Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de nº 1408 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.
“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza.
Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará. (Tiago 4.8-10)
Nós frequentemente encontramos pessoas que nos dizem que não podem encontrar paz com Deus. Eles têm sido convidados a crer no Senhor Jesus, mas não compreendem o mandamento, e enquanto pensam que estão lhe obedecendo, eles são realmente incrédulos e, portanto, perdem o caminho da paz.
Eles tentam orar, mas suas petições não são respondidas e as suas súplicas não lhes trazem qualquer conforto que seja, pois nem a sua fé nem a sua oração são aceitas pelo Senhor. Tais pessoas são descritas por Tiago no 3º versículo do capítulo diante de nós, “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”. Não podemos nos contentar em ver os perdidos nessa miséria e, portanto, nós nos esforçamos para confortá-los, instruí-los, uma e outra vez, no grande preceito evangélico: “Creia e viva”.
Ademais, assim como via de regra nada recebem, também ficam numa condição insatisfatória. Eles nos asseguram que creem em Jesus, mas não vemos neles quaisquer dos frutos da fé, nem podem dizer que tiraram algum benefício espiritual da fé que professam.
Vamos tentar mostrar neste momento a certas almas inquietas porque não obtêm a paz e que devem ser trazidos pelo Espírito Santo antes que possam afirmar que estão salvos.
Em seus capítulos anteriores, Tiago lhes chama de “meus irmãos”, e ainda “meus amados irmãos.” Ele não desenha qualquer linha demarcatória, quando, depois, se dirige a eles como “pecadores”, cujas mãos devem ser limpas e, como, pessoas “de mente dobre”, cujos corações devem ser purificados. Eles eram ambas as coisas – eram declaradamente irmãos e irmãs, mas eram de um coração impuro para com Cristo – seus corações estavam divididos entre o amor ao pecado e a esperança da salvação. Não vamos, portanto, levantar questões pessoais, ou tentar discriminar onde a certeza é difícil de ser alcançada, mas vamos falar de caracteres suspeitos sem determinar se eles eram realmente crentes ou não.
Para alcançar a paz de Cristo, ouçamos primeiro o mandamento abrangente: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus.”
Pela iluminação interior do espírito muitos manifestam que não têm se sujeitado a Deus – cobiça, inveja, contenda, discórdia, ciúme, ira, todas essas coisas declaram que o coração não é submisso, mas permanece fortemente obstinado e rebelde.
Há algumas pessoas para as quais a própria ideia de submissão é de mau gosto – eles não se submeterão a ninguém, mas desejam ser seus próprios deuses e uma lei para si mesmos. “Sujeitai-vos” é uma palavra irritante para eles. Eles dizem em seus corações: “Quem é o Senhor para que eu obedeça a Sua voz?”
A falta de submissão não é uma culpa nova ou rara na humanidade. Desde a queda do primeiro homem tem sido a raiz de todo o pecado. Quando o coração se submete a Deus com sinceridade, o trabalho da Graça é iniciado. E quando se submete perfeitamente, o trabalho está completo. Mas para isso, a Divina Graça deve exibir seu poder, pois o coração é obstinado e rebelde.
A cicuta do pecado cresce nos sulcos da oposição a Deus. Quando o Senhor tem o prazer de transformar os corações dos opositores à obediência de Sua Verdade, é um indício de salvação. Na verdade, isto é o alvorecer da própria salvação! Submeter-se a Deus é encontrar descanso! O governo de Deus é tão benéfico que ele deveria ser prontamente obedecido. Ele nunca nos manda fazer o que, a longo prazo, possa ser prejudicial para nós, nem mesmo Ele nos proíbe qualquer coisa que não seja para a nossa vantagem real. Nosso Deus é tão bom, tão sábio, tão cheio de presciência amorosa, que é sempre para o nosso melhor interesse que seguimos a sua liderança.
Amado, o Senhor é grande demais para ter qualquer necessidade de tratar injusta ou asperamente as Suas criaturas. De fato, Ele é tão grande que não pode desejar qualquer vantagem pessoal em Seu governo.
É loucura abandonar o serviço honroso do grande Rei para tornar-se escravo de Satanás. Quem dera que os homens se submetessem a Deus e estivessem dispostos a serem abençoados!
Uma fé morta não salvará ninguém! Nem sequer é tão boa quanto a fé dos demônios, pois eles “creem e tremem”, e esses homens acreditam de uma forma que os torna de bronze em sua iniquidade.
