1. Mateus 7:1-5
Em uma das passagens mais marcantes dos Evangelhos, Jesus, ao ser avisado que sua mãe e irmãos – sim, ele tinha irmãos – estavam o aguardando para lhe verem, ele respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a executam” (Lucas 8:19-21). Com isso, ao contrário do que muitos pensam, ele não desprezou sua mãe e seus irmãos. A mensagem que ele quis transmitir foi que Deus e sua Palavra estão acima de qualquer sentimento ou laço humano que possa existir, independente de qual natureza seja. Meus pais são importantes? Sim. Mas, mais importante foi quem me deu meus pais, assim como quem me deu irmãos e filhos, pois, se ele não quisesse, não teríamos nenhuma coisa nem outra.
Isso nos ajuda a entender e aceitar a passagem em Mateus 7:1-5. Para a humanidade sempre será difícil fazer a escolha entre Jesus e os amores desta vida. Na grande maioria dos casos, as primeiras pessoas que nos perseguem ou ironizam nossa escolha por Cristo, são nossos próprios familiares, amigos e pessoas mais próximas e chegadas a nós. É de onde partem os primeiros ataques. Com a declaração em Lucas, é como se Jesus dissesse: “Amo minha família, mas sobretudo amo a Deus!”, e a partir daí todo e qualquer relacionamento que possamos vir ater, deve ser pautado em nosso relacionamento com o Senhor.
E essa é a origem do problema: o desprezo por boa parte das pessoas que amamos. Esse é o primeiro presente que recebemos e não gostaríamos de ter recebido. Os irmãos de Jesus, com exceção a Tiago, não criam nele, como mostra o texto, não tinham fé, não aceitavam a profecia, já que deviam saber que Maria, sua mãe, dera à luz Jesus sem ter qualquer tipo de relacionamento com homem algum. Mesmo assim não o receberam como o Filho de Deus. Logo, não poderiam ser tratados de forma especial, pois, na ótica de Cristo, para ter o privilégio de ser tratado como alguém da família, tem que ser verdadeiramente da família, ou seja, tem que ser filho do mesmo Pai celestial. Algo que, parece, não era o caso de seus irmãos.
2. Lucas 23:20-23
O Evangelho nunca combinou com a maioria. Deus sempre fez restrições à multidão. Isso acontece porque a maioria das pessoas não convive bem com três coisas: a verdade, a correção e o sacrifício. Em alguns casos aceita uma ou outra coisa, mas nunca as três ao mesmo tempo. No Éden a maioria falhou (Abel foi morto). No dilúvio somente oito pessoas escaparam da água. Em Sodoma foram só três que saíram com vida de uma cidade inteira. Na entrada de Canaã dez foram contra a promessa de Deus e apenas dois permaneceram firmes. A grande maioria do povo não quis mais Samuel como líder. Certamente entre os que gritavam por Barrabás havia os que pediam por Jesus. Mas era a minoria.
O Evangelho nos afasta das tendências que governam o mundo.
Da moda, dos consumismo desenfreado, das aparências enganosas, da vida de ilusão, e nos mostra a realidade como ela é. E, como ela não é assim muito atrativa à nossa carne, preferimos não vê-la. Daí Jesus deixar subentendido que salvação é para poucos (Lucas 13:23-24). E Pedro confirma isso em I Pedro 4:18. Viver para ser agradável de qualquer jeito, para ser bem aceito por todos, para ser bem recebido em todos os lugares, para estar sempre atualizado com as novidades, mesmo à custa muitas vezes do sacrifício dos outros, e assim fugindo da realidade para dar ouvidos à multidão, pode acabar nos levando a cometer pecados sem que sequer saibamos o que estamos fazendo direito. Naquela multidão certamente havia pessoas que mal conheciam a Cristo ou a Barrabás ou mesmo sequer sabiam os motivos de sua prisão com detalhes, mas pediram a morte do filho de Deus para agradar a massa. Outro presente de Deus: lugar cativo na minoria.
3. Isaías 43:13
Um dos direitos mais reclamados pela humanidade é o direito de se expressar. Todo mundo quer que sua opinião seja respeitada, quer ter o direito de dizer o que pensa. De decidir o que é melhor para sua vida. E então seguem com frases como “sou dono do meu nariz” ou “não devo satisfação a ninguém”. Mas o presente de Deus para nós é: “Ei, aqui é o Senhor dos Exércitos, e vou fazer com você ou com qualquer outra criatura o que eu quiser, na hora que eu bem entender e do jeito que eu achar melhor, sabe por quê? Porque eu sou o Senhor, tudo que existe no universo me pertence, inclusive você, que só está vivo porque eu quero!”.
Meu direito de expressão não quer dizer nada para Deus. Quando Jó usava de toda a sua capacidade de argumentação, Deus virou para ele e perguntou: “Onde tu estavas quando eu lançava os fundamentos da terra?” (Jó 38:4).
Deus não pede minha opinião para nada. Qualquer coisa que eu faça de melhor para ele será sempre pouco. Ele não depende de mim. Eu não tenho como surpreendê-lo ou ensiná-lo sobre nenhum assunto. É ele quem me mantém vivo. E se eu quiser chamar sua atenção terei que me submeter ao que ele quer, ou ele sequer me ouvirá. Em João 8:29 Yeshua diz “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada”. Então esse é mais um presente: existe alguém que não liga para sua opinião. Essa pessoa é simplesmente seu dono. Vai fazer com você o que quiser. Essa sensação foi experimentada pelo maior rei de seu tempo, Nabucodonosor, que declara em Daniel 4:35 “… não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: o que fazes?”.
4. Mateus 19:29
Quantos muitos lêem essa passagem pensam o quão difícil é seguir a Cristo. E a grande maioria está certa. Seguir a Cristo não é divertido, engraçado, relaxante. Quem quer essas coisas deve procurar um parque ou uma praia. Nunca uma igreja. E há os que ficam chateados com Jesus. Se eu entendi bem ele quer que eu deixe “só” tudo o que tenho de mais valor por causa dele? Bom, para quem acha que o texto fala em sair de casa só com a roupa do corpo e nunca mais dar notícias para pregar o Evangelho, certamente não entendeu o texto, visto que ele promete muito mais bênçãos, inclusive nessa vida. O problema é que quando proferiu essa frase, Jesus havia acabado de falar com o jovem rico, e o que aconteceu minutos antes? Alguém não quis abrir mão de nada para seguir a Cristo.
E é isso que ele quer dizer. Tudo que temos nessa vida é muito importante para nós. Mas se essas coisas nos afastam de Deus temos fazer a escolha. Ele quer dizer, bem resumidamente: “Eu em primeiro lugar”, depois, conforme o texto mostra, família e bens materiais. Esse é o quarto presente: Ele quer ser a pessoa mais importante de sua vida. Mais que isso: ele quer ser tudo de mais importante na sua vida. E ele não vai aceitar outra coisa além disso.
Esse último presente só vem se os outros quatros forem recebidos. São chamados de vencedores os donos dos primeiros quatro presentes. E o último presente é o melhor deles. Vida eterna junto ao Cordeiro.