Por Luciano Subirá
Nas minhas viagens de pregações pelo Brasil (e mesmo no exterior) tenho sido constantemente indagado por pastores e líderes: “Como é o sistema de governo da sua igreja?”
Percebi que a maioria deles não estava tão interessado na Comunidade Alcance (a igreja que pastoreio) como de fato estavam interessados em entender o modelo bíblico do governo da igreja. Organizei e sistematizei o que cremos e pensamos a respeito do assunto para servir de orientação aos pastores que caminham conosco e seguem o mesmo modelo, e posteriormente permiti que este nosso ensino viesse a público para ajudar nas reflexões e reformas que estão acontecendo em muitas igrejas. Não estou sugerindo que outros grupos tenham que mudar toda sua estrutura e nomenclatura interna, mas que ao menos, tentem se adequar – na prática – o máximo possível ao que entendem ser o modelo bíblico. É óbvio também que meu principal alvo são os pastores de igrejas independentes, pois os que estão ligados a uma estrutura maior não devem estabelecer mudanças isoladas. Enfim, espero que as reflexões a seguir sejam de ajuda e valia a muitos.
O GOVERNO DA IGREJA
Cada denominação ou segmento evangélico tem sua forma de governo eclesiástico. De forma geral, encontramos duas distintas formas de governo. Algumas igrejas centralizam tudo numa só pessoa, o pastor-presidente; outras dão autoridade a um grupo eleito pelos membros que os representam e decidem tudo, cabendo ao pastor acatar suas decisões. Um deles julga que o governo não deve estar sobre um só homem, e sim com um grupo que fiscalize e cobre do líder; o outro grupo, por sua vez, nega qualquer prestação de contas e permite ao líder fazer o que quiser e como quiser.
Por um lado entendemos que ninguém deve governar sozinho, sem a necessidade de prestação de contas, e por outro lado entendemos que nenhum grupo, por melhores que sejam as suas intenções, deve tentar assumir a posição de autoridade que Deus concedeu ao governo espiritual da igreja (muitos grupos afirmam que os pastores deveriam governar só a vida espiritual da igreja e não a parte natural e administrativa). Porém, a Bíblia é clara quanto a QUEM governa e COMO governa:
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Timóteo 5.17 – ARC)
Em primeiro lugar, o texto fala quem governa: o presbítero. Em segundo lugar, o texto fala como se governa: em equipe (note o termo plural: “os presbíteros”). Ao usar o termo presbítero – palavra grega que significa “ancião” – a Bíblia fala da maturidade necessária para se liderar. O apóstolo Paulo escreveu a seu discípulo Timóteo e lhe disse: “Ninguém despreze a tua mocidade” (I Tm.4:12), indicando assim que a maturidade não era vista do ponto de vista cronológico, mas acima de tudo espiritual (e isto Timóteo esbanjava – At.16:2; II Tm.1:5 e 3:14,15).
O PRESBITÉRIO
Entendemos que nenhum homem deve governar uma igreja sozinho, pois o modelo do Novo Testamento nos fala de um corpo, um conselho de anciãos que decidem juntos; as Escrituras chamam este corpo de presbíteros de “presbitério”.
Na Bíblia, a palavra presbítero só aparece no singular quando se trata de uma menção de seu caráter; fora isto, todas as outras referências estão no plural “presbíteros” ou no coletivo “presbitério”. O próprio fato de Jesus ter enviado os discípulos de dois em dois (Lc.10:1) revela que o Senhor não quer nenhum dos seus trabalhando sozinho (Ec.4:9-12) ou isolado (Pv.18:1).
O livro de Provérbios nos declara que “na multidão dos conselheiros há segurança” (Pv.11:14), Por isso é melhor trabalhar em equipe. Além de que, numa equipe há equilíbrio de opiniões, ênfase ministerial, experiência de vida, etc.
Entendemos também que não basta apenas formar uma equipe, é necessário que haja entre seus componentes uma voz “maior”. Isto concorda também com o que encontramos nas cartas às sete igrejas da Ásia, no Apocalipse, onde Jesus se dirigia ao “anjo” (mensageiro) da igreja (Ap.2:1), o que nos mostra que, mesmo em igrejas que tinham um presbitério (como é o caso de uma destas – Éfeso, At.20:17) havia uma pessoa responsável perante o Senhor por ser o mensageiro principal da igreja.
