A necessidade e benefício da intercessão, considerada como um exercício de amor universal. Como todas as categorias de homens devem orar e interceder junto a Deus uns pelos outros. Como tal intercessão pacifica e reforma os corações daqueles que a utilizam. Que a intercessão é uma grande e necessária parte da devoção cristã, está muito evidente nas Escrituras.
Os primeiros seguidores de Cristo, parecem ter se suportado em amor, e mantido todas as suas relações e correspondência, através de orações mútuas.
Paulo, seja escrevendo para as igrejas, ou a pessoas em particular, mostra sua intercessão permanente por eles, que era o assunto constante de suas orações.
Assim, disse aos Filipenses: “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,” – Fp 1.3,4.
Aqui vemos, não somente uma contínua intercessão, mas executada com muita alegria, como também mostra que era um exercício de amor, no qual ele se regozijava altamente. Sua devoção teve também o mesmo cuidado por pessoas em particular; como aparece na seguinte passagem: “Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia.” – II Tim 1.3.
Quão santo e amigável foi isso, como digno de pessoas que foram elevadas acima do mundo, e relacionadas entre si, como novos membros de um reino do Céu!
Apóstolos e grandes santos não somente beneficiam e abençoam igrejas particulares e pessoas privadas, mas eles mesmos também recebem graças de Deus pelas orações dos outros. Assim diz Paulo aos Coríntios: “ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam dadas graças a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio de muitos.”, II Cor 1.11.
Esta foi a antiga amizade dos cristãos, unindo e cimentando os seus corações, não por considerações mundanas, ou humanas paixões, mas pela comunicação mútua de bênçãos espirituais, por orações e ações de graças a Deus.
Foi essa intercessão santa, que levantou os cristãos a tal estado de amor mútuo, que excedeu tudo o que havia sido elogiado e admirado na amizade humana. E quando o mesmo espírito de intercessão estiver mais uma vez no mundo, quando o cristianismo tiver o mesmo poder sobre os corações das pessoas, então isto que tinha sido antes, estará novamente na moda, e os cristãos serão novamente a maravilha do mundo, por causa daquele excelente amor que possuírem mutuamente.
Porque uma intercessão frequente a Deus, rogando-lhe com sinceridade para perdoar os pecados de toda a humanidade, para abençoá-los com a sua providência, iluminá-los com o seu Espírito, e trazê-los para sempre à felicidade duradoura, é o exercício mais divino em que o coração do homem possa estar engajado.
Esteja portanto, diariamente, de joelhos, numa solene, e determinada execução desta devoção, orando pelos outros com a importunação e sinceridade que você usa para si mesmo; e encontrará todas as pequenas paixões e fraquezas naturais morrerem, o seu coração crescer grande e generoso, deleitando-se com a felicidade comum dos outros, assim como você usava apenas para deleitar a si mesmo.
Porque aquele que ora diariamente a Deus, para que todos os homens possam ser felizes no céu, toma o caminho mais deleitável para fazê-lo desejar, e procurar sua felicidade na terra. E é quase impossível para você, implorar e rogar a Deus para fazer qualquer um feliz nos mais elevados deleites da sua glória por toda a eternidade, e ainda assim estar preocupado para vê-lo desfrutar os menores dons de Deus, neste curto e baixo estado de vida humana.
Quando, portanto, uma vez que você tenha habituado o seu coração para um sincero desempenho desta intercessão santa, você tem feito uma grande coisa, para torná-lo incapaz de rancor e inveja, e para fazer com que se deleite com a felicidade de toda a humanidade. Este é o efeito natural de uma intercessão geral por todos os tipos de homens.
Apesar de estarmos tratando toda a humanidade, como vizinhos e irmãos, como qualquer ocasião oferece, ainda, já que somente podemos viver na real companhia de poucos, e somos em nosso estado e condição mais particularmente relacionados com uns do que com outros, por isso quando nossa intercessão é feita um exercício de amor para aqueles entre os quais a nossa sorte está caída, ou que pertencem a nós numa relação mais próxima, isto então traz o maior benefício para nós mesmos, e produz seus melhores efeitos em nossos próprios corações.
Se, portanto, você deve sempre mudar e alterar as suas intercessões, de acordo como as necessidades que seus conhecidos pareçam exigir; rogando a Deus para livrá-los de tais e tais males particulares, ou para lhes conceder este ou aquele dom especial, ou bênção, tais intercessões, além da grande caridade delas, teriam um efeito poderoso sobre o seu próprio coração.
