Seja pelo caminho do bem, seja pelo caminho do mal.
Ao que tudo indica, o caminho que conduzirá à consolidação da Nova Ordem Mundial está tendo duas vertentes para o mesmo propósito, uma pela busca do bem, e outra pelo cumprimento de um plano maligno.
Homens e mulheres de boa vontade empenhados em buscar soluções para os problemas mundiais têm chegado à conclusão que a melhor delas seria a instalação de um governo único central sobre todas as nações, e por outro lado os antigos senhores do mundo têm cumprido as diversas etapas de seu planejamento maligno para preservação do seu status-quo, livres das ameaças de futuras instabilidades sociais que poderiam dilapidar suas fortunas e terminar com o seu poder de mando global informal.
Estaremos explicando detalhadamente a seguir em que consistem estes dois caminhos citados.
Por mais incrível que possa parecer, a implantação do comunismo na Rússia, China e Coréia do Norte, foi financiado com o capital dos banqueiros de Wall-Street, como é sabidamente conhecido pelo testemunho da própria imprensa americana.
A razão disto é explicada pelo plano criteriosamente engendrado de formar no mundo dois grandes blocos antagônicos, com vistas à grande conflagração final da terceira guerra mundial.
Estes opositores deveriam ser devidamente fortes para produzirem um grande estrago e caos mundial pela confrontação das nações unificadas do eixo (União Europeia, EUA – Nafta, Brasil – Mercosul – e demais aliados), contra Rússia, China, Coréia do Norte, Irã e todos os demais países muçulmanos interessados na destruição de Israel).
Os grandes controladores do capital mundial de Wall-Street ficarão mais ricos e poderosos financiando esta guerra em ambos os lados, cujo custo será pago pela tributação das populações locais.
Pelo pavor de evitar futuras assolações, todos estarão dispostos em todo o mundo a abrir mão de sua soberania nacional, em prol de um governo mundial forte, que diferentemente da ONU, tenha o poder real de controlar toda a população mundial, pela ação combinada da nações coligadas como parceiras sob o compromisso real de um pacto de ajuda, no qual, quando qualquer parceiro tentar violar as regras impostas, deve ser punido imediatamente pela ação das demais nações, agora reunidas em regiões (UE, Nafta, Mercosul, etc) com seus respectivos representantes oficiais junto ao governo central.
Será instalado portanto um governo fascista com um efetivo controle arbitral sobre as finanças, política, economia, religião etc.
E quem estará agora oficialmente sentado no governo central ditando as normas gerais de ação: os velhos senhores de Wall-Street e seus coligados, que sempre controlaram as finanças em todo o mundo, inclusive na Rússia, China, e pasmem, até mesmo na Coréia do Norte.
Eles haviam financiado a indústria e as guerras destas nações, e agora o direito de estarem no comando das ações, deverá ser reconhecido por elas, até mesmo porque detêm agora o poder do argumento da força das armas num contrato de parcerias de caráter inviolável.
Em linhas rápidas e gerais, acabamos de apresentar o caminho do mal.
Vejamos agora, algumas propostas do caminho do bem, o qual está representado por exemplo nas ideias do Ex-Desembargador Francisco César Pinheiro Rodríguez.
O aumento abrupto da população no último século, e o avanço tecnológico que roubou a mão-de-obra mecânica, aponta para gravíssimos níveis de desemprego.
Para que se tenha uma idéia, a população mundial para passar de um bilhão para dois bilhões, levou cerca de cem anos, entre os séculos XIX e XX.
Em 1950 havia dois bilhões e meio de pessoas no mundo. E apenas sessenta e três anos depois, em 2013, a população mundial é de 7 bilhões.
E a cada dez anos, atualmente, a população cresce em mais um bilhão, ou seja, dez vezes mais do que no período longo de 1800 a 1927.
É daí principalmente que decorre a maioria dos atuais problemas mundiais, notadamente nos aspectos de segurança, saúde, transportes, alimentação, moradia etc.
Este é agravado pela conhecida ciranda financeira, em que os investidores e empresas mundiais aplicam seu capital onde lhes seja mais conveniente, segundo as circunstâncias do momento ou previsões futuras – muitas delas produzidas por inquietações artificiais – levando a um constante desequilíbrio financeiro nas diversas nações.
