“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas.” (Mateus 11.29)
Aqueles que estão habilitados a virem a Cristo, não somente experimentam uma mudança de estado, mas de caráter, disposição e prática. Eles são não somente libertados da condenação, como também são feitos participantes da natureza divina. Eles são livrados da escravidão e do jugo de Satanás, e levados, voluntariamente, no dia do poder de Deus, a aceitarem e a abraçarem o seu jugo, que é recomendado a nós no versículo seguinte ao do nosso texto, como sendo leve e suave.
Nosso Senhor fala de seu serviço como um jugo ou fardo, porque ele é assim estimado por todos aqueles que não o conhecem. Eles o consideram um mestre severo, e acham que o seu serviço é cansativo, mas aqueles que o experimentaram, o consideram de outra forma: embora, seja preciso confessar, que isto expõe a algumas dificuldades, as chamadas para o exercício diário da negação do ego, e a não admissão de qualquer competição ou composição com o mundo, e nem pode ser agradável à parte não renovada da nossa natureza.
Mas o conhecimento do seu amor, a esperança da glória, e os refrigérios com os quais ele tem o prazer de favorecer aqueles que se achegam a ele, lhes torna dispostos a suportar o seu jugo, e a preferi-lo a toda proposta de liberdade que o mundo possa lhes oferecer.
I. O jugo de Cristo, inclui, em geral, toda a dependência, obediência e submissão que devemos a ele, como nosso Senhor e gracioso Redentor.
Ele tem um duplo direito sobre nós, “ele nos criou”, Sl 100.3. Nós somos criaturas do seu poder: ele nos tem dado o nosso ser, com todas as nossas capacitações e prazeres. E mais, “ele nos comprou” (Atos 20.28); ele se compadeceu de nós em nosso estado baixo e caído, e deu a sua própria vida, o seu precioso sangue, para nos resgatar da ruína e miséria que eram a justa punição dos nossos pecados.
Há uma boa razão, portanto, para sermos dele, e vivermos para ele e nos apegarmos somente ao seu amor; que não devemos mais viver para nós mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por nós. Em particular, podemos considerar que,
1. o jugo de sua profissão é muito agradável para uma alma gentil, tanto quanto a fé é em exercício. Longe de ter vergonha do evangelho de Cristo, ele está pronto e disposto a dizer a todos que quiserem ouvir, o que Deus tem feito por sua alma. Muitos novos convertidos, no primeiro calor do seu afeto por Cristo, têm mais necessidade de um freio do que de um esporão quanto a isto.
Porque precisam da prudência, que vem com o tempo, para fazer as coisas corretamente, e talvez por falta de mais ternura misturada com seu zelo, eles são capazes de aumentar as suas próprias tribulações, e às vezes, empurram as coisas muito longe, de modo a obstruir o sucesso de seus bons esforços destinados a convencer outros. Mas embora isto seja uma falha, é uma falha no lado correto, que o tempo, experiência e a observação, corrigirão.
E apesar de estarmos bastante apressados para condenar os êxtases irregulares de um coração profundamente impressionado com um sentimento das coisas eternas, não duvido, que o Senhor, que possui e aprova o princípio fundamental de onde eles procedem, terá um olhar favorável para eles do que para os que andam numa cautelosa e fria prudência.
Devemos julgar assim, se também tivéssemos servos que estivessem dedicados afetuosamente a nós de coração, aos nossos interesses, sempre prontas a trabalhar de noite ou de dia, enfrentando qualquer perigo ou dificuldade, pelo desejo de nos agradar, embora, às vezes, por causa de ignorância ou desatenção, ele venha a cometer um erro, ainda o preferiremos a quaisquer outros de maior conhecimento e habilidades, que estivessem sempre lentos e atrasados e mais cuidadosos com seus próprios interesses do que com o nosso serviço.
Contudo, este zelo fervoroso geralmente sofre abatimentos, pois somos carne, bem como espírito, e há algumas circunstâncias que se destinam a provar os que se consagram ao evangelho, motivo porque pode ser denominado com propriedade por “jugo”. Isto certamente vai mover a oposição do mundo, e, provavelmente, pode interferir em nossas preferências pessoais mais queridas, e ameaçar os nossos interesses temporais mais necessários, 2 Tim 3.12; Mat 10.36.
2 . O jugo de Seus preceitos. Estes, a alma graciosa os aprova e neles se deleita; e ainda somos renovados, mas em parte. E quando os mandamentos de Cristo estão em direta oposição à vontade do homem, ou que o leve a sacrificar um olho direito ou a mão direita, contudo o Senhor fará certamente que eles sejam vitoriosos no final, ainda que lhes custe um esforço; de modo que, quando eles estão sensatos do quanto eles têm do poder do Senhor operando neles, e lhes capacitando a vencer, ao mesmo tempo, ele têm uma viva convicção de sua própria fraqueza.
Abraão creu em Deus, e tinha prazer em obedecer, mas quando lhe foi ordenado que sacrificasse seu único filho, isto não foi uma provação fácil de sua sinceridade e obediência, e todos os que participam da sua fé estão expostos a se encontrar, mais cedo ou mais tarde, com algumas chamadas ao dever que são contrárias aos ditames da carne e do sangue.
3. O jugo de Suas dispensações. Isto ninguém pode suportar como deveria, mas somente aqueles que têm vindo ao Senhor. É natural para nós estarmos descontes e preocupados (Is 51.20), quando estamos sob aflições. Crentes também têm sua carne fraca, quando seus espíritos estão dispostos, ainda veem suficientes razões para a submissão, e eles sabem onde buscar a graça. A aflição é um teste que revela o que é o espírito de um homem. O hipócrita pode manter uma aparência de verdadeira piedade, enquanto todas as coisas correrem suavemente na direção dos seus desejos, mas em problemas agudos a máscara cairá.
II. Os meios designados pelos quais os pecadores são habilitados a suportar este jugo tríplice, são subentendidos na palavras de Jesus: “Aprendei de mim, porque eu sou manso e humilde.” No entanto, por amável e desejável a disposição que eu descrevi possa parecer, você nunca irá adquiri-la por qualquer força, sabedoria, ou diligência de si mesmo.
Nosso Senhor, para prevenir que você não se canse com seus próprios esforços infrutíferos e desnecessárias frustrações, lhe assegurou de antemão: “Sem mim nada podeis fazer”, João 15.5. Mas aqui ele gentilmente lhe oferece a assistência que você precisa. Como se ele tivesse dito, eu sei que você é incapaz de si mesmo, mas eu vou lhe ajudar.
Não tenha medo da perspectiva, mas considere o que posso fazer. Para o meu poder todas as coisas são fáceis; eu posso endireitar o que está torto, e suavizar o que é áspero; eu posso docemente direcionar suas afeições, submeter suas vontades; influenciar suas práticas, e livrá-los de seus temores pecaminosos. Considere também o que eu tenho feito a milhares, que por natureza eram tão inábeis e impacientes como vocês, e que têm sido convertidos voluntariamente no dia do meu poder.
Portanto, aprendei de mim. – Não tenha medo de vir a mim, porque sou manso e humilde de coração. Grande e poderoso como eu sou, você pode lançar sobre mim todas as suas dúvidas e dificuldades.
Citações extraídas de um texto de John Newton, em domínio público, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.