“E éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.” (Ef 2.3)
O apóstolo afirma, conforme havia sido instruído por nosso Senhor Jesus Cristo quando recebeu dele o evangelho, que toda a humanidade se encontra perante Deus na condição de filhos desobedientes condenados à ira, e que isto se dá em razão da nossa própria natureza, e não meramente por praticarmos pecados habitualmente, como se tivéssemos, de nós mesmos, a capacidade e escolha de nunca os praticarmos. Então, a verdade relativa à nossa condição é a de que não somos pecadores por hábito, por costume, mas pelo que somos em nossa natureza.
É a isto que comumente se chama de pecado original, pois aponta para a sua origem. Ao usar o verbo ser na primeira pessoa do plural, o próprio apóstolo Paulo se inclui na referida condição em que todos se encontram naturalmente, antes de serem libertados por Cristo. Não que sejamos libertados completamente do pecado neste mundo, mas da ira de Deus em condenação, porque estando em Jesus a sua ira é desviada de nós, porque ele a recebeu em si mesmo em nosso lugar quando morreu na cruz do Calvário.
Ora, se o pecado é uma questão de natureza, e por se encontrar ligado ao nosso velho homem até o dia da nossa morte, como poderíamos ser salvos se não fosse por pura graça e misericórdia de Deus em relação a nós, por causa da nossa fé em Cristo? Como poderíamos ser salvos baseados em nossa própria justiça e méritos, quando aquilo que nos mata está ligado à nossa natureza, àquilo que somos em essência?
Por isso somos salvos na esperança daquela santidade perfeita que haveremos de ter na glória celestial, e não por quaisquer boas obras que possamos fazer enquanto estivermos deste outro lado do céu. Estas boas obras são a consequência e a evidência, mas não a causa da nossa salvação.
Vemos assim, que independentemente das grandes realizações de qualquer pessoa, que sem Cristo, esta continua sendo filha da ira tanto quanto aqueles que não têm se aplicado a viverem de modo justo.
Há no melhor dos homens a mesma mancha do pecado original que existe em todos os demais, e assim, somente o sangue de Jesus poderá limpá-lo, de modo a poder ser reconciliado com o Deus que é perfeitamente justo e santo.
Não há um justo sequer, de si mesmo, aos olhos de Deus. Todos necessitamos da justiça de Cristo para nos apresentarmos justificados diante dele.
Cabe portanto, e fica bem a qualquer pessoa, que ande em humildade perante o Senhor, independentemente do grau de santificação que tenha alcançado aqui embaixo, porque, ainda continua sujeita à ação do pecado, até que venha a dar o seu último suspiro aqui na Terra.