“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3.36)
Pode um Deus de amor ficar irado?
A resposta da Bíblia é sim.
A dificuldade em se compreender como a ira pode coexistir com o amor, se encontra na incorreta compreensão do significado de ambos.
O sentimento oposto ao amor é o ódio rancoroso injustificado. Dizemos injustificado porque o amor verdadeiro odeia o mal e o pecado. Onde inexista este ódio pelo mal e pelo pecado não pode existir o amor, porque este, como se encontra em Deus é sempre ajustado ao bem, à justiça, à verdade e à santidade.
Já a ira se expressa pelo sentimento de aborrecimento e repulsa pela reprovação ou indignação contra algo ou alguém, podendo ser justificada ou injustificada.
Em Deus a ira é sempre justificada porque é oriunda de motivos justos e santos.
Já nos homens, nem sempre, e geralmente é injustificada porque na maioria dos casos é oriunda do simples fato de sermos contrariados, ainda que isto seja algo inócuo ou para o nosso próprio bem.
E nos homens há também o perigo de que mesmo uma ira justificada – contra o pecado – venha a se transformar em sentimento rancoroso e odioso.
Se não fosse pela entrada do pecado no mundo, a ira humana seria como a divina, ou seja, se manifestaria como um sentimento de contrariedade ao mal, com vistas à promoção do bem e da justiça, preservando-se no agente ativo a serenidade, o domínio próprio, a paz e o amor.
Daí ser recomendado pela Palavra de Deus que a paz de Cristo seja sempre o árbitro do estado real e no qual convém ser encontrado o nosso coração.
Isto significa que em nenhuma situação devemos perder a paz que Cristo nos dá; ainda quando ficamos irados contra algum tipo de mal.
Outra condição a ser evitada quando nos iramos é a de nos colocarmos na posição de juízes implacáveis contra quem nos iramos. Mesmo a posição de juízes moderados da consciência alheia não é algo que seja recomendável, senão que julguemos o fato e não propriamente a pessoa que o cometeu.
Diferentemente de Deus, os homens costumam confundir as ações erradas com a totalidade do ser daqueles que as praticam.
Além disso, Deus nunca é precipitado em irar-se, pois é longânimo em sua natureza (Êxodo 34.6), e podemos ver esta longanimidade em ação em várias passagens bíblicas, e em toda a história da Igreja, pois se somos dados a nos irar rapidamente, todavia com Deus nunca é assim.
Lembremos que ao julgar Deus nunca põe de lado a sua misericórdia.
Que o despertar da sua ira contra o pecado não tem em vista destruir o pecador, mas salvá-lo e demovê-lo da condição errada em que se encontra. De modo que ainda que todos se encontrem naturalmente sob a ira de Deus por causa do pecado, muitos são livrados por Ele mesmo da Sua ira, quando se associam a Jesus Cristo pela fé, que recebeu sobre si toda a fúria da ira divina contra o pecado, quando morreu em nosso lugar na cruz.
Por isso, é somente nele que podemos ser desviados da justa ira divina contra o pecado.
Consequentemente, todos os que não se arrependem e não confiam em Cristo, permanecem debaixo da ira de Deus.
Pr Silvio Dutra