Fracos como somos, como poderíamos responder por manter a salvação da nossa alma? Como poderíamos ter sob o nosso cuidado o realizar e o manter a nossa salvação?
Crer que a salvação pode ser perdida uma vez obtida de fato por uma união real com Cristo por meio da fé, seria admitir, obrigatoriamente, que Deus teria colocado sobre os nossos ombros, e não sobre os de Cristo, a responsabilidade de garantir a nossa salvação eternamente.
Se considerarmos um outro critério de salvação diferente da graça que opera mediante a exclusiva misericórdia de Deus, sem o concurso de nossas obras, haveria necessidade de que este fosse claramente definido nas Escrituras ao lado da graça, conforme elas dão um completo testemunho em favor da graça.
Que critério seria este que dependeria de nossa completa observância para que não viéssemos a perder a nossa salvação?
Não mais pecar? Sabemos que isto é impossível enquanto estivermos neste mundo, e a própria Palavra ensina que dissermos que não somos pecadores, mentimos contra a verdade (I Jo 1.8).
Cumprir perfeitamente os mandamentos de Deus? Também falhamos nisto, a par de todos os nossos melhores esforços em sincera diligência para cumpri-los. Cabe destacar que se fosse este o critério estaríamos perdidos, pois uma salvação mediante a Lei demanda um perfeito cumprimento de todos os mandamentos por toda a vida, de modo que a Lei considera como maldito de Deus todo aquele que descumprir um único mandamento (Dt 27.26; Gál 3.10).
Vemos que não poderíamos ser salvos por nenhum outro critério senão o da promessa de Deus de ser misericordioso para com as nossas transgressões, Jeremias 31.31-34, pela cobertura da graça que opera segundo a redenção e justificação que temos com base na morte e ressurreição de Jesus.
E caso o próprio Deus não nos tivesse atraído ao Seu Filho Unigênito e não nos capacitasse a perseverar até o fim pelo Espírito Santo que nos foi dado por estarmos em Cristo, jamais poderíamos sequer pensar em sermos salvos e ter esperança de sermos achados no céu de glória.
Até mesmo os deveres dos quais somos incumbidos para a obediência da Palavra, para a nossa santificação, são operados por Deus, porque é Ele quem opera tanto o nosso querer quanto o realizar. Estes deveres somente têm sentido e efeito na nossa união e comunhão com Cristo, que é o grande Capitão da nossa salvação. Sobre isto, assim se expressou John Owen no passado:
“É a partir da plenitude de Cristo que toda a graça é recebida. Nenhuma verdade pode ser separada dele. Ele é a vida e a alma de todas essas verdades – sem o qual, como se encontram nas Escrituras, são apenas uma letra morta, e são de tal natureza que seriam ilegíveis para nós, quanto a alguma verdadeira descoberta da graça e do amor de Deus.
Não há, portanto, qualquer texto da Escritura que encoraje o nosso dever diante de Deus – para que possamos entender como realizá-lo de uma forma aceitável – sem uma relação real com Cristo, somente de quem recebemos capacidade para o seu desempenho.”