Partes de um sermão de Richard Sibbes, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“E todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” (I João 3.3)
Nestas palavras você pode observar estas três coisas:
1. O trabalhador. 2. O trabalho. 3. O padrão a ser imitado.
1. O trabalhador é “todo aquele que tiver esperança nele,” todo aquele que parece ser como o Senhor Jesus no reino da glória, é o homem que deve se debruçar sobre esta tarefa.
2. Em segundo lugar, o trabalho é um trabalho para ser feito por ele próprio; pois é uma parte da criação do Senhor, e deve tomar cuidado como se fosse para arar sua própria terra, para cultivar seu próprio trigo, deve purificar-se; este é o trabalho.
3. Em terceiro lugar, o padrão pelo qual ele deve ser dirigido é o padrão do Senhor Jesus – a sua pureza. Tê-lo como um padrão e exemplo; olhar para Aquele que é o autor e consumador da nossa fé.
Os que trabalham para se purificarem serão desprezados pelo mundo, o opróbrio dos homens, mas isto é absolutamente necessário para a salvação.
O trabalhador aqui referido é “todo aquele que tem esta esperança.” Que esperança é esta, você vê no verso anterior. “Agora somos filhos de Deus; mas ainda não se manifestou o que havemos de ser.”
É aquele que sabe que quando Ele aparecer, seremos semelhantes a Ele como Ele é, ou seja, os que procuram ser como o Senhor Jesus em glória, devem estar conformados à graça. Queres ser glorioso como Ele está no céu? Tu deves ter a imagem da Sua graça na terra; e deves estar puro.
Tu não deves continuar com um coração comum, como as mãos sujas são chamadas de mãos comuns na Escritura, devemos lavar-nos, tornar-nos limpos.
Agora, a partir daí observei também esta doutrina:
Doutrina 1. Que o homem que é descuidado em purificar-se, é o homem que não tem esperança.
Um ponto duro, trazer uma coisa a uma questão desesperadora, mas o que faremos? Devemos incentivar os homens àquela esperança, que eles devem proceder de modo a irem para o inferno? Podemos dizer, “tu podes esperar ser semelhante a Cristo em glória, quando não trabalhas para ser puro como Ele neste mundo?” Nós trairemos as almas assim procedendo. E você sabe, este é o princípio da salvação.
Quando a Escritura fala de esperança isto é uma esperança divina, uma obra da graça que nunca frustrará um homem; porque a esperança é mantida e sustentada pela fé, como vemos em Hebreus 11.1. “Por que a fé é a certeza das coisas que se esperam.”
A Escritura fala de uma viva esperança, bem como de uma fé viva (Tg 2.14; I Pe 1.3).
De modo que aqui está a diferença entre esta esperança e as demais que não têm por fundamento a fé, e que não lançam a mão firmemente sobre as misericórdias de Deus. A esperança cristã, esta graça divina, é uma coisa tão certa e infalível como a fé; porque tudo o que se espera é a partir da fé.
Agora, por outro lado, um homem impuro que caminha na injustiça, o que sustenta sua esperança? A fé nas promessas de Deus? Não; veja se o livro de Deus faz qualquer promessa aos tais: “As misericórdias de Deus são de eternidade a eternidade para com os que o temem.” (Salmo 103.17).
A palavra de Deus não pode falhar; mas a esperança do ímpio não é mantida pela fé nas promessas, mas por uma tolice, uma presunção que ele fantasia em seu próprio cérebro.
Isto é um juramento antigo, Deus jurou que te livraria das mãos
de teus inimigos, e que serás libertado e resgatado da condenação eterna.
Em Hebreus 6.19, isto é chamado de “a esperança que nós temos, como âncora da alma, segura e firme, e que penetra além do véu.”, que nos fala da sua certeza e infalibilidade e que dá tão grande firmeza como a âncora de um navio.
A fé é uma coisa que não tem tempo nem lugar, mas torna tudo presente. Ela coloca um homem como se ele estivesse na posse real da vida eterna; quando ele acredita que a possui, ele já está no céu.
Por enquanto “não se manifestou o que havemos de ser. Agora somos filhos de Deus, e a fé apreende que, certamente, somos herdeiros, que terão um reino no céu.
O apóstolo afirma que: “A esperança que se vê não é esperança” porque aquilo que um homem vê, por que ainda esperaria por isso? “Mas, se esperamos o que não vemos, então com paciência o aguardamos.” E então esta paciência é uma coisa descrita pela esperança: 1 Ts 1.3, “Lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai.”
Então, o que se segue? Nada é tão certo como o cumprimento da promessa de Deus. Para aquele que constrói a sua esperança na fé nas promessas de Deus, nada é tão certo quanto a que ele deve alcançar seu desejo.
Em Romanos 5.3-5 lemos, “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança.
E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
Qual é o significado disso?
Amados, é tanto como se fosse dito, há uma diferença entre a esperança divina e a humana. A única esperança que há, quando eu deposito minha confiança na promessa de um homem, e quando eu olho para a coisa esperada, o homem quebra a promessa, de modo que minha esperança não pode ser mais firme. Ele quebra a promessa e eu fico envergonhado e confundido, porque eu fiz repousar a minha esperança e confiança dessa maneira.
