“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.” (I Coríntios 10:31-32 ACF1)
Introdução
Muito se tem falado sobre o uso de bebidas alcoólicas por parte dos cristãos. Alguns têm defendido ardorosamente que “um pouco” de álcool de modo algum é prejudicial, e que beber com moderação é recomendado pelas escrituras. Já outros se posicionam em campo oposto, rejeitando completamente o uso de bebidas alcoólicas, mas por vezes ficam desarmados frente a várias passagens bíblicas que, frente a um exame superficial, autorizariam o uso do vinho.
Este grave problema que se põe, a aparente contradição das escrituras que ora repudiam e ora enaltecem o uso do vinho, faz com que passagens bíblicas possam ser interpretadas de acordo com propósitos colocados nos corações daqueles que as lêem, não levando em conta o propósito divino com que foram escritas, propósito este que deve ser devidamente obtido através do contexto teológico, histórico, gramatical, usando-se assim de perfeita exegese bíblica.
Frente a esta caótica situação vem este estudo se propor a analisar profundamente a questão do vinho nas escrituras sagradas e sua influência na vida dos cristãos.
Os Problemas Causados Pela Ingestão de Bebidas Alcoólicas
Inúmeros são os problemas causados na vida das pessoas pela ingestão de bebidas alcoólicas. Estes problemas afetam desde o convívio social do indivíduo até a manutenção de sua vida e de pessoas próximas. Existem estatísticas alarmantes sobre o desastre causado na vida das pessoas pelo consumo do álcool, que o tornam o inimigo público número um, chegando a matar 25 vezes mais que todas as drogas ilegais juntas!
O álcool pode atingir todos os tecidos do organismo célula por célula, pelo fato de ser completamente miscível em água, causando com isto inúmeras desordens físicas e psíquicas. O uso do álcool pode provocar aumento de peso, dependência química, impotência sexual, vários tipos de câncer e pode estimular o surgimento de outras doenças físicas graves, como por exemplo, úlceras, cirrose hepática, hepatite alcoólica e a esteatose hepática.
Foi comprovada uma relação direta entre o aumento do número de homicídios e o aumento do consumo de bebidas alcoólicas no Brasil.
Segundo o IBGE, o consumo de cerveja passou de 25 litros por habitante para 48,4 litros por habitante entre 1979 e 1999, havendo um aumento do número de homicídios por 100.000 habitantes em quantidade proporcionalmente equivalente. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP a receita mais comum para um assassinato é uma arma na mão e alguns goles de qualquer bebida alcoólica na cabeça. Segundo o mesmo estudo, 40% dos assassinatos ocorrem sob a influência de bebidas alcoólicas.
Além disto, o álcool está envolvido em 65% dos afogamentos, 22% dos acidentes domésticos, 77% das quedas, 40% dos assaltos, 35% dos crimes sexuais e em 30% dos suicídios.
O uso de álcool está também estreitamente ligado às mortes por acidentes de trânsito. Segundo estudos feitos a partir de dados obtidos no Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo no ano de 1999, foi constatada alcoolemia positiva em 47% das vítimas fatais de trânsito, e deste total, 96,8% estavam com um teor alcoólico em seu sangue acima de 0,6 g/litro (limite máximo estabelecido pelo Código Nacional de Trânsito).
Nos Estados Unidos, os custos financeiros causados por acidentes envolvendo indivíduos alcoolizados somaram em 1994 a exorbitante quantia de 45 bilhões de dólares, havendo mais de 13.560 mortos e 1,73 milhões de feridos!
Dados indicam também que uma em cada quatro famílias tem em seu seio problemas relacionados ao uso do álcool, como crianças com deficiências mentais, divórcios, violência no lar, doenças, crimes e mortes.
São números impressionantes, e levam à conclusão que a ingestão de bebidas alcoólicas é um dos mais sérios problemas da humanidade e tem causado o infortúnio e a derrota de milhões de pessoas.
Origem e Significado da Palavra Vinho
Hoje a palavra vinho passou a ter um único significado, qual seja o líquido resultante da fermentação etílica da uva, ou de outras frutas, conforme pode-se observar pela definição encontrada no dicionário Michaelis:
Líquido alcoólico, resultante da fermentação do sumo da uva ou ainda de outros frutos.
Licor fermentado que se extrai dos vegetais.
Mas, cabe aqui uma análise mais profunda sobre a origem da palavra “vinho”, isto porque esta palavra não teve sempre este único significado, como fazem supor alguns.
A palavra vinho origina-se da palavra latina vinum, que por sua vez tem origem na palavra grega oinos. Retirando-se os sufixos tem-se os radicais de cada palavra:
oin(os) = oin
vin(um) = vin
vin(ho) = vin
Nota-se assim a clara ascendência etimológica da palavra vinho, e fica patente sua origem na palavra latina vinum que tem o mesmo significado da palavra grega que a originou: oinos.
Segundo o léxico de latim de Lewis & Short, os significados da palavra “vinum” são:
Uvas. Vinum pendens (vinho pendente), conforme encontrado na obra de Márcio Plauto, Trinummus
Videira, vinha
Vinho feito de uvas, vinho frutado.
A primeira e a segunda definições fazem a própria fruta, a uva, e a planta, a videira, serem também vinho.
No Thesaurus Linguae Latinae tem-se as definições da palavra “vinum” suportadas pelo conteúdo das obras de diversos autores clássicos. Entre estas definições duas chamam atenção: Aigleuces vinum (“vinho doce”) e Defrutum vinum (“vinho fervido”), ambas são descritas como vinhos não fermentados (não alcoólicos).