O PRESBÍTERO SÊNIOR
Por isto afirmamos: ainda que o governo neo-testamentário seja plural, deve haver alguém responsável por ser a voz maior na igreja. A este membro do presbitério que se destaca em momentos de decisões mais delicadas e que tem a responsabilidade de ser o anjo da igreja, chamamos de “presbítero sênior”.
Muitos me perguntam: “Como distinguir quem, dentro de uma equipe, deve ser o pastor sênior?”
Sempre digo que este assunto é mais simples em igrejas que já começaram trabalhando com um presbitério. Normalmente a pessoa que estabeleceu a igreja forma uma equipe à volta de si ou prepara alguém que assuma este lugar se ela mesma for prosseguir para outros lugares plantando mais igrejas. Mas consideremos o modelo bíblico…
O primeiro presbítero-sênior que vemos no Novo Testamento é o apóstolo Pedro. Quando ele se levanta para pregar no dia de Pentecostes, os demais apóstolos se levantam com ele (At.2:14). Com esta atitude silenciosa, eles refletiam seu apoio ao que Pedro pregava e demonstravam também que ele falava em nome de todo o grupo, o que aconteceu outras vezes (At.4:8). Pedro já era um líder que se destacava entre os doze, e o Senhor parece ter dado evidências de que ele teria destaque na liderança (Mt.16:19; Lc.22:32).
Basicamente, percebemos que o líder principal tem uma direção de Deus e alcança o respeito dos demais de sua equipe. Porém quando uma equipe já existe e nunca definiu seu líder, quando decide fazê-lo é bom contar com a ajuda de outros líderes de fora que sejam bem respeitados por toda a equipe e os orientem nesta hora.
Para se estabelecer um presbítero, é importante que primeiro ele traga o respeito do povo por sua vida e ministério. Paulo falou a Timóteo a respeito de não impor as mãos precipitadamente (antes da prova) para estabelecer alguém e também falou acerca dos bispos e diáconos serem primeiro provados. Se você somar a tudo isto o que fato de os presbíteros eram eleitos… O texto bíblico declara: “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At.14:23). A palavra grega traduzida para “eleitos” é “cheirotoneo” e, de acordo com a Concordância de Strong, significa: “1) votar pelo ato de estender a mão; 2) criar ou nomear pelo voto: alguém para exercer algum ofício ou dever; 3) eleger, criar, nomear”. Isto não fala do povo escolhendo por si estes presbíteros, e sim que o presbitério indicava as características que os aspirantes deveriam apresentar e então o povo apresentava os que tinham as características. Portanto, o reconhecimento do povo é importante.
PRESBÍTERO, BISPO OU PASTOR?
É importante não só entender que o governo está ligado aos presbíteros, mas quem são eles. Há muita confusão nas igrejas em geral por causa de termos distintos que o Novo Testamento emprega, como “presbítero”, “pastor” e “bispo”. Em muitas igrejas, estes três termos indicam uma hierarquia ministerial, onde geralmente o presbítero é inferior ao pastor, que por sua vez é inferior ao bispo. Mas o quê, de fato, ensina a Bíblia?
As Sagradas Escrituras jamais apre
sentaram estes termos como se referindo a pessoas e cargos diferentes; note o que diz a Bíblia:
“De Mileto mandou [Paulo] a Éfeso chamar os presbíteros da igreja”. (Atos 20:17)
E, quando o apóstolo se encontrou com eles, disse-lhes:
“…Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu BISPOS, para PASTOREARDES a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”. (Atos 20:28)
Observe que os três títulos são usados para as mesmas pessoas! Paulo chamou os presbíteros de bispos e disse que eles foram constituídos para pastorear a Igreja. O apóstolo Pedro também se referiu aos presbíteros como sendo pastores:
“Rogo, pois, aos PRESBÍTEROS que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: PASTOREAI o rebanho de Deus que há entre vós”… (1 Pedro 5:1,2)
Se os três termos se referem a uma só pessoa, então qual é a necessidade de nomenclatura diferente?
Entendemos esta diferença de nomenclatura como se referindo a aspectos diferentes de um mesmo ministério.
O termo “presbítero” fala da capacitação e sempre indica A PESSOA.
O termo “bispo” fala da hierarquia eclesiástica; indica A POSIÇÃO na Igreja.
