“Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá.” (Gál 3.12)
Aqui se afirma que a vida que procede da lei não é a vida que procede da fé, a saber, a vida eterna, porque o que a lei diz é que aquele que observar os seus preceitos, por eles viverá, ou seja, quando eles vivessem de acordo com os preceitos da Lei, não seria trazido nenhuma destruição de morte como o Senhor estava trazendo sobre os judeus nos dias de Ezequiel, nos quais vigorava a Antiga Aliança, porque estavam todos sob a Lei, porque era por meio dela que estavam aliançados com Deus.
Então a vida referida em Lev 18.5, e Ez 20.11, não é de modo algum a vida eterna que é obtida somente por graça, mediante a fé, porque sabemos que pelas obras da Lei nenhuma carne pode ser justificada diante de Deus:
“porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado.” (Rom 3.20)
“concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Rom 3.28)
“sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por [obras da lei] nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)
“Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gál 3.10)
Paulo não estava incentivando ninguém a viver contrariamente à lei moral de Deus, que é santa, justa e perfeita, mas a não tentar ser justificado por meio da Lei, porque não é possível haver justificação por tal meio, senão somente pela fé, tal como Abraão havia sido justificado no passado. E a vida eterna só pode ser obtida pela justificação, e não pelas obras da Lei.
Todo cristão deve ter portanto cuidado ao abordar o assunto das obras da Lei, para que não desconsidere a importância das obras na sua santificação, mas que nunca incorra no erro de ensinar a outros que serão justificados por tais obras, e não simplesmente pela fé.
Não é correto portanto afirmar que na Antiga Aliança o modo de salvação era por se fazer as obras da Lei, e que agora na Nova Aliança, o modo é pela graça mediante a fé.
Deus nunca intentou salvar a ninguém pelas obras da Lei. Não foi para tal propósito que Ele deu a Lei através de Moisés, ou seja, para que a própria Lei fosse o instrumento da salvação dos pecadores.
Então nunca seria possível que alguém tivesse a salvação que dá a vida eterna, por cumprir a Lei, porque para tanto, seria necessário cumprir a Lei perfeitamente e não ter nenhum pecado, e isto, somente um único homem perfeito conseguiu fazer, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo, não para que fosse salvo, mas para que pudesse nos salvar morrendo por nós depois de ter cumprido perfeitamente toda a Lei de Moisés, e por não ter, diferentemente de nós, nenhum pecado na Sua natureza santa e perfeita.
Logo, Deus jamais ensinaria ao pecador um caminho de salvação impossível, a saber, o de obter a justificação (salvação) por meio das obras da Lei, porque, para tanto seria necessário perfeição no cumprimento de todos os mandamentos.
Então, o que quer dizer o texto de Levítico 18.5 e Ez 20.11? Afinal não está falando em se cumprir os estatutos e os juízos de Deus, para se viver por tal obediência?
Primeiro, já deixamos claro que o que está sendo prometido não é vida eterna, mas preservação da vida física, para não ser destruída tal como estava ocorrendo com os israelitas ao longo de toda a história daquela nação debaixo do Velho Testamento, quando descumpriam os mandamentos de Deus, desviando-se dEle, para adorarem falsos deuses.
Todavia, certamente, tal como ocorre com o cristão na Nova Aliança, Deus tem considerado a intenção sincera do coração em cumprir Seus mandamentos, como o próprio fato realizado.
Se o cristão odiar o pecado, enquanto busca se aperfeiçoar na santificação, será tido por Deus na conta de alguém que possui um coração puro, porque considerará o seu esforço para vencer o mal e viver na prática do bem, andando pela fé no Espírito, como até mesmo se não tivesse qualquer pecado, porque o verá sob a cobertura do sangue e da justiça de Cristo, ainda que não desconsiderará o pecado de tal cristão, para fim de disciplina, de mortificação do pecado, e de seu aperfeiçoamento na fé.
A realidade prática dos que têm caminhado com Deus, e sido realmente usados por Ele, é exatamente esta a que nos temos referido, porque o Senhor sabe, que enquanto estivermos neste mundo, sempre haverá, em algum grau, a luta entre a carne e o Espírito, entre a nova natureza e a velha natureza, ainda que, à medida que crescermos espiritualmente, sendo aperfeiçoados na santificação, a velha natureza ficará cada vez mais fraca, enquanto a nova ficará cada vez mais forte.
Pr Silvio Dutra