Por Prof. Josias dos Santos Batista Júnior
Mestre em Teologia, com área de concentração em Teologia Sistemática, pela FTBSP (Faculdade Teológica Batista de São Paulo) e Bacharel em Teologia pela FAESP (Faculdade Evangélica de São Paulo). E-mail: [email protected]
Como enfrentar o desafio de ajudar o estudante a pensar com criticidade, a explicitar uma argumentação de maneira lógica, precisa e convincente? O autor de Senso Crítico optou pelo procedimento pedagógico mais eficaz: experimentar essa problemática com alunos.
A quem interessará o livro? A testagem da obra em cursos para estudantes de nível universitário recomenda-a para utilização em outras condições de aprendizagem: em cursos de 2º. Grau, em programas intensivos de formação ou de reciclagem de professores de 1º. e 2º. Graus (cursos de extensão ou de especialização) ou de bacharelado, nas diversas habilitações na área de ciências humanas.
“Em questões de ciência, a autoridade de mil pessoas não tem o mesmo valor que o raciocínio humilde de um só indivíduo” (Galileo)
Enquanto o leigo procura “quebrar o galho” intelectualmente, resolver ou eliminar o problema na hora sem voltar a ele, o cientista social com senso crítico tem interesse em construir sistemas explicativos amplos que possam lidar com um número muito grande de fenômenos.
Um indivíduo que possui a capacidade de analisar e discutir problemas inteligente e racionalmente, sem aceitar, de forma automática, suas próprias opiniões ou opiniões alheias, é um indivíduo dotado de senso crítico. O senso crítico refere-se a habilidades já desenvolvidas (e não apenas potenciais), presumivelmente através de leitura, reflexão e da própria prática.
Considera-se brevemente a questão da curiosidade intelectual. Curiosidade intelectual envolve um estilo de abordar problemas na vida diária e na vida profissional. O pensador crítico questiona e analisa as coisas não porque alguém exige que ele o faça, mas porque, no fundo, ele tem um desejo de compreender, um interesse em descobrir, por si mesmo, as respostas à interrogações nascidas do contato com as pessoas e coisas… A curiosidade assume caráter definidamente intelectual quando, um alvo distante controla uma sequência de investigações e observações, ligando-as uma à outra como meios para um fim.
A leitura crítica exige que se reflita, por exemplo, sobre como os jornais apresentam informações, possivelmente demonstrando tendenciosidade e favorecendo certas posições.
Muitas vezes, no dia-a-dia, respondemos a perguntas sem esclarecer nada… o simples fato de termos uma opinião, por mais firme que seja, não deve levar-nos a aceitá-la como se fosse um fato evidente.
Portanto, o sucesso da formação do aluno como cientista social dependerá, em grande parte, do grau em que ele desenvolva uma nova forma de pensar e apresentar suas idéias.
1. ARGUMENTAÇÃO – Quando uma pessoa apresenta e defende idéias diante de outros ela está fazendo argumentação.
2. A PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO – O significado depende da função social que a afirmativa serve no momento.
3. A ARGUMENTAÇÃO PSICOLÓGICA – Com duas características: Comprometimento forte e Emocionalidade. Para o falante, as conclusões não são o resultado de uma avaliação das evidências, por mais que se insista que o sejam, mas, sim, o próprio ponto de partida do argumento.
4. CRIAÇÃO E DEFESA DE IDÉIAS – Para persuadir o outro, necessita-se de argumentos e temas aos quais o outro é sensível.
5. DIFERENÇAS ENTRE LEIGOS E CIENTISTAS – Sugerimos que uma característica essencial do cientista bem preparado é seu senso crítico. Além de adquirir conhecimentos na sua área de especialização, a pessoa com senso crítico levanta dúvidas sobre aquilo em que se comumente acredita, explora rigorosamente alternativas através da reflexão e avaliação de evidências, com a curiosidade de quem nunca se contenta com o seu estado atual de conhecimento. Assim, ela tende a ser produtora ao invés de apenas consumidora do conhecimento, não podendo aceitar passivamente a idéia dos outros. Enquanto um cientista procura conhecimento que servirá para uma gama de situações e condições diferentes, o leigo, frequentemente, busca explicações para eliminar dúvidas na hora, para “quebrar o galho”. Com isto, os dados serão interpretados sempre obedecendo a duas qualificações importantes: a) Fundamentação – O autor precisa justificar suas conclusões, indicando os pressupostos dos quais ele partiu; b) Pluralismo – O autor deve avaliar e apresentar outros pontos de vista de uma maneira não parcial, mesmo se não os aceitar.
