O evangelista deve entender que, primeiro é essencial a ação regeneradora de Deus, que faz um novo homem, e então, tudo se faz novo. Para tanto, basta ao evangelista anunciar as boas novas do evangelho, ou seja, que Cristo foi manifesto em carne, viveu sem pecado por ter sido gerado de Deus, foi crucificado, ressurgiu e está assentado à destra de Deus.
É comum em evangelismo a seguinte pergunta aos descrentes: “Você é bom o suficiente para entrar no céu por seu próprio merecimento?”, e não pude me furtar a algumas considerações.
É uma estratégia evangelística enfatizar a miserabilidade do homem em pecado para apresentar Cristo, o redentor, porém, erram ao considerar que a miserabilidade da humanidade decorre das disposições internas do homem.
Muitos cristãos ainda não compreendem porque o homem é pecador, pois reputam que o pecado está atrelado ao comportamento, à moral e ao caráter do homem.
O que torna um homem pecador?
O apóstolo Paulo responde, pois ele demonstrou que todos os homens estão destituídos e carecem da glória de Deus ( Rm 3:23 ). O homem é pecador porque foi destituído, ou seja, está alienado de Deus. É tido por miserável porque carece, ou seja, necessita da glória de Deus.
Por estar alienado de Deus o homem está destinado ao inferno de fogo, pois o inferno é o lugar destinado ao diabo e todas as gentes que se esquecem de Deus ( Sl 9:17 ). Estar destinado ao inferno não é uma questão de merecimento, antes diz de uma condição própria a todos os homens gerados de Adão.
É temerário simplesmente destacar que o homem é ‘merecedor’ do inferno, o que pode levar os pecadores a considerar a perdição como sendo algo proveniente de questões comportamentais, o que inexoravelmente acaba promovendo a idéia da salvação pelas obras.
A bíblia não ensina que o homem é ‘merecedor’ do inferno, ou seja, que o inferno vincula-se a uma questão meritória, antes ela demonstra que todos que entraram pela porta larga seguem por um caminho largo que conduz à perdição ( Mt 7:13 -14).
Cristo é a porta estreita, e para entrar por Ele é necessário ao homem nascer de novo ( Jo 3:3 ). Isto indica que Adão é a porta larga por onde todos os homens entram ao nascer ( 1Co 15:45 ).
Nenhuma questão meritória é destacada com relação à perdição ou a salvação, antes é demonstrado na bíblia que o homem é gerado em pecado, ou seja, alienado de Deus ( Sl 51:5 ). Que desde a madre os homens desviam-se de Deus, e por possuírem um coração corrupto, proferem mentiras desde que nascem ( Sl 58:3 ; Mt 12:34 ).
A porção dos filhos de Adão é somente este mundo, e estão destinados a saciarem-se somente da ira que Deus entesourou para eles. Sem qualquer mérito ou demérito, todos os filhos dos homens deste mundo também serão fartos da ira do Senhor, e dela sobejarão, pois são filhos da ira e da desobediência ( Sl 17:14 ).
É por isso que o apóstolo Paulo reitera o que anunciou o salmista Davi: “Não há um justo se quer” ( Rm 3:10 ). Ou seja: “Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis” ( Rm 3:12 ).
O que fez com que todos os homens se extraviassem? O apóstolo Paulo anuncia que todos se extraviaram porque um pecou, e por isso, todos pecaram. Um só foi destituído, e todos foram destituídos da glória de Deus ( Rm 5:12 ).
Segundo o profeta Miquéias, um homem piedoso pereceu, e desde que ele (Adão) pereceu não há entre os filhos dos homens um que seja justo. O melhor dos homens é um espinho, e o mais justo não passa de uma sebe de espinhos, o que demonstra que ser pecador e estar destinado ao inferno não é uma questão de mérito, antes diz de uma condição própria a todos que são gerados segundo a carne, o sangue e a vontade do varão ( Jo 1:12 ).
Como ser salvo? Ora, por obras e méritos é impossível, pois a bíblia é clara: “O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos” ( Mq 7:4 ). Por mais que um homem tente ser o mais reto e se destacar como o melhor dos homens, continuará perdido.
Quando se destaca a santidade de Deus em uma pregação, não devemos contrastá-la com questões comportamentais, antes com a natureza do homem que foi gerado de Adão.
Ora, o pecado é ação/omissão, ou uma condição própria a natureza humana decaída? Já vimos que o pecado é uma condição, e embora o termo também seja utilizado para designar ações e omissões dos homens, não são as ações e as omissões que alienaram o homem de Deus, antes ter sido gerado de Adão.
Jesus mesmo afirma: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado” ( Jo 8:34 ), ou seja, só é sujeito do verbo ‘pecar’ aqueles que são servos do pecado, por conseguinte, não é próprio aos servos da justiça figurar como sujeitos do verbo ‘pecar’ ( 1Jo 3:6 e 9).
Quando o homem nasce segundo Adão, nasce na condição de servo do pecado, e, portanto, é pecador. Todas as suas ações são malignas, e por ser imundo, tudo que realiza é imundo, pois é impossível do imundo tirar de suas ações algo de puro ( Jo 14:4 ).
Santidade é um dos atributos de Deus, e para o homem ser santo, necessariamente precisa compartilhar da natureza divina. Por natureza Deus é santo, e por natureza, todos que recebem poder para serem gerados de novo são santos, ou seja, separados da corrupção que há no mundo “Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo” ( Jo 1:12 ; 2Pe 1:4 ).
