Predestinação:
Fatalista ou Condicional ?
Quando escrevi o primeiro livro sobre a Doutrina da Predestinação, nunca havia lido qualquer livro a respeito do assunto. Tudo que escrevi foi por absoluta revelação de Deus, tendo a Bíblia Sagrada como minha única fonte inspiradora e regra de fé. Confesso que nunca fiz um seminário, nem cursei nenhuma faculdade de teologia. Durante os quase quinze anos que passei na seita Universal, jamais tive o hábito de estudar as Sagradas Escrituras. Todo o meu conhecimento se resumia às histórias dos milagres realizados pelo Senhor Jesus Cristo no seu ministério terreno, e que estão relatados nos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João. Até escrever o meu primeiro livro sobre Predestinação, – nunca havia ouvido falar de Calvino, Lutero, Jacobus Arminius e tantos outros que são citados, quando as verdades da Graça de Deus são pregadas. Hoje, sou um estudioso da Palavra de Deus e tenho lido uma vasta literatura onde a verdade da Predestinação tem sido calorosamente debatida.
Foi a partir daí, que tomei conhecimento dos termos Predestinação Fatalista e Predestinação Condicional. A Predestinação Fatalista foi o nome dado ao ensinamento de João Calvino sobre a Predestinação. Nascido na cidade de Lyon, Picardia, França, aos 10 de Julho de 1509, Calvino foi o maior teólogo do Cristianismo, depois de Agostinho, sendo considerado o principal cérebro da Reforma na França. Por causa da verdade contida nas suas pregações, logo teve que fugir de Paris e buscar refúgio nos castelos dos protetores dos reformadores. Fugindo dos seus perseguidores, Calvino passava rapidamente de um lugar para outro, até que, aos 25 anos de idade, foi-se refugiar em Basiléia, na Suíça, de onde deu ao mundo o seu famoso livro “As Institutas da Religião Cristã”. Nesse livro, Calvino delineou as grandes doutrinas cristãs fundamentais num completo sistema de teologia, lógico e contundente, e exerceu uma profunda influência no pensamento da humanidade. A soberania de Deus, a eleição, a justificação pela fé, e a predestinação incondicional, eram os seus temas prediletos.
Para esse grande reformador “Predestinação é o decreto divino com referência aos seres morais, os homens e os anjos”
Nas Institutas, ele declara: “Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus, pelo qual determinou em si mesmo o que Ele quis que todo indivíduo racional viesse a ser”.
Calvino ensinava que “Deus salva da corrupção e da condenação aqueles a quem escolheu desde a fundação do mundo, não por causa de qualquer disposição, fé ou santidade que Ele tenha previsto neles, mas por motivos de sua pura misericórdia e soberana vontade, em Cristo Jesus, seu Filho, deixando de levar em conta quaisquer outras considerações, segundo a irrepreensível razão de sua própria vontade e justiça”.
Toda Europa foi influenciada pela pregação sistematizada da predestinação fatalista, que Calvino, com muita coragem, ensinava.
De onde surgiu a expressão “Predestinação Condicional?” Esta expressão surgiu alguns anos depois da morte de Calvino, através de Jacobus Arminius, um dos seus mais renomados discípulos. Pastor e professor holandês, Jacobus Arminius teve uma formação teológica totalmente fundamentada nos ensinamentos de Calvino. Boa parte dos seus estudos ocorreram em Genebra, sob a direção de Teodoro de Beza, o sucessor de Calvino nessa cidade. Voltou à Holanda, ocupou um importante púlpito em Amsterdã e logo a sua fama se difundiu.
Naquele tempo, um teólogo chamado Dirck Koornhert havia atacado algumas das doutrinas ensinadas por Calvino, principalmente a que dizia respeito à predestinação. Devido à fama e ao prestígio como estudioso da Bíblia, Jacobus Arminius foi convocado pela igreja de Amsterdã, para refutar as opiniões de Koornhert.
Para surpresa de todos, Jacobus Arminius aderiu às idéias de Koornhert e passou a fazer oposição ao ensinamento de Calvino sobre a Predestinação Fatalista. Arminius, também, passou a combater a “eleição” e a “segurança eterna da salvação”. A partir daí, Arminius passou a proclamar a doutrina do livre-arbítrio do homem, contradizendo frontalmente os ensinamentos do seu antigo mestre.
Na visão de Arminius, Deus predestinou os eleitos porque sabia, de antemão, os que aceitariam Jesus. Na ótica Armenianista, essa era a Predestinação Condicional, ou seja, dependia do homem exercer o seu livre-arbítrio e querer ser salvo.
Na visão de Calvino a predestinação e a eleição não depende absolutamente do homem, mas, unicamente, da vontade soberana de Deus. Na ótica Calvinista, os homens não são eleitos porque Deus previu que eles aceitariam Jesus, mas, os homens creriam em Jesus porque Deus os elegeu.
