“Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti.“ (Isaías 26.3)
“Paz! Paz perfeita! Neste mundo de trevas do pecado?
O sangue de Jesus sussurra paz interior.”
Paz, sim, paz perfeita! Aquela na qual o céu repousa! Paz brilhando com uma luz celestial, mesmo na meia-noite deste mundo de cuidados. Nós não podemos apreciar a verdadeira paz enquanto o pecado permanece sobre a consciência.
Tanto quanto o oceano pode ficar calmo enquanto uma tempestade se enfurece, ou o pássaro do mar repousam sobre a onda quando a tempestade está misturando terra e céu! Quanto mais a consciência for iluminada, mais certamente ela irá impedir a paz enquanto o pecado remanescer, porque o seu veredicto honesto é que o pecado merece a ira de Deus e deve ser punido.
Cada compreensão correta consente com a justiça daquela dispensação pela qual “toda transgressão e desobediência receberam a justa retribuição.” Para mim, quando convencido do pecado, parecia que Deus não poderia ser Deus se Ele não me punisse por meus pecados.
Decorre dessa convicção profunda, a grande Verdade do Evangelho: “O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado”, e tornou-se uma mensagem celestial, mais doce do que a música de harpas dos anjos! Então eu vi, com surpresa feliz, que Deus em Cristo Jesus é justo e justificador daquele que crê. Para mim, a gloriosa doutrina da substituição era um oásis no deserto e ainda é assim.
Eu creio nisto com toda a minha alma. Um homem honesto, se ele está em dívida, sempre vai estar em apuros até que o débito seja removido. Mas quando a dívida for paga, ele pula em liberdade e alegria! Quando eu soube que a minha enorme dívida de pecado foi totalmente liquidada pelo Senhor Jesus Cristo, que fez isso para todos os crentes, então o meu coração ficou em paz! Quanto eu desejo que todos vocês possam se juntar a mim e cantar com ênfase:
“Paz perfeita paz! Neste mundo de trevas do pecado?
O sangue de Jesus sussurra paz interior!”
Fazer a vontade de Jesus é descansar “Esta paz é uma possessão presente e pode ser apreciada nas condições comuns da vida. Todo aquele que mantém a casa, cada dona de casa ocupada, todo homem que está muito ocupado com o seu negócio, precisa desse verso: “Paz perfeita”.
Quando estamos em dificuldades, podemos ter a certeza de que o nosso dever não se encontra na região do absolutamente impossível –
“Quando os obstáculos e provações parecem
Como muros de prisão,
Eu faço o pouco que posso fazer,
E deixo o resto para Ti. “
Deus entra com a Sua Graça, onde o impossível nos exclui. Há duas coisas com as quais nunca precisamos nos preocupar: o que podemos fazer e o que não podemos fazer. O que permanece? O verso seguinte do hino é muito doce:
“Paz, paz perfeita! Com dores surgindo ao redor?
No seio de Jesus nada além de calma é encontrado.”
Oh, essas dores! Dores de doença em nós mesmos e em outros. Lutos, perdas e cruzes na vida cotidiana. Incapacidade para socorrer e depressões de espírito. Estes dois últimos são, por vezes, os piores de tudo, porque, então, a tristeza vai direto para o coração e se torna tristeza, de fato! Todas as águas do oceano são como nada para o navio enquanto elas são mantidas do lado de fora, mas quando entram na cabine de comando do coração e começam a encher o porão do coração, então estamos em perigo –
“Paz, paz perfeita, com dores afluindo ao redor.”
Isto é o dedo de Deus. Não está em conformidade com a natureza de um homem ser tanto feliz quando ele está na adversidade ou na prosperidade. Mesmo quando o “triste” se torna “sempre alegre” é um paradoxo experimentado somente por aquele que conhece o que se diz na próxima linha do hino:
“No seio de Jesus nada além de calma é encontrado.”
Posição maravilhosa! Às vezes eu tenho notado pintinhos aninhados sob as asas de sua mãe, empurrando as suas cabecinhas sob as suas penas, achando-se aquecidos e aconchegados, que parecem não saber quão frio estava o grande mundo lá fora! Assim, lemos: “Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo.”, Sl 91.4.
Nós vimos a Jesus e encontramos abrigo e segurança nEle, assim como os pintinhos sob as asas de sua mãe. É assim com cada um de vocês? A salvação deve lhe dar consolação no presente, e fará isso, se você agir de acordo com sua posição e privilégio. Conte a sua tristeza para Jesus! Deixe sua tristeza com Jesus! Suporte a sua tristeza por ele. Suporte a sua tristeza com ele e então veja que paz, que paz perfeita, você poderá desfrutar, mesmo “com dores afluindo ao redor!”
O verso seguinte irá atender àqueles que estão, por um tempo, a milhares de quilômetros de casa –
“Paz! Paz perfeita! Com entes queridos longe?
Em Jesus somos guardados seguros, e eles também.”
Sim, a esposa querida está em casa. Nós não sabemos como as coisas estão indo lá com as crianças, e os servos, e toda a sorte de coisas que são deixadas como encargo para os entes queridos em casa.
Deixamos nosso amado com o nosso Deus e encomendamos nossos familiares distantes ao cuidado de Deus, que está presente em todos os lugares. Um filho errante, uma filha rebelde – deixemo-los todos com Jesus.
“Em Jesus somos guardados seguros, e eles também!” Está tudo bem com eles. Nós não podemos vê-los, mas eles estão sob os olhos de Jesus. Eles estão tão seguros como nós estamos.
Vejamos o próximo verso:
“Paz! Paz perfeita! Nosso futuro nos é desconhecido?
