Meditação em 1 Coríntios 11.29-32
Por John Piper.
Viver para Cristo é bastante árduo. No entanto, morrer para Cristo é também muito difícil. Precisamos de toda ajuda que pudermos obter. É uma questão de fé. Confiaremos nEle até ao fim? Descansaremos em sua graça ou entraremos em pânico, imaginando que somos destinados ao inferno? Saberemos lidar com o medo de que o nosso morrer é um castigo e o prelúdio de algo pior? Oh! quantas dúvidas plantadas pelo diabo! Temos de aprender como repeli-lo com a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Esta é outra parte de nossa defesa.
Suponhamos que pecamos realmente de um modo negligente e que desagradamos a Deus. Suponhamos também que sejamos “disciplinados” e “julgados” pelo Senhor, por consequência desse pecado, e que Ele nos envie uma doença. Cuidado! Eu não estou dizendo que sejamos “punidos” no sentido de sofrermos a penalidade do pecado. Cristo suportou a penalidade de todos os nossos pecados, na cruz: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1 Pedro 2.24). Porém, usei a palavra “disciplinados” no sentido de repreensão, correção, purificação e preservação de pecados piores. “O Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hebreus 12.6).
Mas, o que você diz sobre a morte? Deus nos removeria por meio da morte como parte de sua disciplina? O apóstolo Paulo afirmou que, às vezes, Deus faz isso. Ao lidar com os pecados cometidos na Ceia do Senhor, Paulo escreveu:
Quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem [ou seja, que morreram]. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Coríntios 11.29-32).
Em outras palavras, ficar doente, fraco e, até, morrer são formas de disciplinas do Senhor. O objetivo não é a condenação. Isso aconteceu na cruz. Para nós, não há “nenhuma condenação” (Romanos 8.1). O objetivo é “não sermos condenados com o mundo” (1 Coríntios 11.32). Em outras palavras, a morte é, às vezes, um livramento disciplinar que visa salvar-nos da condenação. “Há entre vós… não poucos que dormem [ou seja, que morreram]… para não sermos condenados com o mundo.”
É claro que essa não é a razão de todas as mortes dos preciosos santos de Deus. Não conclua imediatamente que sua doença ou a sua morte se deve a uma trajetória de pecado, da qual você tem de ser libertado. Mas suponha que isso pode ser o que está acontecendo.
Isto é encorajador? Pensar nisto o ajudará a morrer mais tranquilo, com mais fé e esperança? Minha resposta é que todo o ensino da Bíblia tem como alvo ajudá-lo a morrer, bem como ser um encorajamento para a fé, à luz da verdade (Romanos 15.4).
Então, como esta verdade nos fortalece, para que tenhamos uma morte cheia de esperança? Talvez assim. O pensamento de que somos pecadores não é uma grande ameaça à nossa paz? O pensamento de que Deus é soberano e de que Ele poderia remover a doença, se quisesse, não nos ameaça com sentimentos de temor, quando sabemos que, se a doença permanece, Ele deve estar agindo contra nós? E como lidaremos com esses temores, quando sabemos que somos realmente pecadores e que a corrupção ainda permanece em nós? Nesses momentos, buscamos algum encorajamento na Bíblia mostrando-nos que Deus está disposto a salvar crentes que pecaram e são muito imperfeitos.
No entanto, sabemos que Deus é santo e odeia o pecado, até o pecado cometido por seus filhos. Também sabemos que Ele disciplina seus filhos fazendo-os passar por experiências dolorosas (Hebreus 12.11). Não somos daqueles que afirmam que Deus não tem qualquer relação com as experiências dolorosas da vida. Por isso, buscamos ajuda e esperança na Palavra de Deus, a qual é completamente realista. E achamos em 1 Coríntios 11.32 que a morte dos santos — a morte que é disciplina e julgamento — não é condenação, e sim salvação. Deus está tirando a vida do crente que está em pecado, porque o ama tanto que não permitirá que ele continue no pecado.
Isto é um poderoso encorajamento. Não é fácil de entendermos, nem é ensinado frequentemente. Mas é uma rocha firme. O que isto diz a todos nós é o seguinte: não precisamos estar certos de que o tempo de nossa morte se deve ao nosso pecado, ou à crueldade de Satanás (Apocalipse 2.10), ou a outros propósitos de Deus. O que precisamos realmente é a profunda segurança de que, se a nossa morte resultar de nossa tolice e pecado, podemos descansar tranquilamente no amor de Deus. Nesses momentos, estas palavras serão extremamente preciosas: “Somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”. Deste modo, aprendemos a morrer tranquilos.
(O texto não apresenta a disciplina de Deus, como de fato, não deveria apresentar, como se fosse um castigo de Deus por causa do pecado do cristão. Até porque a disciplina é algo muito diferente de castigo vingativo, porque é o instrumento de aperfeiçoamento dos santos para serem feitos coparticipantes da santidade de Deus. A disciplina não apenas nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões carnais, como também a ter um comportamento sensato, justo e piedoso. Ela nos ensina sobre o caráter completamente amoroso de Deus e nos faz entender o seu propósito de nos fazer co-herdeiros juntamente com Cristo de todas as bênçãos celestiais e eternas.
Assim, é pela disciplina que deixamos de ser ignorantes do comportamento que nos convém possuir em face da nossa vocação divina. Agora, como nem todos se mostram determinados em se reconhecer totalmente dependentes da graça de Deus, e são descuidados e negligentes quanto à busca permanente de uma viver verdadeiramente santo pela contínua e séria mortificação do pecado e busca de um viver sensato, justo e piedoso, é possível que Deus se utilize da forma de disciplina extrema e final da morte física, com alguns, para que não sejam condenados juntamente com o mundo ímpio.
É por misericórdia deles que o faz, por saber que não possuem em si mesmos o zelo e esforço necessário, ainda que no mínimo, para a negação do ego, para resistir à influência do mundo, de modo a sustentar algum testemunho de vida cristã. Ao contrário disto, crescem em graus em testemunho contra o poder da graça do evangelho em suas próprias vidas, por não possuírem fome e sede de justiça. A morte física neste caso comprova a sua filiação a Deus, e não o contrário, porque caso não fossem filhos, não estariam sujeitos à disciplina da aliança, da qual todos os cristãos autênticos têm sido tornados participantes – nota do Pr Silvio Dutra)