Nenhuma promessa de Deus falhará, e não deixará de ter o devido efeito.
E para mostrar a imutabilidade da promessa de segurança eterna da nossa salvação, e que não a revogaria de modo algum, Deus prometeu a Abraão que no Seu descendente que é Cristo, seriam benditas todas as nações da terra, isto é, todos estes que estão em Cristo são abençoados, porque são resgatados da maldição para serem adotados na família de Deus como Seus filhos, e a promessa foi feita com a interposição de um juramento divino, tendo Deus jurado por Si mesmo, mostrando que jurou no grau mais elevado que existe, porque não há nada mais elevado do que Ele próprio.
Então o sentido aqui é que Ele deixaria de ser Deus (caso isto fosse possível) se deixasse de cumprir o que prometeu a Abraão em relação à descendência que formaria a partir dele, tanto a natural (a nação israelita contada na descendência de Jacó, neto de Abraão), quanto a espiritual (os eleitos que são justificados e regenerados por causa da fé em Cristo) (Gên 22.15-18).
E se Deus fez a promessa isto não é para ser discutido, mas recebido pela fé. Se entre os homens o juramento põe fim à discussão sobre qualquer demanda, muito mais temos razão para entender que o juramento que Deus fez quando fez a promessa a Abraão, põe um ponto final logo de início em toda a discussão possível se a salvação é pela graça ou pelas obras, porque se é pela promessa, é evidente que é por pura graça.
E também que é segura, porque Deus jurou que a daria aos que estivessem ligados pela fé a Cristo. O próprio Deus então é quem assegura esta salvação e não os nossos méritos e capacidade (Rom 9.8; Gál 3.18).
Foi exatamente para mostrar aos herdeiros da promessa da salvação que eles seriam realmente salvos em Cristo, e que deveriam descansar quanto a esta verdade, Deus, para mostrar a imutabilidade deste Seu propósito se interpôs com um juramento.
Se Deus jurou fazer é porque Ele de fato não voltará atrás no propósito sobre o qual jurou, em nenhum tempo. Então não serão as perplexidades, as fraquezas, as tristezas, os sofrimentos e tudo o mais que os cristãos possam sofrer em sua caminhada terrena, que poderá lhes tirar esta salvação que foi prometida por juramento e que eles alcançaram pela fé em Jesus.
Ao contrário, todas estas adversidades confirmam a certeza absoluta desta esperança, porque é justamente por meio delas que os crentes são confirmados em toda boa palavra e obra, e têm sua fé refinada.
A firmeza deste propósito divino foi evidenciada por duas coisas imutáveis, a saber: a promessa (primeira coisa) e o juramento que Ele fez (segunda coisa). A promessa já seria suficiente, mas foi reforçada com um juramento para que não houvesse nenhuma dúvida quanto à segurança de recebermos e mantermos para sempre aquilo que Deus nos prometeu, a saber, sermos herdeiros juntamente com Cristo.
O autor de Hebreus afirma que na condição de eleitos, que já haviam corrido para o refúgio que nos livra da condenação vindoura, que é Cristo, tenhamos um forte alento (consolo) em face de todas as perseguições e oposições que possamos sofrer neste mundo, ou em face de todas as nossas próprias fraquezas, porque é impossível que Deus minta quanto ao que prometeu e nem quanto ao que jurou.
Deus nos propôs esta salvação por pura graça, por promessa, e pela fé os cristãos lançaram mão dela, isto é, se apropriaram da promessa e da graça que lhes foi oferecida em Cristo pela esperança de serem santos assim como Ele é santo, e de serem co-herdeiros com Ele no céu.
E a natureza desta firmeza é comparada a uma âncora, que nos segura firmemente. E a segurança e firmeza não são propriamente nossas, nem da nossa fé, mas desta âncora que é a promessa e o juramento feito por Deus. É nisto que somos ancorados. É isto que nos garante o céu, porque esta promessa e juramento penetraram o véu não propriamente por nossos esforços, mas juntamente com Cristo, que é o Sumo Sacerdote da nossa fé, que entrou no Santo dos Santos para fazer uma eterna propiciação pelos nossos pecados com o Seu próprio sangue.
Então a promessa e o juramento estão ancorados no sacerdócio e no sacrifício de Jesus e não em nós mesmos, de maneira que não vacilemos ou duvidemos do seu cumprimento, porque não estão firmadas em nós que estamos rodeados de muitas fraquezas, mas no próprio Cristo que não tem qualquer fraqueza, antes é Todo Poderoso.
E os cristãos podem também penetrar além do véu porque Jesus, o precursor deles está lá intercedendo por eles. E quanto à certeza da esperança da salvação é dito em Hebreus 6.19 (“a qual” = esperança proposta) que ela é como uma âncora firme e segura da alma, porque entra até o interior do véu, onde Jesus penetrou como precursor. A esperança proposta referida pelo autor de Hebreus nada tem a ver com a noção comum de esperança que está relacionada a algo duvidoso, incerto, que flutua na expectativa do que será ou não o futuro, pois a esperança referida no texto conforme se verifica no contexto da epístola, tem a ver com confiança e não com incerteza.