A disputa capitalista pelo lucro e somente pelo lucro, coloca à margem outros interesses maiores e vitais relativos não somente à preservação da condição da dignidade humana, como também ao que se refere ao meio ambiente.
Mas como a roda capitalista não pode parar, pois ninguém está disposto a abrir mão do seu moderno estilo de vida, não há como se voltar atrás, para o modo de se viver do passado.
Assim, não há outro meio para um controle efetivo sobre a farra financeira, política etc, senão o estabelecimento de um governo central forte, porque os investidores não terão alternativas para correrem com seu capital para as nações que lhes sejam mais convenientes e confiáveis, porque afinal, todas estariam agora, por consenso mútuo, debaixo de um mesmo sistema e controle mundial.
As atuais medidas protecionistas das nações, suas barreiras alfandegárias, o câmbio flutuante monetário, tudo isto terminaria, e, supostamente, haveria uma melhor distribuição de recursos, oferta de empregos em condições de igualdade, e a eliminação de muitos outros problemas que existem no presente em decorrência dos interesses soberanos de cada nação.
Extraímos as seguintes citações da monografia de Francisco César Pinheiro Rodríguez, sobre este assunto:
“Problemas globais resolvem-se mais facilmente com soluções globais. Com soluções regionais, parciais, choros e rangeres de dentes, a solução é difícil, demorada, enredada, com avanços e retrocessos. Dependem de uma “compreensão”, sempre problemática, de políticos que dependem de votos para subsistir, porque, afinal, a democracia liberal veio para ficar — é o que nos diz Francis Fukuyama com seu discutível “Fim da História”. Uma única e universal democracia liberal — ou alguma “prima” sua, de desenho ainda desconhecido — seria menos conflituosa que uma reunião confusa de democracias e remanescentes ditaduras, com contrastantes orgulhos e interesses.”
“Crime organizado e movimentação financeira internacional.
São outros itens que aconselham mais eficaz e unificada fiscalização planetária. Sem a necessidade atual de vencer complexas e lentas burocracias “soberanas” para saber quem — comprovadamente suspeito da chefia de narcotráfico, ou de vultosos desvios financeiros — possui, ou não, contas no Exterior, qual a origem misteriosa desse dinheiro, etc. Países têm diferentes legislações, diferentes regramentos administrativos — escritos obviamente em diferentes idiomas — e diferentes sistemas judiciários. Tais variáveis embaraçam e retardam a missão dos agentes da lei, legitimamente interessados não só em punir criminalmente o infrator, mas principalmente em trazer de volta o dinheiro produto do crime. O infrator tem, no caso, hoje, a grande vantagem do sigilo e da velocidade, pois transfere, em segundos, enormes somas de um país para outro. É uma luta de gato contra rato, em que os roedores levam imensa vantagem porque dispõem de sorridentes tocas paradisíacas fiscais em todo canto — o que é comercialmente compreensível porque se uma “toca” bancária recusa o atraente queijo outras, protegidas por outras soberanias, o receberão.
A unificação no controle das transferências eletrônicas criaria enorme dificuldade na movimentação do dinheiro ilícito. Considerando o volume imenso dessas quantias seria uma temeridade — “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão” — carregar, de um lado para outro, malas cheias de dinheiro pelas ruas e corredores de aeroportos, estes igualmente adaptados para u’a mais unificada fiscalização.
As poupanças honestas, investidas em ações, sentem-se inseguras, hoje, com a sucessão de escândalos e desfalques nas grandes multinacionais. E os abalos em uma Bolsa se refletem nas demais, em razão da globalização. A Parmalat é um exemplo. Engenhosos CEOs, acolitados por “mágicos” da contabilidade, podem, durante anos, disfarçar desvios de recursos, favorecidos com a dispersão de suas filiais pelo mundo. Estas remetem às sedes balanços corretos — no papel — mas sem apoio na realidade. Os acionistas não têm como verificar o que está por trás dos documentos, e os dirigentes da empresa — que montaram o desvio —, obviamente não vão facilitar qualquer investigação, oferecendo o pescoço à guilhotina.