Salvação significa ser salvo da dominação do eu e do pecado! Salvação significa estar sendo transformado por longo tempo à semelhança de Deus, sendo ajudado pela graça divina para chegar a essa semelhança e viver segundo a mente e a vontade do Altíssimo.
Submissão a Deus é a salvação que pregamos, e não uma mera libertação do fogo eterno, mas livramento da atual rebelião, a libertação do pecado, que é o combustível desse fogo inextinguível. Deve haver conformidade com as leis eternas do universo e de acordo com estas Deus deve ser o primeiro e o homem deve se curvar a Ele – nada pode estar certo até que isso seja feito.
Uma pessoa que não é submissa a Deus não é salva. Ela não é salva da rebelião. Não é salva do orgulho. Ela é ainda, evidentemente, uma pessoa não salva, não importa o que possa pensar de si mesma.
No homem salvo existe e deve haver uma submissão total e incondicional à lei de Deus. Ele deve consentir com a lei, que é boa.
Se a sua mente tem feito até agora objeções contra a Lei, esta luta deve terminar, pois é impossível que você possa estar certo quando você briga com a lei da justiça!
Uma pessoa salva se deleita na lei de Deus segundo o homem interior. Ele diz que, “a lei é santa”, embora ele chore quando acrescenta: “mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.”
A graça trabalhando no coração traz o penitente a confessar-se culpado por causa do pecado e admitir que a pena da lei é merecida.
Você deve se submeter à justiça e à verdade de Deus ou Ele vai resistir a você como Ele faz todo orgulhoso.
Uma pessoa que busca a paz deve também se submeter ao plano da salvação somente pela graça. Deus encontra o pecador na base da graça. “Eu não posso inocentar você”, Ele parece dizer, “mas eu posso lhe perdoar. Eu não posso tolerar sua negação de culpa, mas se você confessar o seu pecado, eu sou fiel e justo para perdoar os seus pecados e para salvá-lo de toda injustiça”.
E, em seguida, deve haver uma total submissão a Deus no sentido de mortificar cada pecado. Inúmeras pessoas oram por misericórdia, mas elas continuam em seus pecados. Estas não podem ser salvas, porque a salvação é a salvação do pecado, e não no pecado. Como podemos ser salvos do pecado, se nós somos seus escravos? Se você vir a Deus e clamar: “Senhor, livra-me e tem misericórdia de mim”, e ainda assim você pratica vícios que Deus condena, como você pode ser salvo? Se você continua a ser desonesto nos negócios, ou mente, ou manifesta um temperamento malicioso ou irado na família, ou orgulhoso e cruel, egoísta e mesquinho, como você pode ser salvo?
E, agora, eu tenho que fazer outra pergunta a vocês que desejam a paz e não conseguem encontrá-la. Vocês se submetem à vontade soberana de Deus na execução de seus propósitos providenciais? Ou seja, nas perdas e provações que experimentam?
Muitas pessoas têm uma espécie de ressentimento particular contra a Providência e se sentam como o profeta Jonas sob sua aboboreira seca e murmuram: “Fazemos bem em ficar irados até a morte.” Agora, se tal é o caso com qualquer pessoa diante de mim, eu lhes diria, que deveriam deixar de brigar com o seu Deus! Qual pode ser o uso disso? É coisa muito melhor e mais sábia para você fazer amizade com Ele e deixar que a Sua vontade seja a sua vontade.
II. Mas agora, em segundo lugar, tendo assim falado sobre o grande dever da submissão, vamos considerar agora a necessidade de seguir os preceitos. Eu acho que eu não sou suspeito, sem razão, quando eu expresso o receio de que a pregação que ultimamente tem sido muito comum e, em alguns aspectos muito praticada, do “somente creia e você será salvo” por vezes tem sido completamente enganadora para aqueles que a têm ouvido. Casos ocorrem em que pessoas jovens que continuam vivendo de maneira frívola e leviana, e mesmo num mal viver, e ainda assim afirmam que creem em Jesus Cristo. Quando você os examina um pouco, você acha que sua crença em Cristo significa que eles acreditam que Ele os salvou, apesar de todos os que conhecem o seu caráter, saberem claramente que eles não são salvos!
Agora, qual é a sua fé, senão a crença de uma mentira? Eles estão vivendo da mesma forma que sempre viveram e, portanto, é claro que nunca foram salvos de sua antiga conversação tola, nem de seus maus temperamentos, nem dos seus pecados antigos. E ainda assim tentam convencer a si mesmos de que são salvos! Agora, a verdadeira fé nunca acredita em mentiras! A presunção vive em mentiras, mas a fé só se alimenta da Verdade de Deus!