Embora possam ser incluídas tais expectativas de todos os tipos na noção geral de esperança, contudo elas são totalmente excluídas da natureza daquela graça da esperança que é recomendada a nós na Bíblia.
Porque uma confiança firme em Deus para o desfrutar das coisas boas contidas nas Suas promessas, à época designada, eleva na alma um desejo sincero por elas e pela expectativa delas, com uma grande alegria por saber que são coisas prometidas, mas que são certas e seguras porque têm sido garantidas e prometidas não pelo homem, mas pelo próprio Deus, e com a confirmação de um juramento dEle.
A esperança é uma das graças da fé evangélica, que é infundida em nossos corações pelo Espírito Santo, e esta graça é tanto maior quanto mais crescemos na perseverança e na experiência da bondade de Deus para conosco em Cristo Jesus, como se vê em Romanos 5.4,5.
É dito que esta esperança é âncora da alma porque isto insinua que nossas almas estarão muitas vezes expostas às tempestades, e tensão de perigos espirituais, perseguições, aflições, tentações, temores, pecados e morte, que batem frequentemente nelas, e então necessitamos de uma âncora que nos mantenha firmes em nossa posição a par de todas estas tempestades que sobrevêm sobre nós.
Por causa da violência destas tempestades há graus nelas que são mais urgentes do que outros, e assim elas tendem na própria natureza delas a trazer ruína e destruição. E esta âncora (a esperança proposta baseada no juramento de Deus em nos salvar para sempre) é o segredo da segurança das almas dos cristãos.
E se é esta âncora que nos segura firmemente, e se esta âncora não somos propriamente nós mesmos, devemos abandonar por completo a ideia de que somos os próprios agentes da firmeza e segurança da nossa salvação, senão a promessa de Deus que se cumpre em Cristo Jesus.
Esta âncora não está fixada no fundo do mar, mas no céu, onde Jesus penetrou como precursor. Ela penetrou além do véu, e o que é este véu? É o que fazia separação entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos. E o que estava além do véu era o Santo dos Santos no qual somente era admitida a presença do sumo sacerdote para fazer expiação por toda a nação de Israel, uma vez por ano.
Então isto indicava que este trabalho de expiação, não por mais um ano, mas por toda a eternidade deveria ser feito por um Sumo Sacerdote celestial, porque o trabalho dEle seria feito não no tabernáculo terreno, mas no celestial. E como se diz que Jesus foi feito sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque (v. 20), então isto pressupõe que a nossa salvação é também eterna, assim como o sacerdócio dEle é eterno.
É portanto uma salvação para durar para sempre, e quando isto começa a acontecer? No momento mesmo em que somos justificados e regenerados pela fé em Jesus, no dia da nossa conversão, porque se diz que passamos desde então a ter uma firme e segura esperança, porque ela está ancorada no céu na pessoa do Sumo Sacerdote que garante a eternidade da nossa salvação.
E o que está dentro deste véu? Não uma arca com tábuas de pedra, nem querubins entalhados em madeira e ouro, mas o próprio Deus em Seu trono de graça e o Senhor Jesus Cristo à Sua destra em Seu trono, como Sumo Sacerdote da igreja. É aqui que reside a segurança da esperança da alma que é firme em todas as tempestades que possam nos sobrevir.
A esperança dos cristãos não está firmada nas coisas abaláveis da Antiga Aliança e que se encontravam no tabernáculo terreno, e que sendo apenas figura das coisas celestiais estavam prestes a desaparecer, como de fato desapareceram. Todas aquelas coisas desapareceram porque agora podemos nos aproximar diretamente do Pai e do Filho no tabernáculo celestial, sem a necessidade de cumprir as prescrições de uma ordem de culto terreno que havia na Antiga Aliança.
E se Cristo não tivesse penetrado o céu depois de ter morrido e ressuscitado por nós, não haveria nenhum trono de graça e misericórdia no céu, porque isto não poderia ser dado aos pecadores sem uma obra de expiação do pecado. O nome Jesus significa Salvador porque Ele foi dado para salvar o Seu povo dos pecados deles. E Jesus salva os eleitos do poder do pecado, de Satanás, da morte e da condenação da lei.
Como Jesus entrou no céu como nosso precursor, então é nosso dever seguir os Seus passos quanto ao modo como Ele lá entrou, pois, no seu caso, esta entrada foi antecedida pela santidade e pela cruz, e estas duas partes essenciais do modo com que nosso precursor entrou na glória também se aplicam a nós.
“ Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.” – Hebreus 6:17-20