Ao anunciar o evangelho, o cristão deve anunciar a mensagem da cruz. Mas, qual é a mensagem da cruz?
Que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (os que haviam se perdido) ( 1Tm 1:15 );
Se for possível, esclareça porque os homens se perderam, ou seja, destacando a incredulidade de Adão, e que, por causa dele, todos foram destituídos da comunhão com Deus ( 1Co 15:22 );
Destaque também que a obra redentora de Cristo é fazer com que o homem volte a compartilhar da glória que perdeu, e que para compartilhar da natureza divina é necessário ser gerado de novo ( Jo 17:22 ).
Como evangelista o cristão deve entender que é essencial que primeiro Deus efetue a limpeza do homem pelo lavar regenerador da palavra, que se resume nos tópicos elencados acima. O evangelista não pode agir como os escribas e fariseus, que ‘limpavam’ o exterior dos homens, mas o interior continuava imundo.
Os escribas e fariseus queriam limpar os homens tornando-os prosélitos, e o ‘produto’ que utilizavam era a religiosidade, a legalidade, a moralidade, o formalismo e o ritualismo. ‘Limpavam’ somente o exterior dos seus seguidores, como o fazem muitas religiões e sistemas filosóficos ao longo dos séculos.
Nenhum homem ou sistema religioso possui o poder necessário para limpar o interior do homem. Somente Deus, através da sua palavra encarnada, que é poder para salvação de todos que crêem, limpa o homem completamente, pois ele concede um novo coração e um novo espírito “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” ( Rm 1:16 ).
Jesus mesmo disse que o interior somente Deus pode lavar ( Mt 23:25 ), o que é possível somente através da palavra do evangelho “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” ( Jo 15:3 ).
Quando Deus efetua o lavar regenerador ( 1Pe 1:23 ), primeiro é limpo o interior, e como conseqüência, o exterior também fica limpo ( Mt 23:26 ). Ele arranca o coração de pedra e coloca um coração de carne, pois somente Deus tem poder para criá-los de novo “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e coloca em mim um espírito reto” ( Sl 51:10 ) “E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” ( Ez 11:19 ).
É por isso que o salmista pede a Deus que o limpe ( Sl 51:7 ), pois a limpeza que Deus efetua começa com a troca do coração e do espírito, pois e operado um novo nascimento.
O evangelista deve entender que, primeiro é essencial a ação regeneradora de Deus, que faz um novo homem, e então, tudo se faz novo. Para tanto, basta ao evangelista anunciar as boas novas do evangelho, ou seja, que Cristo foi manifesto em carne, viveu sem pecado por ter sido gerado de Deus, foi crucificado, ressurgiu e está assentado à destra de Deus.
Somente quando o novo convertido estiver com o entendimento cativo em obediência a Cristo, estará apto a ser orientado a que deixe os comportamentos considerados pela sociedade como perniciosos.
Somente quando o homem entende a extensão do amor de Deus demonstrado em Cristo estará apto a ser repreendido em tudo, como assevera o apóstolo Paulo “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo; E estando prontos para vingar toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência” ( 2Co 10:5 ; Ef 3:18 ).
Antes de pedir aos homens que se portem de modo digno é necessário anunciar-lhes a mensagem do evangelho, ou seja, a vocação com que será chamado das trevas para a maravilhosa luz. Após ouvir a mensagem do evangelho, o homem que antes era trevas e que após crer passou a ser luz no Senhor, estará apto a andar na condição de filho da luz “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” ( Ef 5:8 ).
Por que este alerta aos evangelistas? Porque em nossos dias o evangelho de Cristo está em terceiro plano e os discursos dos púlpitos transformaram-se no evangelho moral, ético, social ou da prosperidade. Muitos levantam uma bandeira contra o homossexualismo, o aborto, a eutanásia, reforma agrária, etc., e entendem que este seria o evangelho de Cristo.
Será que nunca leram a recomendação de Jesus? Deixa os mortos que enterrem seus mortos! Anunciar o reino de Deus não é o mesmo que se ocupar das questões próprias aos mortos “Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus” ( Lc 9:60 ).
Jesus alertou que os pobres sempre estarão entre os homens, porém, muitos querem que o evangelho seja um modelo de transformação socioeconômico “Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre” ( Mt 26:11 ).
Esquecem da recomendação das escrituras que diz: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda” ( Ap 22:11 ). Levantar bandeiras contra o uso de drogas, álcool, sexo, vida noturna, etc., não livra ninguém do caminho de perdição.
Jesus mesmo disse: “E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” ( Jo 12:47 ). Ora, se Cristo não veio julgar o mundo, visto que sob o mundo já pesa uma condenação, como os seguidores de Cristo se propõe a levantar uma bandeira contra as ações dos homens sob o domínio do pecado?
Qual a função do evangelista? Anunciar as palavras de Cristo, e se não ouvirem, não são passíveis de julgamento, uma vez que a humanidade já está condenada, porque não crê no nome do filho de Deus “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” ( Jo 3:18 ).
A função do pregador não é ‘limpar’ o imundo com leis, preceitos e regras, pois será um trabalho inútil. Convencer os ouvintes a deixarem de fumar, beber, roubar, furtar, não mentir, não os conduzirá a Deus, pois o caminho a Deus é Cristo.
Os fariseus e escribas utilizavam vários preceitos na tentativa de conduzir o homem a Deus, mas não conseguiam. A conformidade comportamental com a lei não conduz ninguém a Deus, pois para cumprir a lei de Deus só é possível àqueles que forem circuncidados no coração por Deus “E o SENHOR teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas” ( Dt 30:6 ).