Já o Phraseologia Generalis define a palavra latina “mustum” (mosto) como “vinho novo”, e a frase vinum pendens como “vinho ainda no pé”. Vale aqui ressaltar a definição atual da palavra mosto, conforme o dicionário Michaelis, qual seja:
Sumo da uva, antes de se completar a fermentação.
Suco, em fermentação, de qualquer fruta que contenha açúcar.
Mosto virgem: sumo que corre das uvas e outras frutas, antes de serem pisadas.
Também se nota na palavra mosto a perda do significado original que seria “o suco fresco de uvas”.
Aristóteles em seu livro Metereologica informa o sentido da palavra oinos (vinho) ao definir glukus, um suco de uvas adocicado, da seguinte forma:
“embora chamado vinho (oinos), ele não tem os efeitos do vinho, apesar de ter o sabor do vinho ele não intoxica como o vinho comum”.
Em outra passagem Aristóteles diz o seguinte: –
“Alguns tipos de vinho (oinos), como por exemplo o mosto (gleukos), se solidificam quando fervidos”.
Na Septuaginta, tradução do Velho Testamento do hebraico para o grego, os tradutores com grande freqüência traduziram a palavra hebraica “tirosh” que significa suco de uvas fresco como oinos (vinho) sem qualquer adjetivação, mesmo havendo uma palavra que alguns poderiam afirmar ser “uma melhor tradução” para o suco de uvas fresco, no caso gleukos (mosto). Estes fatos indicam de forma inequívoca a qualquer que se proponha a estudar de forma séria esta questão que a melhor tradução para “suco de uvas recém espremido” em grego é mesmo oinos (vinho).
Assim temos demonstrado que as palavras que deram origem à palavra “vinho” devem ser interpretadas tanto como suco de uvas não fermentado, quanto como suco de uvas fermentado.
Sob esta ótica, a palavra “vinho” deveria ter este mesmo significado. Mas, o que se observa é a palavra vinho significando somente o suco de uvas com fermentação etílica. Deduz-se desta forma que em algum ponto do nosso passado houve uma mudança no significado original da palavra. O Dicionário luso-brasileiro Lello Universal traz várias definições para o vinho, sendo uma delas a do “vinho abafado” como sendo:
“o vinho doce proveniente de uma fermentação parcial do mosto, sustada pelo calor, ou pelo anidrido sulfuroso ou por outro processo que não altere o valor higiênico do vinho, mas em que não intervenha a alcoolização.”
Este dicionário apesar de indicar o vinho como sendo “bebida alcoólica que se obtém da fermentação, total ou parcial, do sumo de uvas frescas (mosto)” traz uma exceção, o vinho abafado, que é um vinho não alcoólico, bem como resgata o significado original de mosto: “sumo de uvas frescas”.
No dicionário Melhoramentos de 1970 e no dicionário Globo de 1956 tem-se basicamente a mesma definição de vinho encontrada hoje no dicionário Michaelis, o que indica a necessidade de posicionamento da pesquisa ainda mais no passado:
O Dicionário Prático da Língua Nacional (J. Mesquita de Carvalho) de 1945 incrivelmente não traz a descrição da palavra vinho, tão somente a da palavra vinha, indicando contudo o vinho como sendo seu cognato.
O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa por Antenor Nascentes de 1932, indica a origem da palavra vinho na palavra latina vinum, e indica vinho como sendo, entre outros, sinônimo de videira.
No Diccionario da Lingua Portugueza de José da Fonseca (por J. I. Roquete) de 1848 encontra-se a seguinte definição de vinho: “liquor extrahido da uva”. Procurando-se no mesmo dicionário a definição da palavra liquor tem-se as seguintes definições: “1. Substância fluida e líquida; 2. Bebida espirituosa”.
Desta forma a definição original da palavra vinho na língua portuguesa é:
Substância fluida e líquida extraída da uva.
Bebida espirituosa extraída da uva.
Significado da palavra hebraica yayin
A palavra hebraica yayin tem rigorosamente o mesmo significado da palavra latina vinum e da palavra grega oinos, como pode ser visto pelos seus radicais:
(ya)yin
oin(os)
vin(um)
yin = oin = vin
A Encyclopaedia Judaica de 1971 apresenta uma descrição dos diversos usos da palavra yayin, entre eles cabe destaque a alguns que permitem que seus diversos significados fiquem claros:
yayin mi-gat O vinho recém espremido antes da sua fermentação (vinho novo)
yayin yashan O vinho fermentado do ano anterior (vinho velho)
yashan noshan O vinho fermentado com três anos ou mais (vinho muito velho)
Tem-se que a palavra yayin a exemplo de oinos e vinum tanto pode ser utilizada para referenciar vinho com fermentação etílica quanto vinho não fermentado.
Traduções da Bíblia
A tradução da Bíblia de João Ferreira de Almeida foi desenvolvida no decorrer do século XVII, e a este tempo a palavra vinho ainda mantinha o seu significado original, ou seja, suco de uvas fermentado ou não, tal qual as palavras que estavam sendo traduzidas do grego e do hebraico, oinos e yayin, respectivamente.
Não cabe, portanto, qualquer argumentação sobre a palavra vinho significar, na Bíblia, somente o suco de uvas fermentado, pois como ficou demonstrado, esta palavra é utilizada para definir todos os líquidos obtidos a partir da uva.
