“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14.27).
Em primeiro lugar, Jesus promete a bênção da paz àqueles que passaram pela guerra com o pecado e com a tentação.
O soldado que nunca viu um campo de batalha não pode apreciar realmente o que significa a paz. O homem que nunca colocou toda a armadura de Deus, e lutou com o mundo e, a carne o diabo, não pode entender o que significa a paz de Deus. A justiça própria, o homem satisfeito consigo mesmo, que agradece a Deus por não ser como as demais pessoas, não pode perceber a luta terrível contra a tentação, e não pode dizer com o apóstolo: “Eu combati o bom combate”, ou apreciar a promessa do Salvador, “a minha paz vos dou.” A ovelha errante que se extraviou muito e que vagou sobre as montanhas escuras entende mais plenamente o terno amor do pastor, a sua paz abençoada para o rebanho.
O filho pródigo que esteve no país distante entre estranhos, que teve fome entre as bolotas, poderia lhe dizer melhor quão preciosa é a paz e a segurança da casa de seu pai.
Muitos filhos têm saído de casa e ido para o mar, ou qualquer outra parte do mundo sozinhos, e quando eles têm percebido as dificuldades e a miséria de sua sorte, têm olhado para trás com tristeza e saudade do passado, e suspiram pela voz de seu pai e pelo terno amor de sua mãe, e confessam: “Eu desejo que eu estivesse em casa novamente.”
Bem, foi para fracos pecadores, não para hipócritas fariseus que nosso Senhor deu a Sua promessa de paz. Ele falou aos seus discípulos, para homens como Pedro, que na hora da prova por três vezes negou o seu Senhor, para Tomé, que duvidou da ressurreição de seu Mestre, para os homens que no momento de perigo extremo o abandonaram e fugiram. Se há alguém aqui que pensa que está entre as noventa e nove ovelhas que não necessitam de arrependimento, que tem se envolvido em justiça própria, como numa capa, que condena o cisco no olho de seus irmãos, mas que está inconsciente da viga em seu próprio olho, então este sermão não é para eles. A promessa de paz do Senhor paz não é para eles. Como eles nunca têm percebido seu pecado, e nunca lutaram contra ele, eles não podem dizer graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, assim como eles nunca conheceram a guerra, eles não podem valorizar a paz.
Eu falo para aqueles que conhecem a sua pecaminosidade, que sentem que erraram e se desviaram como a ovelha perdida, que têm estado no país distante com o filho pródigo, que o inimigo tem empurrado duramente para que eles possam cair, que conheceram o que é lutar de joelhos com os demônios da bebida, da luxúria, os quais irados lutaram contra eles. Eu falo àqueles que têm deixado os seus próprios vícios, e estão se purificando, e lutando contra a tentação; aqueles que foram capazes de resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permaneceram firmes. Para vocês, meus irmãos, muitas vezes provados e tentados, trago a bendita promessa do Mestre, “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou.”
E notem, em seguida, que essa paz prometida é diferente de todas as demais. É dom de Deus. “A minha paz vos dou”, “A paz de Deus que excede todo o entendimento guardará os vossos corações e mentes por meio de Cristo Jesus.”, “O fruto do Espírito é paz.” Você vê, então, que esta paz não é de fabricação terrena. Jesus diz: “Não como o mundo a dá, eu vô-la dou.”
O mundo tem um tipo de paz que ele pode dar, mas não é verdadeira e genuína. Ele pode dar a um homem grande riqueza, que pode ensiná-lo a dizer à sua alma que ele tem em depósito muitos bens para muitos anos, que não tem nada para fazer, senão comer e beber e desfrutar de si mesmo; e o mundo chama isso de paz. Mas uma noite a mensagem vem ao homem rico: “Louco, esta noite tua alma será exigida de ti.” E ele nunca tinha pensado em sua alma, ou na morte, e no juízo que virá depois. Qual é o uso de milhões em ouro e em prata para um homem que não tem Deus? De que serve seus hectares de terra para aquele cujo corpo em breve deve estar sob seis pés de terra, e que nada pode levar consigo quando morrer? De que uso são todos os confortos e luxos concedidos sobre um corpo que deve em breve ser pó, enquanto a alma sempre vivente foi esquecida? Tal pessoa pode ter riquezas, poder, conforto por um tempo, mas ela não tem paz.