O termo “pastor” fala do serviço realizado; indica o ministério.
No quadro abaixo estamos expondo esta definição dada acima (que aprendi com Frank Damazio, em seu livro “Princípios da Vida da Igreja” publicado em português pela Comunidade Cristã de Curitiba):
PRESBÍTERO |
BISPO |
PASTOR |
Do grego “presbuteros”
significa “ancião”
|
Do grego “episkopos”
significa “supervisor”
|
Do grego “poimen”
significa “o que cuida do rebanho”
|
Refere-se à maturidade
da pessoa
|
Refere-se ao cargo
ocupado pela pessoa
|
Refere-se ao trabalho
que a pessoa faz
|
Indica A PESSOA |
Indica A POSIÇÃO |
Indica O MINISTÉRIO |
Os três termos falam de uma só pessoa e não de uma cadeia hierárquica. Quero tomar como exemplo de diferentes nomenclaturas se referindo a uma só pessoa no caso de um médico. A graduação (conclusão e aprovação) no curso de medicina mostra a capacitação do indivíduo para ser médico; mas “médico” é o termo que indica o seu trabalho, enquanto que um termo como “chefe da pediatria” indica um cargo que ele possui dentro de um hospital. Neste caso você não separa os termos “graduado”, “médico” e “chefe da pediatria” dizendo que se referem a três pessoas, pois são três aspectos diferentes em uma só pessoa. O mesmo se dá com os termos pastor, bispo e presbítero.
Porque é tão importante entender isto?
Para vivermos a forma correta de governo bíblico.
Nossa é igreja é governada pelos presbíteros, que também são bispos, e que possui entre eles pastores. Mas vale ressaltar que nesta equipe de pastoreamento não temos só pastores, mas também os demais dons ministeriais de Efésios 4:11.
Todo presbítero é um bispo e todo bispo também é presbítero, estas duas características são inseparáveis; e onde estiverem estas duas, estará a terceira: o pastor (ou outro dom ministerial; Pedro, por exemplo, era presbítero e seu dom ministerial era de apóstolo – I Pe.5:1 e pastor – Jo.21:15-17).
Porém, nem toda pessoa com o dom ministerial (como um pastor ou evangelista, por exemplo) é um presbítero e bispo, pois pastor ou evangelista (ou qualquer outro dom ministerial) são um ministério exercido dentro da Igreja de Cristo, mas não são cargos e nem tampouco governo. Um bom exemplo disto é o caso de Felipe, a quem a Bíblia chama de evangelista (At.21:8). Contudo, mas mostrando que ele exercia um dos cinco dons ministeriais, a Bíblia mostra que o cargo que ele ocupava na Igreja era o de diácono, não o de um presbítero.
Quando examinamos a história da Igreja, descobrimos que foi só no segundo século que começaram a utilizar o termo bispo para designar um chefe de pastores ou o supervisor de uma região eclesiástica. Alguns crêem que as definições que a Igreja da primeira era apostólica não tinha, vieram depois (como esta definição de bispos como sendo apenas os que cuidavam de uma região eclesiástica). Não concordo com esta idéia. O modelo inicial foi estabelecido por direção de Deus e plena liderança do Espírito Santo; logo, se houve mudanças depois, prefiro descartá-las e permanecer com o modelo original. Um bispo, porque cuida de uma região de Igrejas não precisa ser chamado de outro nome, pode ser chamado de bispo. No entanto, isto não significa que o presbítero da Igreja não seja um bispo! Estes valores não podem ser confundidos…
COM O SE ESTABELECE UM PRESBÍTERO?
Segundo o ensino do Novo Testamento, um presbítero sempre tem que ser estabelecido por outros presbíteros. Paulo falou a Timóteo sobre ele ter recebido imposição de mãos do presbitério (I Tm.4:14). Quando uma igreja se inicia, um presbitério de outra localidade dá posse ao presbitério local:
“E, promovendo-lhes [eles, os de fora]* em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. Atos 14:23
Embora os presbíteros de Antioquia tenham estabelecido estes presbitérios nestas cidades visitadas pelos apóstolos Paulo e Barnabé, entendemos que depois de um presbitério já ter sido estabelecido, ele é responsável por estabelecer seus novos membros.