O Vinho no Velho Testamento
Neste ponto é importante verificar como o Velho Testamento trata a questão do vinho, tanto com relação ao vinho fermentado quanto ao não fermentado.
O Vinho Fermentado
Não há dúvida que com grande freqüência a palavra yayin é utilizada referindo-se ao vinho fermentado no Velho Testamento. Mas invariavelmente, quando ocorre com este significado, diz respeito aos efeitos maléficos resultantes do uso do vinho e à sua conseqüente condenação divina.
A primeira referência aos efeitos causados pelo uso do vinho fermentado está em Gênesis 9:20-21 (ACF):
“E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.” Gênesis 9.20-21
Um pouco mais adiante na história da humanidade a Bíblia relata o caso das filhas de Ló quando após a destruição de Sodoma e Gomorra embebedaram o pai para deitarem-se com ele:
“Vem, demos de beber vinho a nosso pai, e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai. E deram de beber vinho a seu pai naquela noite; e veio a primogênita e deitou-se com seu pai, e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou. E sucedeu, no outro dia, que a primogênita disse à menor: Vês aqui, eu já ontem à noite me deitei com meu pai; demos-lhe de beber vinho também esta noite, e então entra tu, deita-te com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai…E deram de beber vinho a seu pai também naquela noite; e levantou-se a menor, e deitou-se com ele; e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou” (Gênesis 19:32-33,35 ACF)
Já a passagem a seguir mostra a completa desaprovação de Deus ao uso do vinho, claramente referindo-se ao vinho fermentado com sua coloração resplandecente e suave escoar:
“Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado. Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei? aí então beberei outra vez.” (Provérbios 23:29-35 ACF)
O Rei Salomão, inspirado por Deus, apresentou acima vários resultados ruins decorrentes do uso do vinho, mas faz especial menção ao vício, pois apesar da pessoa saber que sofreu graves conseqüências devidas à embriaguez, torna a ter o firme propósito de repetir a carraspana.
Vários São os Alertas Sobre os Resultados do Uso do Vinho Fermentado no Velho Testamento:
* O vinho causa excitação:
“Então, o Senhor despertou como de um sono, como um valente que o vinho excitasse.” (Salmo 78:65 ACF)
* O vinho faz cambalear:
“Andam e cambaleiam como ébrios, e perderam todo o tino.” (Salmo 107:27 ACF)
* O vinho é zombador:
“O vinho é escarnecedor, a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio.” (Provérbios 20:1 ACF)
* O vinho leva à indigência:
“O que ama os prazeres padecerá necessidade; o que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá.” (Provérbios 21:17 ACF)
* O vinho faz com que o que bebe se fira:
“Como o espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio na boca dos tolos.” (Provérbios 26:9 ACF)
* O vinho faz com que se rejeite a obra de Deus:
“Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice; e continuam até à noite, até que o vinho os esquente! E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nos seus banquetes; e não olham para a obra do SENHOR, nem consideram as obras das suas mãos. Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; e os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede.” (Isaías 5:11-13 ACF)
* O vinho faz errar:
“Mas também estes erram por causa do vinho, e com a bebida forte se desencaminham; até o sacerdote e o profeta erram por causa da bebida forte; são absorvidos pelo vinho; desencaminham-se por causa da bebida forte; andam errados na visão e tropeçam no juízo.” (Isaías 28:7 ACF)
Em todos os casos fica patente o alerta divino sobre os malefícios causados pelo vinho etílico, vemos que a Palavra de Deus dá claras ordens com relação à não utilização deste tipo de vinho, cabe então ao homem obedecer ou não à vontade de Deus.
O Vinho Não Fermentado
Referências ao vinho não fermentado não são tão claramente documentadas na Bíblia quanto as condenações ao intoxicante vinho fermentado. Mas, é sempre possível chegar-se ao verdadeiro significado das palavras utilizadas através do contexto em que se encontram.
Nas passagens a seguir a palavra “vinho” tem o significado óbvio de “vinho não fermentado”, vejamos:
“Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua jumenta à cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no vinho, e a sua capa em sangue de uvas.” (Gênesis 49:11 ACF)
Apesar desta ser uma passagem profética, as figuras apresentadas são verídicas. Nesta passagem Jacó está abençoando a seus filhos e Judá irá amarrar o seu jumentinho à vide e lavará a sua roupa no vinho.
Fica claro que não haveria como Judá extrair vinho fermentado diretamente da vide. E mais, a construção “sangue de uvas”, em hebraico, é sinônima de vinho, e sangue de uvas é sim suco de uvas recém espremido, ou em outras palavras, vinho não fermentado.
“Então Abigail se apressou, e tomou duzentos pães, e dois odres de vinho, e cinco ovelhas guisadas, e cinco medidas de trigo tostado, e cem cachos de passas, e duzentas pastas de figos passados, e os pôs sobre jumentos.” (I Samuel 25:18 ACF)
Nesta passagem Abigail preparou grandes provisões para entregar a Davi que vinha para vingar a afronta recebida de Nabal, marido de Abigail. O que chama a atenção na passagem acima é a disparidade entre as quantidades de mantimentos e os dois odres de vinho. Esta grande diferença de quantidade surge como clara indicação de que o vinho estava em forma de suco de uva concentrado (fervido), o qual para ser bebido deveria ser reconstituído com água. Este era um método muito comum de preservação do suco de uvas na antigüidade. Pode-se ver a mesma discrepância de quantidades na passagem a seguir:
“E passando Davi um pouco mais adiante do cume, eis que Ziba, o servo de Mefibosete, veio encontrar-se com ele, com um par de jumentos albardados, e sobre eles duzentos pães, com cem cachos de passas, e cem de frutas de verão e um odre de vinho.” (II Samuel 16:1 ACF)
“Naquele dia haverá uma vinha de vinho tinto; cantai-lhe. Eu, o SENHOR, a guardo, e cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei.” (Isaías 27:2-3 ACF)
Esta é outra passagem profética, sobre uma vinha cuidada diretamente pelo Senhor. A palavra hebraica traduzida aqui como vinho tinto é rmx (chemer) que significa literalmente vinho puro ou vinho ainda por ser fervido, clara referência ao suco fresco de uvas.
