Com certeza o filme Avatar encanta por seus efeitos especiais, aventura e por todo o enredo que prende a atenção do início ao fim. Mas, se olharmos mais de perto o que enxergaremos nas entrelinhas? Podemos fazer uma ligação com questões religiosas e com atitudes que por vezes tomamos exatamente por acharmos que estamos certos e os outros errados? Até que ponto seria interessante assumirmos um “Avatar” para explorar o que nos é desconhecido e que julgamos como algo ruim ou não desejável?
O filme nos apresenta inicialmente 2 (duas) visões de mundo que vão se mostrar bem demarcadas: os seres humanos em busca de um minério que movimenta toda a economia mundial do planeta Terra e que é extraído destruindo toda uma natureza de outro planeta (Pandora) e o povo Navi que respeita a natureza e sabe conviver com toda a diversidade que os cerca, mesmo parecendo algo estranho.
Mas, essa não é a questão principal que devemos enxergar no filme. Por incrível que pareça o real mundo a ser explorado é o nosso mundo interior. Será que realmente faço as coisas do meu modo ou somente porque outros dizem como fazer? Conheço os reais perigos e ameaças ou simplesmente assumo os medos e interesses de outras pessoas?
Aí entra o “Avatar” na história. Concebido para ser um espião e estudar todas as fraquezas do povo alienígena, do desconhecido, do que consideramos como repugnante. Ele tentará num primeiro momento mudar a forma de pensar deles para o nosso padrão e caso não obtenha sucesso só resta o extermínio cultural e até mesmo físico.
Muitas religiões assumem esse papel do povo escolhido em detrimento a qualquer tipo de pensamento ou dogma diferente do seu. Como os humanos do filme obedecem cegamente ordens superiores que consideram ser a voz da razão e principalmente da verdade. Demonizam assim todas as formas diferentes de espiritualidade e se transformam em “sanguinários” da fé para defender suas idéias que são consideradas verdades divinas. Os outros que não seguem tais linhas de pensamento são rotulados como “mundanos”, “apóstatas” e o amor tão pregado em suas palavras se mostra árido e sem raízes, pois apenas consegue alcançar os que estão perto e pensam de forma igual.
Infelizmente isso acontece atualmente com várias religiões, mas vale destacar as Testemunhas de Jeová e seu mundo imaginado como perfeito. Se fecharam numa rede de regras e de medos e o mundo real é comparado ao de Pandora (do filme): algo desconhecido, temeroso e que não se deve ter nenhum contato e nenhum respeito. As Testemunhas de Jeová vêem o mundo como algo demoníaco, onde todas as pessoas servem apenas aos seus desejos egoístas e que não se devem misturar ou conhecer tais pessoas. A real intenção das Testemunhas de Jeová é exatamente como no filme: entrar na floresta maligna e pegar o minério precioso e nesse caso seria pregar o que foram mandados e trazer mais pessoas (antes demoníacas) para a arca da salvação.
Mas, sempre existe os questionadores, os revolucionários, os que ousam tentar um mundo mais justo e com isso usam o “Avatar” para descobrir que na grande maioria das vezes aquele diferente, o mundano, o apóstata é um ser único e cheio de experiências que só vão acrescentar na vida de todos. Começam a perceber que foram outras pessoas (Torre de Vigia) que impuseram o medo, que demonizaram vidas diferentes e que na realidade queriam apenas encobrir seus próprios erros.
Assumam pois o controle de sua vida e uma boa maneira é construir seu “Avatar” para que ele possa pesquisar o desconhecido e que você mesmo decida o que fazer com tais informações. Mergulhe no diferente e se transforme. O real significado de se viver é buscar sempre novas formas de ver o mundo interior que nos impele a mudar tudo e todos ao nosso redor. Chegará o momento em que não saberá se é você ou seu “Avatar” que estará vivendo as experiências: aí perceberá que sempre eram um só!