Muitos cristãos de hoje se julgam perseguidos por seus líderes, por liderados, por sistemas, por patrões e até por familiares. Embora saibamos que a perseguição é uma realidade cada vez mais presente no meio dito evangélico, o fato é que em muitos casos o suposto “perseguido” está apenas sendo vítima de sua própria mente.
Algumas pessoas mencionam até alguns textos bíblicos na tentativa de se auto-identificarem como “injustiçados”. Pensando serem portadores da “verdade do Senhor”, tentam impor sua vontade ao resto do mundo, rotulando os que pensam diferente como “rebeldes”, “sem visão”, “ultrapassados” e coisas do tipo.
Casos envolvendo este tema têm se multiplicado dentro de nossos arraiais, e em grande parte dizem respeito a liderados tentando dominar seus líderes, ou vice-versa, especialmente na relação de pastor com ovelha. Por trás disso tudo está o espírito de manipulação atuando dentro do corpo de Cristo, e aplaudindo as maquinações que existem entre aqueles que deveriam conviver como irmãos.
Um dos reflexos da manipulação na Igreja é aquilo que chamamos de “Síndrome de Mártir”. A pessoa crê que está certa em seu modo de pensar, agir e conduzir as coisas, passando a considerar todos os que pensam diferente como não possuidores de uma visão que ele mesmo acredita ter; desta forma, passa a interpretar qualquer tentativa de diálogo como “perseguição” e tenta de alguma maneira prevalecer sobre os demais. Na verdade esta é uma tentativa de estabelecer o seu próprio reino.
Como toda doença, a “Síndrome de Mártir” deve primeiro ser diagnosticada antes de ser tratada. O grande problema é que geralmente os portadores desta síndrome não conseguem “olhar primeiro a trave que está em seu próprio olho”; e seguem assim, “coando mosquito e engolindo camelo”. Isto porque um dos sintomas da síndrome é a cegueira para os assuntos relacionados à própria pessoa.
Somos parte do Reino do Senhor, mas muitas vezes nos posicionamos uns contra os outros tentando erguer cada um o seu próprio reino. E como pode um reino dividido subsistir?
Está registrado na Bíblia o exemplo de um rei que arquitetou o nascimento de seu próprio reino. Seu nome era Absalão. Para chegar ao trono ele manipulou, tramou, fez-se de bonzinho e tornou-se carismático, ganhando intencionalmente a confiança do povo. Mas também se desgastou, revestiu-se de uma autoridade insustentável, colheu o que plantou, e por fim morreu. Mas não como mártir.
Aí está uma das grandes questões desta síndrome: a motivação. Pessoas de todos os lugares estão dispostas a dar tudo o que tem, passar por cima de princípios e valores cristãos, e até morrer, tudo pelo seu reininho. Muitas vezes o nome do reininho é “minha igreja local”, “minha denominação”, “meu ministério”, “meu CD”, “minha empresa”, “meus dons”…
Reconhecemos que muitas destas coisas são bênçãos que o Senhor têm colocado nas mãos de seus filhos. A questão não é essa. A questão é quando estas coisas ocupam o lugar de absoluta primazia, afastando-nos da essência e infectando-nos.
Mártir de certa forma é aquele que morre diariamente para o seu próprio eu, abrindo mão da construção de seu próprio império. Igualmente o é aquele que está disposto a morrer pelo Reino (com R maiúsculo) e não pelo seu próprio reininho.
Você crê sinceramente que está certo em sua posição, quando algumas ou várias das pessoas de seu convívio lhe alertam?
Você tem dificuldade de se aliar com seus líderes naquilo que esteja de acordo com a vontade de Deus?
Você tende a se aproveitar quando está em posição de proeminência?
Você conduz seus relacionamentos de forma a induzir reações, impor sua vontade ou provocar situações?
Você manipula verdades a fim de induzir pessoas a pensarem como você quer que elas pensem?
Você, que é líder, vive com a sensação de que sua posição está ameaçada por alguém, e tende a reagir a isso?
Você que é pastor(a), tem pregado em sua congregação a doutrina da “submissão pastoral total”?
Você que é mulher casada, tem exercido o sacerdócio no seu lar, dominando seu esposo? E você que é homem casado, tem abusado de sua posição no lar para exigir que sua esposa satisfaça seus caprichos?
Se algum de nós respondeu SIM para apenas uma das perguntas acima, pode ser sinal de porta aberta para a contaminação. Na verdade, pode ser a própria contaminação. Tenhamos cuidado! Esta síndrome tem afastado a muitos da boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Por causa dela muitos homens e mulheres estão rumando de encontro aos ramos do carvalho. A tendência é que logo fiquem pendurados pelos cabelos, como Absalão (II Samuel 18: 9, 10). E o pior é muitas vezes não sabem disso.
O que fazer? Na dúvida, pare tudo. Tire um tempo para meditar em sua própria vida. Retire-se. Vá para o deserto. Fique em silêncio, e peça para Deus sondar o seu coração. Como Pai, Ele não negará uma resposta e uma direção.
Que Deus nos abençoe a todos!
Em Cristo, que é a única vacina para prevenir esta síndrome, ao mesmo tempo em que é o único antídoto que pode reverter os estragos causados por ela,
Helder Assis da Silva
Membro da Igreja Evangélica Capela do Calvário
Integrante da banda Sacrifício Vivo – www.sacrificiovivo.com
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