É muito importante que presbíteros da própria localidade sejam levantados (isto indica o crescimento em maturidade da própria igreja), como foi feito por Paulo e Barnabé em cada cidade. Contudo, não podemos deixar de destacar o fato de que, algumas vezes (normalmente ao iniciarem algo) os apóstolos se serviam de ministérios já formados de outras localidades para os auxiliarem, como fez Barnabé com Paulo (At.11:25,26) e Paulo com Timóteo (At.16:1-3).
Cremos nos cinco dons ministeriais como devendo funcionar na igreja em nossos dias, mas ninguém é ordenado ou estabelecido num dom ministerial específico, e sim como presbítero ou diácono. No Novo Testamento não vemos ninguém sendo ordenado como pastor, evangelista ou qualquer outro dom, mas somente como presbíteros:
“Por esta causa te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi”. Tito 1:5
Alguns passos precisam ser observados antes de se estabelecer alguém como presbítero. Cremos em quatro etapas bíblicas distintas a serem seguidas:
1. A Vocação. Tudo começa com um desejo: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (I Tm.3:1). A palavra traduzida por “aspira” no original grego é “oregomai” e significa: “esticar-se a fim de tocar ou agarrar algo, alcançar ou desejar algo”. Fala de alguém que não só tem um desejo, mas se esforça por alcançar aquilo. Esta é a fase inicial, o primeiro passo, uma vez que Deus opera em nós o querer e o realizar (Fl.2:13). O próprio anseio pelo ministério é um dos primeiros indícios de que há um chamado de Deus.
2. As Qualificações. O aspirante ao ministério precisa ter mais do que apenas o desejo, precisa de qualificações. É por isso que Paulo segue dizendo a Timóteo as características que o mesmo deve apresentar: “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo” (I Tm.3:2-7). Vale ressaltar que de todas estas características só uma envolve habilidade ou aptidão para tarefa (apto para ensinar); as demais são traços de caráter que precisam estar presentes na vida de um ministro.
3. A Prova. Um período probatório é importante antes de estabelecer alguém. Paulo aconselhou Timóteo: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (I Tm.5:22); E como nos versículos anteriores ele vinha falando acerca dos presbíteros, entendemos que ele está dizendo que não se deve ordenar um presbítero depressa, pelo contrário, deve se ter paciência, dar tempo. E por que não ter pressa? Para que o aspirante seja provado. O apóstolo Paulo mencionou isto quando falou dos diáconos, mas o princípio vale pra todos: “E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis” (I Tm.3:10). O ser provado é demonstrar pelo trabalho e serviço as qualificações a ponto de alcançar bom testemunho diante dos líderes e do povo. Note que tanto na ordenação de presbíteros como de diáconos a Bíblia diz que elegeram tais pessoas (At.6:5 e 14:23); isto não fala de um processo eleitoral democrático, e sim que os presbíteros indicavam as características que os aspirantes deveriam apresentar e o povo indicava aqueles nos quais elas eram vistas. Este reconhecimento que vinha do povo era um sinal de que os aspirantes haviam sido aprovados no seu serviço.
4. O Estabelecimento. Este é o último nível deste processo. Depois de vocacionado, qualificado e provado, o aspirante ao presbitério deve ser estabelecido. Esta etapa do processo acontece com
outros presbíteros já estabelecidos ministrando sobre quem será estabelecido (Tt.1:5). Esta ministração envolve: oração e jejum (At.14:23) e imposição de mãos e profecia (I Tm.4:14), e deve acontecer perante o povo da Igreja que passará a se sujeitar à autoridade conferida a estes ministérios.
AS QUALIFICAÇÕES DE UM PRESBÍTERO
As Sagradas Escrituras são claras a respeito das qualificações que os presbíteros devem apresentar em suas vidas. Observe o texto bíblico:
“É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”. I Timóteo 3:2-7
Abaixo detalhamos cada uma destas características em seu significado no original grego e com alguns comentários do que é esperado do bispo/presbítero com mais alguns textos bíblicos que realçam a necessidade destas características:
1. Irrepreensível. Palavra grega “anepileptos” que significa: “não apreendido, que não pode ser repreendido, não censurável, irrepreensível”. Não fala de ser perfeito, mas de alguém que não anda no erro, que não merece ser corrigido (Fl.2:15). Fala do exemplo que o mesmo deve dar, seguindo o padrão ensinado por Cristo aos seus discípulos (Jo.13:15) e também pelos apóstolos (2 Ts.3:9).