Se, hoje, uma fiscalização governamental quiser conhecer a situação financeira real de determinada corporação, em benefício dos inocentes acionistas — aqueles que o são, realmente —, encontrará dificuldade porque terá que pedir, a cada país soberano — onde se encontram as filiais —, licença para fiscalizar, gerando complexas e lentas disputas judiciais. Com um governo unificado a fiscalização seria extremamente agilizada.
Mesmo em atividades estritamente privadas, a globalização aconselha crescente unificação de rotinas de auditoria das grandes empresas. O presidente mundial da KPMG International — uma respeitada empresa de auditoria —, Michael Rake, em entrevista à revista “CartaCapital”, edição de 3 de março de 2004, pág. 54, diz que “Na Europa, ficou estabelecido que, a partir de 2005, todas as companhias devem usar os critérios internacionais.
O mais eficiente, em nossa opinião, seria convergir todos esses protocolos em apenas um, senão não é possível estabelecer termos de comparação, o que pode dar margem a fraudes. Precisamos de algo mais consistente, claro, simples e padronizado em que o mercado de capitais possa confiar.
Quanto ao crime organizado, principalmente aquele relacionado com o tráfico de entorpecentes, seu combate tem sido estudado com extensão e competência por juristas de todo o mundo, sendo dispensável repetir o que dizem os especialistas da matéria. Basta lembrar que a unificação da repressão seria facilitada com um governo mundial.”
”Outro ponto que torna quase inoperante, hoje, a boa intenção genérica de evitar discórdia comercial entre as nações — conflitos que, poucas décadas, atrás degeneravam em guerras bem reais — está no protecionismo comercial por parte de alguns países contra outros. Em linguagem mais explícita, dos ricos contra os pobres, porque estes dificilmente podem se dar ao luxo de retaliar sem novos prejuízos. Se mantido o atual sistema — com necessidade dos mais fracos correrem, caso por caso, para a proteção da asa da Organização Mundial do Comércio —, a lentidão dessa sistemática continuará gerando prejuízo, com segmentos da produção e do comércio em compasso de espera até que se solucione cada incidente. Solucionado, o perdedor não de conforma e revida com outra forma, direta ou indireta, de protecionismo, gerando nova reclamação, defesa e julgamento, e assim por diante. Uma “justiça comercial” morosa merece tanta censura quanto a justiça estatal de feição estritamente jurídica.”
“O ataque ao Iraque provocou ainda uma reavaliação do papel da Organização das Nações Unidas na sua missão de manutenção da paz. Mostrou sua relativa fragilidade — quase a mesma que vitimou e levou à extinção da antecessora, a Sociedade das Nações —, a ponto de se poder dizer que a ONU, hoje, é uma abelha bondosa, mas sem ferrão. Bondosa porque ajuda materialmente, na medida do possível, populações sofredoras, e promove, com, conselhos, reuniões de cúpula e campanhas, os direitos humanos. Vez por outra, chega a usar o ferrão, desde que não haja qualquer veto dos países “importantes”, os que contam, e que , por vezes, mereceriam uma ferroada educativa, o que torna relativa a utilidade desse órgão internacional. Considerando o poder de veto — basta um — dos membros permanentes do Conselho de Segurança não se pode dizer que é uma organização plenamente democrática, com a eficácia de comando exigida pelo mundo moderno. Este se afogará, progressivamente, como já dito acima, na poluição, no desemprego, nas dívidas governamentais monstruosas, nas crescentes despesas com armas, nos conflitos internos de vários países e na relativa impunidade do crime organizado. Já não basta, considerando os fantasmas que se erguem no horizonte, um órgão interessado apenas na “manutenção da paz” e recomendações em favor dos direitos humanos. É preciso algo mais abrangente e eficaz.
Mesmo quando a ONU se transfigura em um tribunal, como ocorre com a Corte Internacional de Justiça, suas condenações são apenas morais, meras opiniões, o réu obedece se quiser, o que tira à Corte a natureza de um verdadeiro tribunal, que tem na execução efetiva de suas decisões sua principal razão de ser. Com está, não é bem uma corte, mas um respeitável órgão acadêmico de consultas e recomendações.
