“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” Mateus 18.21, 22
Qual o valor do perdão? Antes de aplicar esse texto, vamos fazer uma trajetória da vida do Apóstolo Pedro no ministério de Jesus, pois é justamente daí que vamos entender o valor do perdão.
Fazendo um passeio nos evangelhos, vemos que o apóstolo Pedro sempre se mostrou impulsivo diante da novidade da mensagem de Cristo e também foi o apóstolo que fez as maiores armações que conhecemos, como por exemplo:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.”
E na mesma proporção em que afirmava coisas como estas, também pronunciava palavras que mostravam sua imaturidade diante do ministério de Cristo e do conhecimento do Reino e sua impulsividade o levou a afirmar ante a iminente prisão de Cristo que morreria com ele, mas nessa afirmativa, pronunciou a mais dura e cruel lição de sua vida, onde teve que aprender o que era realmente a natureza humana, a negação a Cristo, nessa negação Pedro se sente um traidor.
Bom, voltemos ao perdão. Vemos no ministério de Cristo a desconstrução de afirmações que a cultura da época dava como correta, como por exemplo a lei de Talião que dizia que se alguém pecar contra você deveria receber na mesma moeda.
“Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” Exodo 21.24
E essa justiça é baseada na vingança, mas com Cristo a coisa é diferente, a filosofia é o amor e não há espaço para o ódio, mas somente para misericórdia e a paciência com o próximo. Assim, o Mestre desnudou a nossa natureza e nos mostrou que por mais que nos esforcemos não há como mudarmos, a não ser que haja algo maior que nos transforme e nos leve ao amadurecimento. Nisso mora o segredo de nascer de novo, viver um novo princípio que não é o seu, mas o de Deus. E durante 3 anos Cristo ensinou os seus amigos sobre esse segredo do Reino de Deus, que não era templo, nem lei, mas coração.
No percurso da vida do Apóstolo Pedro, podemos compreender que para nascer de novo, por mais que Pedro fizesse belas afirmações, mas elas ainda não atingiram seu local de morada, o coração e com isso, movido pelo ódio, tirou a orelha de Malcon e por medo e vergonha negou a quem mais amava. A partir desses acontecimentos Pedro se reduz e não consegue mais se olhar no espelho pelo que fez e assim, ele descobre o quão ruim é a sua natureza, começa seu parto, durante os 3 dias em que Cristo adormece, o velho Pedro também, justamente para renascer com seu Mestre.
Nesse renascer, Pedro descobre o caminho do descanso e do perdão, não só no sentido de ser um perdoador, mas principalmente o de ser perdoado e numa fogueira perto da praia, Pedro sente em seu Mestre não a repreensão, mas a magnitude de seu amor.
“E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras.
E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me.” João 21.15-19
O caminho do perdão é necessário se quisermos seguir a Cristo, se nos denominarmos cristãos devemos nos assemelhar ao mestre e este mais do que ninguém se sentiu traido, pois fora aqueles que criou e amou, o levaram a morte tão cruel. Mas mesmo assim, orou por eles pedindo perdão. Seu principal ensinamento sobre oração colocou justamente nesse critério: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” e esse perdão não é apenas da boca pra fora, mas vem direto do coração, um coração transformado perdoa.
Todo esse caminho representa nossa trilha rumo ao destino que nos espera via o caminho estreito, que é árduo e nos conduz a um crescimento profundo, negando-se a cada dia e deixando que Cristo seja o guia e luz de nossas vidas.
Devemos abrir mão de nosso direito de ter razão sobre tudo e sobre todos para poder deixar que o amor ao próximo seja a nossa verdadeira razão de existir, mesmo que diante de grande ódio e sentimento de injustiça Cristo nos ensina que devemos abrir mão desses sentimentos, para dar lugar a misericórdia e o amor e somente assim poderemos crescer no Reino dos Céus.
Parafraseando um certo autor, a escolha do título Setenta vezes sempre é para mostrar que esse é a nosso destino para ser um discípulo de Cristo, lembra que o apóstolo Paulo afirma sobre o amor?
“A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Romanos 12.17, 21
Esse é o caminho e só poderemos crescer no descanso de Deus quando tivermos ousadia por andar nele e ser reflexo desse ensinamento.
Que Deus nos Abençoe