2. Esposo de uma só mulher. É óbvio que o texto fala da monogamia. Um presbítero, à semelhança de qualquer outro cristão, não pode ter um caso ou relações extra-conjugais. Mas o enfoque aqui vai para a característica de não ser alguém casado de novo fora dos padrões bíblicos (Mt.19:9; I Co.7:39).
3. Temperante. Do grego “nephaleos”, significa: “sóbrio, controlado, abster-se de vinho, seja totalmente ou pelo menos do seu uso imoderado”. Como a seguir Paulo fala sobre ser sóbrio e depois sobre não ser dado ao vinho, entendemos que a temperança em questão fala mais do comportamento diante das circunstâncias. A NVI traduziu esta palavra como “moderado”, a Versão Corrigida de Almeida preferiu a palavra “vigilante”, enquanto que a Tradução Brasileira optou por “discreto”. A forma de falar pode refletir isto (Cl.4:6).
4. Sóbrio. Do grego “sophron”, significa: “de mente sã, equilibrado, que freia os próprios desejos e impulsos, auto-controlado, moderado”. Fala de auto-controle – não só quanto à bebida, mas também quanto a cada aspecto da vida espiritual, emocional e física (II Tm.4:5). A NVI traduziu este termo como “sensato”.
5. Modesto. Do grego “kosmios”, significa: “bem organizado, conveniente, modesto”. Fala de características como organização (pessoal e do trabalho), comportamento agradável e humildade. A Versão Corrigida de Almeida traduziu esta palavra como “honesto”, enquanto que a Tradução Brasileira optou por “circunspecto”. Já a NVI optou por “respeitável”.
6. Hospitaleiro. Do grego “philoxenos”, significa: “hospitaleiro, generoso para as visitas”. Fala de um coração aberto e amoroso que permite que seu lar seja um lugar de acolhida. Esta característica revela alguém que se importa com os outros e que não é egoísta (Hb.13:2).
7. Apto para ensinar. Do grego “didaktikos”, significa: “apto e hábil no ensino”. Fala do entendimento bíblico necessário para viver e ensinar a palavra de Deus em todos os aspectos, o que inclui a capacidade de correção e refutação do erro (Tt.1:9-11).
8. Não dado ao vinho. A palavra grega é “paroinos” e significa “dado ao vinho, bêbado”. Não proíbe a ingestão do vinho (Ef.6:18; I Tm.5:23), mas revela a necessidade de cuidado e atenção nesta área (Gn.9:21; Pv.20:1).
9. Não violento. Do grego “plektes”, significa: “brigão, pronto para um golpe, contencioso, pessoa briguenta”. A Versão Corrigida de Almeida e a Tradução Brasileira traduziram esta palavra por “não espancador”. Fala de alguém que se domina em suas emoções e não seja um “pavio-curto” (II Tm.2:24).
10. Cordato. Do grego “epieikes”, significa: “aparente, apropriado, conveniente, eqüitativo, íntegro, suave, gentil”. Fala de educação, amabilidade e simpatia. A NVI preferiu traduzir esta palavra como “amável”, enquanto que a Versão Corrigida de Almeida e a Tradução Brasileira traduziram esta palavra por “moderado”.
11. Inimigo de contendas. Do grego “amachos”, significa: “irresistível, invencível, pacífico, que se abstêm de lutar”. A Versão Corrigida de Almeida traduziu como “não contencioso” enquanto que a NVI optou por “pacífico”. Fala de alguém que não tem a briga (ainda que só verbal) ou intriga como opção.
12. Não avarento. Do grego “aphilarguros”, significa: “que não ama o dinheiro, não avarento”. A Tradução Brasileira optou pelo termo “não cobiçoso” enquanto que a NVI optou por “não apegado ao dinheiro”. Fala de contentamento (Fl.4:11; Hb.13:5) e ausência de ganância (I Pe.5:2).
13. Que governe bem a própria casa. “…criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”. A família do líder deve ser referência e modelo ao rebanho. A principal razão de Deus ter eliminado a casa de Eli do exercício do sacerdócio foi a desestrutura familiar (I Sm.3:12-14).
14. Não seja neófito. “…para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo”. A palavra “neófito” significa “novo na fé” e foi traduzida pela NVI como “recém-convertido”. A maturidade advinda do tempo de caminhada cristã é essencial, uma vez que a palavra “presbítero” significa “ancião” e fala, como já vimos, não de maturidade cronológica, mas espiritual (I Tm.4:12).