“Já se consumiram os meus olhos com lágrimas, turbadas estão as minhas entranhas, o meu fígado se derramou pela terra por causa do quebrantamento da filha do meu povo; pois desfalecem o menino e a criança de peito pelas ruas da cidade. Ao desfalecerem, como feridos, pelas ruas da cidade, ao exalarem as suas almas no regaço de suas mães, perguntam a elas: Onde está o trigo e o vinho?” (Lamentações de Jeremias 2:11-12 ACF)
Nesta passagem o menino e a criança de peito desfalecendo no regaço de suas mães perguntam pelo seu alimento costumeiro, qual seja, pão e vinho. Não se pode de maneira alguma aceitar que este vinho seja o intoxicante vinho com fermentação etílica, mas sim, e sem qualquer dúvida, o puro suco da vide.
Na passagem que se segue o vinho é claramente um produto da terra e uma benção dada àqueles que servem a Deus. É interessante notar que os lagares, que são tanques nos quais se espremem e reduzem a líquido as uvas, venham a transbordar de vinho, que sendo suco de uvas recém espremidas é por conseguinte vinho não fermentado:
“Honra ao SENHOR com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; e se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” (Provérbios 3:9-10 ACF)
O Velho Testamento coloca o vinho não fermentado, seja o suco concentrado de uvas, seja o suco fresco de uvas, como uma bênção aos que temem a Deus e fazem a Sua vontade.
O Vinho no Novo Testamento
A crença popular de que Jesus Cristo, apesar de não ter sido um beberrão, tinha o hábito de beber moderadamente vinho alcoólico, e não só isto, mas que tenha também produzido deste vinho em grande quantidade nas bodas de Caná, tem moldado a opinião e a forma de agir de muitos cristãos quanto ao hábito de tomar bebidas fermentadas ou destiladas. A posição é esta: – “Se Cristo fez, recomendou e tomou vinho alcoólico, os cristãos devem seguir o Seu exemplo”.
As Bodas de Caná (João 2)
Ao analisar esta passagem é importante ter em mente qual o objetivo de Jesus ao realizar o milagre da transformação de água em vinho, qual fosse manifestar a Sua glória como Filho de Deus e despertar a confiança dos seus discípulos na Sua capacidade de salvar o seu povo do pecado:
“Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.” (João 2:11 ACF)
Partindo deste princípio, crer que Jesus, sabendo que os convidados já “haviam bebido muito” (v.10), criou vários litros de vinho alcoólico (entre 383,28 e 574,92 litros) desrespeitando desta forma a clara vontade de Deus, é algo além da mais desvairada imaginação:
“Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações; e para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, e para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado por meio de Moisés.” (Levítico 10:9-11 ACF)
“O vinho é escarnecedor, a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio.” (Provérbios 20:1 ACF)
“Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente” (Provérbios 23:31 ACF)
É inimaginável o Senhor Jesus iniciar seu ministério contrariando de tal forma a vontade do Pai, e contribuindo decisivamente para a embriaguez das pessoas presentes àquela festa:
“Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro! Ai de ti, que adiciona à bebida o teu furor, e o embebedas para ver a sua nudez!” (Habacuque 2:15 ACF)
Os modernos pesquisadores estão alertando a respeito da síndrome fetal do álcool, que é um grupo de defeitos físicos e mentais no nascimento, resultantes do consumo de álcool durante a gravidez. Estes defeitos incluem atraso mental, déficit de crescimento, mau funcionamento do sistema nervoso, anomalias cranianas e desajustes de comportamento.
Segundo a OMS2, a cada ano, no mundo, nascem 12.000 bebês com a síndrome fetal do álcool. Alguns sintomas podem não tornarem-se óbvios até que o bebê atinja uma idade entre 3 e 4 anos, contudo, seus efeitos são irreversíveis.
E sendo Jesus Cristo o Filho de Deus, não seria questionar sua divindade, sabedoria e discernimento entre o bem e o mal afirmar que Ele teria servido vinho intoxicante em uma festa de casamento?
Fica claro aqui que o que Cristo fez foi sim o bom e puro vinho, isto é, o natural e saudável suco de uvas.
Os Odres Novos
“E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.” (Lucas 5:37-39 ACF)
Esta passagem, bem como suas correlatas em Mateus 9:17) e em Marcos 2:22), trazem em si um grande problema de interpretação. Um problema não só teológico, mas também técnico.
Uma interpretação comum é a de que somente odres novos suportariam a pressão causada pelos gases gerados pela recém iniciada fermentação do vinho novo. Isto seria devido ao fato dos odres velhos não terem mais a necessária elasticidade, rompendo-se sob pressão.
Seguindo esta linha de raciocínio, Jesus estaria sugerindo com veemência o consumo do vinho velho (com fermentação completa) por ser este melhor que o vinho novo (com fermentação incompleta), o que concorda com a maioria dos modernos enólogos.