Com a atual configuração, a ONU não resiste à crítica de falta de coerência. Ela, por exemplo, proíbe aos países mais fracos a fabricação de bombas nucleares. No entanto, nada a opor a que os cinco membros permanentes, EUA, China, França, Inglaterra e Rússia detenham tais armas, ou quaisquer outras, por mais mortíferas que sejam — ninguém se atreve a investigar. O que leva o resto do mundo, os “inferiores”, a indagar por que alguns membros podem, e outros não, pertencer ao seleto e temível clube atômico. E a ONU fecha os olhos — por impotência institucional, não por má-fé — ao que ocorre em determinados países. Israel, por exemplo — é o que dizem os especialistas —, possui sua bomba nuclear, o que é totalmente vedado aos países árabes, sob risco de invasão. Por outro lado, não convém, absolutamente, que haja uma proliferação nuclear, porque qualquer chefe de estado poderia, num momento de cólera, iniciar um conflito nuclear, mergulhando o planeta em um pesadelo irreversível.”
(Comentário do articulista: Quanto a esta ineficiência da ONU, a mesma foi criado e planejada pelos senhores do mundo para funcionar exatamente desta forma, de maneira a ser substituída por um clamor de todas as nações por um governo mundial efetivamente dotado dos poderes executivo, judiciário e legislativo, com controle do uso de todas as forças armadas e poderes de polícia do mundo).
Voltemos a outras citações da monografia de Francisco César Pinheiro Rodríguez:
“O fardo armamentista.
Quantos países soberanos existem hoje, no planeta? Cerca de duzentos, o que implica, em tese, a manutenção de duzentas forças armadas — exército, marinha e aeronáutica —, porque cada país tem a obrigação de cuidar de sua defesa externa. É impossível não reconhecer o imenso fardo financeiro — sem mencionarmos o perigo potencial da fagulha entre barris de pólvora vizinhos — que isso representa para a humanidade. Um fardo sempre crescente porque cada vez que um país aumenta sua força militar o vizinho considera prudente fazer o mesmo.
Como escapar desse círculo vicioso? Com a unificação. A Europa, unindo-se, dispensou a corrida armamentista interna que alimentou inúmeras guerras no passado. Inglaterra, França e Alemanha, por exemplo, não precisam mais aplicar tantos recursos financeiros com a própria segurança. Parece até impossível imaginar uma Europa sem guerras.
Provavelmente não ouviremos mais falar em conflitos bélicos entre os países da União Européia. A OTAN, ou órgão assemelhado, defenderá todos os países europeus e, principalmente, evitará que os países membros se guerreiem entre si, um progresso considerável, em termos de favorecimento da humanidade. O que causou tal “milagre”? A compreensão da superioridade da unificação sobre a multiplicidade de melindrosas e esquentadas soberanias.
Os EUA mantêm um único exército, única marinha e única aeronáutica. Se seu gasto com as forças armadas é fabuloso — por motivos relacionados, inicialmente, com a Guerra Fria, a provar que o medo recíproco é altamente perigoso —, muito maior seria o gasto se cada estado da união mantivesse suas próprias forças armadas. Sendo os EUA uma federação é impensável a existência de guerras entre seus estados, a comprovar a eficácia da unificação, seja qual for a seu rótulo em termos de ciência política. Com a unificação mundial, cada país — transformado em uma espécie de “província” — teria que armar-se apenas para a manutenção da ordem interna.
Sem um governo mundial a industria armamentista continuará cumprindo seu papel inevitável de incentivador de desconfiança, morte e destruição. Cumpre lembrar, inicialmente, que uma indústria privada de armamentos só não irá à falência se houver constantes guerras ou provocações. Os estoques não podem ficar encalhados. Atritos que podem ser habilmente estimulados por intrigas das indústrias de armas. São aberrantes as cenas, no noticiário televisivo, de desnutridos adolescentes africanos portando metralhadoras dispendiosas, quando se sabe que as populações quase não têm o que comer. Dinheiro mal gasto. Centenas de milhares de pessoas morrem em massacres étnicos internos nos países do terceiro mundo. São nações pobres mas de subsolo rico em diamantes, ouro ou petróleo, riqueza que melhor seria aproveitada em projetos pacíficos e não na compra de armas. E a ONU não pode evitar tais massacres internos porque sua missão básica é promover a paz entre países, não entre os habitantes de um mesmo país.
