Ser crente não significa muita coisa. Talvez pela conotação pecaminosa que a palavra crente traz, talvez pela maneira como estejamos marcados pelas nossas insensibilidades diante da sociedade, talvez pela proliferação de cristãos que não vivem o Evangelho do Amor e talvez pela forma de santidade distorcida que acha que não ser do mundo é se esconder atrás de quatro paredes e não ajudar nenhuma “criatura”, como dizem por aí.
Pra mim isso tudo é só “crentismo”. Crentes, nessa conotação que dei, são aquelas pessoas que dizem crer em Deus, dizem acreditam que Jesus veio ao mundo e morreu por seus pecados e até dizem que acreditam no poder do Espírito para agir em suas vidas, mas que na verdade não agem segundo esse Deus trino. Fazem-se de surdas quando um faminto pede o pão. Fazem questão de ser a mão a, primeiro apontar e depois empurrar, aquele que cai, ao invés de ajudá-lo a se levantar.
Na verdade se dizem crentes somente para ter um cargo em alguma igreja que, para eles, lhes garantirá salvação, esses só dizem que crêem na cruz – cruz credo significa creio na cruz – por que acham que isso é nome de algum fantasma. Mas eu pergunto, que diferença faz um homem que carrega uma Bíblia debaixo do braço, mas não a lê? Que mudança traz uma mulher que ora pela paz, pela fome no mundo e não dá um pedaço de pão ao homem desfalecido da calçada?
Eu acho que assim como eu, você, após ler isso, não gostaria de ser chamado desse nome, pelo que ele traz. Mas de que devemos nos chamar? Como podemos nos identificar como Sal da terra e Luz do mundo?
Vou contar uma história.
O povo de Israel havia sido incumbido de penalizar o povo de Judá por seus pecados. Mas eles foram adiante e, se aproveitando da situação, quiseram escravizar seus irmãos (Judá era uma das tribos de Israel, que havia se dividido juntamente com a tribo de Benjamin). Então um profeta chamado Odede ergueu a voz e acusou Israel desse crime.
Alguns homens se levantaram para ajudar e, enfrentando o exército que mantinha os judeus como prisioneiros, disseram que ali não deixariam entrar aqueles cativos, pois pensavam ser aquilo um grande pecado contra o Senhor. Então esses homens armados deixaram os cativos perante o povo. Foi quando algo lindo aconteceu:
Homens foram designados nominalmente, os quais se levantaram, e tomaram os cativos, e do despojo vestiram a todos os que estavam nus; vestiram-nos, e calçaram-nos, e lhes deram de comer e de beber, e os ungiram; a todos os que, por fracos, não podiam andar, levaram sobre jumentos a Jericó, cidade das Palmeiras, a seus irmãos. Então, voltaram para Samaria. 2 Cr 28.15
Havia uma grande diferença entre o povo. Aqueles que diziam ser seguidores de Deus e aqueles que agiam e eram seguidores de Deus. Esses homens, seguidores de Deus, eu os chamaria de cristãos. Você pode achar estranho, chamar alguém do Antigo Testamento, do tempo antes de Jesus nascer de cristãos, mas era isso que eles eram, cristãos.
Hoje, como naquele tempo, muitos homens se dizem crentes em Deus, mas na verdade não seguem o Deus vivo, porque não agem com amor e misericórdia. Não enfrentam a espada, como foi o caso desses homens, para que algum homem seja liberto, não enfrentam os olhares acusadores para dar de comer a algum pobre, não enfrentam os olhares dos carros ao lado para dar dinheiro a alguém que realmente precisa desse dinheiro para comer.
Devemos ser cristãos e não “crentes”.
Cristãos são aqueles que andam como Jesus andou, como diz João:
Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou. 1 Jo 2.4-6
Irmão e irmã que lêem esse texto, nós não podemos continuar vivendo um evangelho de falação com histórias de pescadores que não são os da Bíblia. Temos de viver um evangelho de ação, de ajuda, um evangelho que presencie o sofrimento e sofra junto, e mais, que ajude a consolar o sofredor, mesmo em sofrimento.
Jesus diz que aqueles que qualquer um que faz a vontade de Deus é seu irmão e irmã (Mc 3.35). Sabe porque? Porque quando obedecemos a Deus, automaticamente nos parecemos mais com Cristo, é como se fôssemos seu sangue, sua carne, ficamos parecidos como irmãos. Isso é ser cristão, se parecer com Cristo. Os cristãos receberam esse apelido porque se pareciam com aquele de quem contavam.
Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Mt 25.34-40
Aqueles homens de Israel que alimentaram, vestiram, calçaram, deram de comer e beber àqueles que estavam cativos podem ser chamados de cristãos. Porque eles se parecem com Cristo.
Não digo que não é importante crer. Na verdade crer é o começo do ser cristão, crer é a força que recebemos do Espírito para assim conseguirmos nos parecer com Cristo. O que digo é que não podemos ser essas pessoas que hoje se chamam crentes e não sabem em quem são crentes. Devemos ser crentes sim, crentes em Cristo não para acreditar somente, mas para que com essa fé nossos atos fiquem um pouco mais parecidos com os dEle.
Não me chamem mais de crente, me chamem cristão, porque o que quero é parecer com Cristo.