Devemos ter diante de nós a grande e antiga palavra que foi lançada no fundamento por alguns evangelistas, a saber, “arrepender-se”. O arrependimento é tão essencial para a salvação como a fé. De fato, não há fé sem arrependimento, exceto a fé que precisa se arrepender. A fé sem as lágrimas do arrependimento nunca verá o reino de Deus! A aversão santa contra o pecado sempre acompanha uma fé verdadeira.
Agora observe como o Espírito de Deus, depois de ter ordenado que nos sujeitemos a Deus, passa a mostrar o que mais deve ser feito. Ele pede uma brava resistência ao diabo. “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”
O assunto da salvação não é todo passivo – a alma deve ser despertada para uma guerra ativa! Eu devo cair nos braços de Cristo, para que Ele possa me salvar – eu devo confiar nele completamente. E quando eu dependo dEle eu recebo vida – e o primeiro esforço desta nova vida é para atacar com todas as suas forças o adversário de Cristo e da minha própria alma. Eu não devo somente lidar com o pecado, mas com o espírito que fomenta e sugere o pecado! Eu devo resistir ao espírito secreto do mal, bem como os seus atos exteriores.
“Mas oh,” diz alguém, “eu não posso desistir de um hábito inveterado”. Senhor, você deve livrar-se! Você deve resistir ao diabo ou perecer. “Mas eu tenho sido assim por muito tempo”. Sim, mas se você realmente confiar em Cristo, o seu primeiro esforço será o de lutar contra o mau hábito. E se não é apenas um hábito, nem um impulso, mas se o seu perigo reside na existência de um espírito astuto que está armado em todos os pontos e ao mesmo tempo forte e sutil, você não deve ceder, mas resistir até a morte, animado pela promessa graciosa que ele fugirá de você!
Você deve, em nome de Jesus vencer a tentação, maus hábitos e escapar da escravidão! Se você deseja ter paz com Deus, deve haver guerra contra Satanás!
Em seguida, o apóstolo escreve: “Aproximem-se de Deus e Ele se aproximará de vocês.” Aquele que crê sinceramente orará muito. A oração é o sentimento de que Deus está presente e o desejo da alma de chegar a Ele, a fim de conhecer a sua influência, o Seu amor, sentir Seu poder e ser conformada à Sua vontade.
Esse tipo de oração pode ser continuada pelo poder do Espírito Santo de Deus durante todo o dia. Devemos saber algo disso. “Eis que ele está orando” é uma das primeiras evidências de uma alma salva e se você pensa que por algum ato momentâneo da fé que você acha que exerceu, portanto, você está salvo, enquanto o seu coração permanece a uma distância de Deus, sem oração e descuidado – você está fatalmente enganado! Tal não é o ensino das Escrituras e não há nenhuma garantia disto nas promessas de Deus. Se a oração é totalmente negligenciada, a alma está morta!
O próximo preceito é “Purificai as mãos, pecadores.” O quê? Será que a Palavra de Deus diz aos pecadores para limparem as mãos e purificarem seus corações? Sim, ela diz. Algum irmão sussurra: “Ah, isto é Arminianismo.” Quem é você que replica contra a Palavra de Deus? Se tal ensino está neste livro inspirado, como nos atrevemos a questionar isso? Ele vem com um “assim diz o Senhor” – “Purificai as mãos, pecadores.” Quando um homem se aproxima de Deus e diz: “Eu estou pronto e ansioso para ser salvo e eu confio em Cristo para me salvar”, e ainda assim ele mantém suas mãos sujas exercidas em ações imundas fazendo o que ele sabe que está errado, como ele espera que Deus o ouça? Preciso gastar mais do que meia dúzia de palavras para mostrar que este homem não crê e não é realmente honesto diante do Altíssimo? “Purificai as mãos, pecadores.”
Em seguida, ele acrescenta: “purificai os corações, vós de espírito vacilante”. Eles podem fazer isso? Certamente não por si mesmos, mas ainda assim, para ter paz com Deus, deve haver também a purificação do coração para que deixe de ser vacilante. Aquele que foi salvo deve procurar isto com todo o seu coração.
Livre-se do seu olhar malicioso para a impureza, e do olhar que persegue ganho mundano – porque até que clame com todo o coração ao Altíssimo, Ele não irá lhe ouvir!