Então aqui está a diferença entre a esperança de um filho de Deus, que purifica a si mesmo, e de uma pessoa impura; quando chegar a hora, o ímpio terá necessidade de esperança, mas sua esperança é vã, porque não se purificou.
Agora, concentremo-nos no trabalho. Então, qual é o trabalho? “Purificar a si mesmo.” “Todo aquele que nele tem esta esperança,”.
Doutrina 2. Todo aquele que espera ser salvo, deve aplicar-se a este trabalho de purificar-se.
Mas aqui repousa uma grande dificuldade, porque o trabalho de um homem para purificar a si mesmo é uma obra de Deus; e isto Davi conhecia bem o suficiente, como vemos no Salmo 51.10, “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro em mim um espírito reto.”
Você não deve usar uma verdade de Deus para destruir outra; por conseguinte, vemos o apóstolo afirmando em Filipenses 2.12: “Trabalhai a vossa salvação com temor e tremor. Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.”
Observe como uma coisa depende da outra, e ambas caminham bem juntas. Precisamos seguir adiante com o trabalho; mas por quê? “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Nós realizamos segundo a instrução, direção e poder de Deus.
O significado é que Deus não trabalha as coisas em nós ou conosco, como se fôssemos uma espada; isto é, de que seremos apenas meros pacientes, mas Ele trabalha conosco adequadamente com a alma racional que nos deu.
Ele nos deu entendimento e vontade, assim, que o Senhor é o primeiro movedor e trabalhador, e que sem Ele não somos capazes de fazer qualquer coisa. A graça de Deus se apodera de nós, e nos põe a trabalhar aquilo que Deus opera em nós.
Assim, lemos em 2 Coríntios 7.1: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”
Em 2 Timóteo 2.19 lemos: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.”
Observe como o homem trabalha ativa e passivamente. Ele está “preparado e santificado para uso do Senhor”, mas não é um mero paciente? Não; ele deve se purificar destas coisas. Portanto, deve haver uma atividade e passividade no trabalho de purificação.
Em primeiro lugar, vá à fonte. Qual é a fonte de toda a limpeza? O sangue de Cristo. É o sangue de Jesus Cristo que deve me lavar do pecado. Tu não deves ir como um homem moral, ao trabalho de uma multidão de atos para obter um novo hábito; mas tu deves trabalhar a partir de um outro princípio: toda essa purificação deve vir a partir do sangue de Jesus Cristo. E como eu posso aplicar isto? Pela fé. Então tu deves ir todas as manhãs, e apresentar a tua alma diante do Senhor, e olhar para o crucificado, e dizer: “Senhor, tu derramaste teu sangue para purificar a minha alma das manchas do pecado.”
Tenha fé no sangue para lavar tua alma, ou seja, no sangue do Cordeiro imaculado, no sangue de Jesus Cristo não somente para a justificação para te libertar da culpa do pecado, mas para a obra da fé aplicada para a santificação, para lavar as manchas e corrupções do pecado.
Deus também nos purifica pela ação da Sua Palavra, como vemos em João 15.1-3: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.”
Quando as promessas da Palavra de Deus são apreendidas espiritualmente, elas são um meio maravilhoso para purgar o pecado.
Outro ponto importante para a purificação é a nossa vigilância, porque quando um homem tem a resolução de suprimir o pecado no seu primeiro movimento, ou seja, quando ele nasce, vai fechar a porta para ele e para o diabo.
Se tu queres purificar a ti mesmo, não deves viver em qualquer pecado conhecido. Quando um homem peca, ele multiplica o estoque de corrupção original. Não há nada mais certo do que dizemos, que a corrupção original é igual em todos.
Ainda assim, quando eu uso a minha vontade, e multiplico o estoque de pecados, isso é um sinal de que o pecado costumeiro endurece o coração, e faz a mancha crescer mais profunda, de forma que se torna mais difícil limpá-la. Portanto não te esqueças disso, se tu queres ir para o céu, para que não continues uma hora em qualquer pecado conhecido, porque quanto mais tu o fazes, mais ficarás fortalecido em pecado.
Eu agora devo ir para o terceiro ponto, o padrão ao qual devemos nos conformar. Devemos imitar o nosso Salvador Jesus Cristo, como ele é puro. Isto não se destina a que deves ter a esperança de ser tão puro em quantidade. Não se trata de quantidade, mas de qualidade, a referida semelhança.
Mas você dirá: Como eu sou capaz de alcançar isso? Eu respondo, a lei de Deus prescreve para nós uma forma perfeita de obediência, ainda que não seja possível para nós cumpri-la, e assim apesar de não sermos capazes de expressar as virtudes de Cristo, e sua pureza; de modo absoluto, contudo não podemos ter um padrão melhor do que a Lei, e a vida de nosso Salvador.
E assim, se continuarmos a seguir o nosso padrão, como a mão do erudito, por prática, consertando-nos todos os dias, embora nunca cheguemos perto do modelo que devemos imitar, devemos continuar crescendo crescer na graça, de modo que o nosso caminho possa ser mais e mais brilhante até que seja dia perfeito (Provérbios 5.18).