incapaz, por si mesma, de provar e saber qual é o significado da chamada (vocação) de Deus para o homem, aí incluído tudo o que se espera dele quanto à transformação de sua natureza pelo novo nascimento, à necessidade da expiação do pecado; vida de santidade para o serviço, culto, oração e adoração ao Senhor, neste mundo, bem como é pela revelação que se desvenda que a vida de Deus no crente vence a morte e é eterna.
Esta revelação, apesar de ter sido feita primeiro na vida, conforme estaremos estudando adiante, deveria ser registrada por escrito e também fechada, de forma que não viesse a ser adulterada, por acréscimos, eliminações ou modificações textuais, o que seria de se esperar, caso se baseasse apenas na tradição oral.
Graças a Deus, Ele não somente conduziu o processo de produção da Bíblia como também proveu os meios necessários para preservá-la ao longo do curso da história.
Muitos colocam-se contra a afirmação de serem as Escrituras (tanto do Antigo quanto do Novo Testamento) a verdade, argumentando, puerilmente, que elas são o produto da imaginação do homem, e mais ainda, que não podem ser infalíveis, posto terem sido imperfeitos os homens que as produziram, como todos os demais homens.
Ora, a isto respondemos que para revelar a verdade e para preservá-la através das sucessivas gerações da humanidade, Deus já havia planejado inspirar profetas, apóstolos e outros para serem ministros da Palavra, antes mesmo que estes tivessem chegado à existência (Jer 1.5; Gl 1.15,16).
Acrescente-se a isto, que apesar de pecadores, os autores da Bíblia foram antes, justificados e santificados pelo Espírito, e foram por Ele inspirados e conduzidos em tudo quanto escreveram.
Isaías seria instrumento de Deus, mas antes foi purificado pela brasa do altar. E o fogo purificador do Espírito Santo haveria de estar com ele durante todo o seu ministério.
Por oportuno, não podemos também esquecer que apesar de todos os homens serem iguais em sua constituição geral, há profundas diferenças entre estes no que tange às capacitações intelectuais e espirituais. Quantos estariam habilitados a serem um Moisés, que fez toda a vontade do Senhor, registrando os mandamentos da lei, sem uma vírgula a mais ou a menos ? Que registrou todos os detalhes do tabernáculo exatamente conforme o modelo que Deus lhe havia exibido no monte Sinai?
Uma das provas de que as Escrituras foram reconhecidas como de proveniência divina é o fato de terem sido amplamente citadas em seus sermões e escritos teológicos pelos chamados pais da igreja, ou pais primitivos (os primeiros pastores e doutores do cristianismo).
Todos os genuínos homens de Deus utilizaram-se da Bíblia, como a temos hoje, para o ensino da verdade, e não de outros escritos pseudoepigráficos (evangelho de Tomé por exemplo) e apócrifos, que já circulavam em seus dias. Quanto aos apócrifos é importante abrir um parêntesis para mencionarmos os livros apócrifos contidos na bíblia da igreja católica romana, que são os seguintes: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, I Macabeus e II Macabeus, e 4 acréscimos a Ester e Daniel, como a seguir: Ester (cap 10.4-16-24); Daniel (Cântico dos três varões – cap 3.24-90; História de Suzana – cap 13; Bel e o Dragão – cap 14).
A igreja romana aprovou os apócrifos como “canônicos” em 18 de abril de 1546, no Concílio de Trento, para combater o movimento da Reforma Protestante, então recente.
Nessa época, os protestantes combatiam as novas doutrinas da igreja católica romana: do purgatório, da oração pelos mortos, da salvação mediante as obras etc.
A igreja romana via nos apócrifos bases para essas doutrinas, e, apelou para eles, aprovando-os como se fossem canônicos.
É importante citar que houve prós e contras dentro da própria igreja de Roma, quanto ao reconhecimento dos citados livros.
Entretanto, o erro venceu, e a primeira edição da bíblia romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do Papa Clemente VIII.