Somente um governo mundial teria condições de cercear o imenso desperdício de recursos e vidas, desperdício incentivado pela indústria de armamentos, cuja única utilidade está em proporcionar certo número de empregos — mas a que preço! — nos países industrializados. É uma atividade que, pela sua peculiar natureza, não poderia jamais estar sob domínio privado. Para dar lucro aos sócios ou acionistas — essência do regime capitalista —, as diretorias necessitam incentivar rivalidades. Curioso é que prega-se, hoje, o desarmamento individual em todo o mundo, mas cruzam-se os braços quanto ao armamento pesado, que mata muito mais.”
“Difícil, aqui, sequer esboçar como seria esse governo mundial, emergente do consenso. O título do presente ensaio não prometeu tarefa tão ingente. Expressamente reconheceu apenas a inevitabilidade e necessidade e de um governo mundial. Não se atreveu nem prometeu descrever qual seria o seu perfil — o passo seguinte —, matéria que ensejará inúmeras e difíceis e discussões dos futuros arquitetos da nova humanidade. Presume-se que a experiência internacional da Organização das Nações Unidas seria muito aproveitada na formatação do novo modelo.
Terá de ser algo novo, embora parcialmente utilizando, por analogia, a tradicional formação das federações, em que cada estado, ou província, cuida dos interesses locais e da ordem interna, cabendo ao governo central a defesa externa e as matérias que interessam à federação por inteiro. Como, com um governo mundial, não haveria mais necessidade de uma “defesa externa” — não vamos aqui cogitar da risível invasão da Terra por alienígenas — esse exército único seria comparativamente pouco numeroso, pois se limitaria a intervir aqui ou ali, quando percebesse algum “excesso transbordante” por parte de suas “províncias” — os atuais estados soberanos.
De início, não será possível, creio, atribuir a cada cidadão do mundo um voto, como ocorre com todas as democracias. Essa sistemática — que constitui um pilar das democracias ocidentais — não seria aceita pelos atuais países mais ricos e menos populosos porque implicaria em imenso predomínio da China e da Índia na formação desse único governo. EUA e União Européia não admitiriam, com razão, que a mera fertilidade humana — freqüentemente irresponsável — decidisse os rumos da humanidade. Passariam, os países industrializados, a ser uma minoria, com todos as dificuldades das minorias, não obstante sua maior contribuição cultural e tecnológica para o avanço da humanidade.”
“Religiões e terrorismo.
Quando terminava de redigir o parágrafo anterior e me preparava para abordar o espinhoso tema da influência das religiões na criação de conflitos armados, de extensas e duradouras conseqüências, tomei conhecimento, pela televisão, do atentado terrorista de 11 de março de 2004, em Madri, em que morreram perto de duzentas pessoas, com ferimentos em mais de 1.400. Pessoas inocentes, atingidas ao acaso, sem nenhuma relação com a motivação política que motivou as explosões simultâneas.
Se o atentado originou-se do grupo separatista ETA — o que não acredito, porque seria um ato por demais estúpido, um tiro pela culatra, atraindo mais hostilidade mundial contra a província basca que busca sua independência — o ato insano comprovaria as vantagens de um governo mundial. Os bascos querem ser independentes, isto é, não pertencer à Espanha, ou França, mas certamente não querem deixar de integrar a espécie humana, a comunidade internacional. Não pretendem, presume-se, “inaugurar” um planeta à parte. Esse desejo de independência não conflitaria com um governo mundial de natureza democrática, que respeitaria as intrigantes peculiaridades daquela região. E à Espanha não causaria tão grande dano autorizar essa separação — se esta fosse mesmo vontade majoritária dos bascos e não capricho de um pequeno grupo violento, com sede de poder — porque a unificação mundial provavelmente lhe permitiria compensar o que eventualmente lhe teria sido subtraído com a independência da província. Caso o ETA seja apenas a manifestação egoísta de um pequeno grupo de indivíduos — desconheço o histórico —, com gosto pela violência, um governo mundial teria muito mais força, recursos da inteligência e abrangência para enfiar na cadeia simples criminosos disfarçados de líderes separatistas.