6. AS DUAS MENTES – Deve-se tomar cuidado com a timidez intelectual. O pensador crítico precisa, além de clareza e rigor no seu pensamento, da coragem de adotar uma perspectiva ampla dos problemas que ele está estudando. Ser cientista e, portanto, pensador crítico envolve manter em equilíbrio duas mentes – uma para análise e reflexão e outra, uma mente criadora. Saber trabalhar como cientista envolve o discernimento de saber quando uma ou outra mente é apropriada à situação.
Uma falácia é um erro de raciocínio que contamina a argumentação, tornando-a sem fundamento apropriado. O reconhecimento de quando se está distorcendo os fatos ou a análise através do uso de falácias é uma das características de um pensador crítico. Alguns tipos de falácias são: a) Tendenciosidade; b) A Sugestão; c) Sugestão e Socialização; d) Conscientização e Influência Social; e) Falácias Lógicas (O erro do apelo à autoridade consiste em aceitar como verdadeira uma idéia porque uma autoridade ou especialista renomado a defende) .
O indivíduo com conhecimento de lógica tem mais facilidade em organizar e apresentar suas idéias. A lógica facilita a análise das idéias apresentadas por outros.
Por uma questão de simplicidade e tradição desde Aristóteles, muitos filósofos da lógica preferem utilizar um argumento padrão com duas premissas e uma conclusão: o silogismo.
Naturalmente, o indivíduo com senso crítico muito aprimorado encontrará mais erros ou razões para dúvida em argumentos do aquele que não tende a refletir sobre suas próprias comunicações e as dos outros.
A lógica nos permite organizar nossas idéias e ver com maior clareza se podemos chegar às conclusões às quais acreditamos poder chegar, a partir de nossas idéias. O pensador crítico exige a coerência que a lógica fornece mas reconhece seus limites. Para pensar criticamente, é necessário ser perspicaz, enxergar além da superfície, questionar onde não há perguntas já formuladas e ver facetas que outros não estão considerando. Pressupostos semânticos são idéias não expressas explicitamente mas, de alguma forma, contidas no próprio significado das palavras. Idéias subentendidas de comunicações referem-se àquelas não faladas explicitamente que, por uma questão de costumes sobre o uso linguagem, fazem parte íntegra das afirmativas em questão. Premissas subjacentes são idéias necessárias para compreendermos adequadamente o significado das comunicações e cuja descoberta exige uma análise daquilo em que o autor baseou seu raciocínio.
Mesmo que não se possa determinar definitivamente a solução do problema, parece-nos razoável supor que uma posição mais refletida seria mais promissora do que uma posição não questionada.
Uma grande parte das comunicações, seja nas Ciências ou não, baseia-se em idéias implícitas. A análise inteligente de artigos, relatórios e p
alestras exige, portanto, a descoberta do implícito para que nós possamos avaliá-lo.
Uma lógica é aberta na medida em que leva em consideração as múltiplas facetas dos fenômenos em estudo e é fechada na medida em que não considera aspectos importantes dos fenômenos. Portanto, os argumentos, além de serem sólidos no sentido normalmente dado, precisam ser abrangentes e inteligentemente formulados.
O mundo sem conceitos seria um mundo sem linguagem, sem comunicação e sem explicações dos fenômenos que nele ocorrem. Mas, se todos nós usamos conceitos em nossa comunicação diária, qual a vantagem de estudarmos os conceitos? Não é natural usar conceitos, como é natural respirar, comer ou dormir? São-nos oferecidas três respostas a essa observação:
1. O Realismo Ingênuo – O homem confia em seus sentidos. Ele acha que o que percebe através dos sentidos é a realidade. Ele imagina que o que vê é a realidade. Ele acha que não interpretou nada; ele viu. O realista ingênuo tende a tratar os assuntos cotidianos como se fossem questões de fato verificáveis através dos sentidos.
Perguntamos se o outro “está percebendo”, se “está vendo” nossas idéias. O realista ingênuo leva o indivíduo a encarar os conceitos como se fossem características reais dos objetos e eventos. Por isso, ele tende a ignorar a possibilidade de conceber os fenômenos de outras maneiras e a partir de outras perspectivas. Essa tendência restringe sua habilidade de analisar o mundo de modo flexível e inteligente.