Quando você disser com Davi: “Meu coração e minha carne clamam pelo Deus vivo”, você deve encontrar o Senhor! Quando você parar de tentar servir a dois senhores e sujeitar-se a Deus, Ele irá abençoá-lo, mas não até então!
Creio que isto toca o centro do mal em muitos desses corações que não conseguem alcançar a paz, eles não desistiram do pecado – não buscam a salvação de todo o coração. Então o Senhor nos manda “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza.”
Lamento dizer que tenho encontrado pessoas que dizem: “Eu não posso achar a paz, eu não posso chegar à salvação”, e falam de modo muito lindo nesse sentido. Mas, no entanto, do lado de fora estão rindo umas com as outras, como se fosse questão de diversão. O dia do Senhor é gasto em vão, em ociosa e frívola conversação. Toda a questão parece ser um mero esporte. Alguns convertidos parecem saltar para a religião como as pessoas fazem num trampolim de piscina – saltam para fora, de novo, e muito rapidamente. Nunca pesam o assunto. Eles não têm nenhum pensamento, nenhuma tristeza pelo pecado, nenhuma humilhação diante de Deus. Pare com o riso se você não é salvo – em nome da decência, pare este riso!
Porque rir, enquanto o risco de ser perdido soa para mim tão medonho e tão sombrio como se os demônios do inferno fossem ao teatro criar uma comédia na sepultura. Que direito você tem de rir enquanto o pecado não é perdoado, enquanto Deus está irado com você? Seja sério! Comece a pensar na morte, no juízo, na ira vindoura.
Se você é salvo, sua mente fica solenemente impressionada com as realidades eternas e você é sério sobre questões de vida e morte. O próprio pensamento de dores pelo pecado, e desde que você se encontra com ele em sua vida diária, você tem motivo de humilhação diária e de estar aflito por causa disso. Muitos, eu temo, não conseguem obter a paz, porque brincam com isto como se fosse um jogo para meninos e meninas e não algo para o coração e o espírito darem a devida consideração.
Então o Senhor resume seus preceitos, dizendo: “Humilhai-vos na presença de Deus.” Com isso eu fecho. Deve haver uma profunda prostração e humildade de espírito diante de Deus. Se acontecer de você ter um menino que mostra um espírito rebelde elevado contra você e você o corrige por isso, mas mesmo assim ele continua em sua rebelião, diga-lhe que tem que haver uma humilhação de si mesmo antes que possa perdoá-lo. Se ele é uma criança inteligente e deseja escapar da sua ira, ele faz uma confissão obediente, reconhece que estava errado e apela para o seu amor e você livremente o perdoa. Mas em muitos que pretendem vir a Deus, não há humildade. Eles não admitem que nunca fizeram algo particularmente errado e não se importam caso tenham feito! Ainda assim, eles ouvem que existe tal coisa como crer em Jesus e eles professam crer, porque não há nenhuma necessidade para isso, como eles pensam, mas por causa da moda.
Ah, amigos, Jesus Cristo não veio para curar a todos, mas sim os doentes! Ele também não morreu para curar aqueles que não estão quebrados, nem dar vida aos que nunca foram mortos. Deve haver em você e que Deus possa lhe dar, um quebrantamento de espírito! A um coração quebrantado e contrito Ele não desprezará! Se o seu coração nunca foi quebrado, como ele pode ligá-lo? Se nunca foram feridos, como Ele pode curá-los? Estas são questões de peso e lhes falo deste modo para que ninguém entre vocês seja enganado. Deus lhes ajude a clamar, “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há algum caminho mau em mim, e guia-me pelo caminho eterno”
Este é o caminho da salvação – que você creia em Jesus Cristo, a quem Deus enviou! Mas lembre-se que Ele nos salva dos nossos pecados, e não em nossos pecados! A fé em Jesus Cristo salva e vai salvar todos os que têm isto – mas isto é por se purgar o pecado. Ele nos assegura que somos perdoados e, portanto, nos faz amar a Cristo, por quem somos perdoados. Este amor nos leva a nos detestarmos por nossos pecados e nos esforçarmos para nos purificarmos deles por Seu Espírito. A fé sem obras é morta em si mesma, e embora o homem seja justificado pela fé e não pelas obras – e pela fé somente – nem mesmo em parte, por suas obras! No entanto, a fé que salva é a fé que produz boas obras e leva para o caminho da santidade. Aquele que não busca a verdadeira justiça e santidade, que ele finja quanto queira, ele está morto, enquanto ele viver! Que o Senhor tenha misericórdia de vocês, por amor de Cristo. Amém.