O mundo pode dar a um homem prazer e auto-indulgência. Sussurra: coma, beba e seja feliz. Ele manda um homem se afogar na bebida forte, esquecer problemas em excitamentos e dissipação. E ele esquece por um tempo, mas ele não encontra a paz. E ele fica acordado em cima de sua cama, em longas vigílias na calada da noite, relembrando o seu passado, com fantasmas, vindo à sua volta, e matando o seu sono. Seus pensamentos o incomodam. Ele pensa: se eu morresse hoje à noite, o que seria de mim? Eu acredito que tenho uma alma, embora eu tenha pensado apenas no meu corpo; se eu morresse agora, a minha alma iria para fora, para o invisível, como um navio à meia-noite na escuridão. Esse homem não tem paz. Como ele se aproxima do fim da vida, como as sombras escurecem sobre ele, o mundo e a amizade do mundo lhes são menos caras agora, o bêbado, o copo, o jogador de cartas, não são para aquelas mãos trêmulas e fracas agora, ele quer a paz, algo que o mundo não pode dar.
O mundo pode dar a um homem um longo período de diversões, prazer frívolo, mas não pode lhe dar paz, senão o esqueleto terrível que se senta na mais brilhante festa. O mundo pode dar a Belsazar seu vinho e concubinas, mas não pode esconder a terrível caligrafia na parede. Para tantas pessoas que vivem de modo mundano, egoísta, a vida sem Deus parece ser uma sentença fantasmagórica na parede do salão de banquetes ou de baile; há um coração partido sob a veste do dançarino, não há paz.
O mundo pode, e muitas vezes o faz, dar opiáceos a seus seguidores na forma de dúvida e descrença. Ele zomba da Bíblia, ele zomba no ensino da Igreja de Deus, ele diz às pessoas que, se elas quiserem ser felizes elas não devem crer nestas histórias da carochinha, nestas desgastadas superstições de uma época passada. Ele manda os homens aproveitarem a vida e não se preocuparem com o futuro. Mas tal ensinamento não pode dar a paz. Há momentos em que o mais descuidado e incrédulo é obrigado a ser sério e pensar. Ele é colocado face a face com o grande mistério da morte, e os outros mistérios de julgamento e a eternidade entram em seus pensamentos, e ele é forçado a responder se a Igreja e a Bíblia estiverem certas depois de tudo, e eu estiver errado? Tal pessoa não conhece a paz.
Não, o mundo pode ser capaz de dar riqueza, ou prazer sensual, ou dissipação, ou esquecimento de problemas, mas não pode dar a paz. Jesus Cristo pode nos dar a paz de Deus que excede todo o entendimento.
Qual é então essa paz? Por um lado, não é a confiança ociosa daqueles que puseram de lado as suas armaduras e deixaram suas armas espirituais ficarem enferrujadas.
Muitas pessoas que falam sobre ter encontrado a paz perfeita, estão apenas dormindo, e falando em seu sono. Quando um homem lhe diz que ele está morto para o mundo, que ele não tem medo de qualquer tentação, que ele é muito seguro, ele é simplesmente igual a um homem sob a influência do clorofórmio, o diabo o pôs para dormir, se ele fala aquilo que não sabe do que está falando. Se você vir um homem dormindo em um paiol de pólvora com uma vela acesa ao seu lado, você não dirá que ele tenha encontrado a paz. Você não diz que aquele que encontrou a paz, passeia em seu sono, e caminha para um precipício. Não, apenas dos que estão mantendo sua vigilância, e estão lutando com os inimigos da alma, pode ser dito deles que têm encontrado a paz. Davi teve a paz de Deus em seu coração, mas ele teve que lutar muito para isto. Foi quando ele colocou a espada na bainha, e se retirou da guerra, que ele caiu em pecado grave. Assim, sucede conosco. Há inimigos piores do que amalequitas e filisteus ao nosso redor, e se tivermos a paz de Deus em nossos corações não teremos que assinar nenhum tratado de paz com eles. A vida de cada verdadeiro cristão é uma vida de oração, de vigilância, para que não entre em tentação. Uma vida de luta contra o mal dentro dele e fora dele, e é justamente quando ele é mais ativo na oração, na observação, na luta, que ele desfruta a paz mais perfeita em seu coração.
