“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação; porque Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam poderes; tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste; ele também é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha o primeiro lugar. Porque foi da vontade de Deus que nele habitasse toda a plenitude” Colossenses 1:15-19 – AS21[1]
Deus criou todas as coisas para a sua glória e com o tabernáculo não foi diferente. Quando Deus ordenou a construção do tabernáculo por intermédio de Moisés, o objetivo era construir um local dedicado à Sua adoração e glória. Sabemos que Deus é glorificado no Filho e todos os elementos constitutivos do tabernáculo, tanto os utensílios quanto a liturgia, apontavam para Cristo.
Hoje, não pode ser diferente. Todos os elementos que compõem o culto que prestamos à Deus deve ter esse valor cristocêntrico, a começar pela pregação. Quero destacar o elemento pregação, porque algumas pessoas se enganam quando acham que o sermão deveria estar focado nelas e em suas necessidades.
Já ouvi por aí alguém afirmar que tudo no culto é para Deus com exceção da pregação; pois, sendo o sermão evangelístico ou doutrinário, estará sempre focado nos não-convertidos ou membros da igreja. Não é bem por aí. A pregação tem o único objetivo de fazer Cristo brilhar intensamente e nossa conversão ou edificação é consequência, não o objetivo.
Charles H. Spurgeon deixou bem claro qual era o seu objetivo ao preparar seus sermões. Posso fazer duas citações para demonstrar que Spurgeon buscava sempre apontar para Cristo. A primeira, foi extraída do livro Lições aos Meus Alunos onde afirma: “Ouvir corretamente o evangelho é uma das partes mais nobres da adoração ao Altíssimo.”[2] A segunda, extraída do livro Como ler a Bíblia[3], é ainda mais clara!
[Início da citação] “Você já ouviu um sermão do tipo que, se Jesus tivesse se aproximado do púlpito enquanto o pregador falava, Ele teria dito: “Desça daí, saia do púlpito; o que você está fazendo aqui? Mandei você pregar a Meu respeito, e você prega a respeito de uma dúzia de outras coisas. Vá para casa e aprenda de Mim, e depois venha falar”. O sermão que não conduz a Cristo, ou do qual Jesus Cristo não é a essência, é o sermão que faz rir os demônios no inferno, mas que faria os anjos de Deus chorarem, se pudessem ter tais emoções.
Você se lembra da história do gaulês que ouviu um jovem pregar um sermão magnífico, grandioso, pretensioso e bombástico; e, depois de chegar ao fim, perguntou ao gaulês o que achava a respeito. O homem respondeu que não dava nenhum valor a ele. “E por que não?” “Porque não havia nele nada de Jesus Cristo.”
“Ora”, disse o pregador, “mas meu texto não apontava naquela direção”. “Não importa”, disse o gaulês, “seu sermão deve seguir naquela direção”. “Não vejo o assunto assim”, disse o jovem. “Então”, disse o outro, “você ainda não vê como deve pregar. O modo certo de pregar é o seguinte: De cada aldeia minúscula na Inglaterra — não importa em que região — sempre sai, com toda a certeza, uma estrada para Londres. Embora talvez não haja estrada para outros lugares, certamente haverá uma estrada para Londres. Da mesma forma, de cada texto na Bíblia há uma estrada que leva a Jesus Cristo, e o modo certo de pregar é, simplesmente, dizendo: ‘Como posso, tomando esse texto como ponto de partida, chegar até Jesus Cristo?’ e, então, ir pregando pela estrada afora”. “Mas”, disse o jovem, “suponhamos que descubro um texto que não tem uma estrada que leva a Jesus Cristo?” “Faz quarenta anos que estou pregando”, disse o velho, “e nunca achei um texto bíblico assim; mas se chegar a achar um, passarei por sebes e cercas, e chegarei até Ele, porque nunca termino sem introduzir meu Mestre no sermão”.
[…] Se você não descobrir Jesus nas Escrituras, elas terão pouca utilidade para você, pois o nosso Senhor disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39-40); e, por isso, suas buscas não dão em nada; você não acha a vida, e permanece morto nos seus pecados. Que isto não aconteça conosco!
Um solo musical ou peça teatral para nada de bom servirá se não apontar para Cristo; da mesma forma que um sermão antropocêntrico perde completamente o seu objetivo, valor e poder. O culto, portanto, deve ser cristocêntrico em tudo, tal como era no tabernáculo nos dias de Moisés, no templo de Salomão e em toda a Bíblia. Você já consegue ver a importância de manter um culto sempre cristocêntrico nos mínimos elementos que o constitui? Então, por que você bate palmas no fim de alguns momentos do culto como se o que foi oferecido ao Senhor tivesse sido endereçado a você para o seu entretenimento?
Por favor, não venha com aquela clássica desculpa dizendo que as palmas são para Jesus, porque seus decibéis estão sempre na mesma intensidade das emoções! Por acaso Jesus só merece suas palmas quando o cantor é bom e a peça teatral digna do showbiz?
O que você vai fazer na igreja? Espero que não vá para assistir ao culto, porque esse não é nosso lugar. Na igreja, aqueles assentados nos bancos não podem ser chamados ou tratados como platéia. O que é realizado no altar não é espetáculo; ministros não são estrelas, são apenas servos da mesma sorte daqueles assentados nos bancos do templo. Todos, na condição de servos inúteis (Lc 17. 7-10), devem compartilhar o único desejo de prestar culto.
Soli Deo Gloria
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NOTAS
1 – Versão Almeida Século 21 | © Copyright 2008 Edições Vida Nova
2 – Charles H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, São Paulo, PES., 1982, Vol. 2, p. 64.
3 – Charles H. Spurgeon, Como ler a Bíblia, Editora Fiel.