2. Conceitos Simples e Abstratos – Na verdade, a solidez de nossas idéias depende dos conceitos que escolhemos para organizá-las. Os conceitos mais simples são aqueles tipicamente discutidos por filósofos e cientistas que querem evitar discussões complicadas. Muitos dos termos utilizados comumente nas ciências sociais referem-se a conceitos abstratos. Não possuem atributos criteriais, nem correspondem diretamente – isto é, de maneira óbvia – a objetos ou situações concretas. Lembramos que definições não são conceitos, mas apenas descrições rápidas deles. Conceitos simples podem ser adequadamente definidos por meio de verbetes num dicionário, enquanto os conceitos complexos apenas são vagamente descritos por meio de definições. As definições são úteis para eliminar dúvidas básicas sobre termos, quando o usuário tem pouca noção do seu significado.
O realismo ingênuo leva o indivíduo a acreditar que está em contato direto com a realidade e que seu conhecimento é dado pela experiência. Porém, o senso crítico exige o reconhecimento de que nossas idéias não são fatos. Ao apresentarmos nossas idéias como fatos, nós as colocamos acima de qualquer discussão. Fatos são respostas certas a questões de fato.
Algumas afirmativas, por mais razoáveis que pareçam, são expressões de valores ao invés de fatos. Fatos não são valores e valores não são fatos. Pode ser um fato que eu acredito que a democracia seja desejável, mas isto não implica em que a democracia seja desejável. Nem tudo que é defensável é fato.
Por mais que se tente justificar valores e sistemas éticos com base apenas em fatos, os fatos não são suficientes para justificar os valores. Os valores envolvem tomadas de posição sobre o que é bom, desejável, correto ou incorreto. Fatos não são valores e não nos deixam provar a validade de nossos juízos de valores, mas os fatos podem ter implicações para os valores.
Se não questionarmos nossas idéias e as dos outros, é bem provável que encontraremos dificuldade em saber quais são as opiniões mais válidas num debate sobre um assunto.
Não há procedimentos automáticos para descrever o uso do senso crítico em discussões profissionais. Quando a posição analisada distorce um assunto ou apenas aborda algumas facetas dele, o pensador crítico sente necessidade de recaracterizar as questões ou até levantar novas questões, ignoradas por outros. Essa estratégia permite que o indivíduo não trabalhe apenas dentro da lógica do problema como construído pelo outro.
O pensador crítico não é livre de valores e nem pretende ser. Ele pode ter convicções e assumir compromissos fortes. Mas a diferença entre ele e o pensador comum é que o primeiro atua para que sua visão não seja embaralhada pelos valores. Ele valoriza a coerência, a clareza de pensamento, a reflexão e a observação cuidadosa porque deseja compreender melhor a realidade social, sem o que a ação responsável é condenada ao fracasso.
“Uma filosofia é caracterizada mais pela formulação de seus problemas do que pela solução deles.” S. Langer. Philosophy in a New Key.
Existe também, para a pesquisa crítica, o positivismo lógico. O cerne do sistema positivista de suposições encontra-se numa teoria de significação denominada verificacionismo. Na área da inteligência humana, o positivista radical mantém que o significado do termo inteligência está nos próprios procedimentos utilizados para avaliar a mesma: isto é, que a inteligência é aquilo que os testes de inteligência medem.
“Decretar uma definição” de um fenômeno – que através do operacionalismo, quer através da recusa em levar em consideração outras possíveis definições do termo – é, no fundo, anticientífico na medida em que essa atividade ignora certos princípios importantes.
É comum, nas ciências humanas, o professor ser procurado por estudantes para orientação concernente a projetos cuja metodologia foi determinada sem que razões claras tivessem sido encontradas para justificar a realização da pesquisa. Quando confrontado para apresentar a justificativa do projeto, o aluno costuma oferecer uma explicação assim: “Quem sabe, talvez os resultados sejam interessantes; afinal, ninguém fez este estudo até hoje”. Quando o investigador inicia a pesquisa sem uma noção clara do porquê ele está abordando o problema de um modo determinado, quando não consegue explicar o contexto mais amplo do problema que está pesquisando, seus esforços são quase sempre em vão.
O problema maior que se apresenta a futuros pesquisadores é o de saber que os aspectos da problemática deveriam ser efetivamente estudados, ou, em suma, quais as questões reais numa dada área de conhecimento.
Aos que ainda preferem receber orientação sob a forma de regras, oferece-se as Três Regras de Mark Twain para a “Redação Clara”, que se aplicam muito bem a todas as fases de trabalho de pesquisa (inclusive na fase de redação final do relatório):
1. Revisar;
2. Revisar;
3. Revisar.
BIBLIOGRAFIA
CARRAHER, David William. SENSO CRÍTICO: Do Dia-a-Dia às Ciências Humanas. Thomson – Pioneira.
Por Prof. Josias dos Santos Batista Júnior
Extraído do site Bíblia Word Net