E a paz de Deus, que Jesus nos dá nos faz enfrentar perfeitamente todas as circunstâncias. O mais corajoso dos homens verdadeiramente corajosos é aquele que tem perfeita confiança em Deus e, portanto, não teme o que o homem possa lhe fazer.
Aquele que tem a paz de Deus em seu coração, tem perfeita confiança em Deus, ele se coloca todos os dias nas mãos do Senhor, e sabe que tudo vai ser encaminhado para o melhor. Ele tenta fazer o seu dever e o trabalho que Deus lhe deu para fazer, mas ele não tenta alterar o curso do mundo agindo como se fosse a sua palmatória.
Ele tem fé perfeita que Deus pode e vai cuidar do mundo a seu modo, e do seu próprio povo. Nada está errado com aquele cuja mente está firme em Deus, e que tem portanto, perfeita paz. Se as riquezas aumentarem ele não terá o seu coração sobre elas, mas dará graças a Deus por enviá-las, e pede para lhe ser mostrada a melhor forma de empregá-las.
Se ele é pobre, ele agradece a Deus pelas coisas que ele tem, e lembra que seu Mestre se fez pobre para enriquecê-lo com o tesouro do céu. Se grandes problemas vêm sobre ele, ele não tenta carregá-los sozinho, ele os compartilha com Deus, ele lança seu fardo sobre o Senhor, sabendo que Ele cuidará de tudo para ele. Se alguém querido está ferido com a doença, ele ora fervorosamente a Deus por ele, e não se sente como um homem sem esperança.
Se o amado é levado ele sente que está tudo bem com ele, e pode dizer que deve ir para estar com ele na glória. Se a dor e a doença vierem a ele, sabe que são, senão os espinhos da coroa do Mestre, enviados para lhe ensinar a ter mais fé e paciência. Se a morte vem para ele a paz não fica perturbada, ele sabe que o Senhor é o seu Pastor, e o levará através do vale da sombra, e morre com a feliz segurança em seus lábios: Eu creio na ressurreição dos mortos, e na vida do mundo vindouro.
Muitos de vocês, queridos irmãos, estão preocupados sobre muitas coisas. Eu vejo rostos ansiosos nesta congregação, como eu vejo em muitas outras. Eu quero que você entenda que a paz que Jesus dá tira toda dúvida e ansiedade. “O perfeito amor lança fora o medo.”
Se você ama o Senhor Jesus Cristo com sinceridade Ele lhe dará essa paz, e não há mais motivo para medo. Alguns de vocês, talvez, estejam enviando o seu filho para ganhar a vida lá fora no mundo, e você está preocupado com o futuro do seu filho. Você quer saber se ele vai ser forte o suficiente para resistir à tentação, para evitar o mal, que certamente irão assaltá-lo depois que ele voar do ninho de sua casa. Alguns de vocês, talvez, estejam pensando num doente em casa, deitado em seu leito, e vocês duvidam e tremem pelo futuro. Apenas confie em Deus. Coloque o seu problema na mão do Senhor. Ore duro e confie fortemente. Você diz, talvez eu gostaria de ter esta paz de Deus da qual você me fala. Então peça a Ele. Ninguém nunca pediu uma coisa boa a Deus, que ele não tivesse recebido. Se você quiser a paz, peça por ela, e você a terá. Creia na palavra do Senhor Jesus, “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14.27).
Tradução e adaptação de um sermão em domínio publico de Harry John Wilmot – Buxton