Conhecemos Jesus e Ele está no trono.”
Esse é o fim de todas as dúvidas sobre o futuro: “Ele está no trono.” Sua mão está no leme para conduzir o navio. Ele está no lugar do governo soberano – nada pode acontecer, a não ser que Ele ordene ou permita. Ah, queridos amigos! Alguns de nós precisamos nos lembrar de um verso como este! Fomos para casa certa ocasião, dois de nós, tão felizes quanto os pássaros podem ser, e dentro de poucos dias um tinha perdido sua esposa, e o outro um querido amigo, e depois outro.
Nós não tentamos olhar por esse telescópio que desvenda o futuro. Pode ser que as cenas escuras irão nos assustar, antes de alcançarmos a luz eterna. Nós não sabemos, e não precisamos desejar saber, o que o futuro nos reserva, mas esta grande e confortável Verdade de Deus encontra-se totalmente nisto –
“Conhecemos Jesus e Ele está no trono.”
Nós podemos muito bem deixar todas as coisas com o nosso Cabeça coroado! Acho que nenhum de nós gostaria de contraditá-lo, nem ter nada organizado de maneira diferente daquela que sua mente amorosa nomeia. Se Ele nos defendeu esta tarde, e disse a cada um de nós: “Meu filho, eu tenho arranjado o seu caminho em terno amor e sabedoria,” nenhum de nós desejaria que fosse de outra forma.
Se Ele nos disse: “Eu tenho designado assim e assim”, diríamos a ele, como José disse a Jacó: “Não é assim, meu Pai”, e desejaríamos que Ele descruzasse as mãos com as quais ele nos orienta tão sabiamente? Não pediríamos a bênção da mão trocada, assim como Jacó fez com Efraim e Manasses, filhos de José? Deixe o Rei ser rei, e fazer o que parece bom para ele! Que possamos não apenas dizer isso, mas nos levantarmos para isto na hora da provação –
“Paz! Paz perfeita! A morte nos assombra e aos nossos?
Jesus venceu a morte e todos os seus poderes.”
A morte é o último inimigo a ser destruído. Ela não pode tocar um filho de Deus! Apenas sua sombra pode cair sobre nós. Quão pequena coisa é esta sombra de uma espada que não pode matar, a sombra de um cão que não pode morder, a sombra de um leão que não pode rasgar e a sombra da morte que não pode destruir!
“A morte nos assombra e aos nossos.” Bem, nós não somos bebês tolos que podem ter medo de sombra, porque –
“Jesus venceu a morte e todos os seus poderes.”
Ele fez isso por meio de sua própria morte e ressurreição! A ressurreição transforma a morte em outra coisa bem diferente do que era antes. A morte costumava ser como uma caverna escura nas montanhas. Era uma horrível, caverna que tudo devorava, mas Jesus, ao passar por ela, transformou a caverna em um túnel! Jesus entrou no lado sombrio, mas ele não permaneceu no coração da terra – Ele reapareceu no outro lado. De modo que, a morte é agora senão o caminho para o céu e a imortalidade!
Vejamos o último verso:
“Isto é suficiente! Lutas terrenas em breve cessarão.
E Jesus nos chama à paz perfeita do céu.”
Caros amigos, é muito importante que nós, como povo cristão, não devamos apenas falar sobre essa paz e crer nela, mas que devemos apreciá-la e exibi-la! Acredito que para alguns de vocês, a melhor maneira em que podem honrar a Deus e ganhar outros para Cristo é, exibindo um tranquilo e alegre estado de espírito, especialmente na doença.
Nada é tão convincente para pessoas ímpias como ver cristãos muito calmos em tempos de perigo, muito resignados na hora da aflição, muito pacientes sob provocação, e considerando todas as coisas como provindas da mão de Deus! Embora tenhamos confortos terrenos, aprendemos a ver Deus em todos eles. E quando eles são retirados, nós os vemos todos em Deus. Mas os ímpios não têm essa maravilhosa sensação de plena posse de todas as coisas, que é a alegria peculiar dos herdeiros da salvação!
Você e eu somos como Jacó. O Senhor lhe disse: “A terra em que você se encontra, eu darei a você.” Você só tem que descansar em cima de uma promessa e você pode reclamá-la para si mesmo, ela é sua pela Carta Magna da fé! Vá à Bíblia e cada promessa que você encontrar lá dirigida a um filho de Deus, aproprie-se dela e assim se tornará sua – e assim será! Lembre-se de como o Senhor falou a Abraão: “Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente, porque toda a terra que vês, darei a ti”.
Vamos crer que Deus nos deu todas as coisas, ao nos dar o Seu Filho –
“Este mundo é nosso, e o mundo vindouro, a Terra é a nossa pousada, e o Céu o nosso lar.”
Devemos obter esta paz perfeita da qual estamos agora falando. Eu admiro em alguns dos santos o seu domínio próprio e sua grande serenidade de espírito. Isto não é tudo, mas é algo muito grande.
Isto é tanto mais necessário agora porque o mundo está com tanta pressa. É necessário para nós quando estamos fracos e sofrendo, e quando estamos rodeados por preocupações e tristezas. No entanto, é também valioso quando somos fortes e jovens e seduzidos por confortos.
Oh, que o mundo possa ver que temos uma paz que não pode ser tirada de nós pela força ou pela fraude! Eu não gosto muito daquele dito de Addison, “Vem cá, meu jovem, e veja como um cristão pode morrer.” Isto parece muito teatral. Mas eu gostaria que fosse assim conosco para que os homens possam se voltar para ver como um cristão pode viver! Oh Senhor e Doador da paz, conceda-nos a Sua paz e graça para guardar isto até o fim!
Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.