15. Ter bom testemunho dos de fora. “…a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”. Sua vida cristã deve primeiro ganhar o respeito dos que o conhecem no dia à dia, para depois servir de referência à Igreja, caso contrário será envergonhado e preso pelo inimigo.
AS DELIBERAÇÕES DO PRESBITÉRIO
O propósito de uma equipe é a soma (ou sinergia) produzida pelas diferenças de cada um. Isto proporciona equilíbrio de aptidões, supre as limitações pessoais de um com as virtudes de outros, propicia uma sabedoria maior com a opinião de outros presbíteros e ainda permite que a carga de tarefas e atividades seja melhor distribuída.
Entretanto, estas diferenças não significam que sempre haja divergência. Antes de mais nada, um presbitério deve ter fortes laços de unidade que sejam a manifestação de uma forte aliança, primeiro com Deus e depois com o restante da equipe. Quando Pedro se levantou para a sua primeira pregação públic
a em Jerusalém, no dia de Pentecostes, os onze (o restante do presbitério) se colocaram em pé juntamente com eles:
“Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos”… Atos 2:14
Nenhum deles falou, só Pedro (o líder, ou presbítero sênior da equipe então), mas os demais se levantaram junto. Vejo nisto uma forma de expressar publicamente apoio e concordância para com aquilo que estava sendo dito. Esta deve ser a essência da equipe de presbíteros: a unidade. O presbitério existe para promover acordo. Não quer dizer que não haja debate, divergência inicial ou diferença de opinião, mas deve terminar promovendo concordância nas suas decisões.
Todo presbitério deve se reunir para buscar a Deus e deliberar juntos sobre o que deve ser feito e quais as medidas a serem tomadas, sejam decisões ministeriais ou administrativas, preventivas, corretivas ou qualquer outra. Vejamos alguns exemplos das reuniões e deliberações dos presbíteros na Bíblia:
1. A decisão acerca dos diáconos. Em Atos 6:1-7 encontramos um problema a ser resolvido e os apóstolos vindo a público com a solução (obviamente já conversada entre eles). Eles não poderiam mais servir as mesas e decidiram estabelecer os diáconos que o fizessem, enquanto eles voltavam a priorizar o ministério da Palavra e a oração. Alguns acreditam que este processo foi algo democrático, uma vez que as palavras “eleição” e “escolha” estão presentes. Contudo, quando os apóstolos dizem ao povo que deviam escolher os diáconos, a palavra traduzida como “escolhei” é a palavra grega “episkeptomai” e significa: “inspecionar, examinar com os olhos, procurar por”. Os apóstolos, na verdade, vieram com as claras diretrizes de quem podia ser um diácono e, depois de apresentar uma decisão tomada, deixaram que o povo, de acordo com os critérios por eles mesmo impostos, escolhessem os que tinham tais características. O v.5 fala que eles “elegeram” sete pessoas. Esta palavra no original grego é “eklegomai” e significa: “selecionar, escolher (dentre muitos)”. Resumindo, vemos o governo permanecendo sobre os presbíteros; ainda que tenham permitido ao povo participar da decisão, ela veio à público já definida. E isto foi resultado de conversa entre a equipe ministerial.
2. A liberação de Paulo e Barnabé. Um presbitério deve gastar tempo diante de Deus. Os presbíteros devem buscar e ministrar ao Senhor juntos; suas reuniões não podem ser meramente administrativas. Vemos este modelo na Igreja de Antioquia (At.13:1-3). Os irmãos estavam perante o Senhor e receberam direção profética sobre a liberação de Paulo e Barnabé para uma obra apostólica; concordaram a respeito e os comissionaram ao trabalho.
3. O envio de Pedro e João à Samaria. Os apóstolos receberam notícias precisas do trabalho em Samaria (o que indica que havia prestação de contas) e reconhecem que precisam suprir algo que o ministério de Felipe, sozinho, não lhes havia suprido; então enviam Pedro e João (At.8:14-16). O texto não diz que Pedro e João foram sozinhos, mas enviados pelos apóstolos! Isto nos mostra reuniões entre eles que terminavam com diretrizes práticas, fruto do acordo chegado nas decisões tomadas em equipe.