Porém o fato é que nenhum odre, seja novo ou velho, suportaria a enorme pressão causada pelos gases gerados durante o processo de fermentação do vinho. Para este fim eram utilizados grandes jarros cerâmicos.
Uma aproximação tecnicamente correta do problema é a da utilização de vinho não fermentado. Neste caso, deveriam ser utilizados odres novos besuntados com mel para o armazenamento do vinho novo, filtrado ou fervido, sendo hermeticamente lacrados logo a seguir. Considerando se tratar de vinho novo não fermentado, caso fossem utilizados odres velhos, por mais limpos que estivessem, sempre haveria em suas paredes pequenas quantidades de matéria orgânica em decomposição, e isto seria o suficiente para iniciar um violento processo de fermentação do vinho o que com certeza romperia o odre devido à grande geração de gases.
Outra teoria é a de que o vinho novo a que Jesus se referiu seria o vinho em que o processo de fermentação estaria próximo do final, o que permitiria ao odre novo suportar a pressão gerada. Mas, neste caso, também o odre velho poderia ser utilizado pois da mesma forma suportaria a pequena pressão gerada neste ponto da fermentação.
Fica tecnicamente provado que Jesus estava falando de vinho não fermentado. Mas, se este é o caso, o que o Mestre estava tentando dizer (v.37 e 38)?
Os discípulos de Cristo são como o vinho novo e, claro, não fermentado; Sendo assim necessitam de um odre novo. Não pode haver renovação sem que sejam abandonados as tradições e procedimentos fermentados praticados até então pelos judeus. Uma nova formulação necessita ser implantada, e Cristo veio ao mundo precisamente com este objetivo. Assim para que haja renascimento espiritual é necessário arrependimento dos pecados, entrega total da sua vida ao Senhor e a conseqüente mudança na vida do pecador. Assim, para um novo vinho (novo espírito) é necessário um novo odre (novo homem).
O versículo 39 traz um problema ainda maior. Este verso, se analisado de forma precipitada, traz uma aparente contradição com relação aos versos anteriores, além de aparentar estar completamente fora de contexto. Esta idéia é ainda mais reforçada quando se vê que nos textos encontrados em Mateus e Marcos não há referência alguma a esta passagem. Porém na Palavra de Deus nada está escrito por acaso, nada está fora de contexto e não há qualquer contradição.
O primeiro ponto a ser analisado é quem está dizendo que “Melhor é o velho”. Jesus? – Não. Quem diz “melhor é o velho” é aquele que já tenha bebido do vinho envelhecido. Isto se deve ao fato do ser humano ao experimentar o vinho fermentado querer mais dele. Este é o princípio básico do vício, pois, mesmo tendo ciência dos efeitos negativos do uso da substância que vicia, a pessoa quer mais.
Mas, sendo o texto uma parábola, tem um sentido além do seu sentido imediato e direto já apresentado. Qual seja:
Jesus, como profundo conhecedor da natureza humana, sabe que é um processo trabalhoso ao homem a aceitação de mudanças. Os fariseus, a quem Jesus estava falando, tinham grande dificuldade em deixar suas velhas tradições fermentadas e desprovidas de fé, e aceitar a nova proposta feita por Cristo. Preferiam eles permanecer em seus rituais e tradições, a procurar experimentar um novo nascimento, um nascimento espiritual, o que lhes faria novos homens, vinho novo em odres novos. Daí dizerem: – melhor é o velho.
A Santa Ceia do Senhor
“Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma.” (Levítico 17:11 ACF)
No Velho Testamento os pecados do povo de Israel eram expiados através de um sistema de sacrifícios onde o sangue de animais era vertido com esta finalidade. Porém, ao contrário do que muitos pensam, o sistema de sacrifícios não foi abolido no Novo Testamento, o que ocorreu foi uma alteração neste sistema. Ao invés do sacrifício de animais, tem-se agora um sacrifício muito mais excelente, um sacrifício definitivo, um sacrifício capaz de remir os pecados não apenas do povo de Israel, mas de toda a humanidade: O sacrifício de Jesus, o Cordeiro sem mácula, o Filho de Deus, que verteu o seu sangue como expiação pelos pecados do mundo.
A Santa Ceia foi instituída por Jesus Cristo como um memorial a este sacrifício definitivo, e neste cerimonial foram instituídas as figuras do pão e do cálice.
Na instituição do cerimonial, Jesus nos informa que o conteúdo do cálice é o fruto da vide:
“E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai.” (Mateus 26:27-29 ACF)
O problema posto aqui é: Qual é na verdade o fruto da vide ao qual Jesus se referiu? Vinho fermentado ou vinho não fermentado?
Pesquisas no Velho Testamento não nos ajudam a responder a esta questão, pois nada é dito sobre qual bebida deve ser utilizada para libação nas instruções sobre a ceia de Páscoa. Tem-se referências ao cordeiro, ao pão não fermentado (ázimo) e às ervas amargas, mas, nenhuma referência à bebida utilizada como acompanhamento desta refeição.
Porém, a Palavra de Deus nos dá as indicações necessárias para que saibamos, sem sombra de dúvidas, qual foi a bebida utilizada por Jesus na última ceia:
Moisés, sobre a comemoração da Páscoa, instrui o seguinte:
“Sete dias comereis pães ázimos; ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma será cortada de Israel.” (Êxodo 12:15 ACF)
O fermento, nas escrituras, está associado ao pecado e às falsas doutrinas3:
“Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” (I Coríntios 5:6-7 ACF)
“E Jesus disse-lhes: Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus.” (Mateus 16:6 ACF)
“Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus.” (Mateus 16:12 ACF)
O vinho fermentado, sempre alcoólico e intoxicante4, não condiz com o pão ázimo (não fermentado), e não condiz com a instrução de Moisés sobre o fermento, e não condiz com a pureza necessária para que simbolizasse o sangue de Cristo.