Nenhum dos sessenta e seis livros canônicos dão apoio às falsas doutrinas contidas nos apócrifos. E é exatamente esta unidade doutrinária dos livros canônicos mais uma das provas que atestam a sua inspiração divina, pois, estando separados no tempo e em face da diversidade de situações em que foram produzidos, percebe-se que há em todos eles, do início ao fim, a referida unidade doutrinária.
Afirmamos que a Bíblia, como a temos, com os seus sessenta e seis livros, sem nenhum outro a mais ou a menos, é a verdade, e não que contém a verdade, porque sendo as Escrituras de proveniência divina, não possui partes inspiradas e outras não inspiradas por Deus. Todas são inspiradas, até aquelas que permanecem fechadas ao entendimento humano. Não é este o caso, em relação a muitos personagens e situações das profecias escatológicas, como as encontradas nos livros dos profetas e no Apocalipse ? Muito do que ali está revelado permanece ainda como enigma, até que Deus venha a revelar a quem e a qual ocasião se referem.
Homens foram inspirados pelo Espírito e profetizaram acerca da justiça do evangelho (Rom 1.1,2; 3.21; Hb 1.1; II Pe 1.19-21), muitos séculos antes desta ser revelada na pessoa de Cristo (Hb 1.2; 2.1-4; II Pe 1.19).
O cristianismo é uma religião revelada, e uma das provas desta revelação está no fato de que necessitamos da instrução do mesmo Espírito que inspirou a produção da Palavra para que possamos compreendê-la e praticá-la, vivendo conforme a vontade dAquele que a inspirou. Daí Paulo afirmar a necessidade que temos do Espírito Santo para entender o significado da vida cristã, mediante o que foi revelado por Deus a nós, pois cousas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente.
Por isso, a revelação foi feita primeiro na vida e depois nas Escrituras.
Os profetas e os apóstolos escreveram acerca do que viveram. E mesmo quando lhes foram reveladas cousas que se referiam ao futuro ou sobre a pessoa de Deus, Eles só puderam discernir que provinham dEle, ainda que não entendessem o significado do que lhes foi revelado (Dn 12.8), porque estavam em comunhão com o Senhor e haviam sido preparados por Ele para serem seus instrumentos no registro da Sua vontade.
É por isso que as doutrinas da Palavra não nos foram dadas simplesmente para serem objeto do nosso conhecimento, mas para serem experimentadas, isto é, vividas por nós. E é somente experimentando pela fé, que chegamos a conhecer que a Bíblia é a verdade, pois aquilo do que dá testemunho se revela real em nossas próprias vidas.
Afinal a meta do estudo das Escrituras não é o mero conhecimento intelectual do próprio texto bíblico, mas conduzir-nos ao conhecimento pessoal de Deus e de Sua vontade. Podemos dizer que a meta a ser atingida a de conhecer ao Senhor por meio da Palavra. Sabendo que o conhecimento que salva, isto é, que justifica, santifica e glorifica não é o conhecimento do que Deus é e nem o conhecimento sobre Deus, senão o conhecimento que é oriundo da comunhão pessoal com Ele, resultante de um encontro direto.
Os fariseus examinavam as Escrituras mas não entendiam o seu significado interior, porque não entregaram suas vidas a Jesus. Afinal, este é o propósito central da Bíblia.
Por exemplo, a Palavra ensina diretamente e em figura que desde a entrada do pecado no mundo, só podem se achegar a Deus aqueles que se arrependem do pecado e se reconhecem pecadores necessitados da Sua graça (estes são os humildes de espírito e quebrantados de coração que Jesus veio salvar e curar – Is 61.1-3); e que a base que assegura ao pecador tal aproximação e filiação a Deus é a morte e ressurreição de Jesus, por assim dizer, a obra expiatória da Sua morte, e a novidade de vida que nos é outorgada por meio da Sua ressurreição e habitação do Espírito Santo.