4. Pedro fala do que houve na casa de Cornélio. Depois de Pedro ter pregado aos gentios da casa do centurião Cornélio, os apóstolos receberam notícias do ocorrido (At.11:1) e houve (dentro da equipe) discordância quanto às ações de Pedro. Este, por sua vez, lhes expôs a revelação que recebera de Deus, porque quebrara seus próprios paradigmas e os resultados do que o Senhor fizera por seu intermédio entre os gentios. Então os que eram da circuncisão (uma ala de pensamento mais forte sobre este assunto dentro da equipe apostólica) se apaziguaram e deram glória a Deus. Ou seja, terminaram removendo as divergências e entrando em concordância a respeito do assunto.
5. O Concílio de Jerusalém. Em Atos 15 vemos que todos os apóstolos e presbíteros se reúnem (incluindo presbíteros de outras localidades) para examinarem a questão da circuncisão entre os gentios. A divergência fica claramente percebida no v.7 que menciona ter havido grande debate. Pedro se levanta (v.7-11) e testemunha o que Deus fez por seu intermédio na casa de Cornélio e destaca a salvação pela graça, mediante a fé, o que fez a multidão silenciar (v.12). Então Paulo e Barnabé relatam os sinais e prodígios que o Senhor operara através deles, indicando com isto o aval de Deus sobre a fé dos gentios. Note que não foram todos os que falaram; a oportunidade foi cedida principalmente aos que tinham algo especial a ser comentado. Por fim, depois de Barnabé e Paulo testemunharem, Tiago se levanta e traz um posicionamento bíblico sobre a situação, mencionando o que foi profetizado acerca deles e como a igreja deveria tratar o assunto. E o v.22 diz que “pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros”, o que mostra a importância de se chegar a um ponto de concordância.
Além do tempo para buscar a Deus juntos (At.13:1,2) acredito que a equipe deva investir em relacionamento. Gastar tempo juntos em refeições, conversas, passeios, e até mesmo em entretenimento e diversão. Isto tudo, como em qualquer outro relacionamento, aproxima, fortalece vínculos, ajuda a criar mais cumplicidade e intimidade entre os membros da equipe. Os doze que caminhavam com Jesus viveram juntos, comendo, rindo, buscando a Deus; não pense que só trabalhavam feitos robôs!
READEQUAÇÕES
Por melhor que seja a equipe, não é eterna. Não só porque um dia irão morrer, mas pela dinâmica do Reino de Deus. O Senhor falou com o presbitério da igreja de Antioquia e Paulo e Barnabé foram enviados a cumprir outra missão. Muitas vezes, e por muitos e diferentes motivos, membros do presbitério podem ser trocados ou remanejados. Eis algumas razões:
1. Envio. Foi o que aconteceu com Paulo e Barnabé; reconheceu-se um chamado do Senhor para os dois e eles foram liberados para aquilo que se sentiam chamados (At.13:3,4).
2. Disciplina ou juízo. Foi o que levou Judas a ser substituído (At.1:16-26) e foi a possibilidade da qual Jesus falou ao anjo da igreja de Éfeso (Ap.2:5).
3. Morte. Ítem óbvio; ninguém dura para sempre e uma hora haverão substituições pela partida dos servos de Deus ao Lar Celestial (II Pe.1:14).
4. Remanejamento de posição. Embora inicialmente Pedro tenha se destacado como o líder da Igreja em Jerusalém, este lugar parece ter sido depois assumido por Tiago, irmão do Senhor (Gl.1.19). Paulo, ao mencionar as colunas da igreja de Jerusalém, menciona os nomes nesta ordem: Tiago, Pedro e João (Gl.2:9). No episódio ocorrido em Antioquia e descrito por Paulo aos galátas, vemos o apóstolo Pedro temendo o que os da parte de Tiago pensariam a seu respeito (Gl.2:12), o que indica que Tiago tinha, nesta ocasião, uma voz maior que a de Pedro. Parece que isto ocorreu depois da prisão de Pedro (At.12) e não sabemos a razão; talvez o próprio Pedro tenha sentido a necessidade de se dedicar mais às viagens… o fato é que readequações podem acontecer e devemos agir com sabedoria e sensibilidade à voz de Deus nestas horas.
Pr. Luciano Subira – Ministério Orvalho
Estudo extraído do site www.orvalho.com