O vinho fermentado não é um fruto da vide. É um subproduto obtido através de um processo químico de fermentação5 que atua sobre as moléculas de açúcar do suco, alterando suas propriedades e gerando álcool etílico e dióxido de carbono. Assim o vinho fermentado não é mais o fruto da vide, é agora o fruto modificado em algo diferente, um subproduto. E como símbolo do puro e incorrupto sangue de Cristo um subproduto modificado não seria a melhor escolha, e certamente não foi a opção de Jesus em momento algum. Desta forma chega-se à seguinte conclusão: – O puro e natural suco de uvas, este sim um fruto da vide, foi o líquido utilizado para representar o sangue do Nosso Senhor na instituição da Santa Ceia.
O apóstolo Paulo ao dar instruções sobre a ceia do Senhor à Igreja em Corinto, alerta:
“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.” (I Coríntios 11:28 ACF)
Paulo deixa claro que a ceia do Senhor não é um momento festivo, mas um momento de séria reflexão, um momento solene no qual se faz necessária sóbria introspecção. Não cabem nesta hora a glutonaria e a bebedice que estavam ocorrendo naquela igreja. Por esta razão o apóstolo Paulo coloca a ceia do Senhor em sua real perspectiva, qual seja, um memorial em que cada pessoa deve examinar-se frente ao sacrifício que o Filho de Deus fez na cruz como paga por nossos pecados. Em um momento como este o vinho fermentado, intoxicante e alucinógeno não é uma opção aceitável.
Por todas estas inequívocas indicações dadas pela Palavra de Deus, tem-se que o fruto da vide ao qual o Senhor se referiu é o próprio fruto espremido, o puro suco de uvas, o vinho não fermentado. Este é o cálice da ceia do Senhor.
Paulo Instrui Timóteo a Tomar um Pouco de Vinho
“A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro. Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.” (I Timóteo 5:22-23 ACF)
Paulo instrui a Timóteo que não beba somente água, mas acrescente um pouco de vinho, por razões de saúde.
Alguns pontos devem chamar a atenção:
Timóteo era abstêmio, pois tomava somente água.
Paulo o instrui no verso 22 a conservar-se puro.
A palavra “vinho” pode significar tanto o vinho alcoólico como o vinho não fermentado (suco de uvas).
Paulo em I Timóteo 3:3, diz que o bispo (Timóteo era bispo), deve ser sóbrio.
Somando-se todas estas informações a conclusão é direta: – O vinho recomendado por Paulo a Timóteo era o vinho não fermentado. E como pode ser visto abaixo no item “Valor medicinal do vinho não fermentado”, este tem mais valor medicinal que o vinho alcoólico.
Beber Vinho é Permitido Desde Que Não Escandalize um Irmão
“Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” (Romanos 14:21 ACF)6
Este capítulo de Romanos trata das liberdades do cristão, não das instruções e proibições encontradas em outras passagens. E dentro do que é livre temos o beber moderadamente vinho não fermentado.
Mas, se a passagem trata de vinho não fermentado, por que alguém se escandalizaria com o fato de alguém bebê-lo?
Deve-se ter em mente a época em que foi escrita esta epístola, e o destinatário da mesma. Em Roma nesta época era muito comum o oferecimento de comida aos ídolos, daí a recomendação para o não comer, e da mesma forma era comum em cultos pagãos beber-se muito vinho não fermentado, em verdadeiras odes de glutonaria. Daí a recomendação para não beber o vinho não fermentado, evitando assim ser confundido com os que praticavam o paganismo.
Instruções Sobre a Bebida Alcoólica
A palavra de Deus dá instruções específicas quanto ao uso de bebidas que contenham álcool. Porém antes de analisar as instruções bíblicas, seria conveniente apresentar alguns parâmetros seculares de modo a ilustrar e a tornar mais fácil a análise da palavra de Deus.
Ponto de Embriaguez
A partir de que ponto uma pessoa pode ser considerada como estando embriagada? A taxa de álcool no sangue varia de acordo com o peso, altura e condições físicas de cada indivíduo. Porém a tabela a seguir pode ser utilizada como um parâmetro médio:
Quantidade de álcool por litro de sangue (em gramas)*
Efeitos
0,2 a 0,3 g/l – equivalente a um copo de cerveja, um cálice pequeno de vinho, uma dose de uísque ou outra bebida destilada.
As funções mentais começam a ficar comprometidas. A percepção da distância e da velocidade são prejudicadas.
0,3 a 0,5 g/l – dois copos de cerveja, um cálice grande de vinho, duas doses de bebidas destiladas. O grau de vigilância diminui, assim como o campo visual.
O controle cerebral relaxa, dando sensação de calma e satisfação.
0,51 a 0,8 g/l – três ou quatro copos de cerveja, três copos de vinho, três doses de uísque.
Reflexos retardados, dificuldades de adaptação da visão a diferenças de luminosidade, superestimação das possibilidades e minimização de riscos e tendência à agressividade.
0,8 a 1,5 g/l – a partir dessa taxa, as quantidades são muito grandes e variam de acordo com o metabolismo, com o grau de absorção e com as funções hepáticas de cada indivíduo.