Mais do que o reconhecimento desta verdade, importa vivê-la, para que se possa além de entender que a Bíblia é a verdade, estabelecer e manter um relacionamento santo e reverente com Deus, pois, através da Palavra, o Espírito ensina-nos o temor devido ao Senhor, para vivermos sobretudo no Seu amor e poder.
Foi com tal objetivo primordial em mira que João declarou o propósito com que escreveu o evangelho (Jo 20.30,31). Na verdade este é o propósito com o qual foram escritos todos os livros da Bíblia, ainda que não declarado diretamente como João o fizera. Mesmo a lei de Moisés, foi dada para nos servir de aio para nos conduzir a Cristo.
Por isso, a Bíblia é diferente de todos os demais livros do mundo, em razão da sua inspiração divina (II Tim 3.16; II Pe 1.21), e é devido à inspiração divina que ela é chamada de Palavra de Deus (II Tim 3.16).
Inspiração divina é portanto a ação sobrenatural do Espírito Santo sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e a transmitir a mensagem de
Deus sem qualquer erro.
Todas as partes da Bíblia são igualmente inspiradas, e os escritores não funcionaram como máquinas inconscientes, tendo havido cooperação vital e contínua entre eles e o Espírito de Deus que os capacitava. O apóstolo Pedro afirma que homens santos escreveram a Bíblia com palavras do seu vocabulário, porém sob uma influência tão poderosa do Espírito Santo, que o que eles escreveram foi a Palavra de Deus.
As Escrituras testificam de si mesmas quanto à sua inspiração divina. Isto é, há um testemunho interno na Palavra acerca da sua proveniência divina, daí se afirmar que a Bíblia é explicada com a própria Bíblia.
A Bíblia reivindica a si a inspiração de Deus, pois a expressão “Assim diz o Senhor”, como carimbo de autenticidade divina, ocorre mais de 2.600 vezes nos seus livros, além de outras expressões equivalentes.
A respeito da exatidão das Escrituras, dentre outros, o próprio Jesus deu os seguintes testemunhos:
a) Que nem um i ou til (menores sinais do alfabeto hebraico) jamais passariam da lei, até que o céu e a terra passem (Mt 5.18). Isto significa que elas permanecerão válidas até que Ele volte e sejam criados novo céu e nova terra, conforme prometido nas mesmas Escrituras.
b) Que a Escritura não pode falhar (Jo 10.35).
As Escrituras constituem o cânon (padrão, norma, regra) que deve reger a nossa fé e conduta (II Tim 3.16,17).
Paulo referiu-se às mesmas como o bom depósito da fé (II Tim 1.14) e recomendou aos seus cooperadores que mantivessem o padrão das sãs palavras (II Tim 1.13).
Ora, o que daí se depreende, não é que a própria Bíblia reivindica a Sua autoridade de ser a única e final palavra sobre as questões de fé e conduta, que devem reger o povo de Deus ?
Os apóstolos estavam convictos de que a doutrina que ensinavam e que haviam recebido de Jesus e do Espírito Santo, era de fato a Palavra de Deus, em pé de igualdade com as Escrituras do Velho Testamento (I Tes 2.13; II Pe 3.16; I Jo 1.1-4). Por isso, Deus mesmo, dado o caráter da Sua Palavra proíbe que algo lhe seja acrescentado ou retirado (Dt 4.2; Pv 30.5,6. Mt 5.19; Apo 22.18,19). Disto se depreende o cuidado que seus ministros devem ter ao pregá-la ou ensiná-la, de maneira que sejam fiéis embaixadores de Deus na transmissão da Sua vontade revelada.
Se a própria Palavra testifica a respeito de ser a Constituição do povo eleito, então, por nenhuma outra lei ou norma que com ela conflitue, deve ser regida a vida dos santos.