Se, porém, o atentado terrorista foi obra da Al-Qaeda — como é mais provável e foi reivindicado por ela — a matança absurda e indiscriminada demonstra o que já ia escrever aqui antes das explosões: que a religião é uma força poderosíssima, com inúmeras facetas, algumas perigosas. É elevada e bela — quase sempre —, mas pode tornar-se extremamente cruel quando distorcida pela interpretação malévola de um dirigente inescrupuloso; às vezes um caso claro de psiquiatria mas intocável porque representante de Deus. Quem se atreve a colocar a camisa-de-força no louco poderoso que acabou de receber instruções diretamente de Deus?
Quem assistiu, via Internet, a cena real do jornalista Daniel Pearl sendo degolado e depois decapitado em frente à uma câmera, no Paquistão — ele pretendia entrevistar alguns chefes locais e foi enganado, caindo numa armadilha preparada por fanáticos muçulmanos —, pode se perguntar se ainda vale a pena continuar vivendo neste mundo. O filme é um consolo para os velhos, que temem a proximidade do fim de seus dias. Eles podem se perguntar: “Por quê continuar vivendo em um mundo tão cruel e estúpido?” E qual o “crime” do jornalista, para merecer tão dolorosa — a ponta da faca foi enfiada lentamente logo atrás do pomo de adão, enquanto o jornalista gritava — forma de execução? O fato de ser filho de judeus, nada mais. E sua mulher, uma jornalista francesa, só não foi também assassinada porque, estando grávida, não poderia acompanhar o marido na longa viagem de jipe até o local da falsa entrevista.
Pergunta-se: é razoável que os católicos da Irlanda do Norte vivam trocando tiros e bombas com os protestantes, mormente considerando que ambas as religiões acreditam em um único Cristo? E o que dizer do componente religioso que alimenta os constantes conflitos na Caxemira? E Bin Laden, que freqüentemente salienta o lado religioso da sua luta terrorista contra o “satânico” mundo ocidental?
No entanto, se tais fanáticos se submetessem a um detector de mentiras é provável que passassem no teste da sinceridade. Bin Laden acredita — tudo indica, porque, sendo rico, poderia levar uma vida tranqüila e confortável — estar cumprindo o seu dever. Quando mata centenas de “infiéis” ocidentais recorda ao ouvinte que os israelenses, apoiados pelos americanos, “fazem o mesmo”, só que aos poucos, em longas prestações, com repetidos ataques contra os oprimidos palestinos, que se revoltam porque tinham mesmo que se revoltar. E um espectador neutro pode se perguntar: se os judeus têm direito a uma pátria, um “lar”, por que igual direito deve ser negado aos palestinos?
Shirin Ebaldi, Nobel da Paz, em entrevista ao jornal “Estado”, edição de 13 de março, diz, com propriedade, que “o que encoraja o terrorismo é a injustiça”. Remova-se a injustiça e o terrorismo perderá quase toda a sua força. Passará a ser simples atividade de crime organizado, usando chantagem para obter dinheiro mas nunca despedaçando os próprios corpos porque trata-se, afinal, de “business”, não vamos exagerar. É de se presumir que um governo mundial — mais livre de influência dos interesses armamentistas — consiga terminar o velho conflito do Oriente Médio.
Todas as religiões, provavelmente — porque algumas são pouco conhecidas, não mencionadas na mídia — estão sujeitas a excessos, conforme o caráter de seu dirigente máximo, dificilmente substituível porque blindado com dogmas, herdados ou criados por ele mesmo. E deformações religiosas produzem deformações culturais.
O que dizer da amputação de uma parte da área sexual feminina para que a jovem não tenha jamais o prazer “pecaminoso” do orgasmo? E da sentença de morte, por apedrejamento, daquela africana que, mesma separada do marido há um bom tempo, ficou grávida de um homem que não era seu marido? Só escapou da morte porque houve intensa movimentação internacional.
Um governo mundial deveria, na busca da máxima racionalidade, reprimir as religiões? Não, mesmo porque seria um esforço inútil que só estimularia um aumento da religiosidade, esse componente inegável do espírito humano. Einstein — uma mente científica por excelência —, acreditava em um Deus, embora achasse que essa suprema inteligência não interferia nos negócios humanos.