Mas para nós interessa entender a Predestinação à luz da Bíblia Sagrada. As Escrituras não falam em Predestinação Fatalista nem em Predestinação Condicional, mas, somente em Predestinação. Esses rótulos foram criados pelos homens, através dos séculos. A Bíblia é clara e enfática ao dizer que Deus predestinou um povo para salvação. Paulo disse aos Romanos: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”(Romanos 8:29 e 30). Vemos, então, que a Predestinação é uma doutrina bem estabelecida na Bíblia e nós não podemos evitá-la. Se a Bíblia é a Palavra de Deus e, se Deus mesmo fala da Predestinação, seria uma incredulidade perversa desconsiderarmos esta verdade. Os pregadores modernos têm negligenciado esta verdade, mas eles precisam crer, pregar e ensinar aquilo que a Bíblia diz que é verdade, e não o que eles querem que a Bíblia diga que é verdade.
Observei nas minhas pesquisas que a grande dificuldade de Calvino e de todos os outros que pregaram e pregam a predestinação, foi e tem sido, explicar o porquê de Deus ter predestinado alguns para a salvação, enquanto que outros estão destinados para a perdição. Por que Deus predestinou uns para salvação e destinou outros para a perdição? A resposta para esta pergunta, desde Calvino e até aos dias de hoje, tem sido uma só: porque Deus é Soberano.
Confesso que eu também teria muita dificuldade em crer na predestinação de Deus, tomando por base apenas esta resposta. É muito difícil aceitar que o simples fato de ser soberano, tenha levado Deus a predestinar, uns para salvação e outros, para a perdição. Muitos perguntam qual foi o critério que Deus usou para isso. A resposta tem sido sempre a mesma: porque Deus é soberano.
A mim parece que essa resposta simplista passa uma idéia de um ato ditatorial de Deus, quando a Bíblia diz que a Predestinação foi um ato do amor de Deus. Paulo disse aos crentes de Eféso: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”(Efésios 1:4 e 5).
Creio ser absolutamente contrário à natureza divina, aceitar-se que, pelo simples fato de ser soberano, Deus tenha predestinado uns para salvação e outros para a perdição. Isto seria rebaixar Deus ao mesmo nível dos homens. Imagine duas pessoas caídas dentro de um rio, afogando-se. De repente, chega um homem que tem todo o poder de salvar a ambas, mas que, friamente, decide salvar apenas uma delas. Que conceito você teria desse homem? Um homem frio, mal, injusto e tantos outros adjetivos que se queira usar. Não seria o mesmo caso em relação a Deus, se levarmos em conta que ele poderia salvar a todos, mas que salva, apenas, alguns, pelo simples fato de ser ele soberano?
Na verdade, Deus não age arbitrariamente, nem ditatorialmente, e sim movido por um ato de justiça. O que é preciso é se discernir espiritualmente a Bíblia Sagrada, manejar bem a palavra da verdade e sermos como Paulo disse aos coríntios, despenseiros dos mistérios de Deus. Não basta manejar bem uma doutrina, porém toda a palavra de Deus.
Calvino manejou bem a Doutrina da Predestinação, ele sabia que só os predestinados serão salvos, mas, como não manejou bem o mistério da nossa preexistência e das duas descendências que há neste mundo, acabou ficando sem a resposta correta para as muitas indagações que lhe faziam a respeito da predestinação.
Com o Apóstolo Paulo sucedeu caso diferente. Como homem que recebeu de Deus a revelação dos mistérios, que até então haviam permanecido ocultos em Deus e das gerações passadas, Paulo tinha as respostas corretas para todas as indagações que lhe eram dirigidas.
Quando Deus iluminou os olhos do meu coração, fez-me compreender todos os mistérios que ele havia revelado a Paulo: a preexistência com Deus, a predestinação, as duas descendências, a soberania de Deus, a deidade de Cristo etc. Ao longo desta série de mensagens nós vamos estudar a doutrina da predestinação à luz da revelação da graça de Deus, conferindo coisas espirituais com espirituais. Não é meu objetivo discutir, nem o ponto de vista de Calvino, nem o de Arminius, mas, tão somente, a verdade cristalina da Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus.
A fornalha da discussão vem sendo alimentada ao longo dos séculos. Predestinação ou livre-arbítrio? Abordar este tema é colocar gasolina no fogo, a discussão explode!
Normalmente surgem debates acalorados, mas sem muito respaldo bíblico. Exatamente por falta de respaldo bíblico a maioria dos crentes tendem a assumir uma posição moderada. Via de regra, eles criam um ser esdrúxulo, híbrido, com cabeça e braços de Calvino, e coração, tronco e pernas de Arminius.
Pr. Carlos Magno. Presidente da Igreja Cristo é Vida, professor do seminário teológico da graça de Deus, escritor e estudioso das Verdades Sagradas. Ouça pregações do PR. Carlos na www.radiosoverdade.com.br.