Daí serem muitas as recomendações no sentido de que os ministros do evangelho tenham o cuidado diligente de manter o padrão (cânon) das Escrituras, e, especialmente da doutrina do evangelho (I Tim 1.3,4; 4.16; 6.20,21; II Tim 2.15-18), rejeitando e combatendo todo ensino que não se conforme com a Palavra (Rom 16.17,18; I Jo 2.26; 3.7; 4.1; II Pe 3.15-17; Jd 17-19; Gl 1.6-9; Tt 3.10; II Jo 9-11).
A prova da inspiração das Escrituras está principalmente no fato de que todos os seus livros apontam para Jesus e Sua obra de restauração, sendo Ele mesmo o Profeta, Sacerdote e Rei enviado e designado pelo Pai para redimir a criação, instruí-la na verdade e transportá-la do império das trevas, para o reino da Sua luz. As mesmas Escrituras testemunham do trabalho do Espírito Santo no estabelecimento do reino de Cristo.
Podemos dizer que as obras que Jesus fez em Seu ministério terreno e que continua fazendo através da igreja, provam que Ele é de fato o enviado de Deus do qual a Bíblia testifica, pois nenhum outro realizou ou tem realizado as obras que Ele recebeu do Pai para executar sobre a Terra.
Maomé, Buda ou qualquer outro não se encaixam nas profecias bíblicas. É somente em Cristo que vemos o cumprimento de tudo quanto está profetizado diretamente ou em figura, na Palavra, a Seu respeito.
O Enviado de Deus (Jesus) realizou e continua realizando através da sua igreja, as obras que recebeu do Pai para efetuar sobre a terra. Nenhum outro realizou ou tem realizado as obras que somente Ele pode operar e que comprovam que Ele é de fato o Ungido, o Salvador, o Senhor, conforme testificam as Escrituras.
Nele se cumpriram as Escrituras, como Ele mesmo declarou (Mt 5.17).
Os demônios continuam sendo expulsos por Aquele que pisa cabeça da serpente, conforme revelado desde o livro de Gênesis.
Pessoas de todas as nações continuam entrando no Reino de Deus, conforme prometido e revelado a Abraão.
O cumprimento das profecias e os milagres que são somente por meio de Jesus e do Seu nome, pois Ele mesmo realiza a Sua obra através de nós, testificam que tudo quanto se diz nas Escrituras, a Seu respeito, é a verdade.
A própria Bíblia testifica que Deus confirmava que a Palavra que estava sendo pregada pelos apóstolos é a verdade, com a operação de sinais e prodígios (Mc 16.20; At 14.3).
É por isso que em todos os avivamentos que ocorreram e têm ocorrido na história da igreja, sempre há um retorno à prática da Palavra de Deus, exatamente na forma como se encontra registrada na Bíblia.
Quando crentes ou igrejas inteiras decidem viver segundo a doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos, o resultado sempre será a experimentação de avivamentos produzidos pelo Espírito Santo.
De igual modo, o poder de Deus sempre há de acompanhar a pregação e o ensino que se fundamentem na correta exposição da Sua Palavra, dando-se desta forma testificação pelo Espírito Santo acerca da sua inspiração divina.
Afinal, aprouve a Deus salvar aos que crêem pela pregação (I Cor 1.21), e a pregação deve ser mediante a palavra de Cristo (Rom 10.17).
O mesmo Espírito que inspirou a produção da Palavra é o que inspira o pregador a explicá-la, expondo-a com autoridade e poder. Não é a pregação portanto uma simples leitura do texto bíblico, mas o uso que o Espírito faz das faculdades do pregador enquanto este apresenta a explicação da Palavra que lhe foi indicada pelo Espírito Santo.
A Palavra assim pregada passa a ser viva e operante, e é esta que salva e edifica. Há assim, uma testificação dupla e harmoniosa da inspiração divina da Palavra pregada, tanto da que está registrada na Bíblia, quanto da que foi dada por instrução e direção do Espírito Santo ao pregador para a exposição da verdade bíblica.
Pr Silvio Dutra