Há, portanto, que de se respeitar o lado positivo, benévolo, das religiões. Ruy Barbosa dizia que o Código Penal cuida dos crimes públicos e a Religião, dos crimes privados — a área secreta da consciência de cada um. Quantas ações criminosas deixaram de ser praticadas porque o cidadão foi seguro, não pelo medo da polícia, mas pelo medo de Deus? A Religião ainda integra, com outros nomes, uma espécie de departamento de prevenção da criminalidade. Além disso, estimula a caridade. Tais qualidades já bastam para desaconselhar qualquer idéia de sua restrição, quando voltada para o bem.
Todavia, quando as religiões transbordam da sua área própria e invadem a política, estimulando ódios ou anulando esforços racionais do governo, não há porque este não interferir procurando “podar”, com campanhas maciças de convencimento, os excessos da irracionalidade. Isso porque a ignorância freqüentemente é mãe da maldade e da desorganização. E um governo mundial, enfatizando a educação em larga escala — principalmente estimulando o estudo da ciência — removerá, paulatinamente, esses focos de violência, inspirados na ignorância.
Fiquemos por aqui. “Utopias…”. Dirão alguns: — “O perigo do dilúvio ainda está longe. E o autor esqueceu de abordar o potencial de tirania incubado em um governo mundial. Para onde correr, caso ele se torne tirânico? Na Guerra Fria, a existência de dois pólos de poder propiciava um equilíbrio que impedia os atuais excessos do governo Bush”.
Respeito a objeção, mas observo que a segurança — tendo em vista o perigoso avanço tecnológico bélico atual —, é um valor mais alto que a rivalidade política entre dois ou mais pólos de poder, rivalidade que sempre desborda para um armamentismo que poderá ser fatal para a espécie humana. Imagine-se o que seria um conflito nuclear envolvendo EUA, Rússia e China.
O ideal socialista é eticamente superior ao ideal capitalista, mas este triunfou no mundo porque é mais realista, atende mais de perto a natureza humana, essencialmente egoísta e competitiva — embora, felizmente, com resíduos de solidariedade humana. O homem, genericamente falando, não está interessado, primordialmente, no bem geral, no Estado. Quer o lucro dele — mas permite que o fisco tire uma fatia para os pobres — e por isso torna-se empreendedor, gerando riquezas. Quer que o produto de seu esforço passe, após sua morte, para seus filhos, não para o Estado. O socialismo, diferentemente, tem sido uma espécie de toga nobre, bonita, bem intencionada mas paralisante; inadequada para cobrir um corpo ainda tão feio e deseducado. Com um governo mundial o ideal socialista não desaparecerá, ficará incubado no próprio Estado, porque todos os governos do mundo têm o seu “lado” socialista, sua ala mais à esquerda, de solidariedade com os mais fracos. É comum o revezamento do poder, em todo governo, como ocorre nos EUA, em que ora governa o partido Democrata, ora o Republicano, sem necessidade de revoluções. Com um governo mundial não será diferente: interessará aos socialistas e também não incomodará demais os mais ferrenhos capitalistas porque estes sabem que é conveniente estender, vez por outra, a mão aos mais necessitados. A velha rivalidade entre capitalismo e socialismo será resolvida por eleições periódicas do “país único” e não por arreganhos, guerras de espionagem, ameaças, blefes e estoques de armas nucleares que podem, por descuido, explodir, torrando os contendores.”
Francisco César Pinheiro Rodríguez
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(Nota do articulista: as citações extraídas da monografia de Francisco César Pinheiro Rodríguez não configuram uma expressa concordância de nossa parte, com as ideias apresentadas – todavia, elas são bastante expressivas do pensamento dos muitos que almejam pelo estabelecimento de um governo mundial com a intenção voltada para o bem comum.
Sabemos, pelo testemunho das Escrituras, que ainda que por ações combinadas, o que prevalecerá será mesmo o caminho do mal para a consolidação da chamada Nova Ordem Mundial, porque dela é dito que será conduzida por meio do engano e pela eficácia de Satanás, para a manifestação do Anticristo.)