Dificuldades de controlar automóveis, incapacidade de concentração e falhas na coordenTorpor alcoólico, dupla visão.ação neuromuscular.
1,5 a 2,0 g/l
Torpor alcoólico, dupla visão.
2,0 a 5,0 g/l
Embriaguez profunda
5,0 g/l
Coma alcoólica
* Fontes: Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo e médicos.
O mais importante a se notar nesta tabela é que mesmo um pequeno cálice de vinho já compromete as funções mentais, com prejuízo para a percepção.
Valor Medicinal do Vinho Não Fermentado
Dois estudos separados, um sobre os mecanismos de ação e outro sobre resultados clínicos, recentemente publicados em jornais de pesquisas cardiovasculares, mostram os benefícios de se tomar o suco de uvas.
Na edição de 12 de junho de 2001 do jornal Circulation, órgão oficial da Associação Americana de Cardiologia, os pesquisadores mostraram que beber o suco de uvas não somente tem um efeito direto em importantes funções biológicas como a coagulação sangüínea, mas também aparenta aumentar o nível de antioxidantes enquanto diminui a produção de radicais livres.
“Este estudo nos dá uma nova visão sobre como o suco de uvas pode melhorar a função cardiovascular”, explica a Dra. Jane E. Freedman, M.D., professora assistente de medicina e farmacologia na Georgetown University e uma das líderes do estudo. “O que nós estamos vendo pela primeira vez é que a substância ativa do suco de uvas age de duas formas relacionadas: Primeiro, ela tem um efeito protetor sobre a vitamina E e sobre outros antioxidantes, permitindo que eles permaneçam ativos por mais tempo, enquanto que ao mesmo tempo diminui a produção do radical livre superóxido-a. Segundo, esta substância ativa também parece ter um efeito direto, positivo em um grande número de funções biológicas como a produção de óxido nítrico e a inibição de plaquetas, ou células que causam coágulos, ambos também importantes fatores de proteção.”
Na edição de maio de 2001 do Atherosclerosis, pesquisadores compararam os efeitos de beber suco de uvas, vinho tinto e vinho tinto desalcoolizado em ratos de laboratório. Eles descobriram que o suco de uvas, quando comparado com o vinho tinto e com o vinho tinto desalcoolizado, foi no mínimo tão efetivo quanto estes ao:
* Baixar o colesterol total
* Diminuir a taxa de lipoproteínas de baixa densidade (tipo de colesterol danoso)
* Reduzir a arteriosclerose
* Aumentar os tempos de defasagem das lipoproteínas de baixa densidade
“Este estudo nos diz algumas coisas importantes”, explica Joe A. Vinson, Ph.D., professor de química da Universidade de Scranton, e líder do estudo.
“Primeiro, que o suco de uvas ofereceu um significativo benefício de proteção cardiovascular nos animais testados, incluindo o combate à instalação da arteriosclerose, um efeito que nós não havíamos visto antes. Segundo, ele sugere que o papel desempenhado pelo álcool na melhora de funções cardiovasculares pode não ser tão significativo quanto se pensava antes.”
Outro estudo conduzido pelo Dr. John D. Folts, Ph.D., F.A.C.C., trata dos mecanismos que aumentam ou diminuem a atividade de plaquetas e da incidência da trombose coronária mediada por plaquetas. Em estudos preliminares nos anos 70 ele desenvolveu um modelo de estudos, ao vivo, da formação da trombose em constrição de artérias com danos ao endotélio. Em 1974 ele primeiro demonstrou que a aspirina podia reduzir a incidência de trombose coronária de modo significativo. Atualmente, ele está estudando a propriedades anti-plaquetas e antioxidantes dos componentes encontrados no vinho tinto, em sucos de frutas e no chá.
Estes componentes parecem ser melhores inibidores de plaquetas que a aspirina. O foco atual é na funcionalidade de alimentos como o suco de uvas e a cebola, os quais tem propriedades anti-plaquetas e antioxidantes, e melhoram a função do endotélio permitindo uma melhor dilatação arterial. Os estudos foram feitos tanto em animais quanto em voluntários humanos, estes, tanto com fatores de risco quanto pacientes com comprovadas moléstias cardiovasculares. Os estudos com voluntários humanos demonstraram que tanto a aspirina quanto o vinho tinto reduzem as plaquetas em 45%, enquanto que o suco de uvas as reduz em 75%. Isto mostra que os benefícios do vinho não se encontram no álcool, mas na uva, e que os resultados são potencializados quando se utiliza diretamente o suco de uvas. A dosagem diária recomendada foi determinada como estando entre 220 e 280 gramas (aproximadamente, um copo).
“Seus dados são extremamente convincentes”, diz o Dr. Arthur L. Kastsky do Centro Médico Permanente de Oakland, CA. sobre o estudo do Dr. Folts. O Dr. Kastsky tem se dedicado a estudar se há benefícios para o coração na ingestão de álcool.
Todos os estudos até agora realizados demonstraram que o suco de uvas, o vinho não fermentado, é superior ao vinho alcoólico em suas funções medicinais, e sem conter qualquer toxidade.
Significado de Embriaguez
A palavra embriagado vem do latim êbrïus que significa intoxicado, bêbado, saturado.
O sinônimo mais importante nesta análise é intoxicado. Intoxicação, conforme o dicionário Michaelis, é a introdução de uma substância tóxica no organismo.
Assim, passa-se a estar embriagado no momento em que ocorre a introdução de uma substância tóxica no organismo.
