Não é preciso muito para concluir que a briga entre algumas religiões é pela escritura do céu. Especialmente entre as religiões cristãs, há uma concepção egocêntrica de que o céu pertence a um grupo de proprietários. Essa idéia seria cômica se não fosse trágica.
Cômica porque simboliza o cúmulo da prepotência de grupos que sem nenhum embaraço ou senso do ridículo assumem o lugar de Deus. Trágica porque os que se nutrem dessas crenças, proliferam o ódio entre os seres humanos feitos, todos e todas à imagem e semelhança de Deus, como diz as Escrituras, livro sagrado que os cristãos dizem seguir.
O ódio espalhado pelos donos do céu deixou e tem deixado um rastro de sangue em toda a história da humanidade. Pela grandeza que muitos que pagaram com a vida hoje é possível a liberdade de culto em tantos países do mundo. Noutros o sacrifício dos mártires foram soterrados pelo extremismo religioso.
No Brasil onde a conquista da liberdade de culto também foi assinada com sangue, basta a proposta de um evento ecumênico ou inter-religioso para se notar o vigor dos proprietários do céu. Eles ignoram a história dos mártires e com os egos inflados assumem o trono do Altíssimo; aquele cujo filho antes de sua morte avisou: “Na casa de meu pai há muitas moradas vou preparar-lhes lugar”.
Há uma piada contada entre metodistas: São Pedro estava mostrando as dependências do céu a um grupo eclético de religiosos. Ao passar por uma porta grande, São Pedro diz: “Por favor, muito silêncio, é que aí estão os metodistas e eles ainda pensam que são os únicos aqui”.
Em No mesmo Barco p. 22, o pastor metodista Helerson Bastos Rodrigues, resgata uma importante vertente do pensamento de John Wesley, fundador do movimento metodista, expresso em A Bíblia revela a missão do leigo, p. 79, um dos documentos orientadores da Igreja metodista do Brasil que diz: “Para Wesley, o essencial é ser convertido e, portanto estar devotado inteiramente a Deus. O resto, ainda que importante, é secundário. (…) O sectarismo não tem lugar no seio do Metodismo. Deus o levantou para a conversão de almas e não para fazer metodistas. Ao invés de perturbar às demais confissões, espalhando a cizânia ou arrebanhando-lhes membros, busca ajudá-las e alegra-se com o seu progresso. O metodismo é ecumênico por excelência, e por isso Deus o comissionou para aproximar os cristãos das diversas denominações uns com os outros, e todas entre si”. Por desconhecer o pensamento de seu fundador, não são poucos metodistas que se acham donos do céu.
O conceito de propriedade no contexto religioso é um perigo porque se nutre do equívoco sobre as diversas religiões, que em suma, carregam em suas entranhas o princípio de paz e amor entre as pessoas. Por outro lado, esse conceito tira de foco o objeto primário do “Deus” ao qual se deveria reverenciar e estabelece como centrais, elementos secundários tais como práticas religiosas dogmas e interpretações pessoais; sujeitas a toda sorte de preconceitos e ignorâncias, próprias do caráter humano.
O que deveria ser ultrajante para os donos do céu é que apesar do número crescente de seguidores entre as diversas religiões, haja ainda pessoas morrendo de fome, frio e guerras respaldas pelos donos do céu espalhados por esse mundo tenebroso.
Pela escritura do céu uns morrem, outros matam e muitos se calam…
Resta a pergunta: Qual a relevância de certas religiões para o mundo hoje?
(*) Maria Newnum é teóloga, pedagoga, mestre em teologia prática e vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá
Artigo extraído do site Maringa News