Seria mais agradável para você, ser cortês e condescendente com tudo o que se refira a você, e que não seja capaz de dizer ou fazer uma coisa rude, ou difícil para aqueles que têm sido o motivo de suas compassivas intercessões.
Pois não há nada que nos faça amar mais uma pessoa do que orar por ela. Isto irá encher o seu coração com uma generosidade e ternura, que lhe darão um melhor e mais doce comportamento, do que qualquer coisa que se chama de bons modos. Ao considerar a si mesmo como um advogado junto a Deus, pelos seus vizinhos e conhecidos, nunca iria achar difícil estar em paz com eles. Seria fácil suportar e perdoar aqueles para os quais você implorou por misericórdia e perdão divinos.
Tais orações como estas, entre vizinhos e conhecidos, iria uni-los uns aos outros pelos laços mais fortes de amor e ternura. Seria exaltar e enobrecer suas almas, e ensinar-lhes a se considerarem mutuamente num estado mais elevado, como membros de uma sociedade espiritual, daqueles que são criados para o gozo comum da bênçãos de Deus e que são co-herdeiros da mesma glória futura.
Se um pai estivesse fazendo diariamente orações a Deus, para que ele inspirasse seus filhos à verdadeira piedade, grande humildade e estrita temperança, o que poderia ser mais propenso a se fazer senão o próprio pai se tornar exemplar nessas virtudes?
Quão envergonhado ele seria caso lhe faltasse essas virtudes, que ele considerava necessárias para os seus filhos? Assim que suas orações pela sua piedade, seria um certo meio de exaltar a elevação da sua própria devoção.
Quão religiosamente um pai deveria conversar com seus filhos, a quem considerasse como seu pequeno rebanho espiritual, cujas virtudes ele formaria com o seu exemplo, incentivado por sua autoridade,nutrido seu conselho, e levado a prosperar por suas orações a Deus por eles?
Quão temeroso ele estaria de todas as maneiras gananciosas e injustas de aumentarem o seu dinheiro, de se tornarem muito apreciadores do mundo, para que isto não os tornasse incapazes de receber as graças, que ele tão frequentemente rogava a Deus para conceder-lhes?
Sendo estes os efeitos simples, felizes, desta intercessão, todos os pais, espero, que almejam o verdadeiro bem-estar de seus filhos no coração, que desejam ser seus verdadeiros amigos e benfeitores, e viverem entre eles no espírito de sabedoria e de piedade, não deveriam negligenciar um meio, tanto de elevar a sua própria virtude, e para fazer um bem eterno àqueles amados que estão tão perto deles, pelos laços mais fortes da natureza.
Este seria um triunfo sobre si mesmo, seria humilhar reduzir o seu coração à obediência e ordem, que o próprio diabo temeria tentá-lo novamente da mesma maneira, quando visse que a tentação se transformou em tão grande forma de mudar e reformar o estado do seu coração.
E ainda, se em qualquer pequena diferença, ou mal-entendidos que você tenha tido com um parente ou vizinho, ou qualquer outra pessoa, então você deve orar por eles de uma forma mais específica, do que a forma comum, rogando a Deus que lhes dê toda a graça e bênção, e a felicidade que puder ser imaginada, e assim teria tomado a via mais rápida para reconciliar todas as diferenças e esclarecer toda incompreensão.
Este seria o grande poder da intercessão cristã; em remover todas as paixões impertinentes, amolecer o seu coração para uma maior longanimidade, e para melhor julgar todas as diferenças que acontecerem entre você e qualquer um dos seus conhecidos.
Os maiores ressentimentos entre amigos e vizinhos, na maioria das vezes surgem de pequenos erros, o que é um certo sinal de que sua amizade é meramente humana, não fundada em considerações religiosas, ou apoiada por tais orações mútuas, como os primeiros cristãos faziam.
Porque tal devoção deve necessariamente destruir tais contendas, ou ser destruída por elas.
Você não pode ter qualquer mau humor, ou mostrar qualquer comportamento indelicado para com uma pessoa pela qual você tem intercedido como seu advogado para com Deus.
Tradução, redução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do vigésimo primeiro capítulo do livro de William Law, em domínio público, intitulado Uma Chamada Séria a Uma Vida Santa e Devota. William Law, foi professor e mentor por vários anos de John e Charles Wesley, George Whitefield – principais atores do grande avivamento do século XVIII, que se espalhou por todo o mundo – Henry Venn, Thomas Scott e Thomas Adam, entre outros, que foram profundamente afetados por sua vida consagrada a Deus, e sobretudo pelo conteúdo deste livro.