O álcool é uma substância tóxica que pode até causar a morte imediata do indivíduo, dependendo da quantidade que for ingerida e das características específicas do álcool ingerido.
Desta forma o estado de embriaguez se estabelece no exato momento em que se ingere a primeira dose de qualquer bebida que contenha álcool.
Alguns alegam que partindo-se deste princípio, a primeira garfada de alimento constituir-se-ia em glutonaria. Cabe aqui, uma análise com bom senso desta alegação. Faz-se antes de mais nada necessário se distinguir o alimento, algo necessário para a vida, do tóxico álcool, tomado sem qualquer objetivo vital. Mas, vamos entender exatamente o que é glutonaria. Conforme o dicionário Michaelis, glutonaria é:
Qualidade ou vício de glutão.
Esta definição nos leva à necessidade de saber o significado da palavra glutão, que conforme o mesmo dicionário é:
Que, ou o que come muito e com voracidade.
Sem qualquer dificuldade vê-se que o glutão (o que comete a glutonaria) é alguém que come além do necessário para sua subsistência, com voracidade e por vício. Sendo pecado claramente condenado pelas Escrituras, bem como assim também o é, o pecado da bebedice. (ver Gálatas 5:21)
Passagens Bíblicas Que Instruem Sobre a Ingestão de Bebidas Alcoólicas
“Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? (30) Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado. (31) Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. (32) No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. (33) Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. (34) E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. (35) E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei? aí então beberei outra vez.” (Provérbios 23:29-35 ACF)
Este texto é direto e incisivo: Não olhes, e obviamente não bebas, o vinho quando se mostra vermelho, resplandecente no copo e escoando-se suavemente.
“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” (Gálatas 5:19-21)
A bebedice é condenada como uma obra da carne e quem a comete vai para o inferno. Muitos entendem como bebedice, que é sinônimo de embriaguez, somente com o estado de depravação completa causado pelo álcool, mas, como ficou demonstrado acima no tópico “Significado de embriaguez”, o primeiro gole de qualquer bebida alcoólica é bebedice.
“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;” (Efésios 5:18 ACF)
A passagem é translúcida: Não vos embriagueis com vinho. E novamente entra aqui o que se entende por embriaguez, e que como apresentado, não são somente os abjetos estados finais de intoxicação com álcool, mas todo o processo, iniciando-se pelo o primeiro gole.
“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia” (I Timóteo 3:2-4 ACF)
Nesta passagem a expressão “dado ao vinho”, quer dizer não obcecado pelo vinho, que não o procura com insistência. Como já foi demonstrado existem dois tipos de vinho, o fermentado e intoxicante e o não fermentado. Como no texto a palavra sóbrio foi traduzida da palavra grega nephaleos que tem dois significados: comedido e em ausência de álcool, fica claro que o pastor (que deve ser exemplo para o rebanho) não deve tomar qualquer quantidade de bebida alcoólica e ainda procurar ser comedido, não dado ao vinho não fermentado, evitando assim a glutonaria.
Apesar do texto ser específico ao referir-se diretamente ao pastor, as características expostas são esperadas de qualquer cristão. Seria de se admitir que um cristão fosse repreensível, polígamo, desatento, desonesto, inóspito, inapto para ensinar, espancador e cobiçoso de torpe ganância? A resposta é não. E porque então a resposta seria sim ao se tratar a questão da bebida e de ser dado ao vinho? A resposta continua sendo não. O cristão deve ser sóbrio e não deve ser dado ao vinho, assim como o pastor.
“Os velhos, que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, no amor, e na paciência;” (Tito 2:2 ACF)
Nesta passagem (como na passagem anterior em I Timóteo 3:2), a palavra sóbrio foi traduzida da palavra grega nephaleos. Desta maneira, o idoso é instruído para que se mantenha ausente do álcool (sóbrio). E isto também vale para os jovens. Pois, pode o jovem cristão estar embriagado? Esta instrução é para que os idosos sirvam de exemplo aos mais novos, e para que nenhum deles se utilize do álcool!
“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;” (I Pedro 5:8 ACF)
Esta passagem a exemplo da anterior instrui o cristão a ser sóbrio. Mas, além disto instrui o cristão a vigiar, porque o diabo está atento e pronto a tragar a quem possa. No tópico “Ponto de embriaguez” acima, ficou estabelecido que o primeiro gole de uma bebida alcoólica já compromete as funções mentais. Como, pois manter-se vigilante com as funções mentais comprometidas?
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (I Coríntios 6:19-20 ACF)
Cada um é mordomo de seu próprio corpo, não o dono, mas simplesmente o mordomo. Deve-se então grande cuidado para com sua manutenção. Já que este corpo pertence a Deus aquele que o intoxica é contrário à instrução divina. Não está, portanto, sendo um mordomo fiel deste valioso bem que Deus lhe confiou.
Conclusão
Àquele que foi resgatado pelo sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo é exigido que não se intoxique com nenhuma substância alcoólica, mesmo que em muito pequena quantidade. A tolerância da palavra de Deus para este tipo de bebida é nenhuma, nenhuma mesmo. As pessoas que tentam encontrar base bíblica para a ingestão de bebidas alcoólicas, seja em que quantidade for, estão apenas tentando encontrar base para a satisfação de seu desejo carnal ou de seu vício, e de forma alguma estão fazendo a verdadeira vontade de Deus.
E a vontade de Deus é:
Nenhuma bebida alcoólica. Não há senão e não há talvez..
Autor: Walter Andrade Campelo